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Thor (filme)

O herói dos quadrinhos dá origem a uma história. Este filme é muito melhor do que eu esperava. Provavelmente porque o diretor, Kenneth Branagh, trouxe a ele uma qualidade sutilmente shakespeariana que era apropriada para essa história sobre o deus nórdico do trovão. Bem, na verdade, trata-se de uma desmitologização da mitologia nórdica. Ou seja, é uma daquelas histórias que explica a religião como uma má interpretação ignorante da ciência alienígena. Neste caso, Thor é um guerreiro do reino distante de Asgard, que é banido para a Terra, destituído do seu poder, por causa de sua aspiração arrogante e impetuosa ao trono de seu pai, Odin. Mas neste filme aprendemos que a mitologia nórdica estava errada. Thor e sua raça não são deuses, mas simplesmente alienígenas de outra parte da galáxia confundidos como deuses pelos Vikings primitivos. Este é um tema comum nos filmes de hoje e pretendo escrever mais em profundidade sobre ele para o site BioLogos.org em breve.

Enfim, foi um contraste interessante da cultura igualitária moderna com uma cultura mais patriarcal em Thor. Quando ele se apaixona por uma cientista do sexo feminino, interpretada por Natalie Portman, vemos ele tratá-la com o cavalheirismo do passado e, meu irmão, ela gosta! Esta não é nenhuma fantasia feminista, mas um retorno a um cavalheirismo que as feministas chamariam de chauvinismo. O fortão protegendo a fêmea e tratando-a com gentileza e linguagem nobre, por ser o vaso mais fraco. Foi um choque de culturas inteligente.

E o tema da história é bastante tradicional também. O poderoso martelo de Thor está na Terra, mas por causa do feitiço que Odin sussurrou sobre ele, apenas um homem “digno” pode pegá-lo e usá-lo. E Thor não pode fazê-lo por causa do seu orgulho, arrogância e espírito vingativo. Não até que escolha sacrificar-se para ser morto por um grande monstro robô, a fim de proteger os inocentes, que ele é capaz de recuperar seus poderes e derrotar o inimigo. E isso após sua “ressurreição” dos mortos. Tudo muito religioso em sua temática.

O que me leva a outro ponto. Fiquei ainda mais convicto de que a fome por super-heróis de quadrinhos e afins é definitivamente um “substituto de Deus”. Apesar da nossa sociedade secular ter rejeitado a ideia de uma divindade sobrenatural (como evidenciado na desmitologia dessa própria história), ela, no entanto, anseia por essa divindade e essas histórias de super-heróis servem como um impulso religioso moderno que substitui o “vazio do tamanho de Deus” em todos nós. Sua ubiquidade em nossa cultura coincide com a prevalência do politeísmo da cultura antiga, quer no panteão grego ou romano ou aquele da Suméria e Babilônia. Mas sua presença mostra-nos que a humanidade precisa da divindade e, se necessário, criará a sua própria.

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Fonte: http://godawa.com/movieblog/

Tradução: Felipe Sabino de Araújo Neto, julho/2011