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Contra o Estado-Providência

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“Porque, quando ainda estávamos convosco, isto vos mandamos: se alguém não quer trabalhar, também não coma. Porquanto ouvimos que alguns entre vós andam desordenadamente, não trabalhando, antes intrometendo-se na vida alheia; a esses tais, porém, ordenamos e exortamos por nosso Senhor Jesus Cristo que, trabalhando sossegadamente, comam o seu próprio pão”. (II Tessalonicenses 3.10-12)

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A. Os Limites da Caridade da Igreja

Paulo admoestou que a igreja na Tessalônica estabelecesse a seguinte regra para os membros: se alguém não quer trabalhar, também não coma.

Desde o princípio da igreja, os pobres pediam e recebiam assistência da igreja. O ofício do diácono foi explicitamente criado para cuidar das viúvas que não tinham meios de sustento (At 6.1-4). Mas, desde o princípio também, Paulo estabeleceu regras rigorosas sobre quem tinha permissão para ser sustentado pela igreja local e quem não tinha. Ele disse que nenhuma viúva com menos de 60 anos deveria ser sustentada. Ele também disse que nenhuma viúva que havia sido casada mais de uma vez deveria ser sustentada (I Tm 5.3-4). Ele disse que alguém que não sustenta um membro de sua própria família é pior do que um infiel (I Tm 5.8). Todas essas admoestações reconheciam a verdade de uma lei econômica fundamental: a preço zero, existe maior demanda do que oferta. Se a igreja sustentar qualquer um que pedir, a igreja rapidamente terá empobrecido.

Paulo disse que há limites para a possibilidade de ser economicamente sustentado pela Igreja. Ele diz que quem não trabalha não deve comer à custa da igreja. Não devemos entender com isso que todos que são tetraplégicos e, portanto, não podem trabalhar, devem passar fome. O contexto de suas palavras deixa claro que ele está falando de pessoas fisicamente aptas. Podem não ser capazes de ganhar uma renda de classe média, mas podem ganhar o suficiente para se sustentar. São pessoas fisicamente capazes de ganhar a vida. A obrigação é essa: “trabalhando sossegadamente, comam o seu próprio pão”.

Paulo também escreveu que se uma pessoa possui alimento e vestuário, ela tem tudo o que realmente precisa (I Tm 6.7-8). É agradável ter mais, mas não é garantido por qualquer pessoa ou instituição. Deus não garante. Devemos nos contentar com o básico da vida. Se o que temos é suficiente para sustentar nossas vidas, não devemos sair procurando ser sustentado por outros.

B. O Estado-Providência

A admoestação com respeito a quem é apto para ser financeiramente sustentado pela igreja se opõe a política moderna de governo. Desde a primeira legislação estabelecendo o imposto de renda progressivo nas primeiras décadas do século XX, governos civis têm extraído impostos dos habitantes para transferir aos pobres. É claro que empregados do governo civil de classe média também tem extraído uma enorme porção dessa riqueza para a administração e manuseio. Mas governos civis chegam nas casas dos ricos, em nome dos pobres, para exigir que os ricos renunciem uma parte de sua renda para que o dinheiro possa ser usado para sustentar os pobres.

Não há nada na Lei Mosaica que autorizaria tal transferência de riqueza pela coação do estado. Também não há nada no Novo Testamento que autorize. Esta passagem deixa claro que Paulo era contra um observador do pacto pedir para ser financeiramente sustentado por outro observador do pacto, se o primeiro é capaz de ganhar a vida. Se é errado alguém saudável ser financeiramente sustentado pela igreja quando ele tem condições de trabalhar, então sob que base bíblica possível qualquer pessoa pode defender o uso coercivo do governo civil para extrair riquezas de um grupo de cidadãos e transferir para outro, quando os receptores são capazes de trabalhar? Nenhum.

O estado-providência moderno foi criado em nome dos pobres. Recebeu o apoio dos defensores do Evangelho Social. O Evangelho Social promove políticas de grupos de interesse especiais que usam o poder da urna para forçar mudanças políticas. A mudança política que o Evangelho Social recomenda é que o poder coercivo do estado seja usado para redistribuir renda. É por isso que os defensores do Evangelho Social ficam chocados com o que Paulo escreve nesta passagem. Eles tentam reinterpretar suas palavras. Ou dizem que suas palavras não são mais válidas.

Não há escapatória para as palavras claras desta passagem. Se alguém não trabalha, também não coma, o que significa que não comerá à custa da igreja. Uma pessoa que não trabalha, mas é capaz de trabalhar, não tem direito moral ou legal de ser sustentado pela igreja. Mas se ele não tem direito legal em relação a igreja, uma instituição voluntária, sob que base legal qualquer pessoa pode apelar para a Bíblia para justificar a existência de um direito legal sobre a renda tomada a força por pagadores de imposto? Nenhuma.

Se Deus quisesse que o Estado-Providência intervisse para ajudar aqueles que são capazes de trabalhar, mas se recusam a trabalhar, então porque Ele amaldiçoou a terra por causa do pecado de Adão? Por que ele deliberadamente forçou os homens a trabalharem para comer (Gn 3.17-19)? Se Deus fez isso com Adão, com que legítima base bíblica qualquer pessoa pode sustentar que o Estado-Providência moderno é justificável pela Bíblia? Por que ele impôs a maldição sobre a terra, se Sua verdadeira intenção era criar uma economia em que o governo civil extrairia riquezas dos ricos para dar aos pobres?

Conclusão

A admoestação de Paulo protege a igreja de oportunistas e intrometidos. Líderes da igreja devem aprender a reconhecer vigaristas que aparecem em nome da pobreza para pedir apoio. Eleitores devem fazer o mesmo.

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Tradução: Frank Brito

Fonte: Ethics and Dominion: An Ecomomical Commentary on the Epistles