Batismo Infantil: Um Dever do Povo de Deus

por

Dr. Kenneth L. Gentry, Jr.

 

 

Na qualidade de crentes devemos sempre estar preocupados em obedecer ao que Deus nos tem dado como mandamento e evitar o que nos tem sido dado como divina proibição. Tal deve ser o verdadeiro desafio de nossa vida (I Cor 10:31; Mateus 4:4). Assim, obviamente, isso deve ser verdadeiro também no tocante ao culto divino na Igreja. As práticas da Igreja devem ser defensáveis pela Bíblia, a Palavra do Deus Vivo, única regra divina para a fé e prática (II Timóteo 3:16-17).

Muitos dos que não são da herança reformada alegam que é impróprio batizar infantes. Alguns vêem o batismo infantil como resquício do Catolicismo Romano, expressão mais de uma indevida preocupação com a tradição histórica do que com a fidelidade bíblica. A. H. Strong chamou-o de "trapo velho do romanismo". Alexander Campbell colocou-o entre “as relíquias do Papado”. John R. Rice escreveu que “todas as atuais denominações que utilizam estes costumes o fazem seguindo os católico-romanos”. Outros que não opõem tanto assim, o reputam como mero rito de dedicação, benéfico somente aos pais e aos avós, não o considerando, para todos os efeitos, um batismo de verdade. Tais posições estão extremamente equivocadas.

Contrário a estes pontos de vista, o Presbiterianismo Bíblico considera o batismo infantil um dever cristão firmemente enraizado no preceito e no principio da Escritura. Ademais, consideramos que a sua negligência é uma séria falta do dever cristão perante o Senhor da Aliança. Traçamos a seguir uma curta, não-técnica, demonstração introdutória do mandato bíblico que obriga o batismo aos filhos dos crentes.

Comecemos com alguns pontos basilares.


1. A Unidade Essencial da Bíblia

Os presbiterianos são um “povo do Livro”. Eles crêem firmemente que ambos os Testamentos, Antigo e Novo, são divinamente inspirados e úteis para o povo de Deus. Por essa razão há progresso e desenvolvimento óbvios na Escritura, a Bíblia, não obstante, é um único Livro.

Por vários ângulos, podemos demonstrar a unidade da Escritura. Vejamos simplesmente três deles.

•  Primeiro, a unidade de propósito em ambos testamentos. A Bíblia mostra a glória de Deus (Deuteronômio 5:24; Sal. 8:1; Apocalipse 4:11; Rom. 16:27) e o caminho da salvação (Isaias 12:1-3; 55:1-7; Efésios 1; Rom. 1:16). Este duplo tema (doxologia e soterologia) é constante em ambas partes da Bíblia: “Ajuda-nos, ó Deus da nossa salvação, pela glória do teu nome; e livra-nos, e perdoa os nossos pecados por amor do teu nome”. (Sal 79:9) “Depois destas coisas ouvi no céu como que uma grande voz de uma grande multidão, que dizia: Aleluia! Salvação, e glória, e honra, e poder pertencem ao Senhor nosso Deus!” (Apocalipse. 19.1).

•  Segundo, a unidade do princípio que orienta ambos testamentos. A Lei de Deus é o justo padrão divino para a conduta do homem (Êxodo 20:1-17; Sal. 119; Mateus 5:17-19; Rom. 3:31; I João 3:22). A Lei de Deus é o princípio e fonte fundamentais para a ética bíblica em ambos testamentos: “A tua justiça é uma justiça eterna, e a tua lei é a verdade” (Sal. 119:142). “A lei é santa, e o mandamento santo, justo e bom” (Rom 7:12).

•  Terceiro, a unidade do povo liga ambos testamentos. A igreja do Novo Testamento é a continuação e expansão do povo de Deus do Antigo Testamento. Tendo em que este conceito foi sendo deturpado a partir de 1800 (com o surgimento do dispensacionalismo), não podemos deixar de reafirmar o que são claras evidências bíblicas:

Os dois povos são chamados de “igreja”, ou “congregação”, ou “assembléia”. Essas palavras nas línguas originais da Escritura são sinônimas e quer dizer o “ajuntamento da congregação dos chamados para fora” (Êxodo 12:6; Levítico 4:13; Jeremias 26:17; Mateus 18:17; Efésios 5:23-33). O próprio Novo Testamento chama o povo do Antigo Testamento de “igreja” (Atos 7:38; Hebreus 2:12) e de nossos “pais” (I Cor. 10:1).

O povo do Antigo Testamento era separado por causa do verdadeiro evangelho, assim como o povo do Novo Testamento: “Ora, tendo a Escritura previsto que Deus havia de justificar pela fé os gentios, anunciou primeiro o evangelho a Abraão, dizendo: Todas as nações serão benditas em ti!” (Gal. 3:8; compare com Romanos 1:1, 2). “Porque também a nós foram pregadas as boas novas, como a eles, mas a palavra da pregação nada lhes aproveitou, porquanto não estava misturada com a fé naqueles que a ouviram” (Hebreus 4:2).

Do povo do Novo Testamento é dito que este seria enxertado e se transformaria em um só povo com o do Antigo Testamento, assim como um ramo é enxertado numa árvore (Rom. 11:1-24) e uma construção é para um edifício (Efésios 2:11-20).

O povo do Novo Testamento é chamado por termos que são claramente associados ao povo do Antigo Testamento. Os crentes são chamados de “semente de Abraão” (Gálatas 3:6-9, 29), “circuncisão” (Filipenses 3:3), “sacerdócio real” (Rom. 15:16; 1 Pedro 2:9; Apocalipse 1:6; compare com Êxodo 19:6), “templo” (I Cor. 3:16; 6:19; II Cor. 6:16: Efésios 2:19), e “Israel de Deus” (Gal. 6:16).

 

A fé bíblica não conhece dois livros sagrados de propósitos divergentes, nem de princípios éticos contrastantes, tampouco de dois povos de Deus distintos, e muito menos sabemos de dois Deuses Verdadeiros. No entanto, conhecemos dois testamentos que são a Palavra de Deus dada aos homens (II Tim. 3:16-17; II Pedro 1:20-21). Assim, os princípios e preceitos contidos tanto num como noutro testamento somente podem ser anulados pelo Próprio Deus (Deuteronômio 4:2; 12:32; Mateus 15:6; Apocalipse 22:18).

Considerando que a Palavra de Deus é perfeita verdade (João 17:17) “a Escritura não pode ser anulada” (João 10:35). Princípios e preceitos estabelecidos no Antigo Testamento continuam no Novo Testamento, a menos que Deus mesmo abra mão deles – como ele o fez no caso dos preceitos que determinavam o sacrifício de animais (Hebreus 9-10), circuncisão (Atos 15:1-2, 7-10; I Cor. 7:19; Gálatas 5:6), leis acerca de comida (Atos 10:10-16; I Tim. 4:3), e outras leis cerimoniais/tipológicas semelhantes.

Tendo anotado isso ponderaremos acerca dos princípios particulares da Escritura que formam a base imediata para o batismo infantil. Comecemos pela revelação do Antigo Testamento.

 

2. O Principio da Solidariedade Familiar

A Bíblia ensina que Deus estabelece a família como ordenança da Criação com caráter de pérpetua obrigação (Gênesis 1:27-28; 2:22-24; Mateus 19:4-6). Que a família é de importância central na Bíblia é evidente face às seguintes considerações:

A. Numerosas genealogias familiares são preservadas na Escritura, o que demonstra a preocupação com a preservação de linhagens familiares (veja-se Gênesis 5; 10; Números 1).

B. Famílias eram tidas na conta de elevada e santa herança do Senhor (Salmos 127; 128; Isaías 8:18).

C. Não ter filhos era lamentável (Gênesis 25:41; 30:1; Êxodo 23:26; Deuteronômio 7:14; Salmos 113:9; Jeremias 22:30).

D. Responsabilidades diante de Deus é o centro em torno do qual gira a vida familiar (Deuteronômio 6:4ff; Salmos 78:1-8; Provérbios 13:22; 19:14).

E. São estabelecidas nos Dez Mandamentos obrigações morais expressas que visam a proteção da família (Êxodo 20:12, 14, 17).


Conseqüentemente, no Antigo Testamento, Deus todo-misericordioso instituiu especificamente sua Aliança da Graça tendo como beneficiárias as gerações de famílias, antes de restringi-la a quaisquer indivíduos. Suas misericórdias e bênçãos foram particularmente prometidas às famílias dos crentes, como nos casos de Noé (Gen. 9:9), Abraão (Gen. 17:2-7)) e outros (Deuteronômio 28:4; Salmos 103:17-18; 115:13,14). Ainda em relação ao principio da solidariedade familiar, ameaças e maldições eram dirigidas também às gerações de famílias (Êxodo 20:5; Deuteronômio 5:9; Oséias 9:11-17).

Portanto, no Antigo Testamento, boas famílias eram obrigadas a reconhecer duas importantes verdades:

•  Primeira. Quando a graça de Deus alcançava uma pessoa, o governo de Deus se estendia a tudo quanto essa pessoa possuía. Por exemplo, na lei dos dízimos Deus reivindicava as primeiras dizimas da produção como sinal de que por direito tudo era d'Ele (Deuteronômio 14:22; Malaquias 3:10).

•  Segunda. Quando a graça de Deus alcançava uma pessoa, a casa dessa pessoa era separada como sagrada ao Senhor. Por exemplo, os filhos do povo de Deus eram proibidos de se casarem com pessoas não-crentes “porque és povo santo” (Deuteronômio 7:1-6). De fato, Deus tinha a família como o centro de seus atos graciosos dirigidos ao seu povo da Aliança na Revelação do Antigo Testamento.

 

3. O Sinal da Aliança no Antigo Testamento

Indiscutivelmente, a circuncisão era o sinal da aliança da graça de Deus com seu povo no tempo do Antigo Testamento (Gênesis 17:10-14). Como pré-condição à captação da importância do batismo, a circuncisão precisa ser propriamente entendida, como mostraremos adiante, como a contraparte do Novo Testamento para a circuncisão do Antigo Testamento.

Infelizmente a circuncisão é entendida freqüentemente como um sinal puramente nacional e racial dos privilégios exteriores não espirituais relacionados aos feitos de Deus do Antigo Testamento ao seu povo daquela era. A circuncisão, no entanto, era o sinal da aliança em seu mais profundo significado espiritual . Três conceitos fundamentais são retirados do simbolismo da circuncisão.

 

•  Primeiro, a circuncisão era o sinal da união e comunhão com Deus. Na sua instituição com Abraão, Deus declara: “Estabelecerei a minha aliança entre mim e ti e a tua descendência no decurso de suas gerações, aliança perpétua, para ser o teu Deus e de tua descendência depois de ti... E circuncidareis a carne do vosso prepúcio; e isto será por sinal da aliança entre mim e vós” (Gênesis 17:7, 11). Atente cuidadosamente, Deus chama a si mesmo de o Deus de Abraão: “Serei o teu Deus”. Deus não se une em aliança apenas com o povo descrente. Em Amós 3:2 Ele diz: “de todas as famílias da terra, só a vós vos tenho conhecido (intimamente amado) ”. Em Salmos 147:19-20 lemos: “mostra a sua palavra a Jacó, os seus estatutos e os seus juízos a Israel. Não fez assim a nenhuma outra nação; e quanto aos seus juízos, não os conhecem. Louvai ao Senhor!” O âmago da Aliança da Graça de Deus era este conceito de união e comunhão com Deus, sempre recorrente no Antigo Testamento: “Serei o teu Deus e tu serás o Meu povo!” (Gênesis 17:7; Êxodo 5:2; 6:7; 29:42, 45, 46; Levítico 11:45; 26:12,45; Deuteronômio 4:20; Deuteronômio 7:9; 29:14-15; II Samuel 7:24; Salmos 105:9; Isaias 43:6; Jeremias 24:7; 31:33; 32:38; Ezequiel 11:20; 34:24; 36:28; 37:23; Oséias 1:10; Zacarias 8:8; 13:9; II Coríntios 6:18; Apocalipse 21:3, 7).

•  Segundo, a circuncisão era o sinal de remoção da corrupção . Isto é, representa limpeza do pecado. O que é confirmado pela repetitiva chamada de Deus para que seu povo seja “circuncidado em seus corações” (Deuteronômio 10:16; 30:6; Isaias 52:1; Jeremias 4:4; 6:10; 9:25-26; Ezequiel 44:7-9). Claramente então, o corte da membrana que circunda o órgão (prepúcio) de geração da vida, exterior e físico, era simbólico da remoção interior e espiritual da corrupção do único centro da vida, do coração. O que tinham “corações incircuncisos”, por conseguinte, estavam destinados ao juízo de Deus (Levítico 26:41). Pelo que ao povo Deus mandava: “Circuncidai, pois, o prepúcio do vosso coração ”. (Deut. 10:16).

•  Terceiro, a circuncisão era o selo da justiça da fé. No Novo Testamento, o apóstolo aos gentios, Paulo, claramente ensina essa verdade em Romanos 4:11: “ E ele (Abraão) recebeu o sinal da circuncisão, selo da justiça da fé ...”. A circuncisão estava vitalmente relacionada à fé. Como sinal externo, ela emoldurava e selava a fé interna, conforme a Bíblia claramente diz.


Neste ponto precisamos salientar que a circuncisão – que representava união com Deus, limpeza de pecados e fé – era expressamente determinada por Deus para ser aplicada aos infantes: “o filho de oito dias, pois, será circuncidado, todo o homem nas vossas gerações ...” Repare bem que o sinal da Aliança profundamente espiritual deveria ser aplicado aos infantes! A família estava claramente incluída na operação da graça de Deus para Seu povo no Antigo Testamento.

 

4. A Responsabilidade Pactual no Novo Testamento

Conforme vimos anteriormente, dada a natureza inspirada da Escritura qualquer principio ordenado por Deus em sua palavra permanece até que Ele próprio (falando através de profetas e apóstolos inspirados) o anule ou modifique-o. Na medida que admitimos o Novo Testamento como revelação duas coisas ficam estabelecidas a respeito da solidariedade familiar e a inclusão de infantes na comunidade da aliança.

•  Primeiro: não encontramos, em nenhum lugar no Novo Testamento, qualquer mandamento, logicamente deduzido ou expressamente pronunciado, no sentido de repelir essa prática vital, secular, e divinamente ordenada.

•  Segundo: amplas e claras evidências indicam a continuação do principio nessa área.


Antes de detalhar as observações acima, consideremos algumas das implicações inerentes à idéia de que gerações familiares são excluídas da comunidade da aliança da era do Novo Testamento. Se as famílias não são mais parte da comunidade da aliança, nem partícipes e beneficiários da aliança de Deus, precisamos responder por que. Podemos deduzir que a Nova Aliança (instituída por Cristo em Lucas 22:20) é menos generosa do que a Velha Aliança, uma vez que é responsável pela exclusão da unidade familiar? Ou quem sabe a Nova Aliança tem menos força, pois não tem efeito aonde não tiver fé pessoal e autoconsciente? Os filhos dos crentes hoje são mais depravados do que eram na era da Antiga Aliança? A família é menos significativa hoje do que antes?

A resposta a cada uma destas perguntas precisa ser um retumbante “Não!” O Novo Testamento claramente dá continuidade ao principio da solidariedade familiar e inclusão infantil na comunidade da aliança. Considere as seguintes evidências:

 

1. Primeira. Cristo mesmo trata as crianças pequenas e infantes de tal forma que demonstrar a preocupação pactual de Deus por eles. A este respeito as seguintes passagens devem ser lidas e comparadas: Mateus 18:1-6; 19:13-14; Marcos 9:36-37; Lucas 18:15-17. Façamos umas singelas observações sobre isso.

(1) Pequeninos eram trazidos a Ele por outras pessoas: “trouxeram-lhe, então, alguns pequeninos” (Mateus 19:13; cp. Marcos 10:13). Eles não vieram por suas próprias iniciativas espirituais. De fato, alguns desses eram tão pequeninos que não podiam andar: “E traziam-lhe também os pequeninos ” (Lucas 18:15).

(2) Quando Cristo disse, “dos tais é reino de Deus” (Mateus 19:14), está falando acerca do domínio das bênçãos pactuais nos termos da terminologia da Nova Aliança. João 3:3 e I Coríntios 6:10, por exemplo, claramente emprega “reino de Deus” nesse sentido. Jesus não está meramente dizendo de “pessoas crescidas que devem ter a fé simples que é ilustrada nestes pequenos”. Podemos dizer isso com base nestas seguintes evidências: Alguns destas crianças são incapazes de demonstrar fé autoconsciente (Lucas 18:15). Jesus se aborrece quando seus discípulos tentam manter estas crianças e pequeninos longe d'Ele. Deseja que estes sejam diretamente apresentados a Ele: “E traziam-lhe também crianças, para que ele os tocasse: mas os discípulos vendo isto repreendiam-nos. Mas Jesus, chamando-os para si, disse: Deixai vir a mim os pequeninos, e não os impeçais, porque dos tais é o reino de Deus. Em verdade vos digo que, qualquer que não receber o reino de Deus como menino, não entrará nele”.( Lucas 18:15-17).

O relato de Mateus sequer faz menção à fé infantil propriamente: “ Trouxeram-lhe, então, alguns meninos, para que sobre eles pusesse as mãos, e orasse; mas os discípulos os repreendiam. Jesus, porém, disse: Deixai os meninos, e não os estorveis de vir a mim; porque dos tais é o reino dos céus. E, tendo-lhes imposto as mãos, partiu dali ”. ( Mateus 19:13-15).

(3) Jesus de fato pratica um significativo ato espiritual com estas crianças e ministra sobre elas as bênção divinas, espirituais: “ Trouxeram-lhe, então, alguns pequeninos, para que sobre eles pusesse as mãos, e orasse..., tendo-lhes imposto as mãos, partiu dali ”. (Mateus 19:13-15). A imposição de mãos é um ato de profundo significado religioso que aparece em várias passagens do Novo Testamento: a ordenação de diáconos para o oficialato (Atos 6:6), a outorga do Espírito santo (Atos 8:17), a separação de homens para a atividade missionária (Atos 13:3), e a dotação de dons espirituais (I Timóteo 4:14; II Timóteo 1:6). Não somente mera formalidade.


2. Segunda. Expressamente Pedro elabora o primeiro do sermão pós-Pentecostes do Novo Testamento em termos de Aliança e do princípio da solidariedade familiar. Na seqüência ao milagre de Pentecostes, Pedro conclui seu sermão, advertindo: “Arrependei-vos e todos sejais batizados em nome de Jesus Cristo... pois a promessa é vós, para vossos filhos...” (Atos 2:38, 39). Considerando que a audiência era judaica (Atos 2:14, 22, 36), com pelo menos 1500 anos de pensamento conforme os padrões de Aliança do Antigo Testamento (compare com o ensaio de Estevão sobre história judaica em Atos 7) a promessa é bem naturalmente estruturada. Expressamente, Pedro inclui crianças nas promessas de Deus aqui neste primeiro Novo sermão de Aliança. Se Pedro estive preocupado em fazer com que os seus ouvintes conseguissem entender que os antigos princípios estavam radicalmente mudados (omitindo a unidade de família), ele certamente não teria proferido esta particular exortação e prometido isso desta maneira -- especialmente no contexto de persuasão para a fé em Cristo, arrependimento de pecado, e batismo. O princípio da solidariedade familiar claramente opera neste contexto evangelista.

3. Terceira. Os filhos de crentes nas igrejas do Novo Testamento são tratados como “santos” (“santo” em grego significa “separado” e é usado aos cristãos). As saudações das cartas à Éfeso e Colossos mostram que foram expressamente escritas aos “santos” (Efésios 1:1; Colossenses 1:2). Ainda em ambas as cartas, as palavras de instrução são especificamente endereçadas aos “filhos” das igrejas. Por exemplo, Efésios 6:1 diz, “Filhos, obedeçam seus pais no Senhor; porque isso é justo”. Colossenses segue o exemplo (Colossenses 3:20, 21). Assim, ao falar para grupos diferentes de “santos” nenhuma diferenciação se fez entre crianças e adultos em termos de sua condição na igreja, ou entre filhos crentes e descrentes. Os filhos dos santos são incluídos na comunidade de Aliança, da mesma maneira que esposas (Efésios 5:22) e maridos (5:25).

4. Quarta. Paulo ensina que a criança ainda que sendo crente apenas um dos seus pais, não obstante, “é separada” (isto é, distinta) dos filhos de uma família descrente. Primeira aos Coríntios 7:14 se lê: “p orque o marido descrente é santificado pela mulher; e a mulher descrente é santificada pelo marido; de outra sorte os vossos filhos seriam imundos; mas agora são santos ”. Devemos notar que os filhos de pais crentes, as duas partes, pais e filhos, são consideradas “santificadas” e limpas em contraste com os filhos dos incrédulos, que são não santificados e “impuros” com respeito aos feitos graciosos de Deus em relação ao Seu povo. Paulo está utilizando aqui o princípio do Antigo Testamento da solidariedade familiar. Ele se refere a este princípio sob os símbolos diferentes de Romanos 11:16, onde declara: “se as primícias são santas, também a massa o é; se a raiz é santa, também os ramos o são”.

5. Quinta. Casos de batismos domésticos são suficientemente freqüentes no Novo Testamento para sugerir a continuação do princípio inclusivo de crianças com os seus pais crentes na Aliança. Dos doze episódios de batismos registrados no Novo Testamento, três são de batismo de toda a casa (Atos 16:14; 16:33-34; I Coríntios 1:16). Se o Novo Testamento realmente apresentava uma ênfase estritamente individualista em termos da fé, devia se perguntar-se por que só Lidia creu, enquanto seu lar todo foi batizado: “ E uma certa mulher, chamada Lídia, ... que servia a Deus, nos ouvia, e o Senhor lhe abriu o coração ... E, depois que foi batizada, ela e a sua casa, nos rogou ...” (Atos 16:14,15). Seria certamente suficientemente fácil para Lucas especificar quando toda a família cresse, o que ele fez em Atos 18:8: “E Crispo, o principal da sinagoga, creu no Senhor com toda sua casa...”.

Cumpre notar que em relação a Atos 16:34 muitas versões o traduzem mal. Por exemplo, a versão King James diz: “E quando ele os levou à sua casa , lhes pôs a mesa, e regozijando-se, creu em Deus com toda sua casa”. A Nova Versão Standard Americana Nova faz mais justiça ao texto deste verso em uma referência marginal ao verso 34: “regozijando muito com toda a sua casa, tendo crido em Deus”. A frase de particípio “tendo crido em Deus” está no singular. Deste modo, se refere só ao carcereiro: o carcereiro crê em Deus; sua casa se regozija. E estão toda a sua casa é batizada: “E, tomando-os ele consigo naquela mesma hora da noite, lavou-lhes os vergões; e logo foi batizado, ele e todos os seus” (Atos 16:33). Note, também, que Paulo indiscriminadamente apresenta a promessa em condições que expressam o princípio da solidariedade familiar: “Crês no Senhor Jesus Cristo, e serás salvos, tu e a tua casa ” (Atos 16:31; cp. também Atos 11:14).


Estas cinco considerações a respeito dos registros no Novo Testamento indicam a continuidade dos princípios da solidariedade familiar diante de Deus e o da inclusão dos filhos dos crentes na Aliança. O que então impediria que as crianças recebessem o sinal da promessa da Aliança – o batismo?

 

5. O Sinal da Nova Aliança

No Novo Testamento descobrimos a palavra expressa de Deus que revoga o rito de circuncisão como o sinal da Aliança (Gálatas 3:1ff; 5:2ff; Atos 15:1-6, 24). Como uma cerimônia de derramamento de sangue ele não é mais compatível com a fase final da redenção, que tem o derramamento final do sangue de Cristo, admitida a Sua morte de uma vez por todas (Hebreus 9:12-14, 25-26; 10:10). Deste modo, Deus substitui um rito sangrento por um não sangrento como sinal de Aliança: o batismo. Que o batismo substitui a circuncisão como o sinal da Aliança está a partir de várias considerações .

1. Primeira. Em Colossenses 2:11, 12 Paulo especificamente relaciona os dois ritos, mostrando que o batismo substitui a circuncisão: “No qual também tendo sido circuncidados com a circuncisão não feita por mão no despojo do corpo dos pecados da carne, a circuncisão de Cristo; tendo sido sepultados com ele no batismo, nele também ressuscitastes pela fé no poder de Deus, que o ressuscitou dentre os mortos. E, quando vós estáveis mortos nos pecados, e na incircuncisão da vossa carne, vos vivificou juntamente com ele, perdoando-vos todas as ofensas ”. A frase do particípio no verso 12 (“tendo sido sepultados com ele no batismo”) é dependente do explicativo do verbo principal em verso 11 (“tendo sido circuncidados”). Como então somos circuncidados? Pelo nosso batismo!

2. Segunda. Ambos ritos servem como iniciação na comunidade de Aliança (isto é na Igreja). Em Gênese 17:9-14 (discutida anteriormente) a circuncisão é o rito de iniciação na comunidade de Aliança. O homem incircunciso era excluído da comunidade da Aliança (V. 14). Em Atos 2:41 o batismo se torna o rito de iniciação: “De sorte que foram batizados os que de bom grado receberam a sua palavra; e naquele dia agregaram-se quase três mil almas”.  

3. Terceira. Ambos ritos são sinais e selos da Aliança da Graça do Amor de Deus para com o seu povo. Compare Gênese 17:9-14 (sobre circuncisão) com Gálatas 3:27-29: “ Porque todos quantos fostes batizados em Cristo já vos revestistes de Cristo. Nisto não há judeu nem grego; não há servo nem livre; não há macho nem fêmea; porque todos vós sois um em Cristo Jesus. E, se sois de Cristo, então sois descendência de Abraão, e herdeiros conforme a promessa”.  

4. Quarta. Ambos ritos representam as mesmas verdades profundamente espirituais. Lembre-se: a circuncisão significa união com Deus, limpeza de pecados, e fé (veja ponto 3). O batismo, também, simboliza estas três verdades:

(1) A fórmula batismal claramente expressa a união e comunhão com Deus. Em Mateus 28:19 lemos: “Batizando-os em nome do Pai, do Filho, e do Espírito Santo”. Paulo reflete no significado desta união batismal em vários lugares: Romanos 6:3: “ Ou não sabeis que todos quantos fomos batizados em Jesus Cristo fomos batizados na sua morte?” Gálatas 3:27: “p orque todos quantos fostes batizados em Cristo já vos revestistes de Cristo”.

(2) O batismo também retrata limpeza de pecados: Atos 2:38: “E disse-lhes Pedro: Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo, para perdão dos pecados; e recebereis o dom do Espírito Santo”. Atos 22:16: “ Levanta-te, e batiza-te, e lava os teus pecados, invocando o nome do Senhor”. Primeira Carta de Pedro 3:21: “Que também, como uma verdadeira figura, agora vos salva, o batismo, não do despojamento da imundícia da carne, mas da indagação de uma boa consciência para com Deus, pela ressurreição de Jesus Cristo”.

(3) O batismo também reflete a fé: Marcos 16:16: “Quem crê for batizado será salvo”. Atos 8:12: “Mas, como cressem em Filipe, que lhes pregava acerca do reino de Deus, e do nome de Jesus Cristo, se batizavam, tanto homens como mulheres”. Atos 8:36-38: “ E, indo eles caminhando, chegaram ao pé de alguma água, e disse o eunuco: Eis aqui água; que impede que eu seja batizado? E disse Filipe: É lícito, se crês de todo o coração. E, respondendo ele, disse: Creio que Jesus Cristo é o Filho de Deus. E mandou parar o carro, e desceram ambos à água, tanto Filipe como o eunuco, e o batizou”. Atos 18:8: “E Crispo, principal da sinagoga, creu no Senhor com toda a sua casa; e muitos dos coríntios, ouvindo-o, creram e foram batizados”.

 

Estas quatro perspectivas sobre o batismo demonstram conclusivamente que há um relacionamento intencional, propositado, e divinamente entre o batismo e a circuncisão. Dados os argumentos extensivamente acima esboçados, sobre qual base podemos excluir as crianças do batismo cristão ? As crianças da era da Nova Aliança têm tanto direito ao sinal da Aliança como as crianças da era da Velha Aliança.

 

6. Objeções ao Batismo Infantil

Antes de concluir o argumento em prol do batismo infantil, seria bem útil considerar apenas brevemente algumas objeções a ele. Vários argumentos comuns são freqüentemente apresentados contra a prática.

1. Primeiro. “Em nenhuma parte no Novo Testamento podemos ler um claro, expresso, mandamento para batizar crianças”.

•  Isto certamente é verdade. Mas como demonstrado anteriormente este seria desnecessário levando em conta a unidade da Palavra de Deus entre o Antigo e o Novo Testamento. Mandamentos expressos não são os únicos válidos; boas e necessárias inferências são autorizadas , também. Por exemplo, onde há explicitamente no Novo Testamento a permissão para mulheres participarem da Ceia do Senhor? Afinal, na instituição original da Ceia, nenhuma mulher estava presente. Em nenhuma parte no Novo Testamento realmente vemos mulheres participando do sacramento. Caso alguém cita o Antigo Testamento para mostrar que as mulheres estavam incluídas nas refeições rituais do Antigo Testamento, o ponto de vista reformado é confirmado. Em relação à inclusão pactual, deveríamos deixar 1500 anos de história de aliança no Antigo Testamento receber seu peso justo nesta consideração.

2. Segundo. A “Circuncisão era para os de sexo masculino apenas; por que os cristãos reformados batizar crianças do sexo feminino?”.

•  Apesar de freqüentemente ser utilizado contra o batismo infantil, este argumento é falho. Claramente, Lídia é batizada no Novo Testamento (Atos 16:15). Além disso, por boa e necessária inferência incluímos as meninas na administração do sinal da aliança. A Nova Aliança registra uma expansão do privilégio pactual: “Porque todos quantos fostes batizados em Cristo, já vos revestistes de Cristo. Nisto não há judeu nem grego; não há servo nem livre; não há macho nem fêmea; porque todos vós sois um em Cristo Jesus ” (Gálatas 3:27-28). A oposição ao batismo infantil requer uma restrição de privilégio.


3. Terceiro. “O que dizer das muitas crianças dentre os filhos da Aliança crescem e se tornam renegados e não crentes?”.

•  A rebelião na Aliança é uma triste possibilidade. Não se dá, porém, apenas como um problema para os que batizam crianças. O que dizer de muitos adultos que são batizados e apostatam e vem a envergonhar a Igreja? Não foi Simão batizado, apesar de logo depois aprendermos que ele não tenha nenhuma parte na fé (Atos 8:13, 21)? Temos a mesma situação no Antigo Testamento com respeito à circuncisão (por exemplo, o filho de Davi, Absalão). Abuso do privilégio não anula o mandato de Deus , apenas intensifica a responsabilidade.


4. Quarto. “Crianças não podem entender o significado do batismo”.

•  O mesmo protesto poderia ser apresentado contra a circuncisão, que, não obstante, era aplicado a crianças. O mesmo protesto, de fato, podia ser encampando contra Cristo quando ele mesmo impôs suas mãos nas crianças trouxeram a ele. Deus pode abençoar até aqueles que não entendem?

 

7. Sumário e Conclusão. O estudo sobre o batismo infantil foi desenvolvido seguindo as seguintes linhas de consideração:

•  Primeira. Os dois testamentos da Bíblia são igualmente autoritativos como revelação de Deus para o seu povo. Os dois testamentos são vitalmente inter-relacionados. O Novo Testamento é a continuação e a expansão do Antigo Testamento.

•  Segunda. Deus estabeleceu a família como palco para a demonstração de sua graça e misericórdia, e para revelar o principio da solidariedade familiar. Pelos séculos de história da aliança, a descendência dos crentes esteve incluída na aliança da graça de Deus e na sua comunidade da aliança. Ela sempre recebeu o sinal da aliança tanto enquanto infantes quanto adultos.

•  Terceira. O Novo Testamento não ab-rogou o principio divinamente instituído da solidariedade familiar. Nem nos autorizou a excluir os infantes da comunidade da aliança. Sequer instruiu a comunidade cristã primitiva (composta grandemente por judeus aliancistas) a negar o sinal da aliança aos seus filhos.

•  Quarta. O Novo Testamento trata as crianças como membros da comunidade da aliança, traça sermões em termos do principio da solidariedade familiar, e registra ações que exprimem o principio da aliança (i.e., os batismos domésticos).

•  Quinta. O batismo assume a função da circuncisão na Nova Aliança. Uma vez que a circuncisão (que retrata as mesmas verdades do batismo) era aplicada aos infantes, por que não deve sê-lo o batismo?


Freqüentemente o cristão reformado tem adotado a posição defensiva a respeito do tema batismo infantil. Ele é desafiado a demonstrar a propriedade de batizar os infantes. Isso é lamentável. Realmente deveríamos desafiar os que negligenciam o batismo de seus infantes a apresentar razões de justificativa, escrituristicamente verificáveis, para a exclusão dos filhos dos crentes da Igreja e do batismo.

 

 


Tradução: Presb Anamim Lopes Silva – 20/01/2006

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