Mateus 24:34,35

por

William Hendriksen



Eu solenemente lhes declaro que esta geração com certeza não passará até que tudo isso aconteça. O céu e a terra passarão, minhas palavras, porém, jamais passarão (Mateus 24:34,35 - tradução do autor).

[...]

Quanto à expressão, “Eu solenemente lhes declaro”, ver comentário sobre 5.18. É evidente que essas palavras são expressas com muita ênfase e uma impressionante solenidade. Entretanto, a pergunta é esta: “O que precisamente Jesus quis dizer com 'esta geração' e 'tudo isso' ou 'todas essas coisas'?” A noção de que “esta geração” se refere ou a. toda a humanidade, ou b. todos os crentes, pode ser descartada sem muita argumentação. Tal observação não só pode ser considerada um tanto supérflua e portanto inconcebível com vinda dos lábios do Senhor, mas também ambas as interpretações estão em desarmonia com o texto. Há ainda outro conceito que deve ser rejeitado, ou seja: “Antes de morrer, as pessoas hoje vivas vão ser testemunhas de todas essas coisas, inclusive também de minha vinda nas nuvens do céu”. Se esse é o significado, então Jesus estava equivocado. À luz do versículo 14, porém, é sem sentido crer que Jesus quisesse dizer algo desse gênero.

Entretanto, há duas interpretações que são dignas de série consideração. No tocante à primeira, Jesus quis dizer: “Esta geração não passará até que os eventos, culminando na queda de Jerusalém, hajam ocorrido”, não significando necessariamente: “A geração de nossos contemporâneos não terão morrido por esse tempo; alguns estarão ainda vivos”. Em apoio dessa interpretação, um ou mais dos seguintes argumentos é geralmente apresentado: a. a expressão “esta geração” em todos os lugares indica “as pessoas (especialmente os judeus) que atualmente vivem”; b. se “tudo isso” do versículo 33 se refere aos eventos que culminam na queda de Jerusalém, por que não teria o mesmo significado a expressão idêntica do versículo 34?; e c. 16:28 não é uma passagem paralela? –– não surpreende que pela força desses argumentos muitos se têm convencido de que este é realmente o significado.

Entretanto, a interpretação assim oferecida não está isenta de dificuldades, algumas das quais bastante sérias. Portanto, S. E. Johnson (Interpreter's Bible), comentando essa passagem, afirma que sua força exata é “incerta”; e F.W. Grosheide, op. cit., pp. 369, 370, rejeita essa interpretação, procedimento esse também de Lenski, op. cit., pp. 929,930.

No que respeita aos argumentos sumariados acima em sua defesa, podem considerar-se os seguintes argumentos:

Quanto ao item a. De modo algum se tem estabelecido que o termo “esta geração” deve se limitar aos contemporâneos. Pode também ter referência a “esta classe de pessoas” ; por exemplo, os judeus em qualquer tempo ou em qualquer idade. Dignas de consideração, nesse contexto, são passagens tais como Deuteronômio 32:5, 20, Salmo 12:7, 78:8, etc. onde a LXX usa a mesma palavra traduzida aqui por “geração”, evidentemente, porém, com um significado que vai além de “grupo de contemporâneos”. E assim, mesmo no Novo Testamento (ver Atos 2:30; Fp 2:15; Hb 3:10), ainda que o ponto de partida possa ser uma referência às pessoas daquele dia em particular, este poderia não ser todo o significado. Provavelmente também assim aqui em Mateus 24:34.

Quanto ao item b. Esse argumento poderia não ser tão decisivo quanto parece. Eis a questão: os verbos diferem: “Quando virem tudo isso” não é o mesmo que “até que tudo isso aconteça”. Jesus não quis dizer necessariamente que seus discípulos veriam acontecer tudo o que havia sido predito.

Quanto ao item c. O mesmo raciocínio aplica-se a 16:28. Essa passagem também se refere ao que “alguns dos que estão aqui” verão. Essa não é necessariamente uma expressão tão ampla como “tudo isso” ou “todas essas coisas” que “sucederão”. Portanto, não é verdade que 16:28 é um paralelo externo de Mateus 24:34.

Minhas razões para inclinar-me para o ponto de vista de que aqui no versículo 34 o Senhor está declarando que o povo judeu não passará até que todas as coisas que têm sido preditas –– eventos que se estendem ao longo de todos os tempos até à segunda e gloriosa vinda, e incluindo-a –– sucedam, são as seguintes:

Em primeiro lugar, como já foi indicado, a palavra grega “geração” pode referir-se a “um tipo de pessoas ou raça”, nesse caso os judeus.

Em segundo lugar, nos versículos precedentes, os séculos já passaram (ver especialmente os vv. 9 e 14). Ainda que os discípulos imediatos de Jesus não fossem “ver” tudo isso, essas coisas –– ou seja, a igreja sendo odiada por todas as nações, o evangelho sendo pregado por todo o mundo, etc. –– correspondem ao que “sucederá”.

Em terceiro lugar, os discípulos fizeram duas perguntas, a primeira no tocante à destruição de Jerusalém e seu tempo; a segunda, com respeito ao retorno de Cristo. Não pareceria natural que o versículo 33 é parte da resposta do Mestre à primeira pergunta, e que o versículo 34 responde à segunda?

Em quarto lugar, o contexto imediatamente seguinte: “Mas acerca daquele dia e hora ninguém sabe”, etc. (v. 36), refere-se ao dia do retorno de Cristo, vindo sobre as nuvens com poder e grande glória, como já ficou demonstrado. O resto do contexto (vv. 37-39) também aponta para o mesmo evento escatológico (cf. Lc 17:26-30; 2Pe 3:1-13).

Em quinto lugar, as palavras do versículo 35 também apontam para a consumação de todas as coisas.

Finalmente, é errôneo dizer que a idéia de que “o povo judeu não será completamente exterminado, senão que ainda estará sobre a terra quando do retorno do Senhor”, é um assunto que podia ser considerado como certo, e portanto não era necessária uma declaração solene. Ao contrário, parece mais natural que aqueles que, apesar de todos seus privilégios especiais, rejeitaram e crucificaram seu próprio Messias, foram apagados como nação. Certamente que merece mencionar-se que isso não ocorreria, senão que, pelo contrário, esse povo seguiria existindo, e que em todo tempo seu remanescente, assim como os dos não-judeus, seria salvo. Pelo menos Paulo, por direção divina, era dessa opinião (Rm 11:1,2,25,26); e devido à maravilhosa cadeia de eventos que essa manifestação da misericórdia de Deus traria, prorrompe em uma doxologia (Rm 11:36-36).

A majestosa declaração, “Minhas palavras não passarão”, merece ênfase, porque o caráter permanente da mensagem de Cristo, em contraste com a natureza transitória mesmo do “céu e terra” em sua atual condição, é o fundamento sobre o qual a fé pode se firmar. Ver também Isaías 40:8; João 15:7; Colossenses 3:16; 1 Pedro 1:24-25.

 

 



Fonte: C.N.T de Mateus - volume 2, William Hendriksen, Editora Cultura Cristã: páginas 513-517.

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