As Obras em Relação à Nossa Salvação

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(1) São Rejeitadas

Como fundamento da salvação, base sobre a qual possamos edificar nossa defesa, as obras são rejeitadas. “Nenhuma obra de minhas mãos pode satisfazer as exigências da lei”. Nesta conexão deve-se lembrar que o apóstolo não está pensando exclusivamente, ou mesmo principalmente, nas obras que se fazem em cumprimento da lei mosaica, por meio das quais os judeus não convertidos a Cristo buscam justificar-se. Certamente que, também por meio de tais “obras da lei”, “nenhuma carne será justificada diante de seus olhos” (Romanos 3:20; cf. Gálatas 2:16). Porém, em vista do fato de que Paulo estava escrevendo aos leitores, na sua maioria composta de crentes vindos do mungo gentílico, é evidente que o seu desejo é enfatizar que Deus rejeita toda obra humana, visto que os genios, os judeus, ou mesmo os crentes que enfrentam os eclipses espirituais, toda obra sobre a qual qualquer pessao baseia sua esperança de salvação. Se, pois, a salvação é um ato completamente de Deus, “aquele que não poupou nem mesmo a seu próprio Filho, senão que o entregou por todos nós” (Romanos 8:32), toda base de vanglória foi excluída (Romanos 3:27; 4:5; 1 Coríntios 1:31). Quando o Senhor vier em sua glória, os que estiverem à sua esquerda se vangloriarão (Mateus25:44; cf. 7:22); os que estiverem à sua direita nem mesmo poderão lembrar de suas boas obras (Mateus 25:37-39).

Ora, toda vanglória é excluída,
A bem-aventurança imerecida agora é minha.
Em Deus repousa a minha segurança,
Me glorio unicamente na soberana graça.
Antes que minha mãe me desse à luz,
Muito antes que a poderosa mão divina
Do nada fizesse mar e terra,
Seu amor eletivo contemplava o meu ser.
Deus é amor, ó voz angelical,
Ó línguas dos homens, elejam-no também.

(2) São Preparadas

Paulo prossegue: porque somos obra de suas mãos, craidos em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus preparou de antemão...O fato é que, embora as boas obras não são meritórias, todavia são taõ importantes que Deus nos criou a fim de que as praticássemos. Somos obra (= feitura) de suas mãos: o que Ele fez, seu produto (cf. Salmos 100:3). A Ele devemos toda a nossa existência, tanto a espiritual como a física. O nosso próprio nascimento como crentes vem de Deus (João 3:3,5). Somos criados em Cristo Jesus (veja-se comentário sobre 1:1,3,4), porque fora dele nada somos e nada podemos fazer (João 15:5; cf. 1 Coríntios 4:7). Como “homem em Cristo”, os crentes constituem uma nova criação, tal como o apóstolo já afirmou previamente (2 Coríntios 5:17): “E se alguém está em Cristo, é nova criatura (= criação): as coisas antigas já passaram: eis que se fizeram novas”. Os crentes foram “vivificados juntamente com Cristo” (veja-se comentário sobre v. 5, acima; e sobre 4:24, abaixo; também Gálatas 6:15).

Ora, em concomitância com o ato de nos criar, Deus também preparou as boas obras. Ele fez isso, primeiramente, dando-nos seu Filho, nosso grande Habilitador, em quem as boas obras encontram sua mais gloriosa expressão (Lucas 24:19; Atos 2:22). Cristo não só nos habilita a realizar as boas obras, mas Ele também é o nosso exemplo na prática delas (João 13:14,15; 1 Pedro 2:21). Em segundo lugar, Deus fez isto dando-nos fé em seu Filho. A fé é dom de Deus (v. 8). Ora, ao plantar a semente da fé em nossos corações, fazendo-a brotar, assistindo-a com grande solicitude, dando-lhe crescimento, etc., Deus também, nesse sentido, nos preparou para as boas obras, porquanto elas são o fruto da fé. A fé viva, além disso, implica uma mente renovada, um coração agradecido e uma vontade submissa. Com tais ingredientes —, todos eles são dádidas divinas — Deus prepara ou compõe as boas obras. E assim, sumariando, podemos dizer que ao dar-nos seu Filho, e ao conceder-nos a fé nesse Filho, Deus preparou de antemão nossas boas obras. Quando Cristo, por meio de seu Espírito, habita os corações dos crentes, seus dons e graças são-lhes outorgados, de modo que eles, também, produzem frutos, tais como “amor, gozo, paz, longaminidade, bondade, fidelidade, mansião e domínio próprio” (Gálatas 5:22,23).

(3) São Esperadas

Paulo conclui seu paráfrago ao acrescentar: para que andássemos nelas. Embora as boas obras são um produto da preparação divina, elas são, concomitantemente, uma resposabilidade humana. Estas duas jamais podem ser separadas. Se a salvação pode ser ilustrada pela figura de uma árvore em florescência, então as boas obras podem ser simbolizadas, não por suas raízes nem ainda por seu tronoc, mas, sim, por seus frutos. Jesus requer de nós fruto, mais fruto, muito fruto (João 15:2, 5, 8). Disse ele: “Eu sou a videira, vós os ramos. Quem permanece em mim, e eu nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer” (João 15:5). Produzir muito fruto e andar nas boas obras é a mesma coisa. Quando uma certa ocupação domina o coração de um homem, ele está “andando” nela. Observe-se: andar nelas, e não em “delitos e pecados” (vv. 1 e 2).

(4) São Aperfeiçoadas

Combinando (2) e (3), vemos que ao andar em boas obras entramos na esfera da própria atividade de Deus. Portanto, sabemos que embora os nossos próprios esforços às vezes nos desapontam, de modo que nos sentimos envergonhados até mesmo das nossas boas obras, a vitória chegará afinal; certamente não de uma forma plena nesta vida, mas na vida futura. A perfeição moral e espiritual é o nosso alvo ainda aqui, mas será nossa porção na vida porvir, porque estamos convictos de que aquele que começou a boa obra em nós há de completá-la afinal (Filipenses 1:6). Cf. Efésios 1:4; 3:19; 4:12,13.

Esta doutrina das boas obras, quando aceita pela fé, priva o homem de toda e qualquer razão para vangloriar em si mesmo, mas ao mesmo tempo o livra de todo motivo de desespero. Glorifica a Deus.

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Fonte: Extraído do excelente comentário de “Efésios”, de William Hendriksen, publicado pela Editora Cultura Cristã. Páginas 157-159.