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Lealdade a Homens

Você sabe que todos os da província da Ásia me abandonaram, inclusive Fígelo e Hermógenes.

O Senhor conceda misericórdia à casa de Onesíforo, porque muitas vezes ele me reanimou e não se envergonhou por eu estar preso; ao contrário, quando chegou a Roma, procurou-me diligentemente até me encontrar. Conceda-lhe o Senhor que, naquele dia, encontre misericórdia da parte do Senhor! Você sabe muito bem quantos serviços ele me prestou em Éfeso. (2 Timóteo 1.15-18)

Paulo tinha se tornado um pára-raios, um ponto focal para críticas e perseguições, e o governo o tratou como um criminoso. Muitas pessoas tinham o abandonado. Não sabemos quantos desses o abandonaram por temerem estar associados com ele, como quando Pedro negou que conhecia até mesmo Jesus, e quantos desses repudiaram também as doutrinas que ele ensinava. Sabemos que houve deserções do evangelho e que havia mestres de doutrinas estranhas. Assim, se podemos fazer a distinção, algumas pessoas abandonaram não somente o homem, mas também a religião que ele pregava.

A Escritura condena a adulação de homens. É obviamente inaceitável fazer de um mero homem algum tipo de deus. E o respeito que temos para com ministros do evangelho não deve ser o tipo que divide os cristãos em seitas, identificando-nos com pessoas. Paulo repreende os corintos por formação de panelinhas baseadas em lealdade a Pedro, Paulo, Apolo e assim por diante. Os corintos poderiam se considerar modernos por sua erudição religiosa e personalidades, e cada grupo poderia se congratular por seu discernimento e bom gosto, mas o apóstolo considera isso como uma forma não espiritual de pensar.

Contudo, embora nossa lealdade direta e última seja oferecida a Deus somente, existe uma lealdade legítima aos representantes humanos do evangelho. Deus mesmo frequentemente arranja relacionamentos humanos para nós, os quais ele nos ensina cultivar, e nos quais devemos aplicar os princípios bíblicos de amor e fidelidade. Dessa forma, não é errado, mas sim até mesmo obrigatório, exibir uma lealdade relativa aos homens por causa de Cristo. Como Jesus diz: “Quem recebe vocês, recebe a mim; e quem me recebe, recebe aquele que me enviou. Quem recebe um profeta, porque ele é profeta, receberá a recompensa de profeta, e quem recebe um justo, porque ele é justo, receberá a recompensa de justo. E se alguém der mesmo que seja apenas um copo de água fria a um destes pequeninos, porque ele é meu discípulo, eu lhes asseguro que não perderá a sua recompensa” (Mateus 10.40-42).

Onesífero receberá certamente a sua recompensa “naquele dia”. Enquanto outras pessoas, incluindo aquelas que alegam ser cristãs, ficaram temerosas e embaraçadas de serem associadas com um prisioneiro, ele “procurou diligentemente” por Paulo até que o encontrou. Ele fez isso por Paulo o homem como um amigo, mas o fez por causa de Cristo, como um cristão e para um cristão. Como Jesus disse em outro lugar, “… estive preso, e vocês me visitaram… Digo-lhes a verdade: O que vocês fizeram a algum dos meus menores irmãos, a mim o fizeram” (Mateus 25.36-40). Você não pode julgar um homem baseado em suas circunstâncias. Suponha que você conheça em primeira mão a boa doutrina e o caráter de um homem, mas agora ele caiu em desfavor. O que você irá fazer?

As cartas de Paulo a Timóteo também incluem princípios que se aplicam a todos os cristãos, mas ele também aborda situações que pertencem especialmente a ministros do evangelho. Embora gostaríamos de pensar melhor sobre as pessoas, o fato é que muitas pessoas são fracas e instáveis. Um ministro não pode colocar muita confiança em seus mantenedores, especialmente se eles nunca foram testados pela pressão. Uns poucos homens poderiam se provar fiéis em face da opinião pública negativa e mesmo de sério perigo. Tais homens são confiáveis e deve ser confiado a eles a tarefa de transmitir e continuar a fé cristã. Sem dúvida, não é que tiraremos o ensino do evangelho das mãos de homens inconfiáveis, mas devemos deliberadamente descobrir aqueles que são confiáveis e estabelecê-los no ministério, de forma que a religião cristã possa avançar nesta geração, e possa continuar nas gerações futuras.

Deus confia a obra do evangelho a homens, mas isso não significa que ele necessite do serviço deles. Comentando sobre uma passagem anterior, William Barclay escreve: “A ideia da dependência de homens por Deus nunca está longe do pensamento do Novo Testamento. Quando Deus quer algo, ele tem que encontrar um homem para realizar isso… ele tem que encontrar algum instrumento para fazer a sua obra”. Essa é uma doutrina demoníaca. Ao invés de algo que “nunca está longe” do pensamento do Novo Testamento, essa opinião está em contradição direta ao ensino explícito do Novo Testamento sobre Deus. Como Paulo diz: “Ele não é servido por mãos de homens, como se necessitasse de algo, porque ele mesmo dá a todos a vida, o fôlego e as demais coisas” (Atos 17.25).

É um ataque à natureza de Deus alegar que ele depende de suas criaturas para algo. Mesmo num nível humano, um pai pode dizer ao filho para realizar certas tarefas ao redor de casa, como tirar o lixo, mas isso não significa que ele seja dependente do seu filho para realizá-las. Ele mesmo pode realizá-las, e provavelmente faria um trabalho muito melhor. De fato, seu filho pode algumas vezes realizar uma bagunça, e o pai pode precisar vir limpar ou consertar o problema. Você pergunta: por que então ele manda o seu filho fazer as tarefas? Se você é um pai e não sabe a resposta para isso, você provavelmente deveria levar o lixo para fora até descobrir. E pense sobre o que discutimos anteriormente sobre o “drama” da redenção.

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Fonte: Reflections on Second Timothy

Tradução: Felipe Sabino de Araújo Neto

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