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A perda de nossos heróis e a soberania de um Deus dom

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Se falharmos em afirmar a soberania de Deus — sua vontade divina de fazer tudo quanto lhe agrada — estaremos absolutamente perdidos nas complexidades e ciclos da vida.

A perda de mais um herói está se tornando algo difícil de suportar. Alguns de meus amigos falaram com eloquência acerca de Voddie Baucham a partir de um relacionamento pessoal. Meu favorito vem de Lennox Kalifungwa, que concluiu poeticamente sua eulogia ao Dr. Baucham:

Um gigante adormeceu, e sua vida e morte enviaram ondas por todo o mundo. O mundo é melhor por Voddie ter passado por ele. E enquanto os santos na terra aguardam o dia em que o verão novamente, que muitas vidas sejam testemunho do ideal pelo qual Voddie buscou viver: excelência pela verdade.

De fato, Voddie era um gigante, uma personificação de intelecto e força. Sua presença era algo digno de contemplação, deixando uma impressão profunda por onde quer que passasse. Inicialmente, era silencioso. Falava quase com cautela, mas então, em um instante, podia transmitir sua ideia com o fervor de um Billy Sunday, mas com a precisão de um apologista habilidoso.

Voddie era o tipo de homem que buscava o favor de Deus, e esse favor o levou à Zâmbia por um tempo para iniciar uma faculdade de educação clássica. Ele poderia facilmente ter permanecido nos Estados Unidos e usado sua notoriedade para construir uma megaigreja, mas levou sua esposa e filhos para o sul da África. De fato, na única ocasião em que ele e eu passamos algum tempo juntos, ele estava aqui no norte da Flórida levantando fundos para jovens moças da faculdade. Conversamos por alguns minutos sobre o New Saint Andrews College e seu impacto em seu próprio ministério na Zâmbia. Voddie já estava comprometido a retornar aos Estados Unidos, mas era bastante claro que seu coração também estava profundamente enraizado nas amizades e no legado que havia estabelecido na Zâmbia. Ele passou quase uma década como Reitor de Teologia na African Christian University em Lusaca.

Sua visão de nutrir famílias por meio de uma educação distintamente cristã, combinada com seus famosos e inflamados sermões contra a educação pública, deixaram uma marca duradoura entre muitos evangélicos.

É difícil compreender que, em apenas 30 dias, perdemos John MacArthur, Charlie Kirk e agora Voddie. Este mundo era indigno de sua presença, e assim Deus lhes preparou uma cidade eterna.

A soberania de um Deus bom

Então, o que fazemos quando nossos heróis morrem?

Quando eu era criança, havia uma garrafa térmica em toda mesa de café da manhã. Eu despejava aquele café em minha caneca. Minha mãe já havia feito o café antes que qualquer um de nós se levantasse. E era delicioso. Assim, quando criança, eu sempre supunha que café era doce e cremoso. Então cresci e deixei as coisas de menino para trás, e descobri que o café original é feito quando os grãos são moídos e se derrama água fervente sobre eles, resultando em um líquido negro que desce para a câmara. O café é naturalmente negro e forte, sem açúcar nem creme adicionados. Contudo, muitos caminham pela vida imaginando que Deus é alguém que só tem melhor sabor quando acrescentamos nossos próprios sabores.

Mas quando heróis morrem, não devemos depender de um Deus pré-saborizado. Permita-me colocar desta forma: a Bíblia é calvinismo em café preto. A menos que você se depare com um Deus soberano e não adulterado, você acabará transformando-o em algo totalmente diferente. Você tentará consertar o que Deus fez. Como fazer sentido do que não faz sentido? Como compreender a morte de um titã de 56 anos que serviu à igreja com tanta fidelidade nestas últimas três décadas de ministério e fez tanto bem? Você não pode, a menos que abrace o Deus das Escrituras.

As Escrituras nos ensinam que a vida está fora do nosso controle (Ec 1.1). A vida está fora do nosso controle, mas Deus não está fora de controle. Ele está totalmente no comando. A Confissão de fé de Westminster diz:

Ele é a única fonte de todo ser, de quem, por quem e para quem são todas as coisas; e tem o domínio soberano sobre elas, para fazer por elas, para elas ou sobre elas tudo quanto lhe agrada.

Experimente isso no seu café da manhã! Este é o Deus que adoramos — um Deus cuja vontade permanece, com ou sem o consentimento do homem. A verdadeira sabedoria reconhece que não há nada que eu possa fazer para mudar o que Deus vai fazer. Colocamos nossa esperança em Deus, que faz novas todas as coisas. O que Deus decretou, nenhum homem pode alterar! Como diz Jó: “Nu saí do ventre de minha mãe, e nu voltarei”. Falando em Jó, lembre-se de como seus amigos reagiram a este servo justo? Eles argumentaram que Jó não era justo, porque, se fosse, Deus lhe teria dado uma vida melhor. O rei Salomão afirma em Eclesiastes que dias de prosperidade e dias de adversidade vêm todos das mãos de Deus. Isso inclui indivíduos como Charlie Kirk e Voddie Baucham. Sofremos nos dias de adversidade em nossa terra evangélica. Mas não sofremos sob a tutela de um Deus caprichoso e cínico. Sofremos sob o cuidado do Deus de toda consolação!

Se falharmos em afirmar a soberania de Deus — sua vontade divina de fazer tudo quanto lhe agrada, e de realizar o maior prazer e bem — estaremos absolutamente perdidos nas complexidades e ciclos da vida. A morte dos justos parecerá mero azar cósmico, em vez da benevolência causal de Deus.

Às vezes os justos morrem jovens. Nossas mentes ponderam os muitos porquês de uma providência tão dura. Mas aqueles que permanecem se lembrarão de seus labores. E sabemos que eles não são em vão. É o Deus soberano quem dá e quem tira. É o Deus soberano quem consola quando choramos, e é o Deus soberano quem fará brotar muito fruto.

Descanse em paz, Voddie! Nós nos encontraremos novamente!

Tradução: Felipe Sabino

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