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C.S. Lewis – Sobre a Masturbação

Data: 3/6/56

Magdalene College

Cambridge

 

Caro Mr. Masson…

… eu concordo que todo o papo sobre o “desperdício de fluidos vitais” é bobagem. Para mim, o real mal da masturbação seria que ela toma um apetite que, em seu uso legítimo, leva o indivíduo para fora de si mesmo para completar (e corrigir) sua própria personalidade na de outro (e finalmente em filhos e mesmo netos) e o vira ao contrário: envia o homem de volta para a prisão de si mesmo, para manter ali um harém de noivas imaginárias. E este harém, uma vez admitido, sempre trabalha contra ele escapar e realmente se unir com uma mulher real. Porque o harém está sempre acessível, sempre subserviente, não pede sacrifícios ou ajustes e pode ser dotado com atrações eróticas e psicológicas com que nenhuma mulher real pode competir. Dentre essas noivas sombrias ele é sempre adora, sempre o amante perfeito: nenhuma demanda é feita por seu altruísmo, nenhuma mortificação sequer imposta sobre sua vaidade.

No fim, elas se tornam meramente  meio pelo qual ele crescentemente adora a si. Leia o Descent Into Hell de Charles Williams e estude o personagem Mr. Wentworth. E não é só a faculdade de amor que é assim esterilizada, forçada contra si mesma, mas também a faculdade da imaginação.

O verdadeiro exercício da imaginação, na minha visão, é (a) ajudar-nos a entender outras pessoas e (b) responder a e, em alguns de nós, produzir a arte. Mas ela também tem um uso ruim: prover para nós, numa forma sombria, um substituto para virtudes, sucessos, destaques, etc. que deveriam ser buscados lá fora, no mundo real, por exemplo, fantasiando sobre tudo o que eu faria se fosse rico ao invés de lucrar e poupar.  A masturbação envolve este abuso da imaginação em questões eróticas … e assim encoraja um abuso semelhante dela em todas as esferas. Afinal, é praticamente a principal tarefa da vida sair de nós mesmos, fora desta pequena e escura prisão em que todos nascemos. A masturbação deve ser evitada como todas as coisas devem ser evitadas em relação a este processo. O perigo é o de acabar amando a prisão.

Sinceramente,

C.S. Lewis

 

Collected Letters of C. S. Lewis: Vol 3 (Cambridge University Press, 2007), pp.758-59; ênfase no original

Traduzido por: Guilherme Cordeiro.