Pular para o conteúdo

Deus te Fez um Hedonista: Você Suprime Seu Desejo Pela Felicidade? por David Mathis

Desde cedo, meu cristianismo foi muito orientado para o dever. Meu avô viveu o seu dever no auge como um veterinário da Segunda Guerra Mundial, e meu pai me ensinou diligentemente a fazer o que a vida exigia, quer eu quisesse ou não. Meu coração e minha felicidade pareciam em segundo lugar, na melhor das hipóteses, e em minha incredulidade latente, assumi o mesmo com relação ao cristianismo. Minha necessidade por ser feliz, desconfiei, era mais um prejuízo do que um bem.

Você também quer ser feliz e sabe disso. Como eu, você é um hedonista de coração e não pode escapar disso. Durante toda a sua vida, você tem tentado satisfazer um desejo profundo de verdadeira alegria, encontrando aquele cônjuge perfeito, desfrutando de boa comida e bebida, conhecendo pessoas populares, coletando amigos de confiança, viajando para lugares pitorescos, vencendo competições esportivas (seja como um jogador ou um fã), alcançando o sucesso na escola ou no trabalho e colocando as mãos nos últimos gadgets. Nossos anseios insatisfeitos nos atormentam tarde da noite, enquanto percorremos as mídias sociais e passamos de canal em canal.

A maioria de nós não é infinitamente infeliz. Encontramos medidas de satisfação momentâneas, mas não ficamos satisfeitos. Nós não podemos! Ainda não encontramos o que procuramos – pelo menos não ainda. Por que Deus nos planejou para a alegria? Por que essa busca universal de satisfação?

Surpreendido Pela Alegria

Eu me lembro, quando era um calouro na faculdade, sentir uma espécie de fascinação pela alegria. Quando criança, nós cantávamos: “Eu tenho alegria, alegria, alegria e alegria no meu coração”. A alegria, quando mencionada na igreja, muitas vezes parecia tão leve e irreverente. E, no entanto, aquele fruto do Espírito (Gálatas 5:22-23) se conectou com os meus mais profundos anseios por felicidade que eu estava apenas começando a perceber como um calouro de faculdade, vivendo longe de casa pela primeira vez.

Meus pais e minha igreja me ensinaram que eu podia confiar na Bíblia, e isso fez toda a diferença. Como estudante universitário, em busca de estabilidade e raízes em um campus secular (até mesmo anticristão), aprendi a me orientar na Bíblia e, quando abri suas páginas, fiquei impressionado com o que descobri sobre alegria e prazer. Foram os Salmos, em particular, que me despertaram para a possibilidade e promessa de verdadeira alegria – que a alegria não é a cereja do bolo do cristianismo, mas um ingrediente essencial da massa.

Sedentos por Deus

“Agrada-te do SENHOR”, diz o Salmo 37:4 – e não apenas este mandamento, mas também essa promessa – “e ele satisfará os desejos do teu coração”. Você quer dizer que Deus não fica desconfiado ou é frustrado por meus desejos? Ele fez meu coração para desejar, isso significa satisfazer, não ferir, meus anseios mais profundos?

E onde isso acontecerá? NEle. “na tua presença”, diz o Salmo 16:11, “há plenitude de alegria, na tua destra, delícias perpetuamente.” A verdadeira alegria vem não só de Deus como um presente de Sua mão, mas na busca de Sua face. Para Ele – conhecê-lo, gastar dEle – foi para isso que Ele fez meus desejos. Ele fez meu coração humano inquieto para satisfação real nEle. Ele fez minha alma ter sede, e quis que eu não negasse minha sede, mas a satisfizesse, nEle. “Ó Deus, tu és o meu Deus forte; eu te busco ansiosamente; a minha alma tem sede de ti; meu corpo te almeja, como terra árida, exausta, sem água.”(Salmos 63:1).

Várias vezes, os Salmos tocaram a alma do povo de Deus, desencorajaram os movimentos do mero dever e destacaram o lugar central do coração – tanto na honestidade sobre nossas muitas tristezas nesta vida, quanto na esperança de nos ordenar a “nos regozijarmos no Senhor ”(Salmo 40:16; 64:10; 97:12; 104:34; 105:3; 118:24).

Descobrir que meu desejo inegável de ser feliz não era apenas normal, mas bom, e que o Deus que me fez realmente queria que eu fosse tão feliz quanto humanamente possível nEle – era quase bom demais para ser verdade. Quase. Aprender, e então começar a experimentar por mim mesmo, que Deus não era o desmancha-prazeres cósmico que eu havia assumido, mas que Ele estava comprometido, com toda a Sua soberana energia e poder, para me fazer bem (Jeremias 32:40-41) – levou semanas, até meses, até que essas boas notícias chegassem. E eu ainda não superei isso, até hoje.

Mas notícias melhores ainda estavam por vir.

Tudo para a Glória de Deus

Eu soube desde pequeno que “a glória de Deus”, que muitas vezes parecia apenas uma expressão cristã, era real – e importante. Virando as páginas na minha Bíblia, eu encontrei isso em toda parte, como 1 Coríntios 10:31: “Portanto, quer comais, quer bebais ou façais outra coisa qualquer, fazei tudo para a glória de Deus.”

Deus fez o mundo e nos fez (Isaías 43:7), para que Ele fosse glorificado. É claro e cria uma crise para muitos cristãos. Deus quer que busquemos Sua glória ou nossa alegria? Sua honra e minha felicidade são duas atividades paralelas na vida cristã? Se sim, como nós buscamos as duas coisas?

Então veio a descoberta mais notável, através da leitura de Desiring God de John Piper: nossa felicidade em Deus glorifica a Deus. O desígnio de Deus de ser glorificado e meus desejos de ser feliz se juntam em uma – não duas – incrível busca: a busca da alegria em Deus. Porque, como Piper defende, “Deus é mais glorificado em nós quando estamos mais satisfeitos nele”.

Não podemos reprimir nossos corações recém-nascidos e esperar honrar plenamente a Deus. Ele é apenas parcialmente honrado pelo dever.

Deus Quer que Você Seja Feliz

Deus não é honrado quando prestamos homenagem à nossa própria vontade de ferro, dizendo a Ele em oração ou na igreja: “Eu não quero nem estar aqui, mas estou aqui”. Não. O que O honra, o que O glorifica, é nossa alegria, nossa satisfação nEle. Deus é mais glorificado quando dizemos com o salmista: “Ó Deus, tu és o meu Deus forte; eu te busco ansiosamente; a minha alma tem sede de ti; meu corpo te almeja, como terra árida, exausta, sem água.”(Salmos 63:1) e “na tua presença há plenitude de alegria, na tua destra, delícias perpetuamente.”(Salmos 16:11b). Nada me faz mais feliz do que conhecer a Ti, Pai, através de seu Filho, Jesus, e estar aqui contigo na Sua palavra, na oração e na adoração corporativa. Você é minha alegria. Você é meu tesouro. Você é meu prazer. E naquelas palavras, e no coração por trás delas, com minha alma satisfeita nEle, meu Deus é glorificado.

A alegria, então, na vida cristã não é opcional, mas essencial. Deus deseja que nós sejamos felizes nEle – não perfeitamente ainda, nesta era caída e pecaminosa, mas com pitacos reais da alegria perfeita por vir – e em nossa felicidade nEle, Ele é honrado. Ele é visto como supremo quando O desfrutamos como supremo.

Alguns chamam isso de “hedonismo cristão”. Alguns chamam isso apenas de cristianismo. É assim que Deus projetou, e como a Bíblia ensinou isso o tempo todo, e é o que você verá ao longo da história da igreja se você tiver olhos para isso. E esse é um paradigma poderoso e urgente em nossos dias dirigidos pelo dever e em uma sociedade cada vez mais pós-cristã.

Não tente escapar: Deus intencional e carinhosamente te projetou para a alegria. O poderoso fascínio do prazer, a busca por satisfação, sua infindável necessidade por ser feliz, a incessante fábrica de desejos dentro de você, está de fato levando você para algum lugar: para o próprio Deus.

David Mathis (@davidcmathis) é editor executivo do desiringGod.org e pastor da Cities Church em Minneapolis. Ele é um marido, pai de quatro e autor de Habits of Grace: Enjoying Jesus through the Spiritual Disciplines.

Traduzido por Felipe Barnabé

Fonte: God Made You a Hedonist Do You Suppress Your Desire for Happiness?