O segundo mandamento é um dos mais longos.[1] É interessante notar que os mandamentos mais extensamente formulados nas Escrituras (o segundo e o quarto) são justamente aqueles cujo significado é mais debatido na igreja nos dias de hoje. Eis a formulação do mandamento em Êxodo 20.4-6:
Não farás para ti imagem de escultura, nem semelhança alguma do que há em cima nos céus, nem embaixo na terra, nem nas águas debaixo da terra. Não as adorarás, nem lhes darás culto; porque eu sou o Senhor, teu Deus, Deus zeloso, que visito a iniquidade dos pais nos filhos até à terceira e quarta geração daqueles que me aborrecem, e uso de misericórdia com milhares dos que me amam e guardam os meus mandamentos.
Eis a exposição do mandamento segundo o Catecismo Maior de Westminster:
Pergunta 108.Quais são os deveres exigidos no segundo mandamento?
Resposta. Os deveres exigidos no segundo mandamento são: receber, observar e guardar puro e completo todo culto religioso e todas as ordenanças que Deus instituiu em sua Palavra; particularmente, oração e ações de graças em nome de Cristo; leitura, pregação e audição da Palavra; administração e recepção dos sacramentos; governo e disciplina eclesiásticos; o ministério e seu sustento; jejum religioso; jurar pelo nome de Deus e fazer votos a ele; bem como reprovar, detestar e opor-se a todo culto falso; e, conforme o lugar e o chamado de cada um, removê-lo juntamente com todos os monumentos da idolatria.
Pergunta 109. Quais são os pecados proibidos no segundo mandamento?
Resposta. Os pecados proibidos no segundo mandamento são: inventar, aconselhar, ordenar, usar ou aprovar de qualquer modo qualquer culto religioso não instituído por Deus mesmo; tolerar uma religião falsa; fazer qualquer representação de Deus, de uma ou de todas as três pessoas da Trindade, seja interiormente em nossa mente, seja exteriormente por meio de qualquer espécie de imagem ou semelhança de qualquer criatura; adorar tal imagem, ou a Deus nela, por meio dela, ou por seu intermédio; fazer qualquer representação de deuses fictícios, bem como todo culto ou serviço a eles prestado; toda invenção supersticiosa, corrupção do culto de Deus, adição a ele ou subtração dele, quer inventada e adotada por nós mesmos, quer recebida por tradição de outros, ainda que sob o título de antiguidade, costume, devoção, boa intenção ou qualquer outro pretexto; simonia; sacrilégio; todo desprezo, negligência, impedimento e oposição ao culto e às ordenanças que Deus instituiu.[2]
Assim como no primeiro mandamento, vemos aqui uma lista minuciosa de aplicações, a qual provoca exame de consciência. As aplicações abrangem um território vasto, incluindo ações que usualmente não associamos de maneira imediata ao segundo mandamento. Pensamos com frequência, por exemplo, que receber os sacramentos seja uma aplicação do segundo mandamento? Ou de que maneira o jejum religioso se relaciona com a proibição de utilizar imagens esculpidas no culto? Explorarei estas e outras questões na discussão que se segue.
AS IMAGENS SÃO SEMPRE MÁS?
Uma leitura literal do versículo 4 nas traduções típicas em inglês sugere que o mandamento proíbe a confecção de qualquer imagem, de qualquer coisa. Com base nesse entendimento, o mandamento proíbe toda arte representacional, conforme sustenta a visão islâmica. Mas tal interpretação é altamente improvável. Nada mais nas Escrituras sugere que fazer imagens seja sempre errado. Com efeito, o próprio Deus exige a confecção de imagens no próprio contexto do culto. Em Êxodo 25.18-20, Deus ordena a Moisés que faça “dois querubins de ouro” para colocar nas extremidades do propiciatório, na parte mais santa do tabernáculo. Os querubins também devem adornar as cortinas do tabernáculo (36.8). O castiçal no Lugar Santo deve ter seis hastes (como uma árvore), e as taças devem ser “como flores de amendoeira” (25.33-34). A barra das vestes do sacerdote contém imagens de sinos e romãs (28.33-34). O templo de Salomão era ainda mais ornamentado, com cedro “lavrado de coloquintes e flores abertas” (1 Reis 6.18). O templo incluía também imagens de querubins no santuário interior (1 Reis 6.23-28), e “ao redor de todas as paredes da casa [Salomão] lavrou entalhes de querubins, de palmeiras e de flores abertas, tanto por dentro como por fora” (v. 29; cf. v. 32, 35). As palmeiras e os querubins reaparecem na visão de Ezequiel de um templo futuro (Ez 41.17-20), e Deus diz a Ezequiel que os querubins tinham dois rostos, um de homem e outro de leão.
Essas imagens remetem ao jardim do Éden: suas coisas belas e em crescimento e os querubins que vedaram o retorno do homem após a queda (Gn 3.24). Assim, o tabernáculo e o templo servem como imagens do jardim. Com efeito, é-nos dito em Hebreus 8.5 que todo o tabernáculo é também uma imagem do céu, o antítipo do Éden. É uma imagem, uma semelhança, do tabernáculo celestial. É por essa razão que Moisés devia fazer tudo exatamente segundo o modelo que Deus lhe mostrara no monte (Êx 25.40; Hb 8.5).
Quando Israel reclamou da comida que Deus lhes dera no deserto, Deus enviou “serpentes abrasadoras” entre eles, e muitos morreram (Nm 21.6). Quando o povo se arrependeu, Deus ordenou por meio de Moisés: “Faze uma serpente abrasadora e põe-na sobre uma haste; todo o que for mordido, vendo-a, viverá” (v. 8). Aqui novamente, Deus ordena a confecção de uma imagem, e até mesmo chama o povo a olhar para aquela imagem a fim de receber cura. Em João 3.14–15, a serpente torna-se símbolo de Jesus, erguido para morrer, “para que todo o que nele crê tenha a vida eterna.”
É inconcebível que Deus ordenasse a confecção de imagens nessas ocasiões se fazer imagens fosse intrinsecamente pecaminoso.
Alguém poderia argumentar que as imagens só são legítimas quando Deus ordena diretamente que sejam feitas. Mas não há razão para supor que Deus tenha ordenado diretamente as imagens da cabeça de bezerro e dos leões no trono de Salomão (1 Reis 10.19-20), e as Escrituras não sugerem que houvesse qualquer erro naquelas imagens. Mais relevante é o fato de que a linguagem do segundo mandamento não faz qualquer qualificação nesse sentido, e tampouco há qualquer sugestão em outras partes das Escrituras de que a arte em geral requeira um mandado divino direto.
Outros sugeriram que, embora não seja errado fazer imagens, é errado permitir que sejam exibidas em um lugar de culto. Mas essa visão é refutada pelos muitos textos listados acima, nos quais Deus ordena a confecção de imagens precisamente para o lugar de culto de Israel, até mesmo para o lugar santíssimo da presença de Deus. E o segundo mandamento em si não contém qualquer referência a localização, nem tampouco o fazem outros textos que refletem o ensino daquele mandamento.
O que Êxodo 20.4-5 ensina, antes, é que não devemos fazer imagens com o propósito de nos prostrarmos diante delas e de servi-las. Isso é evidente pelo uso da palavra pesel (traduzida como “imagem de escultura”) no versículo 4. Um pesel nas Escrituras nunca é simplesmente uma obra de arte. É sempre uma imagem usada com fins idólatras. Ademais, a conexão entre os versículos 4 e 5 mostra implicitamente que o que Deus proíbe não é a arte em si mesma, nem mesmo a arte situada num lugar de culto, mas sim a arte feita como objeto de culto. Embora essa relação entre os dois versículos não seja explícita, ela é gramaticalmente possível e necessária neste contexto. O hebraico nem sempre declara explicitamente a relação entre uma oração e a seguinte, de modo que devemos determinar essa conexão pelo contexto (e, naturalmente, pelo contexto mais amplo das Escrituras).
A relação implícita entre fazer imagens e adorá-las torna-se explícita em Levítico 26.1: “Não fareis para vós outros ídolos, nem vos levantareis imagem de escultura, nem coluna, nem poreis pedra com figura na vossa terra para vos inclinardes a ela; porque eu sou o Senhor, vosso Deus”. Aqui novamente, o que Deus proíbe não é a confecção de qualquer imagem para qualquer propósito, mas sim a confecção de um ídolo (elil), um objeto a ser adorado. Levítico 26.1 menciona também imagens (pesel, como já vimos) e “pedras com figura” (matstsebah). A palavra matstsebah pode ser usada em sentido positivo, como em Gênesis 28.18, quando Jacó ergueu uma pedra como “coluna” para memorizar seu encontro com Deus em Betel. Mas Levítico 26.1 menciona apenas o uso ilícito. Assim, Levítico, de modo mais explícito do que Êxodo 20.4-5, relaciona a proibição das imagens ao seu uso como objetos de culto.
Essa compreensão se harmoniza com as descrições bíblicas de ídolos como “deuses de prata” e “deuses de ouro” (Êx 20.23), “deuses de metal fundido” (34.17; Lv 19.4). Essas expressões não se referem às imagens enquanto tais, mas às imagens usadas como objetos de adoração.
Em 2 Reis 18.4, aprendemos que o rei Ezequias destruiu a serpente de bronze que Moisés havia feito, porque o povo começara a queimar incenso diante dela. Mais uma vez, o padrão é este: uma imagem é legítima como mera representação, ou até mesmo, neste caso, como meio de cura divina. Mas adorar a serpente de bronze era pecado, e para impedir esse culto, o próprio objeto teve de ser destruído. É o uso indevido de uma imagem que Deus condena, não a sua existência ou presença.
Este é o pecado condenado repetidas vezes nas Escrituras: fazer ídolos como objetos de falso culto. Este é o sentido estrito do segundo mandamento.
OBJETOS DE CULTO
Na discussão anterior, afirmei que o segundo mandamento proíbe o uso de imagens como “objetos de culto”. Essa expressão exige uma explicação mais detalhada.
No paganismo, a relação entre a imagem e a divindade é mais do que meramente pictórica ou mesmo representativa. Algo da santidade do deus adere à própria imagem. A conexão entre a imagem e a divindade pode ser tão estreita que o adorador considera o objeto material como sendo ele próprio divino de alguma maneira. Esse conceito está implícito em Êxodo 20.23, Êxodo 34.17 (mencionados acima) e também em Isaías 44.12-20, onde Deus ridiculariza o homem que usa metade de sua lenha para fazer fogo e a outra metade para fabricar um ídolo a que se prostra. Por mais absurdo que pareça, o pagão clama à sua madeira para que o salve.
Em outras formas de paganismo, a relação entre a imagem e a divindade pode ser mais sutil. A imagem pode ser considerada como um canal sacramental da influência divina, ou como uma representação do divino, caso em que se julga que a imagem merece reverência por causa do que representa.
Quando, pois, afirmo que o segundo mandamento proíbe o uso de imagens como “objetos de culto”, pretendo incluir todas essas formas de paganismo. Toda visão que justifica prostrar-se diante de uma imagem é errada, e prostrar-se diante de uma imagem, qualquer que seja a justificativa, é também errado.
IMAGENS DO VERDADEIRO DEUS
A discussão deste mandamento na igreja tem frequentemente se concentrado na questão de saber se nos é lícito representar o verdadeiro Deus por meio de uma imagem. Inicialmente, pode nos causar estranheza o fato de que o mandamento nada diga especificamente acerca de imagens de Deus. Ele menciona apenas imagens de coisas da criação — no céu, na terra ou no mar.
Mas, como já indiquei acima, o ponto essencial é que, na idolatria, imagens de coisas terrenas são utilizadas para representar o sobrenatural, de modo que as próprias imagens se tornam objetos de culto. Assim, a idolatria envolve tanto a imagem em si quanto aquilo que se supõe que a imagem represente. Na idolatria, a imagem de algo terreno representa uma divindade.
Portanto, o mandamento proíbe o culto de imagens representando qualquer divindade, seja falsa, seja verdadeira. Com efeito, alusões posteriores ao segundo mandamento na Escritura frequentemente se concentram nas tentativas de se cultuar o verdadeiro Deus por meio de imagens. Êxodo 32 é talvez o paradigma da idolatria praticada pelo povo de Deus. Moisés tarda a retornar da presença de Deus, e o povo pede a seu irmão Arão, o sumo sacerdote, que “nos faça deuses que vão adiante de nós” (v. 1). Com o ouro doado pelo povo, ele faz um bezerro de ouro e diz: “São estes, ó Israel, os teus deuses, que te tiraram da terra do Egito!” (v. 4). Então ele edifica um altar diante do bezerro e proclama: “Amanhã será festa ao Senhor [Yahweh]” (v. 5). A construção gramatical aqui tem características curiosas. Há um só bezerro, mas um pronome plural é usado no versículo 4 (em eco aos “deuses” do v. 1). Parece haver, portanto, aspectos politeístas no culto falso do povo. Por outro lado, Arão atribui aos “deuses” o ato de tirar o povo do Egito (v. 4), citando o prólogo do próprio Decálogo. Ademais, Arão declara uma festa a Yahweh. Assim, em meio a certa confusão politeísta, parece evidente que Arão e o povo consideram o bezerro de ouro como uma imagem de Yahweh (talvez em companhia de outros seres).[3]
O mesmo ocorre evidentemente em 1 Reis 12.25-33, passagem que o narrador bíblico certamente considera paralela a Êxodo 32. Deus fizera de Jeroboão rei sobre dez tribos do norte de Israel, deixando o filho de Salomão, Roboão, como rei sobre as duas tribos do sul. Para impedir que as tribos do norte fossem adorar no templo de Jerusalém (governado por Roboão), Jeroboão erigiu novos locais de culto em Betel e Dã, onde colocou “bezerros de ouro”. Sobre eles disse, ecoando as palavras de Arão em Êxodo 32: “Eis aí teus deuses, ó Israel, que te fizeram subir da terra do Egito” (v. 28). O narrador comenta: “Isto se tornou em pecado” (v. 30). Mais uma vez, em meio à linguagem politeísta (agora há dois bezerros e também a referência plural ao libertador divino), Jeroboão quer associar sua nova religião a Yahweh, o Deus que tirou Israel do Egito.
Assim, nos dois casos paradigmáticos de Êxodo 32 e 1 Reis 12.25-33, Israel pecou não apenas por adorar imagens, mas especificamente por adorar o verdadeiro Deus por meio de imagens.[4] O culto de falsos deuses por meio de imagens está, por certo, já condenado pelo primeiro mandamento. Assim, o segundo mandamento tem um interesse particular em extirpar a idolatria do culto a Yahweh.
A idolatria tem dois sentidos: (1) adorar um deus falso, e (2) adorar qualquer deus por meio de um ídolo. O primeiro mandamento trata principalmente da primeira forma de idolatria, ao passo que o segundo mandamento trata da segunda forma dela. Mas, evidentemente, as duas estão intimamente ligadas. Adorar um deus falso (primeiro mandamento) é dirigir nosso culto a algo criado, a saber, um ídolo (segundo mandamento). E adorar um ídolo (segundo mandamento) é roubar de Deus o culto que só a ele é devido (primeiro mandamento). Assim, os dois mandamentos implicam um ao outro e servem como duas perspectivas sobre o nosso culto. Dessa forma, o segundo mandamento, como o primeiro, abrange todos os aspectos da vida humana. Esse é o sentido amplo do segundo mandamento.
FUNDAMENTOS DO MANDAMENTO
Por que Deus desaprova o culto a imagens, ou mesmo o culto a si próprio por meio de uma imagem? Ao menos quatro razões têm sido apresentadas:
A invisibilidade histórico-redentiva de Deus
Muitos têm invocado a invisibilidade de Deus como fundamento para a proibição da idolatria, partindo da ideia de que um Deus invisível não deve ser cultuado sob forma visível. Nessa perspectiva, a imagem visível inevitavelmente distorce a natureza do Deus invisível e, portanto, não pode representá-lo de modo verdadeiro.
Entretanto, a Escritura não respalda esse argumento. É verdade que Deus é invisível (Rm 1.20; Cl 1.15; 1Tm 1.17; Hb 11.27) e que ninguém jamais o viu (Jo 1.18; 5.37; 6.46; 1Jo 4.12, 20). Contudo, Deus frequentemente se revela nas Escrituras por meios visíveis, a saber, teofania e encarnação. Jacó viu Deus “face a face” (Gn 32.30; cf. 16.13; Êx 24.10; Nm 12.8; Jz 13.22). O Novo Testamento, além disso, emprega linguagem fortemente visual para indicar a revelação de Deus em Cristo (Jo 14.9; 1Jo 1.1-3). Outras passagens enfatizam a visibilidade de Cristo em sua transfiguração e ressurreição (At 1.3; 1Co 15.3-8; 2Pe 1.16-18).[5]
O próprio homem é imagem de Deus (Gn 1.26-27), e Cristo é a imagem de Deus por excelência (2Co 4.4; Cl 1.15; Hb 1.3). Assim, é simplesmente errado afirmar que Deus não pode ser representado por imagem. Pode parecer contraintuitivo dizer que um ser invisível pode ser representado por coisas visíveis. Mas para compreender como isso é possível, considere o Salmo 94.9: “O que fez o ouvido, acaso não ouvirá? E o que formou os olhos, será que não verá?” As funções de nossos ouvidos e olhos espelham os poderes de Deus, que ouve e vê sem possuir ouvidos e olhos. Portanto, a invisibilidade de Deus não implica que não haja imagens dele, nem que toda imagem dele seja enganosa.
Desse modo, o atributo divino da invisibilidade, em si mesmo, não é o ponto relevante para o segundo mandamento. O que é relevante é o fato de que Deus determinou ocultar-se num momento específico da história de Israel. Deuteronômio 4.15-19 declara:
Guardai, pois, com diligência as vossas almas, visto que aparência nenhuma vistes no dia em que o Senhor vosso Deus vos falou em Horebe, do meio do fogo; para que não vos corrompais e vos façais alguma imagem esculpida na forma de ídolo, semelhança de homem ou de mulher; semelhança de algum animal que há na terra, semelhança de alguma ave alada que voa pelos céus; semelhança de algum réptil que se arrasta sobre a terra, semelhança de algum peixe que há nas águas debaixo da terra; e que não levantes os olhos aos céus e, vendo o sol, a lua e as estrelas, a saber, todo o exército dos céus, sejais seduzidos a vos inclinar perante eles e a dar-lhes culto, coisas que o Senhor vosso Deus repartiu a todos os povos debaixo de todos os céus.
Israel não deve cultuar imagens porque Deus escolheu, no dia da assembleia registrada em Êxodo 19-20, revelar-se de modo invisível, por palavra e não por forma visível: “Então o Senhor vos falou do meio do fogo; ouvistes a voz das palavras, porém não vistes aparência nenhuma, somente voz havia” (Dt 4.12). A palavra traduzida por “aparência” aqui e no versículo 15 é temunah. A questão não é que Deus não tenha temunah, nem que a temunah de Deus jamais possa ser vista. Na verdade, Moisés viu a temunah de Deus (Nm 12.8), e Davi antecipa o dia em que despertará para contemplar a semelhança (temunah) de Deus (Sl 17.15). Deus poderia também ter mostrado sua temunah a Israel no dia da assembleia, mas escolheu não fazê-lo.
Portanto, a ausência de forma de Deus, como fundamento do segundo mandamento, não é metafísica, mas histórico-redentiva. Deus revelou-se sem forma a Israel na inauguração da aliança mosaica e, por isso, proibiu que usassem qualquer coisa material ou visível como objeto de culto. Ele poderia ter feito uma coisa material que o representasse tão perfeitamente a ponto de merecer adoração. De fato, é isso que fez na encarnação de Cristo. Mas escolheu não prover tal objeto para o culto de Israel durante o período do Antigo Testamento.
A nova aliança é diferente nesse aspecto. Sob a nova aliança, Deus revela-se de forma material e visível. Recordemos João 14.9, onde Jesus declara: “Quem me vê a mim, vê o Pai.” E também 1 João 1.1-3:
O que era desde o princípio, o que ouvimos, o que vimos com os nossos próprios olhos, o que contemplamos, e as nossas mãos apalparam, com respeito ao Verbo da vida (e a vida se manifestou, e nós a temos visto, e dela damos testemunho, e vo-la anunciamos, a vida eterna, a qual estava com o Pai e nos foi manifestada); o que temos visto e ouvido, isso vos anunciamos, para que vós também tenhais comunhão conosco; ora, a nossa comunhão é com o Pai e com seu Filho, Jesus Cristo.
Note-se como o apóstolo exulta na visibilidade da revelação do Verbo da vida. Nesta passagem, há numerosas referências aos sentidos: ouvir, ver, tocar. Para João, a visibilidade concreta da revelação da nova aliança é importante em si mesma, e também como refutação aos docetistas que negavam que “Jesus Cristo veio em carne” (1Jo 4.2).
A visibilidade da forma de Deus é, nas Escrituras, um conceito escatológico. Quando Jesus voltar, “todo olho o verá” (Ap 1.7). Ele retornará visivelmente, assim como ascendeu ao céu (At 1.11). Na glória, os puros de coração “verão a Deus” (Mt 5.8). Paulo afirma: “porque agora vemos como em espelho, obscuramente; então, veremos face a face” (1Co 13.12). O autor aos Hebreus declara que necessitamos “da santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor” (Hb 12.14). João promete: “quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele, porque haveremos de vê-lo como ele é” (1Jo 3.2). Davi espera ver a temunah de Deus ao despertar final (Sl 17.15). Alguns poucos, como Moisés, tiveram o privilégio de ver a temunah de Deus ainda na terra. Isso é uma antecipação do fim.
A glória encarnada de Jesus é o início do fim, o início dos novos céus e da nova terra. Mas o tempo entre sua ascensão e sua volta é “semiescatológico”.[6] Durante este período, a Escritura apresenta a invisibilidade de Deus em termos paradoxais:[7] “não atentando nós nas coisas que se veem, mas nas que se não veem” (2Co 4.18), “como quem vê aquele que é invisível” (Hb 11.27). Há um certo ver, ainda que andemos por fé e não por vista (Rm 8.24; 2Co 5.7; Hb 11.1, 13). Embora agora não vejamos Jesus, outros o viram, e assim, em certo sentido, nós também o vemos (Hb 2.9).
Seria, então, apropriado usar imagens no culto da nova aliança? No sentido mais evidente, não. O Novo Testamento também se opõe fortemente e com frequência à idolatria (At 15.20, 29; 17.16–31; Rm 2.22; 1Co 5.10-11; 6.9; 10.7, 14; 12.2; 2Co 6.16; Gl 5.20; 1Ts 1.9; 1Pe 4.3; 1Jo 5.21; Ap 9.20; 21.8; 22.15). Mas devemos adorar a imagem de Deus por excelência, o Senhor Jesus Cristo. Devemos adorar imagens de Jesus? Não. A Escritura jamais sugere tal coisa, e estamos obrigados às normas bíblicas. O próprio Jesus é a imagem que adoramos, não alguma representação pictórica dele.
Não podemos, como os apóstolos, ver Jesus com nossos olhos hoje. Nós o vemos por meio de sua Palavra e do sacramento. Nesse aspecto, nosso culto se assemelha ao da antiga aliança. Mas nosso culto agora rememora um tempo em que Deus foi visível na terra na pessoa de Jesus, e nos atrai ao céu, onde Cristo, ainda visível, está sentado à direita de Deus. O Novo Testamento apresenta de forma vívida a história de Jesus — ensinando, operando milagres, tendo fome, sede, orando, resistindo à tentação, amando-nos além de toda medida em sua morte e ressurreição, e ascendendo corporalmente à glória celestial. O texto não nos oferece apenas informações proposicionais, mas, por meio de sua linguagem, cria imagens em nossas mentes — imagens que nos conduzem ao Jesus visível como objeto de nossa adoração. Não devemos adorar essas imagens — nem mesmo as imagens de nossa mente. Mas devemos adorar aquele de quem elas são imagens.
Assim, devo respeitosamente divergir do Catecismo Maior de Westminster, questão 109, quando este proíbe “fazer qualquer representação de Deus, de uma ou de todas as três pessoas, seja interiormente em nossa mente, seja exteriormente por qualquer tipo de imagem ou semelhança de qualquer criatura”. O Catecismo aqui proíbe a confecção de imagens, mesmo de Jesus, mesmo na mente. Em primeiro lugar, como já indiquei, o segundo mandamento não proíbe fazer imagens, nem mesmo representações de Deus. Ele apenas proíbe fazê-las com o propósito de prostrar-se diante delas em culto. Em segundo lugar, a Escritura certamente pretende oferecer aos seus leitores imagens mentais de Jesus. Para a maioria de nós, é psicologicamente impossível ler o Novo Testamento (ou mesmo porções do Antigo Testamento, como o Salmo 22 ou Isaías 53) sem formar tais imagens. Proibir imagens mentais de Jesus, ao mesmo tempo em que se permitem imagens mentais de outras coisas da narrativa evangélica, promove o docetismo, visão segundo a qual o Filho de Deus não assumiu realmente carne. Mas nossa fé deve estar centrada no Jesus real, a quem, embora não vejamos, amamos: “a quem, não havendo visto, amais; no qual, não o vendo agora, mas crendo, exultais com alegria indizível e cheia de glória, obtendo o fim da vossa fé: a salvação da vossa alma” (1Pe 1.8-9).
Deus como o Deus Vivo
Um segundo fundamento bíblico para este mandamento é que os ídolos, enquanto objetos de culto, são impessoais. Como indiquei no capítulo 3, uma distinção fundamental do ensino bíblico é que o Ser supremo é pessoal, e não impessoal. A Escritura enfatiza que o verdadeiro Deus é “o Deus vivo” (Dt 5.26; Js 3.10; 1Sm 17.26, 36; 2Rs 19.4, 16; Sl 42.2; 84.2; Jr 10.10; etc.). Em contrapartida, todas as religiões e filosofias que operam sem influência bíblica ensinam que a realidade é fundamentalmente impessoal.
Correspondentemente, uma crítica bíblica frequente aos ídolos é que eles não podem ver, ouvir, comer, cheirar ou falar. São “mudos” (1Co 12.2). (Ver também Dt 4.28; Sl 115.5-8; 135.15-18; Is 40-48, especialmente 46.7; Jr 10.5; Hc 2.18-19.) São feitos de matéria impessoal: ouro, prata, madeira, pedra (Êx 20.23; Dt 4.28; 28.36, 64; 29.17; Is 40.18-20[8]). Aqueles que os fazem ou os adoram tornam-se como eles (Sl 115.8; 135.18). As pessoas tornam-se semelhantes aos deuses que adoram, e o culto a ídolos despersonaliza.
Assim, os ídolos são mentiras, não porque Deus seja invisível ou não possa ser representado, mas porque os ídolos deixam de representar o que há de mais importante em Deus — sua personalidade, sua capacidade de ver, ouvir, falar e interagir com suas criaturas. Sem personalidade, Deus não pode julgar — o que é uma boa notícia para hedonistas incrédulos, mas uma péssima notícia para o universo. E sem personalidade, Deus não pode amar — o que é má notícia para todos.
Respeito à verdadeira imagem de Deus
Talvez isso pareça um pouco forçado, mas me parece que a tríade céu, terra e mar, no segundo mandamento, sugere outro fundamento. Esta tríade é uma maneira bíblica comum de descrever toda a criação, remetendo a Gênesis 1.26. O ponto, portanto, é que o culto deve ser dirigido ao Criador, e não a qualquer coisa que ele tenha criado (cf. a descrição da idolatria em Rm 1.25).
Mas, em Gênesis 1, onde está “a imagem de Deus”? Naturalmente, essa imagem é o próprio homem (Gn 1.26-27). Esse fato sugere que o mandamento pretende, não apenas proteger a dignidade de Deus, mas também a dignidade da verdadeira imagem de Deus, a humanidade. Pois o homem que se prostra diante de um ídolo não apenas adora algo inferior a Deus, mas também algo inferior a si mesmo. É um ultraje à dignidade de Deus, e também um ultraje à dignidade do homem.
Nos textos citados na subseção anterior, os ídolos são mais fracos que o homem. O carpinteiro que faz o ídolo depois se prostra diante de sua própria obra (Is 44.12-20). Afirmar que os ídolos não podem ver, ouvir, cheirar ou falar é distanciá-los não apenas de Deus, mas também do homem. Assim, os que fazem ídolos destroem a si mesmos, tornando-se semelhantes a eles (Sl 115.8; 135.18).
Somente Jesus Cristo cumpre os critérios de uma imagem de Deus diante da qual o homem deve se prostrar. Ele é personalidade em sua plenitude: vê, ouve, cheira, fala, julga, ama. Ele é o nosso Criador, não uma mera criatura. O culto a ele traz salvação, não destruição. Aqueles que se prostram diante dele tornam-se semelhantes a ele — em vida abundante, e não em morte, e no cumprimento da personalidade, e não em sua destruição.
O zelo do Deus da aliança
O fundamento que mais sobressai na linguagem do próprio mandamento é: “porque eu sou o Senhor, teu Deus, Deus zeloso, que visito a iniquidade dos pais nos filhos até à terceira e quarta geração daqueles que me aborrecem, e uso de misericórdia com milhares dos que me amam e guardam os meus mandamentos” (Êx 20.5-6). Como sugeri anteriormente, essas sanções da aliança podem pertencer aos dois primeiros mandamentos em conjunto, e de certo modo a todos os mandamentos. Mas é significativo que essa seção venha logo após a proibição específica do culto por meio de ídolos. Ao tratar do primeiro mandamento (capítulo 23), mencionei o paralelo bíblico entre idolatria e adultério. Voltarei a esse tema ao tratar do sétimo mandamento. Pois tanto o matrimônio quanto nossa relação com Deus são alianças e exigem lealdade exclusiva. Quando somos desleais, o zelo é uma resposta justa.
Na aliança, o nome de Deus é Zeloso (Êx 34.14). O culto a ídolos, assim como o ato sexual ilícito, é talvez a forma mais concreta e flagrante de deslealdade à aliança. Por isso: “Guarda-te, não te esqueças da aliança do Senhor, teu Deus, feita contigo, e não faças para ti imagem de escultura, semelhança de alguma coisa que o Senhor, teu Deus, te proibiu. Porque o Senhor, teu Deus, é fogo que consome, é Deus zeloso” (Dt 4.23-24).[9] Segundo Reis 21.7-8 também descreve a idolatria como uma violação escancarada da aliança, e Ezequiel 8.3 refere-se a uma “imagem de ciúmes, que provoca o ciúme”.[10]
No segundo mandamento, o zelo de Deus conduz ao juízo: “porque eu sou o Senhor, teu Deus, Deus zeloso, que visito a iniquidade dos pais nos filhos até à terceira e quarta geração daqueles que me aborrecem” (v. 5). A violação da lei da aliança conduz à maldição.
Pode parecer, à primeira vista, que Deus aqui ameaça punir os filhos pelos pecados de seus pais, o que pareceria contrário a Ezequiel 18, onde Deus promete não fazer isso. Segundo Ezequiel 18.14-18, um filho cujo pai foi infiel a Deus pode desviar-se dos caminhos paternos, voltar-se ao Senhor e ser salvo. Arrependimento e vida são possíveis, mesmo para um filho que procede de uma linhagem ímpia.
O que Êxodo 20.5 ensina não é que os filhos são punidos pelos pecados de seus pais, mas que pais idólatras criam em suas famílias uma atmosfera que encoraja seus filhos, até mesmo as gerações futuras, a também serem idólatras. A “terceira e quarta geração” são igualmente gerações “daqueles que me aborrecem”. Eles aborrecem a Deus tanto quanto a primeira geração, e morrem por seus próprios pecados, conforme ensina Ezequiel 18.20.[11] Parte do castigo dos pais é que vivem para ver as terríveis consequências de seu pecado em seus filhos e netos.[12]
Estes últimos frequentemente sofrem as consequências dos pecados de seus pais. E quando Deus castiga os pais, os filhos também sofrem. Mas esse castigo não envolve necessariamente a condenação. Tais filhos ainda podem arrepender-se e ser salvos. Ezequiel 18 trata da punição em termos de vida e morte: salvação, condenação. Êxodo 20 inclui esse aspecto para os condenados, mas envolve apenas uma visitação temporal para os filhos eleitos de pais perdidos.
Não há nada de determinista nesse processo. O que Deus declara por meio de Ezequiel (18.14-18) é que, se um filho se desviar do comportamento pecaminoso de seu pai, ele viverá e não morrerá. A Escritura frequentemente fala de um remanescente que escapará ao juízo de Deus. Os convertidos em Pentecostes atenderam à exortação apostólica: “Salvai-vos desta geração perversa” (At 2.40). O arrependimento é sempre possível, pela graça de Deus.
Mas a realidade terrível é que, muitas vezes, a iniquidade dos pais dá início a um processo pelo qual a ira de Deus é acumulada, para ser derramada talvez gerações depois com terrível furor (Lv 26.39; 2Rs 17.7-23; Is 65.7; Jr 16.11-13; Dn 9.16; Am 7.17; Mt 23.32-33; Rm 1.24-32).
Por outro lado, Deus promete mostrar “misericórdia até mil gerações aos que me amam e guardam os meus mandamentos” (Êx 20.6). Os “milhares”, muito provavelmente, referem-se a milhares de gerações, como em Deuteronômio 7.9. A palavra “gerações” aparece em Deuteronômio 7.9, embora não em Êxodo 20.6, mas os dois versículos são de outra forma paralelos, descrevendo a natureza da bênção sancionada por Deus dentro da aliança.
Segundo esse entendimento, a misericórdia de Deus é mais ampla que sua ira: milhares de gerações, em vez de apenas três ou quatro. Como “não há homem que não peque” (2Cr 6.36), essa bênção aponta para a graça de Deus. Ainda assim, mais uma vez, não há aqui qualquer determinismo. Um pai que, pela graça, é fiel ao Senhor, cria uma atmosfera em sua família que conduz seus filhos e netos à fidelidade. Mas homens fiéis às vezes têm filhos ímpios (Ez 18.5-13), os quais morrerão em seu pecado. Isso não invalida a promessa do favor de Deus a “milhares de gerações”, pois seu propósito ao longo da história é trazer para si um número incontável de pessoas, de todas as nações, para gozarem de seu favor. Em suas alianças, ele concede graça que atrai pessoas a si. Embora alguns apostatem, Deus cumprirá plenamente seu propósito amoroso:
Depois destas coisas vi, e eis grande multidão que ninguém podia enumerar, de todas as nações, tribos, povos e línguas, em pé diante do trono e diante do Cordeiro, vestidos de vestiduras brancas, com palmas nas mãos; e clamavam em grande voz, dizendo: Ao nosso Deus, que se assenta no trono, e ao Cordeiro, pertence a salvação! (Ap 7.9-10; cf. 19.6)
Essa bênção vem por meio de Jesus, que serviu a seu Pai com exclusividade e fidelidade. Ele recusou cometer idolatria, mesmo para obter todas as bênçãos deste mundo (Mt 4.8-10). Ele conquistou, para milhares de gerações de seus filhos, as bênçãos eternas de Deus.
Fonte: John M. Frame, The Doctrine of Christian Life, p. 450-463.
Tradução: Francisco Batista de Araújo
[1] É provável, a meu ver, que a maldição dos versículos 5 e 6 se destine a aplicar-se tanto ao primeiro quanto ao segundo mandamento. (Note-se que o zelo de Deus aplica-se ao conteúdo do primeiro mandamento em Êxodo 34.14 e Deuteronômio 6.13-15.) Mas, mesmo sem essa ampliação, o segundo mandamento é um dos mais extensos do Decálogo.
[2] Na discussão que se segue, contestarei alguns pontos do Catecismo Maior de Westminster, pergunta 109. Como já mencionei anteriormente, embora subscreva o Catecismo, isso não implica a aprovação de cada uma de suas palavras. Comuniquei minhas ressalvas ao meu presbitério, e eles não apresentaram objeção alguma à minha exposição dessas posições. Eles e eu cremos que essas diferenças não afetam minha afirmação do sistema de doutrina ensinado nos padrões de Westminster.
[3] Há aspectos plurais em Yahweh tal como ele é apresentado no Antigo Testamento, os quais antecipam a doutrina da Trindade: ver DG, p. 631-637. Assim, a confusão entre referências no singular e no plural aqui não é destituída de fundamento. Yahweh não é uma unidade absoluta, como o Alá do Islã, mas um Deus multipessoal e, portanto, complexo. Ademais, ele frequentemente aparece envolto numa “nuvem de glória” (Kline), cercado de seres angélicos. Ainda assim, o Antigo Testamento, como o Novo, ensina claramente que há um só Deus (Dt 6.4).
[4] Para outro caso de uso de ídolos entre adoradores aparentes de Yahweh (também ligado à tribo e cidade de Dã), ver Juízes 17-18. Cf. também a narrativa de Gênesis 31, sobre o furto dos “deuses domésticos” (v. 19, 32, 34-35) por Raquel, da casa de Labão. Mas em Gênesis 35.1-4, Jacó convoca sua casa a “lançar fora os deuses estranhos que há no meio de vós”, e enterra seus ídolos debaixo de uma árvore.
[5] Neste parágrafo, resumo DG, p. 587-589. Toda a seção ali sobre a invisibilidade de Deus é relevante para a presente discussão.
[6] Ver capítulo 16.
[7] Sabendo que alguns reformados gostam de atacar qualquer uso da palavra paradoxo, deixo claro que, em meu uso (aqui e em outros escritos), ela não implica contradição lógica.
[8] Não se deve perder de vista a sátira refinada aqui. O artífice precisa ser muito cuidadoso na escolha da madeira. Ele não quer que seu deus apodreça. Recorde-se novamente do absurdo em Isaías 44.12-20, no qual o carpinteiro aquece-se com uma parte da madeira e adora a outra.
[9] De modo semelhante, o zelo de Deus proíbe a Israel fazer alianças com os habitantes pagãos da Terra Prometida (Êx 34.14).
[10] Sobre o zelo como atributo de Deus, ver DG, p. 458-459.
[11] Na Escritura, ninguém jamais morre pelos pecados de outrem, com duas exceções: (1) todos nós somos diretamente culpados do pecado de Adão (Rm 5.12-21); (2) Jesus morreu por nossos pecados (1Co 15.3). Em ambos os casos, Deus julga os homens com base em sua união com um representante federal. Mas essas duas situações são únicas. A regra geral é a de Ezequiel 18.20: cada um morre por seu próprio pecado. Mesmo nas duas “exceções”, o princípio é o mesmo, pois, por imputação divina, o pecado de Adão é nosso pecado, e nosso pecado torna-se o pecado de Jesus (2Co 5.21).
[12] Agradecimentos a Bruce Waltke, que apresenta esse argumento em sua Teologia bíblica (a ser publicada).