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Pater Noster

Não era como se os discípulos de Jesus fossem inexperientes ou mesmo pouco exercitados na oração. Como judeus do primeiro século, provavelmente já haviam visto e ouvido de tudo. Estavam demasiadamente familiarizados com a ostentação dos escribas orando em suas sinagogas a cada sábado. Muitas vezes teriam presenciado o cerimonialismo dos saduceus orando durante os cultos no templo, no Pórtico de Salomão. Teriam escutado a repetição monótona do Sinédrio durante as festas e festivais em Jerusalém. Também teriam ouvido as lamentações dos pobres e oprimidos em cada aldeia da Judeia. E eles mesmos teriam proferido suas súplicas formais por uma pesca abundante antes de lançar-se cada manhã ao Mar da Galileia.

Ainda assim, estavam totalmente despreparados para o que encontraram quando Jesus orou em sua presença. Suas atenções foram capturadas, e sua curiosidade, de súbito, despertada com novo vigor.

“Senhor, ensina-nos a orar”, imploraram.

As orações de Cristo eram completamente distintas de tudo quanto eles jamais haviam visto ou ouvido. Suas intercessões não eram menos substanciosas do que as declarações teológicas ornadas dos fariseus. Não eram menos reverentes do que as fórmulas litúrgicas formais dos levitas. Não eram menos ardentes do que os veementes clamores imprecatórios dos zelotes. Mas havia nelas uma intimidade, uma imediatidade e uma constância totalmente desconhecidas. Havia nelas uma abrangência e uma exaustividade totais, evidentes em sua maneira de orar.

Observar e ouvir Jesus suplicando a seu Pai revelava aos discípulos uma abrangência e sequência de cosmovisão como jamais poderiam ter imaginado.

“Senhor, ensina-nos a orar”, imploraram.

As orações de Jesus estavam repletas de reverência e temor. Mas também estavam cheias de maravilhamento e deleite. Eram bíblicas. Eram relacionais. Eram práticas. Eram pessoais. Eram belas. Eram diferentes de tudo quanto eles jamais haviam conhecido.

“Senhor, ensina-nos a orar”, imploraram.

E assim ele o fez — nas agora tão familiares palavras da Oração do Senhor: “Pai nosso, que estás nos céus, santificado seja o teu nome; venha o teu Reino; seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu. O pão nosso de cada dia dá-nos hoje; e perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós temos perdoado aos nossos devedores; e não nos deixes cair em tentação, mas livra-nos do mal. Pois teu é o Reino, o poder e a glória para sempre. Amém”.

Esta oração do Reino, tão concisa, revela a beleza, a bondade e a verdade da oração de Cristo, bem como a abrangência da cosmovisão bíblica de seu ensino. É ao mesmo tempo prática e devocional. Mesmo uma leitura superficial dela me leva a clamar com os discípulos: “Senhor, ensina-nos a orar”.


Tradução: João Batista de Araújo
Fonte: georgegrant.substack.com

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