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O Messias vem à terra média, de Philip Ryken

Este livro será lançado pela editora Monergismo em 2018!

Há mais de uma década, eu visitei o Wade Center no Wheaton College, que hospeda uma coleção especial de documentos e artefatos de sete autores britânicos: C. S. Lewis, J. R. R. Tolkien, Dorothy L. Sayers, George MacDonald, G. K. Chesterton, Charles Williams, e Owen Barfield. O Messias vem à Terra Média contém as palestras inaugurais da Hansen Lectureship Series, que foi estabelecida para “explorar a grande literatura dos sete autores do Wade Center” (xi).

A tese do autor Philip Ryken neste livro é clara: “há, na verdade, três figuras de Cristo principais em O Senhor dos Anéis e cada um ecoa um aspecto diferente da obra de Cristo, o que os teólogos chamam de seu ‘ofício tríplice’ como profeta, sacerdote e rei” (p. 3). Para defender sua tese, Ryken faz uma exegese sistemática do texto da estória. Ele apoia as suas conclusões com citações do Silmarillion (a prequela crucialmente importante para a narrativa), as cartas de Tolkien e um amplo conjunto de literatura secundária.

Gandalf, o Cinzento, incorpora a imagem da obra profética de Cristo: “mesmo com todos os seus poderes miraculosos, a influência profética do mago repousa principalmente no domínio da sabedoria. Gandalf moldou os eventos da Terra Média por meio de suas palavras” (p. 12). Embora na realidade seja um anjo encarnado, Gandalf nunca usou o seu poder para a coerção. Aplicando essa imagem, Ryken lembra aos que ocupam posições de autoridade: “uma das regras para nós é não fazer decisões no lugar das outras pessoas ou manipulá-las” (p. 32).

Os hobbits, especialmente Frodo Baggins, incorpora a imagem da obra sacerdotal de Cristo. Os hobbits são pessoas “rústicas, para não dizer diminutas … facilmente ignoráveis” (p. 52). “Contudo, mesmo com todas suas aparentes fraquezas, os hobbits são fiéis no seu serviço e provam que têm uma força surpreendente” (p. 53). Mais particularmente, ao se voluntariar para carregar o fardo tenebroso do Anel dos agradáveis jardins de Rivendell às alturas estéreis do monte Doom com o seu servo, Samwise Gamgee, retrata-se pungentemente o autossacrifício pessoal de Cristo.

Aplicando essa imagem, Ryken nos lembra de que “começamos a nos tornar heróis simplesmente sendo amigos” (p. 68) e de que todos os cristãos “são chamados a servir e se sacrificar, por meio de um ministério da presença e por meio da oração” (p. 76). Essa seção também inclui uma exploração intrigante do aparente “fracasso” de Frodo no clímax da narrativa (p. 65-66).

Finalmente, Aragorn, filho de Arathorn, incorpora a imagem da obra real de Cristo. Embora inicialmente apareça na estória como um humilde guardião com uma habilidade subestimada de curar os outros, Aragorn cresce em estatura e renome à medida que a narrativa avança. Em sua coroação no fim da estória, somos apresentados a uma imagem de “uma celebração escatológica de um reino eterno … ‘numa grande cidade, que tem fortes muradas, um rio e a Árvore da Vida’” (p. 111-112).

O que Tolkien diria da análise de Tolkien? O autor de O Senhor dos Anéis é conhecido pela sua pouca estima da alegoria. Contudo, à medida que sua estória se tornou mais conhecida, muitos leitores começaram a ver imagens semelhantes às que Ryken explora neste livro. Quando lhe perguntaram, numa carta de 1966, sobre se este tipo de análise era válido, Tolkien respondeu o seguinte: “muito disso é verdade, exceto, é claro, a impressão geral transmitida … de que eu tinha tais ‘esquemas’ conscientemente diante de mim antes ou durante a escrita” (p. 46). Tolkien não procurou escrever uma alegoria cristã. Mas ele conhecia a Cristo, e esse conhecimento permeava a sua literatura. 

Traduzido por: Guilherme Cordeiro