A incansável paixão expositiva de John F. MacArthur Jr., 1939-2025
Ele foi o maior expositor de sua geração. Uma das ironias de John MacArthur é que, até o fim, insistia que qualquer pregador chamado por Deus poderia fazer o que ele fazia. Havia grande verdade nessa afirmação, é claro. Afinal, o que MacArthur queria dizer era que a pregação se resume à exposição da Palavra de Deus diante do povo de Deus, o que significa estudar diligentemente as Escrituras e depois se colocar diante da congregação para ler e explicar esse texto sagrado. Qualquer pregador chamado por Deus pode fazer isso. Todo pregador deve fazê-lo — na verdade, é imperativo que o faça. Por outro lado, John MacArthur possuía dons únicos como expositor, e foi singularmente fiel também. Era um pregador que Deus usou para tornar outros pregadores melhores pregadores.
Era filho e neto de pregadores. Seu avô era anglicano e canadense. O pai de John MacArthur, John Fullerton MacArthur Sr., conhecido como Jack, foi um destacado pregador batista independente, que se alegrava em ser chamado de fundamentalista. John nasceu em Los Angeles, onde seu pai já era um pregador conhecido e respeitado. John seguiria os passos do pai, matriculando-se na Bob Jones University. Essa experiência não foi das melhores, e John acabaria por jogar futebol americano e se formar no Los Angeles Pacific College. A partir de então, seus estudos se tornaram mais sérios no Talbot Theological Seminary, parte da Biola University. Formou-se em 1963.
John havia trabalhado na equipe de seu pai e desenvolveu-se como pregador, e em 1969 estava pronto para assumir sua própria igreja. Pela providência de Deus, essa igreja foi a Grace Community Church, em Sun Valley, ao norte de Los Angeles. Seu primeiro sermão como jovem pastor estabeleceu o tom para o que se tornaria um ministério de alcance internacional. Aquele sermão foi inusitadamente longo para um pregador iniciante, mas revelou-se prenúncio de um ministério muito longo e profundamente poderoso.
Quando John MacArthur se tornou pastor da Grace Community Church, o sul da Califórnia já era conhecido como um laboratório sem precedentes para grandes coisas. À medida que a população dobrava, depois triplicava, e continuava a crescer, o sul da Califórnia tornava-se um indicador avançado daquilo que os Estados Unidos se tornariam como um todo. Sua cultura jovem era gigantesca, alimentada pelo Baby Boom. Sua economia era lendária. A reputação da região como “o lugar onde o futuro acontecia primeiro” estava enraizada na indústria cinematográfica, na televisão, no mercado imobiliário, na educação superior e no que mais tarde seria chamado de produção cultural. Por mais estranho que pareça, era uma incubadora tanto do que viria a se tornar a América “vermelha” quanto a “azul”. Também era o marco zero da revolução sexual e do surgimento de uma cultura marcada pela autonomia pessoal, individualismo expressivo e ideologias progressistas.
Alguns desses elementos já estavam presentes em 1969, mas Sun Valley ainda se assemelhava bastante às demais áreas suburbanas da cada vez mais populosa e incessantemente expandida região de Los Angeles. Ao mesmo tempo, toda a região era uma cornucópia religiosa, oferecendo praticamente todas as formas de religião imagináveis. No tocante ao cristianismo, podia-se encontrar o liberalismo protestante nas igrejas tradicionais e praticamente toda forma e matiz do evangelicalismo, desde dispensacionalistas com projetores de transparência até plantadores de igrejas empreendedores que desenvolviam modelos “sensíveis aos buscadores”. Megacatedrais carismáticas estavam emergindo, assim como pregadores da prosperidade. Robert Schuller fundara a Garden Grove Community Church, posteriormente a Crystal Cathedral, em 1955. Digamos apenas que John MacArthur estava fazendo algo diferente na Grace Community Church quando se tornou pastor em 1969. Começou a pregar, verso por verso, capítulo por capítulo, livro por livro. Quando jovem, ele nutria o desejo de pregar, verso por verso, por todo o Novo Testamento. E isso se concretizou, aliás, em 5 de junho de 2011. Domingo após domingo, passagem após passagem, ele estudava o texto, e então lia e explicava o texto… com fidelidade e poder.
Sob a pregação de John, a frequência à igreja duplicou, e depois duplicou novamente. Cresceu até atingir os múltiplos milhares, levando a um processo quase constante de crescimento e expansão na igreja. Seus sermões foram disponibilizados em fitas cassete e depois transmitidos pelo rádio (e, eventualmente, pela internet). Milhares incontáveis ouviam os sermões de John, um após o outro.
Ele cresceu como pregador, e sua influência pública cresceu de forma explosiva. Se alguém ouve uma mensagem de seu ministério inicial na Grace e a compara com suas pregações dos anos mais recentes, não encontrará qualquer diferença quanto à convicção. O que se percebe é uma profundidade crescente de entendimento e um senso mais apurado de teologia bíblica, unido a uma compreensão mais abrangente da estrutura teológica. MacArthur era dispensacionalista, mas descrevia-se como “permeável”. À medida que pregava por todo o Novo Testamento, sua pregação tornava-se mais evidentemente reformada e calvinista. Como ele dizia, estava apenas lendo e explicando o texto. Recusava-se a ler um texto paulino, por exemplo, e depois tentar explicar que ele não queria dizer o que dizia. Isso era anátema para John MacArthur.
Sua pregação viria a ser canalizada para uma série de comentários sobre todo o Novo Testamento e para uma monumental Bíblia de estudo. Seu ministério de ensino alcançou nações e mais nações, por meio das mais diversas plataformas. A extensão de seu ministério de ensino, Grace to You, alcança os confins da terra.
Quanto ao seu estilo, havia mais ali do que John MacArthur reconhecia em si mesmo. Sua entrega constante, cadência cuidadosa e pausas deliberadas eram traços distintivos de seu estilo homilético. Ele não gostava de admitir que possuía um estilo — mas o possuía. Era apenas um estilo disciplinado pelo texto e pela tarefa. Raramente contava histórias, e não utilizava o que outros pregadores chamariam de “ilustrações”. Explicava um texto com outro texto, e constantemente conectava passagens entre si. Ergueu um edifício de pregação, verso por verso, deixando a congregação ansiosa por começar novamente, no domingo seguinte, com o versículo seguinte. Mas sua personalidade transparecia, certamente mais do que ele mesmo acreditava. Bastava erguer as sobrancelhas — o que fazia para dar ênfase. Seu compromisso com a exposição significava que frequentemente mantinha os olhos voltados para sua Bíblia. Sabia exatamente quando levantar o olhar, e exatamente como olhar para a congregação com ênfase.
Ele não temia entrar em batalhas teológicas. Em 1988, publicou The Gospel According to Jesus [O Evangelho segundo Jesus], lançando um ataque contra aqueles que negavam que o evangelho de Jesus Cristo requer tanto fé quanto arrependimento, resposta quanto obediência. Sua argumentação era construída a partir de textos das Escrituras, mas estavam conectados por uma hermenêutica clara do evangelho. Mais tarde, enfrentaria os excessos embaraçosos do movimento carismático em Charismatic Chaos [O caos carismático], de 1992, e jamais hesitou em mirar contra qualquer forma de liberalismo teológico ou de compromisso doutrinário.
MacArthur compreendia o poder da influência. Além disso, amava os pregadores. Amava estar com pregadores. Amava falar sobre pregação, e era possuído por um impulso para ajudar outros pregadores. Essa urgência transformou-se naquilo que se tornaria a Shepherds Conference, ano após ano. As conferências tornaram-se encontros de pregadores comprometidos com a exposição bíblica. John MacArthur jamais parecia tão vivo, ou tão em casa, quanto quando estava entre colegas pregadores, pregando para pregadores. Sua influência entre pregadores e por meio de pregadores será seu legado mais duradouro além da Grace Community Church.
Essa mesma visão levou à fundação do The Master’s Seminary em 1986, apenas um ano depois de ter concordado em servir como presidente do Los Angeles Baptist College, hoje conhecido como The Master’s University.
Tive o grande privilégio de conhecer John MacArthur como amigo. Concedeu-me muitas oportunidades de pregar com ele e para seu povo, especialmente nas Shepherds Conferences. Pregamos juntos em inúmeros contextos e passamos muito tempo juntos. Ele se uniu a nós no Together for the Gospel (T4G) e nos encorajou sobremaneira. John MacArthur exerceu um impacto imenso sobre minha vida, e eu o vi em muitos ambientes diferentes, de sua casa a diversos eventos públicos. Era sempre o mesmo, constantemente. Era generoso, gracioso e bondoso — ainda que possuísse a coragem de um leão.
Nossos corações se voltam com compaixão para sua dedicada esposa por tantas décadas, Patricia, bem como para seus filhos e noras, e para uma grande multidão de netos e bisnetos. Também oramos pela Grace Community Church, enquanto a congregação lamenta a morte de seu pastor e contempla o futuro com esperança.
John MacArthur fará grande falta e será intensamente pranteado. Demonstrou fidelidade ao longo de uma vida inteira de ministério honroso — um dom notável para a igreja de Cristo. Sua carreira agora está completa — e que carreira extraordinária foi essa! Mas lembremo-nos disto: o pastor John MacArthur seria o primeiro a afirmar que a prioridade, acima de todas as outras, é que a exposição fiel das Sagradas Escrituras continue até que Jesus venha. Soli Deo Gloria.
Fonte: World (https://wng.org/)
Tradução: Felipe Sabino de Araújo Neto