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A promessa presente

Em meio ao pensamento evangélico contemporâneo, um sentimento de derrota parece ter tomado conta, como bem apontou David Chilton em suas críticas à “escatologia da derrota.”[1] Púlpitos em todo o mundo reverberam pregações alarmistas que anunciam um caos moral crescente, fruto do abandono total da moralidade cristã. Para muitos, a igreja está à beira do abismo, e a apostasia, bem como a negação aberta das verdades bíblicas, são vistas como sinais claros da decadência espiritual. Essa visão negativa projeta um futuro sombrio, onde o fracasso é esperado, como se o mundo fosse um navio afundando sem esperança de resgate.[2]

Essa mentalidade pessimista dominou as expectativas de muitos cristãos, levando-os a acreditar que a vitória é impossível neste lado da eternidade. A igreja, na visão deles, é uma fortaleza em constante recuo, cercada por inimigos que parecem invencíveis. Assim, ao invés de promover a esperança e a certeza da vitória em Cristo, essa “escatologia da derrota” mergulha os crentes em um estado de desesperança, onde o triunfo da fé é relegado a um futuro distante, sem impacto transformador no presente.

Porém, as Escrituras revelam uma visão contrária ao pessimismo prevalente, afirmando o crescimento contínuo e inevitável do Reino de Deus na terra. Tenho convicção de que a segunda vinda de Cristo ocorrerá após o milênio, durante o qual o Reino de Deus já está se expandindo pelo mundo por meio da pregação do evangelho e da obra transformadora do Espírito Santo.

Outra parábola lhes propôs, dizendo: O reino dos céus é semelhante a um grão de mostarda, que um homem tomou e plantou no seu campo;o qual é, na verdade, a menor de todas as sementes, e, crescida, é maior do que as hortaliças, e se faz árvore, de modo que as aves do céu vêm aninhar-se nos seus ramos. Disse-lhes outra parábola: O reino dos céus é semelhante ao fermento que uma mulher tomou e escondeu em três medidas de farinha, até ficar tudo levedado (Mateus 13:31-33).

Como John Jefferson Davis afirmou, “as parábolas de crescimento em Mateus 13.31-33 são a descrição e profecia do próprio Cristo sobre o crescimento e vitalidade impressionante do reino que ele veio estabelecer”.[3] O grão de mostarda começa pequeno, mas cresce até se tornar uma grande árvore, e o fermento trabalha na massa até que toda ela seja levedada, simbolizando a influência penetrante e transformadora do evangelho na humanidade.

Este avanço não ocorre de maneira abrupta, mas através de um processo gradual e progressivo ao longo da história. Esse processo é movido pelo poder da Palavra, que, sem falhar, cumpre o propósito para o qual foi enviada. De acordo com as palavras de Bahnsen:[4]

O evangelho deve ser pregado a todas as nações, pela Igreja, antes do segundo advento de Cristo. Eventualmente, isso produzirá uma conversão mundial. Esse é o chamado da Igreja da parte de Deus. Deus não nos deu uma comissão pequena, como: “Vão e façam o melhor que puderem para levantar uma testemunha no mundo”. Ele disse: “discípulos de todas as nações”. [Alguém pode dizer:] “Mas Jesus, não podemos fazer isso”. Ele continua para dizer: “E eis que estou convosco todos os dias até à consumação do século”. Certamente, não podemos fazer isso [sozinhos, sem Cristo]. Deus chamou a igreja para pregar e pregar com sucesso. Pregar até ver o mundo ganho para o Senhor Jesus Cristo.

À medida que o evangelho é proclamado e aceito, vemos o Reino de Deus expandindo-se, influenciando culturas, governos e instituições. O impacto é profundo e duradouro, demonstrando que o Reino de Deus não é apenas uma realidade futura, mas uma força presente, ativa e operante, capaz de reformar o mundo em todas as suas esferas.

Entendo que testemunharemos uma transformação cada vez mais profunda na sociedade humana. O número de verdadeiros crentes crescerá continuamente, de modo que uma proporção crescente da população mundial será trazida sob o senhorio de Cristo. Este crescimento numérico da Igreja será acompanhado por uma influência cada vez mais dominante da ética cristã sobre as instituições sociais, políticas e econômicas.

Consequentemente, a sociedade começará a refletir, de maneira cada vez mais clara, os princípios de justiça, paz e retidão estabelecidos por Deus. Leis e governos se alinharão mais estreitamente com os padrões divinos, e a cultura será progressivamente redimida dos seus elementos corrompidos. Embora essa transformação não ocorra de forma perfeita ou completa antes da consumação dos séculos, ela será inconfundível e evidenciará o reinado progressivo de Cristo sobre todas as esferas da vida humana.

Não se trata de um otimismo ingênuo. Os cristãos continuam a enfrentar dificuldades, perseguições e até a morte. Batalhamos para manter nossa fé em um mundo onde a liberdade de definir a própria verdade torna a ideia de um Deus que estabelece normas e padrões morais uma ameaça. O contexto pós-moderno não é menos hostil à Palavra de Deus do que em tempos passados. Jay Kesler capturou bem essa realidade ao afirmar: “Os homens não se rebelam contra a ideia de Deus, os homens se rebelam contra a vontade de Deus.”[5]

Greg Bahnsen esclareceu bem esse ponto ao afirmar: “Não negamos, nem por um momento, que estamos em uma batalha – uma batalha global – até que o Senhor retorne e restaure todas as coisas. O que negamos é que estamos do lado perdedor dessa batalha.”[6] David Chilton, por sua vez, é ainda mais incisivo:[7]

Em vez de uma mensagem de derrota, a Bíblia nos dá esperança, tanto para este mundo quanto para o mundo vindouro. A Bíblia nos dá uma escatologia do senhorio, uma escatologia da vitória. Este não é um tipo de otimismo do tipo “tudo vai dar certo de alguma forma”. É uma certeza sólida, confiante e baseada na Bíblia que, antes da Segunda Vinda de Cristo, o evangelho será vitorioso em todo o mundo.

Portanto, podemos esperar, com base nas promessas infalíveis de Deus, que o avanço do evangelho e o crescimento da Igreja resultarão em uma sociedade cada vez mais conforme à vontade de Deus, até que, finalmente, “a terra se encha do conhecimento do Senhor, como as águas cobrem o mar” (Isaías 11:9). Esse triunfo final do Reino de Deus, visível em cada aspecto da vida humana, será um testemunho do poder redentor de Cristo e da certeza de Sua vitória final.

Referências

Bahnsen, Dr Greg L. “Dez coisas nas quais os pós-milenistas crêem”. Monergismo, 3 de setembro de 2024. https://www.monergismo.com/textos/pos_milenismo/10coisas_posmilenistas_bahnsen.pdf.

Chilton, David. Paradise Restored: A biblical theology of dominion. Tyler, TX: Dominion Press, 1985.

Davis, John Jefferson. A vitória do Reino de Cristo: Uma introdução ao pós-milenismo. Brasília: Monergismo, 2009.

Robinson, Haddon, e Craig B Larson, orgs. A arte e o ofício da pregação bíblica. São Paulo: Shedd Publicações, 2009.

Notas

1 Chilton, Paradise Restored: A biblical theology of dominion, p. 4.

2 Chilton, p. 6.

3 Davis, A vitória do Reino de Cristo: Uma introdução ao pós-milenismo, p. 48.

4 Bahnsen, “Dez coisas nas quais os pós-milenistas crêem”, p. 2.

5 Robinson e Larson, A arte e o ofício da pregação bíblica, p. 35.

6 Bahnsen, “Dez coisas nas quais os pós-milenistas crêem”, p. 2.

7 Chilton, Paradise Restored: A biblical theology of dominion, p. 6.