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Ampliando nossa visão da Trindade

Falamos de Deus como Pai, Filho e Espírito Santo. A Igreja Primitiva tendia a falar dele como Pai, Palavra e Espírito. Neste breve ensaio, quero sugerir outras maneiras de pensar sobre a Trindade, maneiras que encontrei pastoralmente úteis na minha própria vida e devoções. (Assim como o ensaio de Pedro no mês passado, este é “um livro que eu escreveria se tivesse tempo para fazê-lo com justiça”.)

0. O caráter muito real de machismo da cultura grega e romana, que contamina a civilização ocidental, nos cegou para a imagem feminina sobre a humanidade na Bíblia.

1. Se Deus é Pai, e Deus é Filho, então o que é a humanidade? A humanidade é a Filha. A Bíblia fala de nós como a Filha Sião e a Filha Jerusalém. É uma tradução errada da construção hebraica ler “Filha de Sião”. Sião é a Filha. Assim, somos a Filha.

A imagem da filha na Bíblia é maravilhosamente reconfortante, pois significa que Deus nos amará e nos protegerá com o mesmo tipo de amor feroz que um bom pai tem por sua filha.

2. Deus é Pai, e a Segunda Pessoa de Deus é Deus o Irmão, enquanto a Terceira Pessoa é Deus o Conselheiro. Não me lembro de já ter visto uma discussão sobre Deus o Irmão, mas a irmandade do irmão mais velho da Segunda Pessoa é claramente revelada na história de Jacó. Jacó lutou com Esaú no ventre, com Isaque e Labão na vida, mas em Peniel ele aprendeu que estava realmente lutando o tempo todo com Deus o Irmão, que lutou com ele não para destruí-lo, mas para torná-lo forte o suficiente para entrar na terra. A história de Jacó e Esaú é paralela à história de Caim e Abel, e nos revela Deus o Irmão.

Jesus também é o Irmão Mais Novo, como Abel, Jacó e José, que substitui e depois redime seu irmão mais velho.

Dessa forma, somos o irmão mais novo, e ainda mais, somos a irmã mais nova. Deus o Irmão nos guardará e protegerá com todo o cuidado feroz e ciumento de um irmão mais velho para com sua irmãzinha.

Porque um irmão mais velho aconselha sua irmã, encaixo o Espírito como Conselheiro neste modelo.

3. Deus é Pai. A Segunda Pessoa de Deus é Deus o Marido, e o Espírito é Deus o Casamenteiro. Nós, assim, somos a Noiva. Mais atenção tem sido dada a essa imagem bíblica em particular, claro. Nunca devemos falar da Igreja como “ele”, mas sempre como “ela”. Jesus nos guardará como todo marido guarda sua esposa, e ele ficará muito ciumento se dermos nossas atenções de esposa a outro homem, especialmente a imagens.

No entanto, o Espírito não é frequentemente visto como Casamenteiro, mas se lermos o livro de Ester corretamente, veremos o Espírito como o Eunuco Divino que prepara Ester para o Rei. Ester passou seis meses saturando sua pele com óleo, para amaciá-la, e seis meses exposta ao incenso, para que sua pele absorvesse o cheiro e ela se tornasse uma flor viva (Ester 2.12). Acredite ou não, todas as dificuldades que Deus nos fez passar são projetadas para nos amaciar e nos tornar uma noiva perfumada para o nosso Marido.

4. Se a Segunda Pessoa é a Palavra, então o Pai é o Autor e o Espírito é o Sopro, ou mais precisamente, a Música. Sempre que uma palavra é dita em voz alta, usando o sopro, ela tem uma qualidade musical. Nós “entonamos” palavras quando as falamos. Cada uma de nossas vozes tem seu próprio timbre único, que é como reconhecemos uns aos outros. Falamos com todas as qualidades musicais: dinâmicas (alto e baixo), melodia (voz subindo e descendo), ritmo (rápido e lento) e harmonia (falando de maneira que a melodia da nossa voz faça sentido).

É uma pena que nossa adoração seja falada ao invés de cantada! Desonramos o Espírito ao não levarmos a música mais a sério. A humanidade, criada à imagem de Deus, é a filha, irmã e noiva que canta. Por que dizemos a Oração do Senhor quando poderíamos cantá-la? Por que dizemos o Credo e os Dez Mandamentos, quando poderíamos cantá-los? Por que lemos os salmos, quando poderíamos cantá-los? Por que apenas dizemos “O Senhor esteja convosco”, “E também contigo”, quando poderíamos cantar tais diálogos?

5. Finalmente, Deus é Planejador, Executor e Coordenador, e, como tal, nós somos dançarinos. Somos a filha-irmã-noiva-cantora-dançarina. Devemos considerar nossas vidas como danças. Nosso trabalho é uma dança. Nossa diversão é uma dança. Tudo o que fazemos é uma dança, uma dança com ele.

Tradução: Francisco Batista de Araújo

Fonte: James Jordan, Biblical Horizons Newsletter No. 61

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