A linguagem de Carlos Nejar é mais poderosa que o drama individual e coletivo de seus personagens. Desborda, espiralando em ondas gerundivas, como o mar, a esbater-se contra os círculos participiais do enredo. Assombro, de seu Carta aos loucos, é um faciendum não um factum, é uma carga explosiva em construção contra a inércia, as mesmices, contra o marasmo fatalizante da História, que só pode ser incendiada com signos novos, “fazendo novas todas as coisas”. (…) Em Carta aos loucos,a revolução se faz para dentro da linguagem, e é dessa epifania de signos, emergente, para fora, que Assombro organiza, para a libertação de seu povo, as práticas políticas da solidariedade. (…) Com sua gramática nova, de rara tessitura estética na literatura brasileira, os personagens de Nejar rompem as circulares limitações de seus destinos, e começam a ser, depois de fazer. (…) O próprio tempo, carregado de mágicas significações lastreado pela mitologia dos sentidos, transcende a poética do romance, e se alça como o voo dos pássaros.
Paulo Roberto do Carmo
“Linguagem desassombrada”, no Jornal A TARDE, 1.5.1999, Salvador, Bahia.
Poeta, crítico, professor. Autor de Breviário da insolência (poesia, 1990) e coautor com Vilmar Figueiredo de Souza de A revolição das aprendências (ensaios, 2000). Organizou também O dicionário das citações na ficção de Carlos Nejar (2009).
Carta aos loucos, de Carlos Nejar
Editora Sator
Brochura, 180 páginas
Formato: 16 x 23 cm