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Carta aos loucos: provocação em narrativa

Não é de hoje que o escritor gaúcho Carlos Nejar vai contra a corrente. Como para ele prosa, poesia, teatro em versos, ensaio, reflexões e rapsódias não têm o menor segredo ou limite, trafega com certa naturalidade entre esses e outros gêneros e modalidades literárias. (…) Carta aos loucos, sua mais recente provocação literária, vai nessa linha. No caldeirão do bruxo, estão mergulhados sem o menor pudor ficção, poesia e ensaio filosófico, com leves pitadas de realismo-mágico. Enganam-se os leitores mais desavisados que procuram em Nejar um enredo coerente e fechado, personagens solidamente definidos, ação e reação, ou uma cronologia de acontecimentos com o pé na lógica temporal. E, no entanto, está tudo lá, só que contado de uma forma outra que não a tradicional. Mimetizando a narrativa oral grega, o texto de Nejar ultrapassa a simples menção de fatos ou análises de vida. Como em Homero, ele singra no fio da navalha da ficção primitiva, muito antes da divisão formal entre prosa e poesia. (…) O novo romance de Nejar, um mergulho literal numa prosa passional e envolvente, sem direito a sursis ou tomadas de fôlego, um texto magnético e curioso, numa linguagem de estirpe nobre, clássica — por vezes, barroca — com alguns excessos aqui e ali, com em qualquer obra-prima.

Fúrio Lonza
JORNAL DO BRASIL, 6 de março de 1999, Rio de Janeiro
Fúrio Lonza é professor, ficcionista e crítico e literário.


Carta aos loucos, de Carlos Nejar
Editora Sator
Brochura, 180 páginas
Formato: 16 x 23 cm