Pouco antes da faculdade, eu li o pequeno clássico de Mortimer Adler chamado Como ler livros. Pode parecer um título estranho. Afinal, como alguém poderia ler o livro a não ser que já soubesse ler? E se já soubesse ler, pra que ler então?
Como ler livros se tronou um dos livros mais importantes que eu já li. Adler rapidamente me convenceu que eu não sabia como ler um livro—não mesmo. Eu não sabia como fazer as perguntas corretas enquanto lia. Como analisar os principais argumentos do livro, ou como marcar meu exemplar para uso posterior.
Eu suspeito que a maioria das pessoas tampouco saiba como ouvir um sermão. Digo isto não como pregador, mas como ouvinte. Durante os últimos trinta e cinco anos eu ouvi mais de três mil sermões. Uma vez que sempre cultuei em igrejas que acreditam na Bíblia, a maioria destes me fez bem espiritual. Entretanto, fico imaginando quantos deles me ajudaram tanto quando deveriam. Francamente, temo que muitos sermões passaram pelos meus tímpanos sem marcarem meu cérebro ou alcançarem meu coração.
Então, qual a maneira correta de ouvir um sermão? Com uma alma preparada, uma mente alerta, uma Bíblia aberta, um coração receptivo e uma vida pronta para entrar em ação.
A primeira coisa é a alma estar preparada. A maioria das pessoas assume que o sermão começa quando o pastor abre a boca no domingo. Entretanto, ouvir um sermão começa na semana anterior. Começa quando oramos pelo ministro, pedindo a Deus que abençoe o tempo que ele gasta estudando a Bíblia e se preparando para pregar. Além de ajudar o pregador, nossas orações ajudam a criar em nós um sentimento de expectativa pelo ministério da Palavra de Deus. Esta é um das razoes porque, no que diz respeito a pregação, as igrejas geralmente recebem o que pedem em oração.
A alma precisa de preparação especial na noite antes do culto. No sábado a noite nossos pensamentos devem lembrar do Dia do Senhor. Se possível, seria bom ler a passagem bíblica agendada para a pregação. Devemos também dormir o \suficiente. Então, de manhã, nossas primeiras orações devem ser a respeito do culto público, e especialmente acerca da pregação da Palavra de Deus.
Se o corpo está bem descansado e a alma bem preparada, então a mente estará alerta. Boas pregações interessam primeiramente à mente. Afinal, é pela renovação de nossas mentes que Deus transforma nossas vidas (Rm 12.2). Então quando ouvirmos um sermão, nossas mentes tem de estar engajadas. Prestar atenção requer autodisciplina. Nossas mentes tendem a viajar durante o culto, ficamos sonhando acordados. Mas ouvir sermões é parte do culto que oferecemos a Deus. É ainda a oportunidade mais importante para ouvirmos sua voz. Não devemos insultar sua majestade e ficar olhado para os outros, pensando na semana que vem ou nos entretendo com os milhares de outros pensamentos que tumultuam nossa mente. Deus está falando e devemos ouvir.
Para isto, muitos cristãos entendem que ajuda ouvir os sermões com um lápis na mão. Embora não seja requerido tomar notas, é uma maneira de focar durante o sermão. É ainda um valioso auxilio a memória. O ato físico de escrever algo nos ajuda a fixar isto em nossas mentes. Além disso, há a vantagem de ter notas para futura referência. Tiramos mais benefício de um sermão quando mais tarde lemos, oramos e falamos acerca de nossas notas do sermão com alguém.
O lugar mais conveniente para tomar notas é dentro ou em nossas Bíblias, que sempre devem estar abertas durante um sermão. Alguns crentes fingem que conhecem a Bíblia tão bem que não precisam olhar a passagem sendo pregada. Mas isto é tolice. Mesmo se temos a passagem memorizada, sempre há coisas novas que podemos aprender ao ver o texto bíblico na página. Faz todo sentido pensar que temos mais proveito de um sermão com as nossas Bíblias abertas, não fechadas. É por isto que é tão encorajador pra um pregador expositivo ouvir o farfalhar das páginas virando enquanto sua congregação procura a passagem em uníssono.
Há outra razão para manter nossas Bíblias abertas: devemos nos assegurar que aquilo que o ministro diz está de acordo com as Escrituras. A Bíblia diz, acerca dos Bereanos que Paulo encontrou em sua segunda viagem missionária, “eles receberam a palavra com toda a avidez, examinando as Escrituras todos os dias para ver se as coisas eram, de fato, assim”. Poderia se esperar que os Bereanos fossem criticados por ousar escrutinar o ensino do apóstolo Paulo. Ao contrário, eles foram elogiados por seu compromisso em testar cada doutrina de acordo com as Escrituras.
Ouvir um sermão — realmente ouvi — envolve mais que nossas mentes. Também requer corações receptivos à influência do Espírito de Deus. Algo importante ocorre quando ouvimos um sermão. Deus fala conosco. Através do ministério interno de seu Espírito Santo, ele usa sua Palavra para acalmar nossos medos, confortar nossos sofrimentos, incomodar nossa consciência, expor nosso pecado, proclamar a graça de Deus e nos fortalecer em nossa fé. Mas todas estas são coisas do coração, não apenas da mente, logo ouvir um sermão nunca é apenas um exercício intelectual. Precisamos receber a verdade bíblica em nossos corações, permitindo que o que Deus fala influencie o que amamos, o que desejamos e o que adoramos.
A última coisa a dizer sobre ouvir sermões é que deveríamos estar ansiosos por colocar em prática o que aprendemos. Boas pregações sempre aplicam a Bíblia à vida diária. Nos ensinam que promessas crer, que pecados evitar, que atributos divinos adorar, que virtudes cultivar, que objetivos perseguir, que boas obras fazer. Sempre há algo que Deus quer que façamos em resposta à pregação de sua Palavra. Somos chamados a ser “praticantes da Palavra, não somente ouvintes” (Tiago 1.22). Se não somos praticantes, então não fomos ouvintes e o sermão foi desperdiçado em nós.
Você sabe como ouvir um sermão? Ouvir—realmente ouvir—envolve uma alma preparada, uma mente alerta, uma Bíblia aberta e um coração receptivo. Mas a melhor maneira de verificar se estamos ouvindo é pela maneira que vivemos. Nossas vidas devem repetir os sermões que ouvimos. Como o apostolo Paulo escreveu para algumas das pessoas que ouviram seus sermões, “Vós sois a nossa carta, escrita em nosso coração, conhecida e lida por todos os homens, estando já manifestos como carta de Cristo, produzida pelo nosso ministério, escrita não com tinta, mas pelo Espírito do deus vivente, não em tábuas de pedra, mas em tábuas de carne, isto é, nos corações” (2Co 3.2 e 3).
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Fonte: Este artigo apareceu originalmente no site Reformation21, Copyright 2012, The Alliance of Confessing Evangelicals.
Tradução: Emílio Garofalo Neto