Orar é abandonar minha justiça própria, reconhecer minha necessidade de perdão e descansar na graça da cruz de Jesus Cristo.
A oração é um dos mais doces dons de Deus para nós. O mandamento de orar é, em si mesmo, um presente amável e gracioso de um Pai celestial cheio de graça e cuidado. A oração é onde Deus acolhe Seus filhos para falarem com ele, comungarem com ele, e permanecerem nele. É aquele lugar santo onde a mais profunda adoração, as mais urgentes necessidades e as confissões mais sinceras se encontram com a grandeza e a glória do amor divino. A oração só é eficaz quando os adoradores são convidados à presença de alguém digno de sua adoração. Ela só faz sentido porque aquele a quem oramos é incrivelmente paciente, infinito em amor, constantemente perdoador e soberano em poder. Para que a oração seja, de fato, oração, Deus precisa ser Deus; sem isso, orar não passa de um ato de futilidade religiosa.
Mas Deus é Deus, e ele nos convidou a nos apresentarmos a ele como realmente somos. Esse convite não significa levar até ele um catálogo de desejos egoístas, como se fosse apenas um sistema cósmico de entrega, pronto para satisfazer qualquer anseio que nos consuma no momento. Não, o cerne da oração é uma submissão reverente a ele, que gera em nós gratidão, humildade, visão e disposição. Sem adoração e submissão, a oração se reduz a uma série de exigências, como se nós fôssemos deuses e o papel de Deus fosse submeter seu poder infinito ao nosso senhorio. É impressionante pensar que aquilo que parece ser nosso ato mais consciente de direcionamento para Deus pode, na verdade, revelar a continuidade da nossa idolatria.
Portanto, a oração é uma batalha espiritual. Para orar, precisamos da graça resgatadora que nos liberte do domínio de nossos próprios corações egoístas. Para que nossos corações cheguem a esse lugar contraintuitivo de adoração e submissão, precisamos da ajuda daquele a quem oramos. É difícil fazer orações genuínas de “Venha o teu reino, seja feita a tua vontade” e ainda mais difícil fazê-las no calor do momento. É contraintuitivo confessar que o que mais preciso não são todas as coisas que meu coração naturalmente deseja. É difícil admitir que o que mais necessito é a graça redentora. Por isso, a oração é uma luta. A oração exige esforço. A oração nos chama a ir a lugares onde raramente vamos e a entregar nossos corações para fazer o que fazemos com pouca frequência.
É claro que você deve reservar tempo suficiente para orar todos os dias. A oração é uma arma poderosa na guerra espiritual pelo seu coração, uma guerra que é travada diariamente enquanto você estiver deste lado da eternidade. Mas também é bom dedicar-se a períodos específicos de oração. A Quaresma pode ser um desses períodos, um tempo para meditar, examinar e refletir. Aqui estão quatro categorias que podem organizar essa estação de adoração para você.
Adoração. Dedique-se a meditar sobre todas as razões pelas quais o Senhor é digno do seu louvor. Reserve tempo para contemplar a plenitude de sua majestade, a impressionante extensão de seu amor, o zelo infinito de sua graça, seu poder incalculável, a totalidade de sua soberania, a vastidão de sua paciência, sua misericórdia incessante, a profundidade de sua sabedoria e a perfeição imaculada de sua santidade. Como preparação para uma oração de adoração, estude novamente sua Palavra e permita que seu coração seja mais uma vez cativado por sua glória. Aqui, você o verá exaltado aos seus olhos e deixará que a sombra de sua glória cubra o seu coração. Aqui, você lhe devolverá em oração a glória que lhe pertence, em palavras de louvor que, ainda que insuficientes para capturar toda a sua grandeza, brotam sinceramente de sua alma. A adoração estimula um culto que não se resume a um sacrifício de palavras, mas sim à entrega da sua vida a este Senhor glorioso.
Confissão. A confissão segue a adoração, porque quanto mais você contempla a Deus, mais claramente você enxerga a si mesmo, e mais lamentará o que vê. Quando Isaías, em sua visão, esteve diante da santidade do Senhor, suas primeiras palavras não foram: “Que maravilha!” Não, ele clamou: “Ai de mim! Estou perdido! Porque sou um homem de lábios impuros, e habito no meio de um povo de lábios impuros; os meus olhos viram o Rei, o SENHOR dos Exércitos!” (Isaías 6.5). É necessário ver a Deus para ter uma visão verdadeira e confiável de nós mesmos. Somos tão frequentemente cegados por nossa própria justiça que apenas a justiça imaculada de Deus pode expor a real profundidade de nossa injustiça. A oração não se resume a estudar nosso Senhor para sermos tomados por sua glória; também exige que examinemos a nós mesmos e reconheçamos as muitas razões que temos para confessar nossas fraquezas, falhas e pecados. E a confissão só tem sentido quando aquele que a recebe é perdoador, poderoso e disposto a resgatar e restaurar. Portanto, venha em confissão, pois a cruz nos assegura a disposição do nosso Senhor em perdoar.
Submissão. “Não se faça a minha vontade, e sim a tua” é o cerne da verdadeira oração. Orar é submeter os desejos do seu coração a um reino maior que o seu próprio. Orar é apresentar seus pedidos a um plano que ultrapassa aquele que você traçou para si mesmo. Orar é entregar-se a um conjunto de regras que você não criou. Orar é render seus dons para a glória de outro. A oração é muito mais do que pedir; em seu centro está a submissão. Por isso, pedimos graça para nos submetermos, pois, como já confessamos, não temos em nós mesmos o desejo, a disposição ou o poder para fazê-lo.
Súplica. Finalmente, a oração é o lugar onde adoradores limitados, fracos e falhos apresentam suas necessidades diante daquele que está com eles, neles e por eles, e que tem prazer em supri-las. Tendo já submetido nossas vidas à missão de seu reinado, agora apresentamos ao nosso Senhor orações que estejam alinhadas com esse coração de submissão. E porque nos rendemos a planos e propósitos que são maiores do que nós, não oramos apenas por nós mesmos, mas também pelos outros. Nossas súplicas não são individuais e estreitas, mas tão amplas e grandiosas quanto o seu reino.
Que tal dedicar-se a quarenta dias desse tipo de oração, com todo o estudo e meditação que isso exige? E saiba que, ao fazê-lo, Deus é terno, gracioso e compreensivo. Ele recebe nossas orações confusas. Ele ouve aquelas breves orações feitas às pressas. Ele não rejeita orações que refletem uma teologia imprecisa ou aquelas feitas em momentos em que realmente não sabemos como orar. Orações fracas e vacilantes são recebidas por ele e calorosamente respondidas. Mas ele nos convida a algo mais profundo e melhor. Ele nos convida a algo que jamais poderíamos conquistar ou merecer por nós mesmos. Ele nos convida a uma comunhão disposta, adoradora e repousante com ele. Por que você não aceitaria esse convite?
Perguntas para reflexão
1. O seu padrão típico de oração reflete a realidade de que “o cerne da oração é a submissão adoradora” a Deus? Como suas orações poderiam mudar se você realmente abraçasse essa definição de oração?
2. Quão bem suas orações equilibram as quatro categorias da oração: adoração, confissão, submissão e súplica? Qual área você tende a negligenciar e quais são algumas coisas práticas que você pode fazer para crescer nessa área?
3. Orações verdadeiramente voltadas para a guerra espiritual exigem estudo e meditação. O que você pode fazer nesta estação da Quaresma para se dedicar mais plenamente a essas tarefas?
Ore lentamente através da Oração do Senhor em Mateus 6.9-13, concentrando-se em adoração, confissão, submissão e súplica.
Tradução: Francisco Batista de Araújo
Fonte: Paul David Tripp, Journey to the Cross: A 40-Day Lenten Devotional