Robert S. Covolo
“‘Moda’ é um exemplo muito interessante de imitação social. Sua natureza própria se manifesta de modo bastante evidente nas relações horizontais interindividuais da sociedade.”
Herman Dooyeweerd
New Critique of Theoretical Thought
A premiada série de televisão da AMC, Mad Men, é inteiramente sobre moda. Desde as formas exageradas em ampulheta e as blusas estruturadas que se tornaram conhecidas como o New Look, até as gravatas finas e os ternos cinzentos que se tornaram padrão para cada homem, a moda em Mad Men desperta nossa memória coletiva ao situar, na cultura visual, a chegada de artefatos hoje antiquados tal como apareciam em seu habitat original. Como alguns críticos observaram, a recriação dos estilos de vestuário, dos interiores e das respectivas performances sociais evoca uma memória nostálgica, embora dolorosa, de uma era passada que prenunciava a nossa. Das saias amplas de Betty, extraídas de um guarda-roupa descontraído de dona-de-casa suburbana, às silhuetas sedutoramente elegantes de Joan, inspiradas no estilo ampulheta de Christian Dior, a moda relativamente previsível de Mad Men contrasta de forma marcante com nosso instável costume de misturar e combinar peças, utilizado para compor as sempre crescentes e ambíguas performances sociais que caracterizam a modernidade tardia. Mad Men oferece aos espectadores uma lembrança de nossa transição de uma sociedade relativamente estável para a crescente pluralidade e tribalização iniciada pela fragmentação da revolução cultural dos anos 60; sua fusão entre moda e publicidade revela o domínio eventual da moda numa cultura de consumo ostensivo, dando-nos um vislumbre dos estágios iniciais do que viríamos a conhecer como o poder invasivo das forças de mercado. As numerosas funções que a moda assume em Mad Men — alimentar a memória coletiva de uma cultura, indexar identidades, oferecer performances sociais, estabelecer estabilidade social e impulsionar as forças do mercado — explicam por que a moda é essencial à série. Pois Mad Men não trata apenas da moda da metade do século, mas é, antes, um olhar contemporâneo dirigido àquela moda com a consciência dos múltiplos discursos que a moda evocaria na modernidade tardia.
Desse modo, Mad Men oferece uma pista importante para qualquer engajamento cristão relevante com a moda. Em vez de olhar para a moda por lentes redutivas, como modéstia ou vaidade, os cristãos devem ouvir com seriedade os múltiplos discursos que a moda passou a assumir em nossa cultura pós-Mad Men. Então, ao revisitar a promessa contida nas reflexões do filósofo cristão Herman Dooyeweerd sobre a moda, os cristãos poderão responder bem a tais discursos.
Os múltiplos discursos da moda
Recentemente, a editora Routledge lançou uma obra de referência com 1.500 páginas, simplesmente intitulada Fashion.[1] Esse tomo testemunha a importância da moda como um campo florescente de discurso teórico. Sobre o que discutem aqueles que teorizam acerca da moda? Eis alguns dos temas que têm cativado esse discurso emergente.
Moda e arte: É evidente que o design de moda emprega os tipos de juízos estéticos próprios das artes. Mas a moda é arte? Se é, em que sentido? Se não é, por que não? Mesmo que a moda tenha de se contentar com a distinção rebaixada de “arte decorativa” ou “arte aplicada”, como compreender o papel cada vez mais proeminente que ela vem desempenhando nos museus? Por exemplo, o que pensar das multidões recordes que lotaram o Metropolitan Museum of Art em 2011 para ver a moda do falecido Alexander McQueen?
Moda e hermenêutica: Como funcionam os “enunciados de moda”? Embora estejamos inegavelmente nos comunicando por meio de nossa escolha de vestuário, como exatamente nossa indumentária comunica, e a quem? Nossas escolhas de roupa expressam apenas nossos gostos individuais, ou nosso traje faz parte de uma discussão mais ampla sobre performance social? Se o contexto em que se usa uma peça é tão importante quanto a própria peça, e se esses contextos são eventos mutuamente construídos, em que medida somos responsáveis por tais “enunciados”?
Moda e política: A moda opera na sociedade de maneira semelhante às mídias sociais — criando novos espaços públicos de exibição mútua, livres de controle autoritário? Em outras palavras, há uma conexão entre as repressões contra manifestantes no Irã e a polícia da moda que patrulha as ruas de Teerã? Se essa conexão for verdadeira, como a moda redistribui o poder social? Em que grau a moda está associada às democracias liberais? Ainda que talvez não queiramos ir tão longe quanto o teórico da moda de Princeton, Gilles Lipovetsky, ao afirmar que a democracia é a lingua franca da moda,[2] é evidente que as liberdades individuais no tocante a escolhas políticas e sartoriais guardam certa correspondência entre si.
Moda e classe:A moda é fonte de guerra de classes ou mitiga divisões? É verdade, como alguns têm argumentado, que a moda é um dos meios mais importantes pelos quais a classe ociosa se distingue das classes inferiores? Estaria a moda, em sua essência, ligada ao consumo ostensivo? De modo semelhante, a moda nos atrai para um jogo sem fim de “manter-se à altura dos vizinhos” — uma engrenagem viciosa projetada para separar os que estão “dentro” dos que estão “fora” (obrigado, Heidi Klum)? Ou, ao contrário, o surgimento da moda dissolveu a distinção entre massas e aristocracia, coroa e plebeu? As imitações oferecem um alívio às dolorosas diferenças de classe?
Moda e subcultura: Qual é a relação entre moda e subculturas? Como punks e góticos, bem como amish e menonitas, utilizaram a rejeição da típica dinâmica vestimentária para se distanciar, desafiar e (no caso dos punks e góticos) transgredir a cultura dominante? A igreja deve manifestar sua diferença por meio do vestuário? O que ela ganha e/ou perde com tais manifestações?
Poderíamos prosseguir, mas esses temas bastam para nos alertar quanto ao fato de que as discussões contemporâneas sobre moda tornaram-se um nó espesso composto de diversos fios — desde a estética, a hermenêutica e o espaço público, até a escolha individual, o mercado e as subculturas. Como resume o teórico da moda Malcolm Barnard: “Não há um único conjunto de ideias nem um único arcabouço conceitual com os quais a moda possa ser definida, analisada e explicada criticamente”.[3]
Diante desse desdobramento, como os cristãos devem proceder? É aqui que a filosofia de Herman Dooyeweerd ganha força. Muito antes de surgir a discussão contemporânea e multifacetada sobre a moda, o filósofo cristão Herman Dooyeweerd já rejeitava a tendência de reduzir a complexidade do mundo. Mais ainda, Dooyeweerd manifesta esse impulso ao refletir sobre a moda. Ao fazê-lo, Dooyeweerd destacou-se não apenas como um dos filósofos mais originais do século XX, mas, possivelmente, como o primeiro filósofo cristão da moda.
Dooyeweerd, diversidade modal e desenvolvimento cultural
Poucos pensadores na história ousaram reformular a tradição filosófica ocidental com tamanha audácia quanto o jurista e filósofo neocalvinista holandês Herman Dooyeweerd. Para Dooyeweerd, não há existência à parte da criação em relação com Deus (“pancriação”). Excetuando-se Deus, tudo o que existe (inclusive a moda) o faz em virtude de seu status como realidade criada. Sendo assim, tudo quanto existe subsiste dentro da ordem temporal da criação. Essa ordem temporal é experimentada não apenas como duração (“lado-subjetivo do tempo”), mas também como parte da estrutura ordenadora, ou ordem de sucessão, que rege a realidade (“lado-normativo do tempo”). A coerência da criação não pode ser encontrada por meio da redução de algum aspecto de sua existência a outros aspectos de sua existência, mas por meio de um exame atento da creatureidade de cada coisa—sua estrutura de individualidade como dom (“irredutibilidade”).[4] Com esses dois princípios em mãos—pancriação e irredutibilidade — Dooyeweerd procurou elaborar uma teoria capaz de explicar os diversos tipos (“radicais”) de coisas (“entes”) no mundo, entre os quais ele discute a moda. Compreender a visão de Dooyeweerd sobre a moda requer um conhecimento básico de dois conceitos importantes do pensamento dooyeweerdiano: diversidade modal e desenvolvimento cultural.
Poucos pensadores na história ousaram reformular a tradição filosófica ocidental com tamanha audácia quanto o jurista e filósofo neocalvinista holandês Herman Dooyeweerd.
Um dos insights mais criativos e fecundos de Dooyeweerd é sua teoria da diversidade modal: a teoria de que certas dimensões irredutíveis marcam a realidade criada. Em sua obra New Critique of Theoretical Thought, Dooyeweerd enumera quinze dessas dimensões, ou “aspectos modais”, da realidade: numérico, espacial, cinemático, físico, biótico, psíquico, lógico, histórico, linguístico, social, econômico, estético, jurídico, moral ou ético, e confessional ou píístico. Tudo o que existe dentro da ordem criada funciona em todos esses aspectos. Embora esses aspectos sejam mutuamente irredutíveis, eles exibem uma “ordem de sucessão” que implica uma ordem cumulativa e progressivamente mais complexa. Embora esses aspectos modais não existam à parte dos fenômenos individuais (típicos), não devem ser confundidos com os entes. Quando dois desses aspectos coexistem em uma das funções de um ente concreto (“um momento analógico”), eles são descritos como retrocipações—expressões de um aspecto particular dentro de um anterior — ou antecipações — expressões de um aspecto particular dentro de um posterior. Embora muito mais pudesse ser dito a respeito do funcionamento das esferas modais, essas duas expressões já sugerem a abordagem abrangente e multidimensional da realidade que Dooyeweerd deseja empregar.
Mas algumas qualificações devem ser feitas antes de adentrarmos na visão de Dooyeweerd sobre a moda. Primeiro, deve-se observar que os aspectos modais não são suficientes para explicar a existência de coisas, eventos e relações sociais concretos e individuais. Pois as coisas individuais exibem aspectos modais dentro de uma estrutura de individuação. Por exemplo, quando minha esposa usa seu lenço Skull de Alexander McQueen, o lenço compartilha um conjunto único de relações modais individualizadas: o lenço manifesta um aspecto jurídico, na medida em que é possuído por minha esposa, e um aspecto numérico, na medida em que é quantificável, etc. Mas sua estrutura individual o torna distintamente este objeto possuído, qualificado numericamente.
Dentro de cada estrutura concreta de individualidade, duas das funções modais têm importância única em determinar o que a coisa é: a função “condutora” (às vezes chamada função “qualificadora”) e a função “fundadora” (também chamada “fundacional”). Em termos sucintos, a função condutora de uma coisa direciona um ente em direção ao seu destino, e a função fundadora provê suporte importante para esse movimento. A expressão “princípio estrutural” servia a Dooyeweerd como uma forma abreviada de se referir a um ente, em virtude de suas diversas funções modais, caracterizado por suas funções qualificadora e fundacional.
Ademais, antes de fazer uma exegese da filosofia da moda em Dooyeweerd, é necessário dizer algo sobre sua visão do desenvolvimento cultural. Dooyeweerd falava de um “processo de abertura”, pelo qual os diversos aspectos modais se desdobram no processo temporal da história. Apenas o tempo e a agência abrem a estrutura total dos aspectos modais. Esse processo de abertura envolve uma polinização cruzada entre os aspectos à medida que se abrem às potencialidades da criação. A produção cultural deve sempre ser vista à luz da inserção do homem no aspecto histórico do processo temporal da história. Particularmente importante nesse processo é a afirmação de Dooyeweerd de que as relações sociais se movem de uma condição “fechada” e “primitiva” para uma condição “aberta” e “diferenciada”. Mais especificamente, os grupos passam de barreiras rígidas de pequenas tribos e populações para sociedades complexas que manifestam uma variedade de funções sociais, tais como família, economia, política etc. Esse processo de transformação social envolve tanto integração entre os arranjos sociais primitivos quanto diferenciação e individualização — o florescimento da individualidade das pessoas, estruturas sociais, povos e nações.[5] Em suma, houve progresso no processo de abertura, na medida em que os desenvolvimentos históricos favorecem as normas de integração, diferenciação e individualização.[6] Com essa peça final em seu devido lugar, estamos prontos para examinar a filosofia da moda em Dooyeweerd.
Dooyeweerd sobre moda
Dooyeweerd aborda o tema da moda no terceiro volume de A New Critique of Theoretical Thought.[7] Ele começa concordando (com Karl Marx, Thorstein Veblen e outros) que a moda foi originalmente usada pelas classes superiores para se distinguirem das inferiores. No entanto, para Dooyeweerd, o papel atual da moda na imitação social define-se dentro do contexto do processo de desdobramento—de sociedades isoladas “verticais” para a expansão “horizontal” das relações societárias “interindividuais”.[8] Atuando como prática que integra identidade individual e social, a moda serve como catalisador do comportamento interindividual nos diversos contextos sociais das sociedades complexas. Dooyeweerd destaca a ideia de que, embora existam influenciadores principais na moda, ela não é meramente o resultado desimpedido dessas influências, mas deve operar dentro do desenvolvimento histórico de qualquer artefato — nas estruturas de individualidade das relações societárias (contextos sociais) nas quais as roupas são usadas. Em outras palavras, “há moda em roupas esportivas, em trajes de gala, em roupas de viagem, ternos informais e trajes urbanos, etc.”.[9] Rejeitando a identidade nacional e étnica, a moda contém em seu princípio um caráter cosmopolita e internacional. Portanto, para Dooyeweerd, o fascismo e o nacional-socialismo são uma reversão do processo de abertura da moda. Eles manifestam o desejo de restringir as relações interindividuais do discurso social dentro de barreiras nacionais, restringindo assim artificialmente as relações sociais qualificadas econômica, científica e esteticamente.
Dooyeweerd não nega o elemento caprichoso presente na moda, mas desafia a ideia de que a moda é meramente fruto do capricho de designers individuais ou ipso facto expressão do orgulho de classe ou da vaidade. Afinal, Dooyeweerd nos recorda que a lógica da moda moderna, seu movimento social globalizante e cosmopolita, opera “em toda esfera”. Dooyeweerd ainda sugere que a vasta variedade de escolhas dentro da moda constitui uma característica concomitante, essencial para evitar a absorção do indivíduo por sua natureza transnacional; a identidade étnica ou nacional perdida no movimento transnacional da moda, portanto, não é absorvida pelo “homem-massa”. Dooyeweerd conclui essa discussão observando que a moda é particularmente devedora à natureza das relações econômicas interindividuais e do comércio internacional.
O que devemos fazer com os pensamentos de Dooyeweerd sobre a moda? Como eles se relacionam com a crescente discussão que está atualmente em curso? Em relação a isso, dois elementos muito promissores surgem de sua abordagem. Primeiro, Dooyeweerd deve ser elogiado por reconhecer que a moda não é o resultado de “indivíduos” poderosos, mas envolve “círculos principais” agindo em resposta a uma variedade de influências, como gosto social e eficiência.[10] Esta é uma pausa bem-vinda na caracterização de longa data das massas como ovelhas que seguem um punhado de designers poderosos. No entanto, Dooyeweerd poderia ser atualizado aqui, uma vez que, desde meados do século XIX, a moda tem se tornado cada vez mais policêntrica e pluralista em suas fontes. De fato, hoje é quase sem sentido olhar para Paris ou Milão para descobrir as novas modas; agora existem inúmeras fontes e manifestações de moda e estilo, desde a música pop e a cultura jovem até a moda de rua. Pode-se também acrescentar que a moda origina-se de uma gama diversificada de grupos, fontes e designers para grupos de mercado específicos, nichos únicos e subculturas.[11] Embora essa atualização seja necessária, Dooyeweerd deve ser elogiado por sua visão de que a produção da moda envolve vários atores, limitados por uma variedade de pressões cruzadas.
O elemento mais promissor na visão de Dooyeweerd sobre a moda é sua visão multiperspectival da moda. Em outras palavras, a moda mantém uma estrutura irreduzivelmente multifacetada. Essa conclusão, como já afirmamos, é inerente à teoria modal de Dooyeweerd. Em sintonia com o pensamento de Dooyeweerd, a principal teórica da moda Elizabeth Wilson observou: “O vestuário, em geral, parece então cumprir uma série de funções sociais, estéticas e psicológicas; na verdade, ele as junta, podendo expressá-las todas simultaneamente”.[12] Nessa afirmação, Wilson (e Bernard, que foi citado anteriormente) transmite um impulso dooeweerdiano sobre a forma como a realidade chega até nós de maneira irreduzivelmente multifacetada. No entanto, Dooyeweerd vai além de Wilson, analisando como peças da realidade, como a moda, podem ser multiperspectivas, permitindo uma análise de como esses vários modos de moda interagem em combinações únicas.
O que diz Dooyeweerd a respeito da função da moda? Dooyeweerd afirma que a função fundadora da moda é histórica — os processos de abertura histórica que desdobraram potencialidades culturais. Ele também identifica sua função condutora como sendo social—voltada para o intercâmbio nas relações interindividuais com a sociedade humana. Em outras palavras, a função qualificadora e condutora da moda envolve a maneira como os indivíduos se relacionam com os contextos sociais e é concomitante aos processos de abertura da história, particularmente à medida que estes reformularam a sociedade desde o feudalismo até sua forma moderna atual. Essa explicação está de acordo com duas das suposições mais importantes da teoria da moda: primeiro, o consenso de que a moda é inextricavelmente um fenômeno moderno que acompanhou a reformulação da ordem social no Ocidente; segundo, a ideia de que, embora haja um aspecto social irredutível na moda, uma leitura meramente sociológica da moda é inadequada. Em relação a este segundo ponto, Dooyeweerd é particularmente claro: a função condutora de um ente não o define, mas molda como ele interage com todas as diversas esferas, incluindo retrocipações e antecipações variadas. Em outras palavras, Dooyeweerd vê a relação interindividual da moda com a sociedade humana como criadora da possibilidade de entrelaçamentos únicos com suas diversas funções modais linguística, econômica, estética e psíquica. Portanto, Dooyeweerd desejaria prestar atenção às manifestações amplas e plenas da moda em seus diversos entrelaçamentos. Em outras palavras, a moda é um assunto digno de exame na medida em que funciona dentro de seus aspectos modais históricos, linguísticos, estéticos, econômicos e psíquicos.
Conclusão
A visão multiperspectival de Dooyeweerd sobre a moda convida os cristãos a participarem do rico discurso que a moda assumiu em nosso mundo pós-Mad Men. Seu desejo de estudar a complexidade e a natureza problemática da moda como parte de uma conversação irredutível ressoa com a localização atual da dialética. Dado o estado da discussão contemporânea, os cristãos devem seguir o impulso de Dooyeweerd ao rejeitar críticas unidimensionais, sejam elas avaliações positivas da moda como um ato puramente benigno/atrativo/útil de criatividade cultural, sejam elas rejeições da moda como mera concessão trivial/enganosa/exploratória. Um engajamento cristão atualizado, construtivo e robusto com a moda resiste à tentação de vê-la por meio de uma ou duas grades conceituais, renunciando ao prazer fácil da avaliação moralista apressada. Mais do que isso, oferece àqueles revestidos de Cristo a oportunidade de substituir uma abordagem cansada e puída por outra que entrelace uma visão profundamente cristã da complexidade do mundo de Deus a uma discussão em franca expansão.
Tradução: Francisco Batista de Araújo
Fonte: Pro Rege, XLI, No. 4, Junho 2013 (p. 1-6).
[1] Fashion: Critical and Primary Sources, ed. Peter McNeil (Routledge, 2009).
[2] Gilles Lipovetsky, The Empire of Fashion: Dressing Modern Democracy (Princeton University Press, 1994).
[3] Malcolm Barnard, Fashion as Communication (Routledge, 2002), 9.
[4] Para um resumo de como os dois princípios da pancriação e da irredutibilidade orientam uma abordagem dooyeweerdiana, ver Roy Clouser, The Myth of Religious Neutrality (Notre Dame, IN: University of Notre Dame Press, 2005), 241-242.
[5] Chaplin, antecipando a crítica de que uma visão meramente social ignora uma compreensão abrangente do desenvolvimento cultural, observa que Dooyeweerd usa o termo “estrutura social” ou “relação social” de maneira abrangente para incluir desenvolvimentos como os da economia, tecnologia, ideias, etc. Ver Jonathan Chaplin, Herman Dooyeweerd: Christian Philosopher of State and Civil Society (Notre Dame, IN: University of Notre Dame Press, 2011), 81.
[6] Dooyeweerd deve, com razão, ser criticado neste ponto por enxergar as sociedades primitivas de forma demasiadamente unilateral e negativa. Houve uma grande variedade de sociedades primitivas que não subordinavam inteiramente o indivíduo a uma comunidade totalizante e inclusiva.
[7] Herman Dooyeweerd, New Critique of Theoretical Thought, vol. 3, (Ontario, Canada: Paideia Press, 1984), 588-693.
[8] Aqui, Dooyeweerd segue Georg Simmel: “A moda é a imitação de um exemplo dado e satisfaz a exigência de adaptação social […]. a moda não representa nada mais do que uma das muitas formas de vida mediante as quais buscamos combinar, em esferas uniformes de atividade, a tendência à equalização social com o desejo de diferenciação e mudança individual.” Ver Georg Simmel, “Fashion”, em The Rise of Fashion: A Reader, organizado por Daniel Leonhard Purdy (Minneapolis, MN: University of Minnesota Press, 2004), 291.
[9] Dooyeweerd fala da restrição da moda no vestuário atlético como um exemplo de enkápsis.
Ver Herman Dooyeweerd, New Critique of Theoretical Thought, vol. 3 (Ontario, Canadá: Paideia Press, 1984), 661.
[10] Isso é muito preferível à visão de Karl Barth de que a moda é ditada pelos “reis que residem em Paris”. Karl Barth, The Christian Life: Church Dogmatics Volume IV, Part 4 Lecture Fragments (Grand Rapids: MI, Eerdmans,1981), 229.
[11] Veja Peter Braham, “Fashion: Unpacking A Cultural Production” in Fashion Theory: A Reader, ed. Malcolm Barnard (New York: Routeledge, 2007), 359. Veja também Lucy Collins, “On The Street” in Comment Magazine, acesso em 13 de maio de 2011 at http://www.cardus.ca/ comment/article/2780.
[12] Elizabeth Wilson, Adorned in Dreams: Fashion in Modernity (London: I.B. Tauris, 2010), 3.