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Meu entendimento do pacto

Rev. Norman Shepherd

Em Jeremias 31.31, o Senhor faz esta promessa: “Eis que vêm dias, diz o Senhor, em que farei uma nova aliança com a casa de Israel e com a casa de Judá”. Segundo Hebreus 8.7-13 e 10.15-18, esse tempo prometido chegou com a vinda de Jesus Cristo. Nesta nova aliança, o Senhor estabeleceu uma relação de união e comunhão com o seu povo. O Senhor declara: “Eu serei o seu Deus, e eles serão o meu povo”. Essa promessa é o cerne da bênção e do privilégio da aliança.

A nova aliança é feita “com a casa de Israel e com a casa de Judá”. O evangelho de Jesus Cristo é proclamado primeiro ao judeu, ao antigo povo pactual de Deus. Os judeus que respondem a esse evangelho com fé e arrependimento são acolhidos dentro da nova aliança; mas, com a vinda de Cristo, o evangelho é agora proclamado também aos gentios. Gentios crentes e penitentes entram na aliança com o Senhor em igualdade de condições com os judeus. A “parede de separação” é derrubada, e, de judeu e gentio, o Senhor forma um só corpo, a igreja, o povo da nova aliança (Ef 2.14-18).

Nesta nova aliança, o Senhor promete fazer duas coisas. Primeiro, ele declara: “Perdoarei as suas iniquidades e dos seus pecados jamais me lembrarei” (Hb 8.12). O pecado separa as pessoas de Deus e merece o castigo da condenação e da morte. O pecado torna impossível a união e a comunhão com Deus. Assim, para estabelecer esta nova aliança, o Pai envia seu Filho para dar a sua vida como sacrifício pelo pecado (Jo 3.16); e o Filho assume essa tarefa em fiel obediência ao seu Pai (Hb 10.7). Por causa do sacrifício de Jesus na cruz, o Senhor Deus perdoa o pecado e remove a barreira para a comunhão pactual. A nova aliança é a nova aliança no sangue de Jesus (Lc 22.20).

Em segundo lugar, o Senhor declara: “Na sua mente imprimirei as minhas leis, também no seu coração as inscreverei”. O pecado consiste em transgredir a lei de Deus e falhar em cumprir o que o Senhor nos ordena. Como pecadores, não conseguimos guardar a lei de Deus (Rm 8.7). Para estabelecer sua nova aliança, o Senhor não apenas perdoa o pecado, mas também nos concede novos corações. Ele escreve sua lei em nossos corações para que não pequemos, mas amemos o Senhor acima de todas as coisas e o sirvamos com fidelidade à sua palavra. Jesus morreu por seu povo para libertá-los tanto da culpa como do poder do pecado (1Pe 2.24). Ele ressuscitou dentre os mortos para conceder ao seu povo o poder de uma nova vida (Rm. 6.4). Por meio do poder da ressurreição de Jesus Cristo (Fp 3.10), o Senhor concede a santidade, sem a qual ninguém verá o Senhor (Hb 12.14).

Na nova aliança, o Senhor estabelece soberanamente uma relação de união e comunhão entre si e o seu povo nos laços do amor e da fidelidade mútuos. O Senhor Deus, que é amor, derrama seu amor sobre o seu povo e promete permanecer fiel a ele (Hb 13.5), suprindo tudo o que precisam para esta vida (2Pe 1.3) e prometendo-lhes a vida eterna no mundo vindouro. Ele exige deles um amor e uma fidelidade correspondentes e, desse modo, os conduz a herdar aquilo que lhes prometeu (Tg 1.12; Ap 2.10).

A nova aliança possui duas partes ou dois lados: promessa e obrigação. O Senhor promete ser nosso Deus e Pai, de modo que cada bênção que agora desfrutamos — e certamente a própria vida eterna — flui para nós da graça soberana de Deus, não merecida e não conquistada. Pelo nosso pecado, perdemos qualquer direito a essas bênçãos; mas o Senhor tratou do problema do pecado na morte e ressurreição de Jesus. Agora o Senhor nos convoca à fé em Jesus como Salvador e Senhor, a amá-lo e a obedecer aos seus mandamentos (1Jo 3.22, 23). Esse é o lado da obrigação na aliança: em Jesus, ele nos concedeu um novo nascimento e nos recriou para sermos guardadores da aliança. Pela sua graça, podemos guardar a aliança com o Senhor, assim como ele guarda a aliança conosco. A vida que agora vivemos é a vida de Cristo em nós, e vivemos essa vida “pela fé no Filho de Deus, que me amou e a si mesmo se entregou por mim” (Gl 2.20).

O Senhor não apenas promete bênção e vida eterna aos que guardam fielmente a aliança, mas também adverte os transgressores do pacto que virão a cair sob a condenação e a morte, que é a justa recompensa de todos os que não encontram sua salvação total e exclusivamente em Jesus Cristo (Hb 10.26-29). O evangelho não oferece esperança alguma àqueles que se voltam contra o Senhor e o rejeitam na incredulidade. Por essa razão, encontramos em todo o Novo Testamento exortações à perseverança na fidelidade ao pacto, advertências sobre as terríveis consequências da deslealdade e a gloriosa certeza de que todos os que permanecerem firmes até o fim serão salvos (Mt 24.13; 1Co 10.1-13; Hb 10.36).

A nova aliança molda o caráter do ministério do evangelho. Jesus ordena à sua igreja: “Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo, ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado” (Mt 28.19, 20). Aqueles que estão fora da nova aliança são convocados a virem a Cristo em fé e arrependimento para que recebam o perdão (Lc. 24.47). O batismo marca sua entrada numa relação pactual com o Senhor. Todos os que estão na aliança — crentes juntamente com seus filhos — devem ser instruídos no caminho do amor e da fidelidade pactuais. À medida que aprendem a obedecer a tudo o que Jesus ordenou, eles se firmam com Jesus como seus discípulos e com a companhia dos fiéis na luta contra Satanás e o reino das trevas. Os membros do pacto que se rebelam contra o Senhor devem ser evangelizados por meio do ensino, da exortação e da disciplina, para conduzi-los ao arrependimento e restaurá-los à vida na aliança.

A nova aliança ocupa o lugar da antiga aliança que o Senhor fez com Israel no Monte Sinai (Hb 8.7, 8). Tanto na antiga aliança quanto na nova, o Senhor estabeleceu uma relação de união e comunhão entre si e o seu povo. Ele declara: “Andarei no meio de vós e serei o vosso Deus, e vós sereis o meu povo” (Lv 26.12). Essa aliança também possuía dois lados: promessa e obrigação. O Senhor concedeu vida ao seu povo ao livrá-lo graciosamente do cativeiro no Egito e prometeu-lhes vida no caminho do amor e da fidelidade pactuais (Dt 6.5; 32.46, 47). A obediência ordenada é simplesmente a obediência que flui da fé. Israel devia viver de toda palavra que procede da boca do Senhor (Dt 8.3).

A triste história do Antigo Testamento é a história do fracasso de Israel em cumprir sua vocação como parceiro fiel da aliança com o Senhor. Os israelitas quebraram essa aliança e, por isso, sofreram a retribuição prometida no exílio. Aqueles que continuaram a viver sob essa aliança mosaica após a restauração não foram melhores. Eles falharam em fazer o que o Senhor lhes ordenou e tentaram encobrir sua impiedade com uma aparência de atos justos (Mt 23). Procuraram pavimentar seu próprio caminho de salvação com essas obras da lei. Esforçaram-se para estabelecer sua própria justiça em vez de confessar seus pecados e render-se ao Senhor em verdadeiro arrependimento e fé (Lc 18.9-14). Eles rejeitaram a salvação e a justiça que vêm pela fé em Jesus (Rm 1.16, 17).

O problema não estava apenas no povo, mas também na própria antiga aliança. Hebreus 8.7 diz que havia algo errado com essa aliança. O sangue de touros e bodes não podia remover a culpa e o poder do pecado (Hb 10.4); e, embora a lei ordenasse a justiça, ela não podia restaurar à vida pecadores que estavam mortos em seus pecados (Gl 3.21). Somente Jesus pode fazer essas coisas, e o Pai enviou seu Filho ao mundo para esse fim. Por meio da morte e ressurreição de Jesus, o pecado é perdoado e destruído, e a lei de Deus é escrita no coração. Assim, a nova aliança torna obsoleta a antiga aliança, fazendo com que esta desapareça (Hb 8.13).

A antiga aliança revelou a graça de Deus na sua disposição de fazer algo a respeito do problema do pecado para que pudesse ter união e comunhão com seu povo. Ele os ensinou a buscar o perdão por meio do derramamento substitutivo de sangue e ensinou-lhes como refletir sua glória na terra sendo santos assim como ele é santo. A antiga aliança mediou a graça salvadora de nosso Senhor Jesus Cristo ao remanescente que observava suas disposições com verdadeira fé; mas a vasta maioria permaneceu sem olhos para ver, ouvidos para ouvir e coração para compreender (Dt 29.4; Rm 11.8). As disposições da antiga aliança clamam por cumprimento em Jesus Cristo.

Moisés, o mediador da antiga aliança, escreveu Gênesis como uma introdução a essa aliança. Ele escreveu para explicar de onde vieram os seres humanos, como o pecado entrou na experiência humana e por que o plano da redenção assume a forma de uma aliança. No princípio, Deus criou os céus e a terra. Ele criou o primeiro homem e a primeira mulher à sua própria imagem — ao contrário dos animais — para que pudesse ter companheirismo com eles em união e comunhão. Eles foram criados como seus parceiros na aliança, com a promessa de vida a ser recebida pela fé. No mandamento de não comer da Árvore do Conhecimento, era a fé de Adão que estava sendo testada. A questão era se ele viveria de toda palavra que procede da boca do Senhor. Adão creu em Satanás em vez de crer em Deus, e dessa incredulidade fluiu a desobediência que o lançou, juntamente com toda a raça humana que ele representava, no pecado, na condenação e na morte (Rm 5.12).

Porque ele não abandonaria seu propósito original ao criar Adão e Eva, o Senhor Deus empreendeu a redenção da raça humana. A redenção não destrói a criação, mas a renova e restaura a humanidade perdida à união e comunhão pactuais com seu Criador. O Senhor revela o plano da redenção numa série de alianças históricas, começando com Noé. O relato de Noé revela quão grave é o problema do pecado (Gn 5.6) e quão destrutivas são as consequências do pecado não apenas para os seres humanos, mas também para o mundo em que vivem. Na aliança com Noé, Deus promete preservar o mundo como uma plataforma para o desdobramento do drama da redenção (Gn 9.11), e ele reatribui à raça humana o mandato cultural original dado a Adão (Gn 9.13).

Na aliança com Abraão, Deus promete que haverá uma raça humana redimida para habitar esse mundo preservado (Gn 15.5). Ele obriga Abraão e seus descendentes à fé e lealdade pactuais como o meio pelo qual pretende realizar tudo o que prometeu a ele (Gn 18.17-20). Em última análise, por meio da fé e lealdade pactuais de Jesus Cristo, que foi obediente até à morte, e morte de cruz, a promessa feita a Abraão é cumprida, e as nações são discipuladas na nova aliança, sendo marcadas pelo batismo (Gl 3.16).

Na aliança mosaica, o Senhor começa a cumprir a promessa feita a Abraão com a conversão da primeira nação, Israel. Assim, Deus demonstra seu amor e fidelidade pactuais (Êx 2.24) e, na lei, especifica em detalhes o que significam o amor e a fidelidade pactuais para Israel. Ele deseja ter esse povo como sua possessão peculiar; contudo, é apenas com a vinda de Jesus que as promessas feitas a Abraão se cumprem plenamente. Vemos isso acontecendo atualmente com a colheita das nações. A união e a comunhão pactuais entre o Senhor e o seu povo atingem seu cumprimento final com o retorno de Cristo, quando uma raça humana recriada ressuscitará dentre os mortos (Jo 5.28, 29) para habitar um novo céu e uma nova terra, o lar da justiça (2Pe 3.13). “Eis o tabernáculo de Deus com os homens. Deus habitará com eles. Eles serão povos de Deus, e Deus mesmo estará com eles” (Ap 21.3).

Tradução: Francisco Batista de Araújo

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