O batismo infantil inflige o temor de Deus em mim.
Ele realmente estabelece — de uma forma pública e visível — um relacionamento pactual. Um relacionamento de amor, envolvendo promessas e responsabilidades, bênçãos e maldições, é iniciado por um Deus gracioso, que sempre tem de começar um relacionamento pactual com o seu povo. Mas as responsabilidades, promessas e ameaças não estão vinculadas unicamente ao indivíduo. Elas são responsabilidades, promessas e ameaças corporativas. O batismo é batismo em Cristo, e tudo o que isso significa (p. ex., batizados em seu corpo).
O temor de Deus resulta do fato que ele escolheu identificar-se com os meus filhos. Em outras palavras, meus filhos não são, fundamentalmente falando, meus filhos. Eles são, por meio do batismo, filhos de Deus. O batismo é uma cerimônia de adoção por meio da qual a criança batizada é publicamente trazida para dentro do reino de Deus, a sua família. A ideia de criar os filhos de Deus é, de fato, séria.
O batismo não é um sinal da fé do meu filho. Antes, batismo é um sinal para o qual ele deve olhar e receber pela fé até a morte. A circuncisão não era um sinal de fé, mas um sinal que a fé abraçava ou para o qual olhava (cf. Rm 4.11). O batismo representa Cristo (Gl 3.27), em quem a nossa fé deve descansar. No batismo, Deus toma a iniciativa para com os nossos filhos. Ele lhes é favorável (“Você é meu filho, a quem eu amo”), e eles respondem em fé ao seu “cortejo”.
De forma crucial, como um pai, quando as águas do batismo são despejadas sobre a cabeça do meu filho, sou confrontando com a séria — porém gloriosa — realidade de que estou criando os filhos de Deus para a sua glória. Porque os meus filhos pactuais pertencem a Deus e a Cristo, em termos da natureza da igreja visível, os riscos são altos. Muito altos.
Sim, nós temos a promessa (At 2.39), mas o batismo é, também, uma lembrança solene para aqueles que não respondem em fé, esperança e amor ao Deus que pôs o seu selo sobre eles. O selo do batismo é mais permanente do que uma tatuagem, pois tem consequências eternas — seja para o bem, ou para o mal. O batismo é um alerta aos pais de que eles não podem “pegar leve” ou presumir sobre a graça de Deus. Eles são, afinal, investidos com a responsabilidade de criar os filhos de Deus. E por isso os pais devem ser, como os pioneiros da nossa fé (Hb 12.2), exemplos para os seus filhos do que significa viver pela fé.
Eis a razão de um batismo público ser tão importante: pais fazem votos em público perante Deus e a igreja. No batismo, Deus visivelmente nos comunica palavras de graça, e nós, por nossa vez, respondemos. Essa é a orientação pactual encontrada nas Escrituras.
Ora, se a realidade de que você está criando os filhos de Deus o induz a ser negligente em sua abordagem do culto doméstico, da adoração comunitária, educação, admoestação, ensino, disciplina, etc., em relação aos seus filhos, então você pode não ter um entendimento adequado do Deus da Bíblia.
A dinâmica pactual em que pais e filhos entram é aquela em que rejeitar a Cristo, que é oferecido no batismo, traz aqueles que rejeitam semelhante graça para debaixo de uma maldição divina. É por isso que, na Ceia do Senhor, você pode comer e beber juízo para si mesmo se o fizer em incredulidade (1 Co 11.29).
Assim, o batismo infantil é Deus tomando a iniciativa de pregar o evangelho e chamando o filho a arrepender-se, crer, e viver, para o resto de sua vida, para a glória do único em cujo nome ele é incorporado, ou encarar a terrível realidade de que os violadores do pacto haverão de enfrentar um julgamento mais severo do que aqueles que nunca receberam tais bênçãos. Os pais não deveriam ser ignorantes dessas coisas. Pois a quem muito é dado, muito é esperado.
Como bem disse Lutero, “Nosso Senhor e Mestre Jesus Cristo, quando disse Poenitentiam agite [lat. Arrependei-vos], quis que a vida toda dos crentes fosse arrependimento”. Nada mau para quem cria na regeneração batismal — um assunto ao qual voltarei no Outono, querendo Deus.
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Fonte: http://www.reformation21.org/
Tradução: Leonardo Galdino (julho/2015)