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“O homem da casa”, de C. R. Wiley

Posfácio do livro O homem da casa Um manual para construir um abrigo duradouro num mundo caindo aos pedaços (Editora Monergismo, no prelo).


Há quase 400 anos, um grupo de ingleses resolveu deixar sua pátria conturbada e moralmente corrompida para criar uma nova comunidade do outro lado do Atlântico, onde pudessem criar seus filhos com retidão e temor ao Senhor. Testemunhando os primeiros tremores da revolução urbano-industrial, eles se comprometeram com a agricultura de subsistência baseada na autossuficiência. Em vez da produção para venda, focaram na produção para uso, complementada pelo compartilhamento comunitário. Na produção agrícola e artesanal diversificada e por meio do trabalho familiar envolvendo adultos e crianças, eles buscavam segurança.

Suas aldeias unidas eram, nas palavras de um historiador, lugares “pequenos, íntimos e essencialmente cooperativos”, baseados na “boa vizinhança” ou amizade. A ordem social crescia a partir de uma aceitação da autoridade fundamentada em pactos livremente aceitos. Horrorizados pelas drásticas desigualdades encontradas na Inglaterra, eles implementaram uma divisão equitativa da terra produtiva. Esse foco intencional em construir e sustentar uma “classe média” significava que cada homem tinha a “oportunidade de viver uma vida longa em sua própria terra entre um grupo de iguais”.

Essa nova comunidade era intensamente centrada na família. Um de seus primeiros líderes explicou que havia três tipos de sociedade: a doméstica, a eclesiástica e a política. Na melhor forma aristotélica, ele enfatizou que “a doméstica é a primeira instituída e de certa forma a mais crucial”. O trabalho era organizado ao longo das linhas familiares, e não através de um sistema de salários e mercado. A prosperidade econômica vinha pelo trabalho intencional de gerações sucessivas; os pais criavam seus filhos para sucedê-los, não para ter sucesso. Esperava-se que o casamento ocorresse cedo, e era isso o que acontecia.

Baseadas no casamento e na sexualidade com propósitos, as famílias desses colonos do Novo Mundo eram ricas em funções e atividades. Eram as principais agências tanto de produção quanto de troca. Eram as escolas onde os pais educavam as crianças sob seus cuidados. Além disso, eram centros de treinamento vocacional, igrejas, hospitais, instituições de assistência social, casas de repouso e até mesmo de correção. Acima de tudo, essas famílias eram centros dedicados ao “ministério parental”, sinais de uma política inteira comprometida, antes de tudo, com a criação de filhos piedosos.

Mantendo unida toda essa comunidade estavam os pais conscientes de seus deveres enormes, vitais e necessários. Seu domínio responsável transmitia força aos que viviam sob seu governo. Os deveres diários desses pais incluíam liderar a casa em oração, ler as Sagradas Escrituras, cantar hinos e agradecer ao Senhor nas refeições. Eles também examinavam regularmente o estado espiritual daqueles que estavam sob sua responsabilidade. Governos e congregações existiam principalmente para apoiar os pais nessas tarefas fundamentais.

Tal era o mundo dos puritanos do século XVII. Ridicularizados em grande parte em nosso dia, esses colonos na verdade construíram uma comunidade cristã que foi notavelmente bem-sucedida: adultos quase universalmente casados; uma fertilidade ruidosa, com uma média de nove nascimentos por família (em uma aldeia, uma média de 11,6!); saúde excepcionalmente boa quando comparada às populações do Velho Mundo; e relativa paz e harmonia. Nas palavras de um par de historiadores: “Estável e patriarcal,… a família da Nova Inglaterra garantia paz e boa ordem”.

“O homem da casa” de C. R. Wiley é um herdeiro digno e valioso dos grandes tratados sobre os fundamentos do bem viver neste mundo, como os que foram escritos pelos dignos puritanos, pelos reformadores como Martinho Lutero, pelos Pais da Igreja dos primeiros séculos cristãos e até mesmo pelos filósofos gregos. Wiley afirma corretamente que este não é um livro de história, mas, sim, um plano para ação contemporânea. Em um sentido mais profundo, no entanto, este volume aparentemente simples alcança criativamente o passado para encontrar e esclarecer formas de as famílias cristãs sobreviverem — e até prosperarem — em um mundo que está desmoronando.

Desafiando a sabedoria econômica aceita (enquanto concorda simultaneamente tanto com Aristóteles quanto com Cotton Mather), Wiley combina idealismo e bom senso em seu chamado para a recriação de famílias ativas, produtivas e significativas como o meio mais promissor de reconstrução social. Concordando com Lutero, Wiley enfatiza o papel absolutamente necessário dos “chefes de família” (ou maridos) nessa tarefa. Suas animadas discussões sobre o valor do trabalho infantil e das esposas como fonte de riqueza são também “politicamente incorretas”, mas profundamente perspicazes e importantes guias para um futuro melhor.

Recomendo este livro alegremente aos homens e mulheres cristãos como um guia para a construção de uma nova política centrada na família em uma era problemática, como uma luz para uma nova geração de “colonos” tementes a Deus no século XXI.

Allan C. Carlson é Presidente Emérito do The Howard Center for Family, Religion & Society, fundador do The World Congress of Families, editor do The Natural Family: An International Journal of Research and Policy e autor de quatorze livros, incluindo mais recentemente Family Cycles: Strength, Decline & Renewal in Domestic Life, 1630-2000.


Posfácio do livro O homem da casa Um manual para construir um abrigo duradouro em um mundo caindo aos pedaços (Editora Monergismo, no prelo).