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Discurso aos jovens, sobre como tirar proveito da literatura grega

Tradução e notas: Bruno Salviano Gripp, Universidade Federal Fluminense

Fonte: https://periodicos.ufjf.br/index.php/ronai/article/view/25969

O Discurso aos jovens sobre como tirar proveito das letras gregas de São Basílio de Cesareia (330-377 ou 379) é um dos textos mais importantes da história da cultura grega e, dentro da patrística, é um dos mais editados, contando com nada menos do que quatro edições modernas.[1] Contudo, ainda que extremamente importante do ponto de vista histórico, como haveremos de ver, não há ainda consenso sobre seu gênero e sua datação. Com efeito, discute-se ainda se o texto seria uma homilia, um discurso fora do ambiente litúrgico, dessa maneira aproximando-se do gênero retórico epidítico, ou uma carta. Igualmente, os endereçados do texto, bem como a data de sua composição são alvo de intensa discussão.[2] Com efeito, nas palavras de Werner Jaeger, este opúsculo “foi sempre a autoridade máxima sobre a questão do valor dos estudos clássicos para a Igreja.”[3]. Dessa maneira, a importância que esse texto teve para a preservação de nossos textos clássicos, visto que quase todos passaram por mãos de eclesiásticos cristãos de língua grega, inclusive os textos filosóficos traduzidos ao árabe, é inestimável.

Essa importância não foi menor durante o Renascimento: esse mesmo texto foi traduzido para o latim por Leonardo Bruni em 1403, e foram feitas quarenta edições antes mesmo da editio princeps grega e cem impressões apenas entre 1470 e 1560,[4] e serviu de base para um longo projeto tradutório e uma das bases do humanismo do quattrocento. Igualmente, esse texto foi uma das primeiras publicações da coleção Budé (1935) e, ao contrário do costumeiro de textos patrísticos da Antiguidade Tardia, conta com outras duas edições críticas, a de Naldini (1984) e a de Wilson (1975).

Ou seja, o texto de Basílio de Cesareia tem uma importância histórica difícil de superestimar, tendo sido um pivô pelo qual a tradição pagã foi legitimada nas diversas ondas de humanismo cristão, seja no final da Antiguidade, no medievo, no Renascimento e mesmo já no século XX.[5] No entanto, ele tem um segundo interesse que é o de revelar parte do horizonte que os leitores, sejam eles pagãos ou cristãos, do século IV d.C. partilhavam diante da literatura clássica, e, por ser obra de uma figura de grande influência e ligada às mais importantes personalidades do período,[6] esse testemunho é de grande valor.

Em suma, seja por sua importância histórica para moldar as atitudes das gerações posteriores em favor da aceitação da cultura clássica, seja pelo seu importante testemunho da leitura que era feita dos textos antigos, a “Carta aos Jovens de Basílio de Cesareia” é um testemunho de grandíssimo valor para a história da leitura e recepção dos textos antigos. Segue a tradução, feita a partir da edição da coleção Budé por Fernand Boulanger. Tive o cuidado de anotar as referências explícitas a textos clássicos, que são muito numerosas, sem seguir necessariamente todas as sugestões dadas pelos editores modernos.


Discurso aos jovens, sobre como tirar proveito da literatura grega

I. Filhos, muitos são os motivos que me chamam para aconselhar vocês, motivos que julgo serem os melhores e que creio que muito hão de contribuir, se vocês os seguirem. De fato, por eu ter essa idade e por já ter me exercitado em muitas atividades, inclusive por ter experimentado em ambas as direções bastante vicissitudes, que tudo ensinam; tudo isso me fez experiente nas coisas dos homens, de modo a ter a capacidade de indicar o caminho mais seguro aos que acabaram de começar a vida. E pela familiaridade natural eu me encontro logo depois dos seus pais, a ponto de eu partilhar um pouco da benevolência paterna, e considero que vocês, se não me enganar na impressão, não sentem falta dos parentes ao olharem para mim. Portanto, se vocês receberem as palavras de bom grado, haverão de ser da segunda ordem de pessoas elogiadas por Hesíodo, se não, eu não diria nada desagradável.[7] Vocês evidentemente se lembram dos versos nos quais ele diz que o melhor é quem compreende por si mesmo o que é necessário, bom também é aquele que segue as indicações de outros, mas aquele que não se adequa a nenhum dos dois é inútil para tudo.[8] Não se admirem que eu diga ter descoberto algo de proveitoso da minha parte para vocês, que visitam o professor todo dia e convivem com os antigos autores eloquentes através das palavras que deixaram. Afinal, venho aconselhar exatamente isto: não dever entregar o leme do pensamento de uma vez a esses homens, como de um navio, e irem com eles para onde levarem, mas aceitar aquilo que for útil deles, sendo necessário saber o que se deve deixar de lado. O que é isso e como discernir é o que vou ensinar começando a partir daqui.[9]

II. Nós, filhos, consideramos que esta vida humana não é de modo algum importante e tampouco consideramos ou dizemos ser totalmente um bem aquilo que se realiza somente neste mundo. Portanto, nem notoriedade de ancestrais, nem força do corpo, nem beleza, tamanho, reputação sobre todos os homens, nem mesmo a própria realeza, consideramos nada do que se pode chamar de grande nos assuntos humanos digno de desejo e nem damos valor aos que possuem, mas vamos em frente com as esperanças em um ponto mais distante e fazemos todas nossas atividades com vistas à preparação para a outra vida. É para essa vida que aquilo que lhe for benéfico afirmamos dever amar e perseguir com toda força, mas aquilo que não a alcança afirmamos que se deve desprezar como digno de nada.

Que vida é essa e onde e como a viveremos atinge um ponto mais trabalhoso do que a presente missiva e é para ouvintes mais velhos do que vocês. Contudo, ao dizer de tal modo eu demonstraria para vocês de modo suficiente, talvez, que, se alguém reunir no mesmo ponto toda a felicidade surgida desde que os homens nasceram, ela não se veria igual sequer à infinitésima parte daqueles bens, mas o conjunto total dos bens desta vida está afastado do que há de menor no outro mundo mais do que sombra e sonho distam da realidade. E mais, para que eu faça uso de um exemplo mais familiar, o quanto a alma é mais valiosa do que o corpo para todos, tanto é a diferença entre ambas as vidas.

Para esta vida conduzem os textos sagrados, que nos ensinam por meio de mistérios. Mas, enquanto não for possível compreender a profundidade de seu pensamento por causa da idade, em outros textos não totalmente afastados, como em certas sombras ou espelhos, exercitamos previamente com o olho da alma, imitando aqueles que fazem os exercícios táticos, eles que, ao adquirem a experiência em pantomimas e danças, recebem nas disputas o provento das brincadeiras. E então, de fato, está à frente de vocês uma disputa[10] que é necessário considerar a maior de todas, pela qual vocês devem fazer e sofrer de tudo à medida do possível para sua preparação e deve- se comunicar com poetas, escritores, oradores e todos os homens a partir de quem pode haver uma utilidade para o cuidado da alma. Portanto, como os tingidores, ao prepararem anteriormente com alguns procedimentos aquilo que vai receber a tinta, desse modo fazem introduzir a cor, seja púrpura marinha, ou outra qualquer;[11] do mesmo modo também nós, se quisermos que a opinião do bem permaneça indelével em nós, depois de termos sido iniciados previamente em autores de fora, então compreenderemos os ensinamentos sagrados e secretos. Como aqueles acostumados a ver o sol na água, da mesma forma voltaremos a vista diretamente para a luz.[12]

III. Portanto, se há alguma familiaridade entre os dois discursos, seria vantajoso o conhecimento deles, mas se não, ao comparar lado a lado, seria possível aprender a diferença não pequena para a consolidação do melhor. Contudo, encontraríamos que imagem, ao comparar cada um dos ensinamentos? Talvez, como a virtude familiar de uma planta é fazer brotar um fruto no momento correto e fornecem certa beleza também as folhas que balançam nos galhos, assim também na alma, a verdade é o fruto principal, porém não é desagradável e nem se deve rejeitar a sabedoria de fora, como certas folhas que fornecem uma proteção ao fruto e uma vista não inoportuna. Diz-se, inclusive, que Moisés, aquele grande homem, cujo nome é o maior entre todos os homens por conta da sabedoria, exercitou anteriormente o pensamento com os ensinamentos dos egípcios[13] para depois se aproximar da contemplação do Ser. De modo semelhante a esse, mesmo nos períodos posteriores, dizem que o sábio Daniel aprendeu antes a sabedoria dos Caldeus na Babilônia e depois atingiu os ensinamentos divinos.[14]

IV. Mas já foi dito bastante que os ensinamentos exteriores não são algo inútil para as almas. Como devemos tomar parte deles é para se dizer em sequência. Primeiramente, então, com os textos dos poetas, para que comecemos daqui, visto que são diversos em relação às palavras, não deem atenção sempre para eles, mas, quando mostrarem para vocês ações ou palavras dos bons homens, deve-se amá-los e invejá-los e o quanto possível tentar ser desse modo; mas, quando se voltarem para a imitação de homens sórdidos, deve-se fugir deles com os ouvidos tapados não menos do que eles mesmos dizem que Odisseu fugiu dos cantos das sereias.[15] De fato, a familiaridade com textos perversos é um caminho para as ações. Por isso, deve-se cuidar da alma com toda guarda.[16] Portanto, não vamos elogiar os poetas em tudo, nem quando imitam pessoas que insultam, ralham, são luxuriosas ou beberronas; nem quando definem a felicidade por uma mesa repleta e o canto de odes. E menos de tudo prestaremos atenção quando conversam algo sobre deuses, sobretudo quando narram sobre muitos deles, que nem sequer estão de acordo entre si.[17] De fato, entre eles, irmão briga com irmão,[18] pai com filhos,[19] e há uma guerra não declarada destes com os pais[20]. Há adultérios de deuses,[21]amores e ligações escancaradas, sobretudo do principal e superior a todos, Zeus, como eles mesmos dizem, atividades que fariam enrubescer ao falar de animais selvagens, deixamos sobre o palco.[22] Tenho essas mesmas coisas para dizer sobre os prosadores, sobretudo quando escrevem histórias com o propósito de divertimento. E não imitaremos a arte dos oradores para a mentira.[23] Pois nem em tribunais e nem em outras ações a mentira nos é conveniente, nós que escolhemos o caminho correto e verdadeiro da vida, a quem na lei é ordenado não julgar. Mas vamos acolher deles aquelas passagens nas quais elogiam a virtude, ou censuram a perversidade.

Pois como para os outros a fruição das flores vai até o cheiro e a cor, para as abelhas também é serventia delas tomar o mel, assim também com aqueles que não perseguem somente o aspecto agradável e gracioso de tais discursos existe uma utilidade desses textos para depositar na alma. Devemos tomar parte nesses discursos exatamente como o modelo das abelhas. De fato, elas não frequentam igualmente todas as flores, pois não tentam tirar tudo do que encontram, mas tomam aquilo que é proveitoso para o trabalho e o restante deixam para trás. Quanto a nós, se formos sensatos, vamos conservar deles aquilo que for familiar e natural com a verdade e passaremos por cima do restante. E, como quando pegamos a flor da rosa evitamos os espinhos, da mesma maneira vamos aproveitar o que for útil desses discursos, mas vamos ficar de guarda contra o que for nocivo. Portanto, logo do começo deve-se vigiar a cada um dos ensinamentos, e ajustar o que convém ao fim, conforme o dito dórico, “alinhando a pedra à linha.”[24]

V. E, visto que é pela virtude que é necessário dedicarmo-nos para a vida, muitas vezes ela foi celebrada em hinos por poetas, muitas vezes por escritores, ainda mais por filósofos e deve-se dar atenção a tais discursos. De fato, não é pequeno o proveito de gerar nas almas dos jovens uma certa familiaridade e hábito da virtude; mas, dado que tais ensinamentos são naturalmente irremovíveis,[25] quando são marcados profundamente nas almas ainda tenras.

Ou o que mais supomos que Hesíodo tenha considerado ao compor os versos que todos cantam, senão para exortar os jovens para a virtude? “Porque o caminho que leva à virtude é primeiro rude, difícil de passar, íngreme e cheio de suores frequentes e dores.”[26] Por isso, não é todo mundo que o sobe diretamente, e nem, depois que começa a subir, chega ao topo. Mas para quem está no alto é possível ver como é plano e belo, fácil e transitável e mais agradável do que o outro caminho que leva ao vício, que o mesmo poeta disse poder ser tomado em massa devido à proximidade. De fato, não julgo que ele faça nada mais do que nos exortar para a virtude, e chamar todos para sermos bons, para que a percorramos e para que, amolecidos diante dos sofrimentos, não desistamos antes do fim. E, certamente, inclusive se outro tiver feito hinos à virtude de modo semelhante a esse, acolhamos as palavras por nos levarem ao mesmo lugar.

Como eu ouvi de um homem fabuloso em interpretar o pensamento do poeta, toda a poesia de Homero é um louvor à virtude, e tudo nele que não for acessório conduz a isso, e não menos naqueles versos em que escreveu sobre o general dos Cefalênios.[27] Nu, salvo do naufrágio, primeiro inspirou respeito na princesa, mesmo aparecendo sozinho, e faltou muito para ter vergonha de ser visto nu, visto que ele se fez adornado com a virtude no lugar de vestes. Em seguida, também diante dos outros feaces foi considerado digno de tanto a ponto de deixarem as festividades que compartilhavam. Todos prestavam atenção nele, invejavam-no e naquele período nenhum feace desejava outra coisa senão ser Odisseu – e isso depois de ter sido salvo de um naufrágio. Nesses versos – dizia o intérprete do pensamento do poeta – Homero só não chega a gritar: “Homens, devemos cuidar de uma virtude que nada junto com o náufrago para a terra firme e mostra-o mais honrado do que os felizes feaces.” E de fato é assim, pois, se pensarmos no resto das posses, elas não são mais de quem as possui do que de quem quer que as encontre, pois são trocadas de um lado para outro como no jogo de dados. A única posse indestrutível é a virtude, que permanece tanto com o vivo, quanto com o morto.

Daí Sólon também me parece falar para os ricos o seguinte:

“Mas nós não pegaremos a riqueza daqueles

a troco da virtude; porque esta, sim, é sempre firme, já as posses humanas são ora de um, ora de outro.”[28]

De modo semelhante são os versos de Teógnis, em que diz que deus – quem quer que seja esse deus de que ele fala – lança o talento aos homens de modo diverso: “Ora um é rico, ora nada tem.”[29]

E, de fato, o sofista de Ceos, em algum ponto de seus escritos, filosofou questões próximas a estas sobre virtude e vício e também se deve dar atenção ao pensamento dele, pois não é um homem desprezível.[30] O texto dele é mais ou menos assim: o quanto me lembro do pensamento do homem, visto que não sei de cor as palavras, sei somente que ele diz de modo simples sem metro que, quando Héracles era bastante jovem, tendo quase a mesma idade que vocês agora possuem e estava escolhendo qual caminho tomar, aquele que através de trabalhos levava à virtude, ou o fácil; apareceram para ele duas mulheres, e essas eram a Virtude e a Perversidade. Logo, mesmo caladas, mostrou-se pela figura a diferença. De fato, uma é preparada com cosméticos para a beleza, perde-a por causa do luxo e leva pendurado consigo todo o enxame de prazeres. Ela, então, mostrava e prometia ainda mais do que isso, tentando arrastar Héracles para si, mas a outra era recurvada, esquálida, severa de vista e dizia outras palavras: pois não prometia nada fácil, nem agravável, mas milhares de suores, trabalhos e perigos, por toda terra e todo o mar, e o prêmio disso era tornar-se um deus, como dizia o discurso dele, e a esta última Héracles seguiu até a morte.

VI. E quase todos que possuem alguma reputação de sabedoria, maior ou menor, à medida da capacidade, fizeram um elogio da virtude em seus escritos; nesses se deve confiar e tentar mostrar na vida as palavras. Como aquele que confirma em obra a filosofia que dos outros vai até as palavras:

“Somente ele é sensato, os outros voam como sombras[31]

E parece-me que isso é semelhante a quando um admirável pintor imita a beleza de um homem, ele seria de tal forma de verdade como o outro mostrou nos quadros. Visto que fazer brilhantes elogios públicos à virtude e estender longos discursos em seu favor, mas privadamente valorizar o prazer acima da moderação e ter mais do que o justo eu diria se assemelhar aos que representam as peças teatrais em cena, que muitas vezes chegam como reis e senhores, sem serem reis, nem senhores e sequer calharem de serem livres ao menos. Ademais, um músico não aceitaria de bom grado que sua lira estivesse desafinada, e o chefe de um coro não aceitaria que o coro não cantasse em máxima harmonia. O homem, porém, diverge de si e não mostra uma vida em concordância com as palavras? Mas vai falar como Eurípides: “a língua jurou, mas o coração não jurou”[32]? E vai buscar parecer bom ao invés de sê-lo? Mas esse é o último limite da injustiça, se se deve confiar em Platão: o parecer ser justo sem sê-lo.[33]

VII. Aceitemos desse modo os discursos que dão conselhos para o que é belo. Mas como também as ações valiosas dos homens antigos foram salvas para nós por uma sucessão de lembranças, preservadas nos discursos dos poetas e dos escritores, não deixemos de lado nada do proveito dali. Por exemplo, um homem da ágora abusa de Péricles, ele não dá atenção, e a situação continua assim por todo o dia, um injuriando desmesuradamente com os abusos, mas o outro nem se importava com ele. Em seguida, já tarde e escuro, Péricles o acompanhou de volta com iluminação, para que ele não atrapalhasse a escola de filosofia.[34] Novamente, alguém irritado com Euclides de Mégara, ameaçou, jurou-o de morte; ele jurou de volta de aplacá-lo e parar com a raiva contra ele. Qual é o valor da menção desses exemplos, um homem refreado assim da ira? De fato, não se deve confiar na tragédia quando ela diz: “A ira arma a mão contra os inimigos,”[35] mas sobretudo sequer se levantar para a ira em absoluto, mas se isso não for fácil, lançarmos o pensamento como um freio nisso, sem deixarmos ser levados mais além.

Reconduzamos o texto novamente para os exemplos das ações dos homens valorosos. Alguém batia em Sócrates, o filho de Sofronisco, atingindo sua face sem poupar. Ele não respondeu, mas dava oportunidade ao insultante para descarregar a ira, a ponto de seu rosto inchar e ficar com feridas profundas por causa dos golpes. Logo que ele parou de bater, dizem que Sócrates nada fez, mas falou para inscrever, como o escultor com a estátua, e o homem fez, e dessa maneira Sócrates se defendeu. Eu afirmo que essas ações levam ao mesmo fim dos nossos textos e são muito dignas de imitação por homens da idade de vocês. Essa história de Sócrates é irmã daquele mandamento que sugeriu a quem bate na face dar também a outra face,[36] o de Péricles e Euclides é irmão ao mandamento de ser paciente com os que perseguem e suportar calmamente a ira deles, de de desejar o bem aos inimigos e não amaldiçoar.[37] Assim, a pessoa que é ensinada previamente com esses exemplos não vai descurar dos outros como impossíveis. E não vou passar ao largo do exemplo de Alexandre, que, ao tomar as filhas de Dario como escravas, que tinham a fama de ter uma enorme beleza, não se dignou sequer a vê-las, julgando ser vergonhoso que quem tomava homens fosse vencido por mulheres.[38] De fato, isso leva também ao mesmo lugar daquele outro mandamento, porque quem observa uma mulher com vistas ao prazer, mesmo se não cumprir o adultério de fato, mas receber o desejo na alma, não está livre do crime.[39] A história de Clínias, um dos conhecidos de Pitágoras, é difícil de acreditar de estar junto com os nossos espontaneamente, senão por uma imitação com diligência. O que ele fez? Sendo possível escapar de uma dívida de três talentos por meio de um juramento, ele pagou antes de fazer o voto, e isso fazendo um juramento correto,[40] imagino por ter ouvido nosso mandamento que proíbe o juramento.[41]

VIII. Mas como dizia no começo, novamente retornemos ao ponto em questão, não devemos aceitar tudo de imediato, mas aquilo que for útil. De fato, é vergonhoso que rejeitemos o trigo que for maléfico, mas não demos nenhum valor aos ensinamentos que alimentam nossa alma e sempre acolhermos o que encontrarmos como se fôssemos arrastados por uma tempestade. De fato, há um motivo para o piloto não se lançar livremente aos ventos, mas dirigir o barco ao porto, o arqueiro mirar o alvo e até mesmo um trabalhador de bronze ou um carpinteiro voltarem-se para o fim de acordo com sua arte. Quanto a nós, vamos ficar aquém desses trabalhadores, na nossa capacidade de visar o nosso fim? De fato, não pode ser que haja um termo para trabalho do artesão, mas a vida humana não tenha um fim, pelo qual tudo deve ser feito e dito pela pessoa que não vai se parecer a todos os seres irracionais. De outro modo, estaríamos sem regras à maneira dos barcos sem lastro, com nenhum propósito conduzindo os remos da nossa alma, sendo levados para cima e para baixo na vida sem propósito.[42]

Como nos jogos atléticos ou, se quiser, nas exibições musicais, os exercícios vinculam-se às modalidades em disputa pelas coroas e ninguém que treina pancrácio ou luta exercita-se na cítara ou no aulo. Certamente não é o caso de Polidamante: pelo contrário, ele, antes da disputa dos jogos Olímpicos, parou um carro de corrida em movimento e aumentou sua força através desses exercícios.[43] Também Mílon não foi empurrado pelo escudo untado de azeite, mas suportou o empurrão não menos que as estátuas atadas com chumbo.[44] Como sempre, os treinos deles foram preparações para as disputas. Se tivessem se interessado pelas notas de Mársias ou as do Olimpo Frígio e deixassem a areia e os ginásios, rapidamente alcançariam as coroas e a fama ou fugiriam para não serem ridicularizados pelo corpo? Tampouco Timóteo deixou a melodia e passou a viver nas palestras. De fato, ele era capaz de se destacar tanto sobre todos os outros na música e era tão superior na arte a ponto de, quando quisesse, despertar a ira por meio de uma harmonia intensa e austera, de acalmar de volta e amolecer por meio do relaxamento. Com isso, inclusive, se diz que, enquanto ele tocava ao modo frígio, fez Alexandre partir para as armas enquanto se banqueteava e o reconduziu de volta para os convivas ao relaxar a harmonia.[45] O exercício fornece uma tal capacidade tanto na música quanto nos jogos atléticos para a aquisição do fim.

Visto que me lembrei de coroas e disputas atléticas, esses homens, sofrendo milhares sobre milhares dores, e incrementado de todos os meios seu vigor, muitas vezes suaram com os esforços ginásticos, receberam muitos golpes do treinador, com a alimentação que não era a mais agradável, mas escolhendo a que era conveniente aos atletas, e todo resto, para que não me canse de falar, portando-se de tal modo que antes da disputa fizeram a vida ser uma preparação para o jogo. E, no momento em que se despem para o estádio, sofrem e se arriscam de tudo, para receber uma coroa de oliveira, ou de aipo, ou de outro vegetal desse tipo, para vencerem e serem anunciados pelo arauto. Quanto a nós, a quem estão dispostos jogos na vida tão admiráveis em número e tamanho que são impossíveis de se descrever com a palavra, e é dormindo sobre ambos os lados e vivendo com uma grande facilidade que será possível agarrar com uma das mãos? A preguiça é digna de muita coisa na vida, e Sardanápalo, no começo, foi levado para a felicidade, ou Margites, se quiser, que nem arado, nem escavadeira, nem outro dos instrumentos que Homero disse serem úteis para a vida, se é que esses versos são de Homero.[46] Mas não é mais verdadeiro o dito de Pítaco, que afirmou que o nobre é difícil?[47] De fato, somente se atravessarmos muitos esforços, de verdade, teríamos sucesso em encontrar esses bens, que nas palavras atrás dissemos não haver nenhuma comparação entre os assuntos humanos. Portanto, não tenhamos preguiça, nem troquemos as grandes esperanças por um breve ataque de preguiça, senão haveremos sofrer injúrias e suportar punições, não aqui entre os homens (embora isso também não seja pouco para quem tem senso), mas sim nos tribunais, seja se forem sob a terra ou onde quer que eles se localizem. Porque um certo perdão de Deus talvez haja para quem fez além do conveniente sem querer, mas para quem escolheu maliciosamente o pior não há nenhuma súplica para não suportar a punição em proporção muito maior.

IX. Alguém poderia dizer: o que então faremos? O que mais do que ter cuidado com a alma, passando toda sua ocupação afastada de outros interesses? Não sejamos, portanto, escravos do corpo, exceto aquilo que for completamente necessário. Mas que se forneça o que há de melhor para a alma, como se a libertássemos de uma cadeia da comunhão com as paixões do corpo,[48] ao mesmo tempo trabalhando o corpo para ficar mais forte do que as paixões[49], servindo ao ventre aquilo que for necessário e não o mais agradável. Ao contrário do que pensam alguns mestres de banquetes e cozinheiros, que investigam toda terra e mar, como se levassem tributos a um senhor difícil, dignos de misericórdia pela ocupação, ao sofrerem por isso nada mais insuportável do que as punições no Hades, cardando lã crua para queimar,[50] levando água com peneira, vertendo água em um vaso furado, sem ter nenhum limite dos trabalhos.[51]

Ter ocupação com cortes de cabelo e vestuário além das necessidades é próprio ou de infelizes, ou de injustos, de acordo com a palavra de Diógenes.[52] Assim, afirmo que se deve considerar igualmente vergonhoso ser ou ter fama de almofadinha e deve-se considerar que essas pessoas têm o objetivo de libertinagem ou adultério. Que diferença haveria, para quem é sensato, ter de se vestir com uma roupa elegante, ou portar uma veste grosseira, enquanto não faltar nada da proteção contra o frio e o calor? Quanto ao resto, do mesmo modo, que não se prepare o que vai além da necessidade, nem trate o corpo mais do que para que tenha o melhor para a alma. De fato, não é uma censura menor ao homem que é verdadeiramente digno dessa apelação ser almofadinha e amante do corpo ou estar disposto a algum outro tipo de paixão. De fato, aplicar todo o empenho para ter o corpo da maneira mais bela para si não é próprio de quem reconhece a si mesmo, sem a compreensão do sábio mandamento, porque o homem não é o que se vê, mas necessita de algo da sabedoria abundante, através da qual cada um de nós reconhece-se como é de verdade. E isso é mais impossível aos que não purificaram a mente do que cegos verem a luz do sol. Uma purificação da alma, para dizer de modo sucinto e suficiente para nós, é desonrar os prazeres dos sentidos: não festejar os olhos com as exibições irreais dos acrobatas ou com as vistas dos corpos que deixam cair o aguilhão do prazer para deter a melodia dissoluta das almas através dos ouvidos.

De fato, as paixões naturalmente geram os frutos da dependência e da baixeza a partir dessa forma de música. Mas devemos perseguir a outra música, a melhor e que conduz ao melhor, da qual fez uso Davi – o poeta dos cânticos sagrados – que, como dizem, acalmava o rei da loucura.[53] Diz-se também que Pitágoras, ao encontrar foliões, ordenou o flautista que chefiava os festejos, ao trocar a harmonia, tocar para eles o modo dórico. E eles – dizem – recobraram a sensatez sob a ação da melodia, a ponto de lançarem fora as coroas e, envergonhados, voltarem para casa. Outros chegam até a ser coribantes e bacantes diante do som do aulo. Tal é a diferença entre estar repleto com a melodia saudável e a nociva. Assim, quando esta última domina, devemos tomar uma parte menor dela do que de qualquer outro assunto dos que são evidentemente indecorosos. E me envergonha até proibir misturar ao ar diversos elementos sem valor que trazem prazer pelo olfato ou embelezar-se com perfumes. O que se diria sobre não perseguir os prazeres no tato e no gosto, exceto que eles constringem as pessoas que se ocupam de sua caça, como os filhos que vivem voltados para o ventre e o que está abaixo dele?

Para resumir: a pessoa que não vai se enterrar na imundície dos prazeres deve desprezar totalmente o corpo e deve-se se afastar disso, diz Platão, o quanto se “adquire de serviço para a filosofia,”[54] dizendo algo parecido a Paulo, que recomenda não dever ter nenhum cuidado com o corpo para dar início aos desejos.[55] Ou o que é diferente, uns se preocupam com o corpo para que ele fique na melhor condição, mas desprezam a alma que faz uso dele como digna de nada, preocupando-se com os instrumentos, mas não dando valor à arte que opera esses instrumentos. Portanto, convém fazer o exato oposto: castigá-lo e retê-lo, como os ímpetos das bestas. E aqueles que se encontram nesse tumulto convém fazer descansar fazendo uso da alma como um açoite e não, ao soltar o freio do prazer, desprezar a mente e levar como um auriga que é desviado por cavalos difíceis levados pelo excesso.[56] É preciso lembrar-se de Pitágoras, que, ciente de que um de seus alunos se refestelava com ginásios e comidas, disse: “Ei você! Não vai parar de deixar a cadeia ainda mais dura para você mesmo?”. Por isso que dizem que Platão, antevendo o prejuízo para o corpo, propositalmente escolheu a região insalubre da Ática, a Academia, para cortar o prazer excessivo do corpo, como o ramo excessivo da vinha.[57] E eu mesmo ouvi de médicos que uma boa condição extrema é prejudicial.

Portanto, quanto o cuidado excessivo do corpo não é benéfico ao próprio corpo e é um impedimento para a alma, render-se a ele e servi-lo é uma evidente loucura. Contudo, se nos esforçarmos em desprezá-lo, facilmente nos assombraríamos com outros aspectos da humanidade. De fato, que uso teríamos para a riqueza, nós que desprezamos os prazeres através do corpo? Pois eu não vejo, a não ser que, à maneira dos dragões nos mitos, traga algum prazer dormir em cima de tesouros enterrados. A pessoa que foi ensinada a se portar livremente diante de tais coisas careceria muito para escolher algo baixo e vergonhoso em ação ou palavra. De fato, o que está além da necessidade, mesmo se for um fragmento lídio, mesmo se for obra das formigas que escavam ouro[58], tem menos em valor o quanto menos é necessário. Seguramente vai se orientar pela utilidade daquilo que é naturalmente necessário e não pelos prazeres. Como aqueles que se localizam fora dos termos da necessidade, de modo semelhante aos que são levados para baixo nas descidas dos montes, não têm nada firme para pisar, de modo algum param no seu movimento para frente. Mas o quanto mais avançam, precisam do mesmo incentivo ou de mais para a satisfação do desejo, segundo Sólon, o filho de Execestides, que diz:

“Não há nenhum termo evidente da riqueza para os homens” Façamos uso de Teógnis como mestre, quando ele fala:

“Não gosto de ser rico, nem desejo, mas que eu

possa viver com poucas posses, não tendo nada de ruim.”[59]

Eu também admiro o desprezo de Diógenes por todas as coisas humanas, ele que se disse mais rico do que o grande rei, por necessitar de menos do que aquele para a vida.[60] Logo, se nós tivéssemos os talentos de Pítio, o mísio, tantos e tantos alqueires de terra, rebanhos de gado em número além da contagem, nada bastará?[61] Mas, julgo, convém, se estiver distante disso, não desejar a riqueza e se a possuir não pensar em adquirir mais do que saber bem dispor dela. De fato, é belo o dito de Sócrates, que, quando um homem rico se orgulhava de suas posses, disse que se admiraria dele não antes de ele ser testado que sabe fazer uso delas.[62] Ou Fídias e Policleto, se se orgulhassem do ouro ou do marfim a partir do qual ambos esculpiram Zeus na Élida e Hera em Argos, seriam ridículos de se embelezarem com ouro alheio, deixando de lado a arte pela qual o ouro se mostra mais agradável e valoroso. Quanto a nós, se supusermos que a virtude humana não basta em si mesma para o adorno, vamos nos dignar ter uma atitude menos vergonhosa?

Mas, de fato, vamos desprezar a riqueza, e vamos desonrar os prazeres dos sentidos, vamos expulsar a adulação e a subserviência, mas vamos admirar a astúcia e a malícia da raposa de Arquíloco?[63] Mas não deve ser o que o sensato deve mais fugir do que o viver segundo a fama, ter em conta as opiniões da maioria e não fazer a razão reta o líder da vida, de modo que, mesmo se contradisser a todos os homens, em nada escolher se mover daquilo que foi corretamente conhecido. De fato, vamos dizer que a pessoa que está nessa situação está a que distância daquele sofista egípcio,[64] que se tornava planta e bicho, quando quisesse, e fogo, água e todas as coisas? Se também ele elogiar a justiça junto àqueles que a amam, mas emitir falas contrárias, quando perceber a injustiça em alta conta, ação que é própria dos aduladores. E como dizem sobre o pólipo que muda a cor de acordo com o terreno que está abaixo, da mesma forma ele muda o pensamento de acordo com as opiniões das pessoas em sua volta.

X. Mas haveremos de aprender isso de forma mais perfeita também nos nossos textos; faremos como um esboço da virtude, pelo menos por agora, a partir dos ensinamentos de fora. De fato, para aqueles que ajuntarem zelosamente a utilidade de cada um deles, como com os grandes rios, muitas adições surgem naturalmente de todos os lados. Pois o acúmulo de pequeno sobre pequeno, não mais em relação à adição de dinheiro do que a qualquer ciência que seja, convém considerar ser correta para o poeta.[65] Bias disse para o filho, que partia para o Egito e perguntava o que ele deveria fazer para que tudo ocorresse da melhor maneira: “adquirindo provisões para a velhice”,[66] querendo dizer com provisões a virtude, circunscrevendo-a em limites pequenos, que definem sua utilidade para a vida humana. Quanto a mim, mesmo se alguém falar da honra de Titono,[67] se alguém falar da de Argantônio,[68] mesmo se falar do mais ancião dentre os nossos, Matusalém,[69] que dizem ter vivido novecentos e setenta anos, mesmo se medir todo o tempo desde que os homens nasceram, hei de rir como do pensamento de crianças ao pensar na longa eternidade sem velhice, cujo limite não é possível reconhecer no pensamento, mas não mais do que sugerir a morte da alma imortal. Para essa eternidade eu exortaria adquirir as provisões, movendo todas as pedras, conforme o provérbio, de onde poderia advir para nós algum proveito para sua obtenção. Não é porque são difíceis e requerem trabalho que nos afastaremos deles, mas lembrando-nos de quem exorta, de que é necessário que cada um escolha a melhor vida, para esperar que se torne agradável pelo costume, vamos arriscar nas melhores obras. De fato, é vergonhoso que relaxemos no presente momento para deixar para o futuro, quando não haverá mais solução.

Eu já falei agora aquilo que julgo ser melhor, mas hei de aconselhar vocês ao longo de toda a vida. E vocês, de três doenças, não julguem se assemelhar à incurável, nem mostrem a doença da opinião próxima das que acometem os corpos. De fato, aqueles que sofrem as doenças pequenas, vão aos médicos, mas aqueles que são pegos pelas maiores moléstias, chamam os terapeutas para sua própria casa. Já aqueles que são levados completamente por um ataque de melancolia, nem admitem que se aproximem. Espero que vocês não sofram ao evitarem aqueles que têm os conselhos corretos.


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Notas

[1] São as edições de García Moreno, Naldini, Wilson e Boulanger, que estão presentes na bibliografia final.

[2] Destaco, além das introduções das edições críticas, os comentários de Raymond van Dam (2002), Philip Rousseau (1998), Ernst Fortin (1981), Mario Naldini (1978 – na referência 1976), Ernesto Valgiglio (1975) e Ann Moffat (1972).

[3] Jaeger, sem data [1961], p. 105, n. 12.

[4] Backus, 2017, p. 37.

[5] Sobre a sobrevida desse texto, além do capítulo de Irene Backus já mencionado, é essencial o livro de Schucan (1973).

[6] Basílio conheceu imperadores como Juliano e Valente, foi aluno dos dois maiores oradores do século IV, Libânio e Proerésio, encontrou-se com personalidades eclesiásticas do porte de Santo Atanásio de Alexandria, além de, naturalmente, ser o líder do cristianismo capadócio, com a sua pletora de figuras de importância, como seus irmãos Gregório e Macrina, seu colega Gregório de Nazianzo, entre outros. Em termos de conexões pessoais nenhuma outra personalidade do cristianismo antigo alcançou tamanho destaque.

[7] Expressão retirada de Demóstenes, Oração sobre a coroa, 3.

[8] Referência a Trabalhos e Dias, 293-7.

[9] Expressão homérica (Homero, Odisseia, VIII, 500).

[10] Ecos da Carta aos Hebreus, 13, 1.

[11] Imagem retirada de Platão, República, 429e.

[12] Platão, República, 516a-b.

[13] Atos dos Apóstolos, 7, 22.

[14] Deuteronômio 1, 4.

[15] Homero, Odisseia, XII, 39.

[16] Provérbios 4, 33.

[17] Platão, República, 377e

[18] Alusão, talvez, à Ilíada, que coloca deuses irmãos, como Apolo e Atena, em disputa.

[19] Hesíodo, Teogonia, 453 ss.

[20] Embora haja seguramente outros casos, as histórias de Crono, na Teogonia (vv 166-190), são o modelo paradigmático desse tipo de atividade.

[21] Homero, Odisseia, VII, 266-366.

[22] Isto é, representado nas cenas das apresentações teatrais.

[23] Certamente um dos grandes temas de Platão, ver, entre outros exemplos, Fedro, 259e-260a.

[24] No original escrito em dialeto dórico τὸν λίθον ποτὶ τὰν σπάρτον. Esse provérbio aparece transmitido apenas por autores cristãos, como esta passagem de Basílio, e uma de Gregório de Nazianzo (Epístola 38 [Migne 38, 80A]) e outra de João Crisóstomo (Comentário à carta aos Coríntios, Homilia 35 [Migne 61, 300]).

[25] Essa expressão e esse raciocínio derivam originalmente de Platão (República, 378a).

[26] Paráfrase de Trabalhos e Dias, 285-90.

[27] Homero indica que Ulisses lidera os cefalênios.

[28] Sólon, Fr. 15 W. Tradução de Rafael Brunhara, tirado de https://primeiros-escritos.blogspot.com/2013/07/solon-fragmento-16-w.html (última visualização em 22/02/2019)/

[29] Teógnis, 257. No original fala-se em Zeus.

[30] Trata-se de Pródico de Ceos.

[31] Homero, Odisseia, X, 495.

[32] Eurípides, Hipólito, 612.

[33] Citação quase literal de República, 361a.

[34] Anedota comum em Plutarco, mas aparentemente retirada do texto Como alguém se perceberia avançando em direção à virtude, 79 a.

[35] Adaptação de uma tragédia atribuída a Eurípides (Reso, 84).

[36] Cf. Evangelho segundo Mateus, 5, 39.

[37] Evangelho segundo Mateus, 5, 44.

[38] Arriano, Anábase de Alexandre, 4, 19, contra essa história de modo um pouco diferente.

[39] Evangelho segundo Mateus, 4, 28.

[40] Essa história, sem o nome de Clínias, aparece em Jâmblico, Vida de Pitágoras, 28, 144.

[41] Êxodo, 20, 7; Deuteronômio, 5, 11.

[42] A poesia grega tinha uma metáfora muito comum com relação ao navio do estado, onde a cidade é comparada a um navio. Essa imagem aparece no fragmento 6 V de Alceu, na Antígona de Sófocles, na República (488a-489d) e na Ode 1.14 de Horácio.

[43] Essa história, entre outras relacionadas à vida de Polidamante, encontra-se no livro 6 da Descrição de Grécia, de Pausânias.

[44] Também retirada do mesmo livro de Pausânias.

[45] Essa história aparece no início da Oração sobre o reino de Díon Crisóstomo.

[46] Margites é o herói de um poema cômico atribuído a Homero, mas que já na antiguidade se duvidava de sua autoria, como o próprio comentário de Basílio deixa claro.

[47] Pítaco, tirano de Mitilene, foi um dos chamados Sete Sábios da Grécia. Essa anedota encontra-se, entre outros lugares, no Protágoras de Platão (340c).

[48] A imagem do corpo como cadeia da alma é platônica. Encontra-se, por exemplo no Fédon, 82c.

[49] A imagem de que o corpo melhora sob a doutrina ascética é comum na literatura cristã. Ver capítulo 14 da Vida de Santo Antão de Atanásio de Alexandria.

[50] Isso significa, trabalhar um pedaço de lã para queimá-lo em sequência, ou seja, uma atividade inútil. Essa punição aparece nas Leis, 780c.

[51] Essas imagens aparecem no Górgias, 493b.

[52] Diógenes Laércio, Vidas dos Filósofos, VI, 54.

[53] 1 Samuel, 16, 14-23.

[54] Platão, República, 498b.

[55] Cf. Epístola aos Romanos 13, 14; Epístola aos Gálatas 5, 16.

[56] Reminiscência da alegoria da carruagem do Fedro de Platão (246a – 254e).

[57] Essa reminiscência da fundação da Academia encontra-se em Eliano (Histórias variadas, livro 9, 10).

[58] Heródoto III, 102.

[59] Teógnis, v.1155-6.

[60] Plutarco, Vida de Alexandre, 14.

[61] Heródoto, VII, 28.

[62] Díon Crisóstomo, Oração sobre a realeza III, 1.

[63] Platão, República, 365c.

[64] A referência é a Proteu, que aparece na Odisseia, IV, 284. Contudo, a referência a Proteu como “sofista egípcio” aparece no Eutidemo de Platão, 288c.

[65] Hesíodo, Trabalhos e Dias, 361.

[66] Diógenes Laércio, I, 88.

[67] Hino Homérico a Afrodite, 219ss.

[68] Tirano de Tartesso narrado em Heródoto, I, 163.

[69] Gênesis 5, 25.