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Em Minha Prateleira: vida e livros segundo Peter Leithart

A série “Em Minha Prateleira” ajuda você a conhecer diversos autores por meio de um passeio pelos bastidores de suas vidas enquanto leitores.

Perguntei a Peter Leithart – presidente do Theopolis Institute, autor de Baptism: A Guide to Life from Death [Batismo: Um Guia da Morte para a Vida] e muitos outros – sobre o que há em sua mesa de cabeceira, sua ficção favorita, seu melhor conselho sobre leitura e mais.

O que está em sua mesa de cabeceira agora?

Em minha mesa de cabeceira há uma pilha de romances, pois as tardes são reservadas para leitura de ficção. Há alguns livros de George Saunders, dois romances de Alison Lurie, Crash, de J. G. Ballard e Jack, de Marilynne Robinson, que eu quero reler pois não acho que dediquei a devida atenção na primeira leitura. Leio seguindo uma ordem, não todos ao mesmo tempo.

Minhas leituras durante o dia de trabalho são quase sempre determinadas por meus projetos de escrita. Estou atualmente escrevendo um livro sobre teologia da criação, então estou lendo uma coleção de escritos de Agostinho sobre Gênesis; Creation: A Guide for the Perplexed, de Simon Oliver; e o fascinante Time, Creation, and the Continuum, de Richard Sorabji. Também tenho lido as obras traduzidas de Sergius Bulgakov, atualmente The Comforter. De publicações recentes, iniciei a leitura de History Has Begun, de Bruno Maçães. 

Qual são seus livros de ficção favoritos?

Tenho dificuldade em responder sobre meus livros favoritos, mas posso nomear alguns autores e romances que me marcaram ao longo dos anos: Walker Percy, especialmente The Thanatos Syndrome; Dostoiévski, especialmente Memórias do Subsolo e Irmãos Karamazov; acho que Housekeeping, de Marilynne Robinson, é sua melhor obra; Jane Austen é uma das preferências habituais, em parte porque oferece um padrão estilístico com clareza e organização. Durante o último ano, desfrutei especialmente de Piranesi, de Suzanne Clarke, embora seja muito cedo para dizer se seu impacto permanecerá. 

Quais biografias ou autobiografias mais influenciaram você e por quê?

Confesso – isto é uma confissão? – que não leio muitas biografias ou autobiografias. Utilizei a incomparável biografia de Dostoiévski escrita por Joseph Frank quando estava escrevendo minha pequena biografia sobre ele, e usei algumas excelentes biografias de Constantino quando escrevia meu próprio livro sobre essa figura histórica. Gosto de ler coleções de cartas, mas biografias e autobiografias não fazem parte da minha dieta.

Quais são os livros que você geralmente relê e por quê?

Correndo o risco de soar piedoso demais, a Bíblia é o livro que eu mais reli. Nenhum outro chega perto. Tenho lido a Bíblia inteira ao menos uma vez por ano desde 1990, anotando a data de conclusão em um velho cartão de notas, que mantenho na contracapa da minha Bíblia. Fui ensinado há muito tempo que não há substituto para ler e reler as Escrituras. Todo ano, encontro coisas que nunca tinha lido antes.

Releio partes de livros de teologia regularmente: Through New Eyes, de James Jordan; Theology and Social Theory, de John Milbank; N. T. Wright, especialmente Jesus and the Victory of God; For the Life of the World, de Alexander Schmemann; Catholicism, Corpus Mysticum, de Henri de Lubac, e seus volumes sobre exegese medieval. Como minha leitura é bastante determinada pela minha escrita, costumo consultar esses livros para algum projeto atual.

Você não só escreveu vários comentários bíblicos e obras de teologia, mas também escreveu sobre Constantino, Atanásio, Jane Austen, Fiódor Dostoiévski e sobre gratidão. O que encorajou seu trabalho abrangente (quase polímata) com esses tópicos e outros?

Muito disso é circunstancial. Tenho empregos nos quais sou pago para ler e escrever. Ainda mais, durante toda a minha vida adulta, tenho tido liberdade de seguir meus interesses. Passei quinze anos no New St. Andrews College, que era pequeno e flexível o suficiente para permitir-me estudar áreas fora da minha especialidade. Quase todo livro que publiquei durante o tempo em que lá atuei começou em uma sala de aula. Parte disso é ilusório: sempre tenho escrito sobre teologia, embora eu pregue a partir de diferentes tipos de texto. Outra parte é cruelmente comercial: escrevi todos os livros que você listou porque alguém convidou-me e ofereceu-me um cheque, se eu aceitasse. 

Qual é o seu melhor conselho sobre leitura?

Leia livros. Existem tantas distrações e tentações para ler manchetes e partes de textos. Precisamos resistir a essa tentação, porque algo acontece à sua mente e coração quando você lê livros que não acontecem de outra forma. Quando lemos romances, passamos algum tempo com personagens e situações, em companhia próxima de heróis e vilões. Aprendemos a amar e odiar. Quando lemos narrativas não ficcionais complexas ou argumentação intrincada, nossas mentes se tornam mais flexíveis enquanto não só absorvermos dados, mas aprendemos as formas complexas como as coisas, eventos e pessoas se interconectam.

Qual o livro que você gostaria que todo pastor lesse? 

Through New Eyes, de James Jordan. É simplesmente a melhor introdução às Escrituras que você lerá, um livro que não só ensina sobre as Escrituras, mas lhe faz retornar a elas com renovada excitação e atenção.

O que você tem aprendido acerca da vida e sobre seguir a Jesus?

O ano de 2020 diminuiu o ritmo de todo mundo. Por mais frustrante que tenha sido ter de cancelar tudo, esse ano também deu-me a chance de reduzir o ritmo, ler e escrever voluntariamente, passar tempo no quintal. Sou grato pela mudança de marcha. Mas o ano de 2020 também revelou algumas tendências pertubadoras na política e cultura americanas. Nós, os cristãos, precisamos preparar-nos para um tempo complicado na próxima década.

Na última primavera, sugeriram-me começar todos os dias com ações de graça pelo que viria. Deveria ter sido óbvio para mim, já que escrevi um livro sobre gratidão, mas inicialmente achei difícil dar graças pelas coisas indeterminadas do futuro. Eu queria mais controle sobre como distribuiria minha gratidão! Durante o último ano, tenho conseguido sinceramente agradecer a Deus pelo que ele ainda não fez, também tenho conseguido agradecê-lo por coisas que podem não acontecer como eu gostaria. Tem sido uma boa disciplina, e tem ensinado-me a acordar com um senso de que, independente do que aconteça, o dia apresentará oportunidades de servi-lo.

No inicio da quarentena na última primavera, fui até meu vizinho para convidá-lo a orar comigo todas manhãs. Concluí que precisávamos orar, e também queríamos usar a quarentena para nos aproximar de nossos vizinhos, nós três completamos recentemente nosso aniversário de um ano juntos. Nunca tinha participado de um grupo de oração diária antes, e tem sido maravilhoso. 

Tradução: Felipe Barnabé

Original: On My Shelf: Life and Books with Peter Leithart