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Inspirada por Deus

Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção e para a instrução na justiça, para que o homem de Deus seja apto e plenamente preparado para toda boa obra. (2 Timóteo 3.16-17)

Paulo escreve que a Escritura “é dada por inspiração de Deus” (KJV). Inspirar significa respirar ou soprar em algo. Contudo, a palavra grega refere-se à expiração, inspirar ou soprar. Inspiração pode se referir a mero estímulo ou incitamento. Isto é, um cenário grandioso pode “inspirar” um poema ou pintura. Um evento emocionante pode “inspirar” um romance ou documentário. O triunfo de um herói improvável pode “inspirar” outros a alcançar objetivos maiores. Frequentemente nos referimos à inspiração nesse sentido fraco, mas há somente uma relação indireta entre o que inspira e o que é inspirado. De fato, a relação consiste de mera correlação, não causação direta. Essa ideia de inspiração está longe do que a Escritura ensina sobre o relação de Deus com ela, isto é, como ele produziu a Bíblia.

A NIV é mais literal e diz: “Toda a Escritura é sopro de Deus”. A ESV deixa o significado claro: “Toda a Escritura é soprada por Deus”. Ele não produziu a Bíblia meramente estimulando as mentes dos escritores ou sugerindo ideias para eles. Ele o fez por causação direta. Você diz: “Certamente isso não pode ser, visto que os autores humanos foram aqueles que escreveram as palavras”. Mas Deus não é um homem – ele não escreve apenas palavras no papel, mas também planetas e galáxias inteiras. Não, ele “escreveu” os próprios autores humanos por sua criação e providência, e então causou de forma direta os autores humanos escreverem o que ele queria que escrevessem. Isso não significa que ele suspendeu a consciência deles. Seu controle foi bem mais extensivo que isso – ele “escreveu” os próprios pensamentos e personalidades deles. Pedro nos diz que os profetas “falaram da parte de Deus, impelidos pelo Espírito Santo” (2 Pedro 1.21).

Não é necessário abandonar o uso de “inspiração”. A palavra tomou um significado teológico que poderia representar fielmente a doutrina da Escritura. Exceto para aqueles que não estão familiarizados ou sejam infiéis à doutrina, entende-se que a palavra não se refere a mero estímulo ou incitamento, mas um exercício do poder sobrenatural de Deus em comunicar seus pensamentos, controlar os escritores humanos e assegurar o registro exato de suas palavras. Isso é o que queremos dizer por inspiração divina, ou que a Bíblia foi dada pela inspiração de Deus. Então, por sua providência, Deus causou que os vários documentos fossem compilados num único volume completo, sem nenhum erro, e com nada adicionado ou subtraído dele.

A Bíblia é inspirada, infalível e inerrante. Essa doutrina é uma crença obrigatória para todos os cristãos, todos os líderes e membros de igreja, e todos professores de seminário. Excomungamos aqueles que afirmam heresia após terem sido repetidamente instruídos e advertidos, mas a Escritura é o padrão pelo qual a verdade é conhecida e a heresia detectada, bem como a base da autoridade pela qual a comunidade cristã expulsa os membros impenitentes. De fato, a Escritura é o padrão pelo qual tudo sobre o próprio cristianismo é definido.

Portanto, a nossa visão sobre a Escritura é o cerne da questão. Essa é uma batalha da qual nenhum cristão pode correr, e esse é um lugar onde nenhuma transigência e nenhuma discordância pode ser tolerada. Essa é uma doutrina que não está aberta à negociação, e cuja verdade não está sequer aberta à discussão. Nosso conflito com aqueles que rejeitam a doutrina da inspiração divina não é uma disputa sobre semântica, ou uma controvérsia tola e improdutiva. É isso. Ela é tudo.

Por essa razão, os dissidentes devem ser confrontados com o mais duro tratamento imaginável que esteja dentro dos limites bíblicos e legais. Isso inclui ridicularização e condenação pública, o uso de orações imprecatórias contra eles, e a excomunhão, incluindo a remoção física deles da igreja e das instalações do seminário. Os infratores deveriam ser removidos do emprego quando aplicável. Qualquer igreja ou seminário que paga alguém para resistir à inspiração e inerrância bíblica não merece existir. Não deve haver nenhuma clemência. Aqueles que discordam abertamente com essa política deveriam ser considerados como cúmplices e co-conspiradores contra o Senhor, e deveriam ser punidos da mesma maneira.

Sem dúvida, eu não espero que isso seja implementado em igrejas e seminários, pois no atual período da história, parece que a maioria das pessoas que se chamam cristãs não se importam com o Senhor Jesus a esse ponto. Eles preferem muito mais deixá-lo sofrer desgraça do que fazer sequer o mínimo esforço para erradicar o mal em suas congregações, muito menos uma política tão fiel a Deus e à Escritura que certamente encontraria tremendo ataque e resistência.

Algumas vezes a Escritura é rejeitada de formas menos direta, de modo que existem pessoas que alegam afirmar a inspiração da Escritura, mas que discordam com o que isso significa. Por exemplo, existem teólogos que asseveram que, por causa do grande abismo ou distinção entre Deus e os homens, entre o criador e as suas criaturas, os homens podem conhecer a mente de Deus de uma maneira análoga na melhor das hipóteses. Portanto, mesmo a Escritura não pode falar de Deus ou revelar Deus de uma maneira exata ou unívoca. Contudo, a Escritura não se apresenta dessa forma. Ela se apresenta como uma revelação unívoca da mente de Deus.

Paulo escreve: “Isso é o que falamos, não com palavras ensinadas pela sabedoria humana, mas com palavras ensinadas pelo Espírito, expressando verdades espirituais em palavras espirituais” (1 Coríntios 2.13, NIV). Ele não diz, “expressando verdades espirituais em palavras naturais”, mas “palavras espirituais”, ou palavras que são capazes de expressar o significado de verdades espirituais. Isso significa que Deus é realmente como ele se descreve na Escritura, e que ele realmente pensa da forma como diz pensar. Não há diferença. Sem dúvida, Deus conhece e pensa mais do que ele diz na Escritura, mas na extensão em que a Bíblia diz o que diz, isso é o que Deus pensa e diz. A Bíblia é a expressão exata, perfeita e unívoca da mente de Deus. Negar isso é rejeitar a inspiração e autoridade da Escritura. Uma vez que isso seja clara e repetidamente explicado aos infratores, se não se arrependerem, eles deveriam ser tratados da mesma forma como aqueles que explicitamente rejeitam a inspiração e inerrância bíblica.

Esses teólogos e aqueles que os seguem têm invadido igrejas e seminários, e têm se estabelecidos como defensores fiéis da fé, ocultando a heresia deles por detrás de uma falsa humildade, a saber, a suposição que a diferença entre criador e criatura envolve uma diferença qualitativa total entre os pensamentos de Deus e os nossos pensamentos. A Bíblia de fato diz que os caminhos de Deus são mais altos que os nossos caminhos, que seus pensamentos são mais altos que os nossos pensamentos, e que “mente nenhuma imaginou o que Deus preparou”, mas então ela adiciona: “mas Deus o revelou a nós por meio do Espírito” (1 Coríntios 2.10).

Portanto, negar que conhecemos os pensamentos exatos de Deus na extensão que ele os revelou na Escritura, e da exata forma como ele pensa tais pensamentos, é rejeitar não somente a ideia da inspiração da Escritura, mas o conteúdo real da Escritura. Esses teólogos e seus seguidores falam tanto sobre finitude humana que estou inclinado a crer que eles são vastamente mais finitos do que o restante de nós. Assim, certeza paciência é necessária quando explicando a eles novamente os ensinos elementares de Cristo. Contudo, chega um momento em que a idiotice parece estar tão misturada com a obstinação que eles devem ser considerados como hereges impenitentes que negam a inspiração, a utilidade e os ensinos da Escritura. Eles alegam honrar a Deus com a falsa humildade deles, mas na realidade eles abrigam um desprezo secreto por ele, e a doutrina deles abre espaço para que eles mantenham suas visões pessoais e especulativas com respeito à natureza de Deus e do homem, e a relação entre as duas.

Visto que eles transformam a revelação bíblica em comunicação análoga, como eles podem crer no evangelho unívoco? A fé deles nunca pode subir acima do nível de uma analogia. Portanto, embora aleguem ser cristãos fiéis, eles são cristãos apenas num sentido analógico – isto é, cristãos, mas não exatamente. Se, contrário à sua teologia, alguns deles têm uma fé unívoca no evanelho, então embora sejam cristãos verdadeiros, eles estão ensinando as pessoas a terem somente uma analogia de crença na verdade, visto que mesmo uma crença unívoca numa analogia da verdade pode equivaler somente a uma analogia de crença na verdade. Em outras palavras, ninguém que verdadeiramente afirme tal teologia crê no evangelho. A menos que uma pessoa rejeite pelo menos implicitamente essa teologia, ela não pode ser um cristão. E se a afirma explicitamente, mas a rejeita implicitamente, é um hipócrita e enganador.

O que a Bíblia diz é o que Deus diz. Não há diferença. Por essa razão, a atitude de uma pessoa para com a Bíblia é sua atitude para com Deus. Aos incrédulos, aos hereges, e aos teólogos da analogia e paradoxo, essas são novas ruins, pois significa que não existe nenhuma barreira significante entre eles e a voz de Deus. Não há base para a escusa que não podemos saber o que Deus diz ou o que ele quer dizer. As palavras explícitas e unívocas de Deus estão diante de nós.

Por outro lado, aqueles que reverenciam a Deus se regozijam nesse fato, que Deus nos deu uma revelação exata de si mesmo, de seus pensamentos e mandamentos, da natureza da realidade, do homem e do mundo, e da salvação, e que ele expressou essa revelação em declarações explícitas e unívocas, e não em analogias e paradoxos. Queremos nos submeter à sua autoridade, e não nos esconderemos por detrás de escusas e diremos que isso ou aquilo é difícil de entender, ou essa ou aquela declaração deve significar algo diferente do que dizem as palavras. Queremos ouvi dele e ser ensinados por ele, e podemos, pois na Bíblia ele fala claramente, e o que ele diz ali é o que quis dizer, e o que ele verdadeiramente pensa em sua mente divina.

A autoridade, utilidade e suficiência da Escritura é portanto estabelecida sobre essa base, que a Bíblia é divinamente inspirada, e que seu conteúdo é compreensível e sua linguagem é unívoca. Como você pode me ensinar algo, ou ser tão presunçoso a ponto de me repreender, quando tudo o que você tem é uma analogia do que Deus quer dizer? Por que eu deveria prestar alguma atenção, quando a base de suas afirmações é uma interpretação de uma analogia por uma mente ridiculamente finita que insiste em ver paradoxos? Deixe-me ouvir do próprio Deus, direta e univocamente, ou fale comigo sem analogias e paradoxos, e eu irei acreditar e obedecer. Isso é o que temos na Bíblia, e isso é o que a verdadeira pregação realiza, de forma que a Escritura é útil para “o ensino, para a repreensão, para a correção e para a instrução na justiça”.

Embora seja um mero homem, eu tenho a autoridade de ensinar outra pessoa, e dizer-lhe no que acreditar sobre Deus, homem, pecado e salvação, pois enquanto comunicar-lhe o que a Bíblia diz, é como se Deus falasse com ele, e Deus tem a autoridade de ensinar-lhe essas coisas. Embora eu seja um mero homem, e não tenha nenhum conhecimento direto do coração do homem ou a autoridade para condená-lo, Deus tem esse conhecimento e autoridade, e a Bíblia é o próprio Deus falando; portanto, a Bíblia tem a autoridade de repreender e corrigir. E conquanto eu fale de acordo com a revelação bíblica, tenho a autoridade para repreender e corrigir aqueles que estão em erro em sua doutrina e comportamento. Quando a mensagem da Bíblia é fielmente comunicada, é como se Deus estivesse falando, ensinado e repreendendo. Todos os crentes são sacerdotes de Deus, e têm a permissão de manejar a Escritura, ensinar e repreender, mas aqueles a quem Deus chamou para serem ministros do evangelho são especialmente autorizados e obrigados a fazê-lo.

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Fonte: Reflections on Second Timothy

Tradução: Felipe Sabino de Araújo Neto

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