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Irmãos, não sejam manipulados

Identificando e resistindo à táticas de manipulação

Uma das tácticas perenes do mundo é usar insultos para manipular os cristãos. Os nomes bíblicos para esta tática incluem calúnia, injúria e difamação. O primeiro passo para resistir é aprender como e por que a tática funciona.

Quase todas as pessoas têm um desejo natural de serem aceitas e aprovadas pelos outros. Queremos ser benquistos, apreciados e ter uma boa reputação. A Bíblia enaltece uma forma desse desejo quando diz: “Mais vale o bom nome do que as muitas riquezas; e o ser estimado é melhor do que a prata e o ouro” (Pv 22.1). Espera-se que os líderes tenham “bom testemunho dos de fora” (1Tm 3.7).

A calúnia, a injúria e a difamação procuram abusar desse desejo natural de ter uma boa reputação usando insultos e a ameaça de má reputação para manipular os cristãos e, especialmente, os líderes cristãos. Os rótulos que o mundo nos atribui são, na verdade, volantes com os quais esperam conseguir manipular-nos para onde lhes apetece.[1]

Há dois tipos básicos de volantes: rótulos repulsivos para coisas verdadeiras e rótulos repulsivos para coisas falsas. Um exemplo do primeiro é quando os cristãos são chamados de odiadores e fanáticos por condenarem a homossexualidade. É verdade que os cristãos condenam a homossexualidade. O rótulo destina-se a silenciar essa condenação, apelando ao nosso desejo de aprovação e aceitação e ao nosso medo do ostracismo e da rejeição.

Um exemplo do último é quando o mundo deturpa as nossas crenças e depois coloca o rótulo repulsivo na sua deturpação, como quando os fariseus acusaram Jesus de ser um bêbado e um glutão (o que ele não era). Em ambos os casos, o rótulo torna-se um volante à luz do contexto de cada um, o que significa que os rótulos variam necessariamente de comunidade para comunidade. 

Por fim, esta tática funciona, com frequência, explorando o desejo cristão de ser uma boa testemunha do evangelho. Queremos que a nossa luz brilhe diante dos homens, para que eles vejam as nossas boas ações e dêem glória a Deus (Mt 5.16). Muitas vezes, os cristãos policiam-se uns aos outros para manterem um bom testemunho. Muitas vezes, o mundo conta com este (bom) impulso cristão para manipular os cristãos através de outros cristãos. Se alguém for rotulado, outros cristãos tentarão pressioná-lo a voltar à linha. Em geral, é mais difícil resistir a essa pressão, uma vez que ela não vem diretamente do mundo incrédulo, ela vem do mundo através do povo de Deus.

Então, como amadurecemos na nossa capacidade de resistir sábia e fielmente a sermos manipulados? Primeiro, calibramos os nossos padrões pela Palavra de Deus. Definimos o pecado como a Bíblia o define, e não como o mundo o define. O mundo procurará cooptar os padrões de Deus, maximizando a sua ofensa a certos pecados, enquanto ignora completamente outros. É preciso um esforço espiritual para resistir à adoção destes padrões mundanos. É necessário que sejamos transformados pela renovação da nossa mente (Rm 12.2). Por isso, quando lhe chamarem um nome hediondo, pergunte se Deus considera a substância desse nome pecaminoso e esteja alerta para não começar a recuar interiormente perante coisas que a Bíblia ensina.

Em segundo lugar, conheça os seus próprios pontos de pressão. Ou seja, que rótulo o faz recuar? Que o leva a fazer todo o possível para evitar que lhe chamem? E não se limite aos mais óbvios, como “fanático”. Como os rótulos de manipulação variam consoante o contexto, temos de aprender a estar atentos aos mais sutis. “Racista”, “nacionalista cristão”, “fundamentalista”, “de direita”, “de esquerda”, “covarde”, “briguento”, “transigente” — tudo isto (e muito mais) pode tornar-se um rótulo de manipulação, dependendo da comunidade cuja aprovação buscamos.

Em terceiro lugar, esteja disposto a ser chamado de nomes hediondos. Mais do que isso, regozije-se quando for caluniado. Como diz Jesus no Sermão da Montanha: “Bem-aventurados sois quando, por minha causa, vos injuriarem, e vos perseguirem, e, mentindo, disserem todo mal contra vós. Regozijai-vos e exultai, porque é grande o vosso galardão nos céus; pois assim perseguiram aos profetas que viveram antes de vós” (Mt 5.11-12). Em outras palavras, alegramo-nos quando somos caluniados porque estamos em boa companhia. Como diz Jesus noutro lugar: “Se chamaram Belzebu ao dono da casa, quanto mais aos seus domésticos” (Mt 10.25). Se disseram que Jesus era demoníaco, não se surpreenda quando disserem que você também é.

Quarto, certifique-se de que as calúnias são realmente falsas. Quanto se é caluniado, uma tentação comum é a de inclinar-se à calúnia até que ela se torne verdade. “Se vou ser enforcado como ladrão, mais vale roubar alguma coisa.” Mas repare que isto é simplesmente outra forma de ser manipulado. Não há nenhuma virtude em se tornar a coisa ímpia que os seus inimigos pensam que você já é.

Além disso, Paulo exorta os cristãos a ornarem a doutrina do nosso Deus e Salvador (Tt 2.10), e a fazerem o que puderem, dentro do razoável, para evitar dar aos nossos adversários ocasião para a calúnia (1Tm 5.14). Homens maus podem proferir falsidades sobre nós, mas não devemos fornecer-lhes munições em excesso através do nosso próprio comportamento tolo, imaturo e reativo. Isto é especialmente verdade para os pastores e outros líderes cristãos, que devem procurar ter “bom testemunho dos de fora” (1Tm 3.7).

Quinto, quando for caluniado, não responda da mesma forma. Cristo é o nosso modelo, e Pedro nos exorta a seguir os seus passos: “Pois ele, quando ultrajado, não revidava com ultraje; quando maltratado, não fazia ameaças, mas entregava-se àquele que julga retamente” (1Pe 2.23). Para isso, é necessário distinguir entre a santa zombaria da loucura e da rebelião pecaminosas (que é lícita) e a zombaria reativa que resulta do desprezo, da raiva e de outras paixões ímpias. Para saber mais sobre esta distinção, considere os princípios de um satirista piedoso que Doug Wilson identifica aqui.

Finalmente, enraíze toda sua resistência a ser manipulado num desejo sincero e honesto de agradar a Deus. Quando Paulo é caluniado pelos judaizantes, ele tem a consciência limpa porque ele conhece aquele cuja aprovação ele busca. “Porventura, procuro eu, agora, o favor dos homens ou o de Deus? Ou procuro agradar a homens? Se agradasse ainda a homens, não seria servo de Cristo” (Gl 1.10).

Noutro lugar, ele diz: “Pois a nossa exortação não procede de engano, nem de impureza, nem se baseia em dolo; pelo contrário, visto que fomos aprovados por Deus, a ponto de nos confiar ele o evangelho, assim falamos, não para que agrademos a homens, e sim a Deus, que prova o nosso coração” (1Ts 2.3-4). Paulo aceita o teste divino e, por isso, pode resistir à atração de agradar e temer a homens.

O apóstolo Pedro dedica grande parte da sua primeira carta a fortalecer a resistência do seu leitor contra a manipulação. Ele sabe que o mundo falará “contra vós outros como de malfeitores” (1Pe 2.12). Eles nos vão difamar porque nos recusamos a juntar-nos a eles na sua devassidão (1Pe 4.4). Por isso, não nos devemos surpreender com tais provações e insultos (1Pe 4.12-14).

Fazendo eco às palavras de Cristo, Pedro escreve: “Mas, ainda que venhais a sofrer por causa da justiça, bem-aventurados sois. Não vos amedronteis, portanto, com as suas ameaças, nem fiqueis alarmados; antes, santificai a Cristo, como Senhor, em vosso coração, estando sempre preparados para responder a todo aquele que vos pedir razão da esperança que há em vós, fazendo-o, todavia, com mansidão e temor, com boa consciência, de modo que, naquilo em que falam contra vós outros, fiquem envergonhados os que difamam o vosso bom procedimento em Cristo” (1Pe 3.14-16).

Haverá tentativas de nos manipular. O mundo procurará usar nomes e rótulos contra nós para nos manipular e nos deixar mudos e impotentes. Mas, pela graça de Deus, podemos resistir à tentação de agradar às pessoas e o temor a homens e, em vez disso, ser firmes e inamovíveis, fundamentados no evangelho do Deus contente e buscando a sua aprovação acima de tudo.

Notas

[1] Noutro lugar, o autor acrescenta: Quando os meios de comunicação social (ou outros cristãos) usam o jogo da associação, o alvo não é quem você pensa que é. A pessoa atacada não é o alvo principal. Os seus colegas é que são. Você é. Eu sou. O objetivo é distrair, diminuir o ímpeto, fazer descarrilar a agenda. É criar um nevoeiro em torno de uma pessoa na esperança de que os demais digam: “Se há fumaça, deve haver fogo. Cuidado; afasta-se”. Isso acontece o tempo todo (e não só os progressistas fazem isso aos conservadores; pode funcionar em todas as direcções). Por isso, mais uma vez, para que fique claro: quando eles caluniam e deturpam os outros, você é o alvo. Eles contam com o seu desejo de evitar a controvérsia e de ser respeitável, de querer manter uma boa reputação. E vão caluniar os outros para o manipular. [N. do T.]

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Tradução: Thiago McHertt

Original: https://americanreformer.org/2023/10/brothers-dont-be-steered/

Crédito da imagem: Unsplash