A Bíblia indica que os incrédulos têm pressuposições que são diametralmente opostas às pressuposições dos crentes e essa situação deve levar a conclusões totalmente diferentes com respeito a Deus e sua criação. [1] Dialogarmos com incrédulos em termos de princípios “neutros” ou não religiosos de ética seria confirmar o incrédulo em sua atitude autônoma e de ódio contra Deus e faria de nós mentirosos com respeito à lei natural. Visto que Deus criou todas as coisas por, para e por meio de Cristo (Cl 1.16) e visto que ele sustenta todas as coisas (Cl 1.17; Hb 1.3) seria “impossível interpretar qualquer fato sem uma falsificação básica se tal fato não for considerado em sua relação com Deus o Criador e com Cristo o Redentor”. [2] Se isso é verdade com respeito à botânica, matemática e história, quanto mais é verdadeiro com respeito à ética. É somente na luz de Deus que vemos a luz (Sl 36.9) e, dessa forma, somos informados que o conhecimento do Santo traz entendimento (Pv 9.10). Tentativas de neutralidade nos pressupostos não apenas são epistemologicamente impossíveis, mas são também moralmente desobedientes. Paulo disse que devemos trazer todo pensamento cativo ao senhorio de Cristo (2Co 10.5). Isso significa temer a Deus, que é o princípio da sabedoria (Pv 9.10), e usar a Escritura, que é “a chave do conhecimento” (Lucas 11.52). Rejeitar deliberadamente os meios de Deus para o conhecimento e sabedoria é algo moralmente repreensível.
[1] – A palavra do Novo Testamento para “pressuposições” é stoicheia. Essa palavra era usada no grego clássico e pelos Pais da Igreja para significar os princípios elementares ou fundamentais. Na geometria, era usada para axiomas, e na filosofia para elementos de prova ou o protoi sullogismoi do raciocínio geral (Liddell and Scott, A Greek-English Lexicon, s.v. ). Obviamente essas definições são sinônimos de “pressuposições”. O Novo Testamento ensina que as stoicheias são o “fundamento” sobre o qual a nossa fé e prática descansam (Hb 5.12-6.3). Nós encontramos nossas stoicheias na Palavra de Deus (Hb 5.12) e mais especificamente na pessoa de Jesus Cristo (Cl 2.8-10; Hb 6.1) revelada nelas. As stoicheias do mundo são o fundamento da “filosofia” não cristã (Cl 2.8) e são diametralmente opostas às stoicheias de Cristo o Deus-Homem (Cl 2.8-10). Nossos pensamentos e ações são um resultado lógico dessas stoicheias na vida diária (Cl 2.20ss). Devemos reconhecer que a superestrutura da nossa cosmovisão é antitética à superestrutura da cosmovisão dos pagãos, não porque as superestruturas não tenham coisas em comum, mas por causa da forma na qual essas superestruturas são completamente comprometidas com os seus fundamentos ou pressuposições. Paulo dá-nos um exemplo desse conceito quando ele vigorosamente se opôs ao ato dos gálatas sucumbirem à pressão para serem circuncidados e observarem “dias e meses e tempos e anos” (Gl 4.10). Embora o ato físico da circuncisão não fosse errado (cf. 1Co 7.19; Atos 16.3), a ideia que residia por trás era destrutiva e levava ao sincretismo, a uma negação de suas pressuposições e uma reversão não intencional a pressuposições fracas e patéticas (Gl 4.9).
[2] – Cornelius Van Til, Christian Theistic Evidence (texto não publicado), p. iii. Citado por Robert L. Reymond, A Christian View of Modern Science (Philadelphia: Presbyterian and Reformed Publishing Co., 1964), p. 16.
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Fonte: The Flaw of Natural Law, de Phillip G. Kayser, p. 26.
Tradução: Felipe Sabino de Araújo Neto – abril/2010