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«Para o bem do mundo», de James K. Smith

O convite para ser o editor-chefe da Image chegou até a mim como um chamado. Por muitos anos, tive o pressentimento de que o capítulo seguinte de minha vida seria um trabalho na intersecção entre arte e fé. Tendo formação na filosofia, percebi há muito que a imaginação estava no âmago do ser humano – algo que aprendi de meu professor Calvin Seerveld e de filósofos como Heidegger e Ricoeur. O diálogo mantido com pintores, poetas e romancistas ao longo dos últimos três anos tem me sido uma alegria.

Mas tenho uma confissão a fazer: grande parte da conversa sobre “arte e fé” me é frustrante. Digo isso com moderação, mas também com franqueza.

Quando tento esclarecer a raiz de minha frustração, creio que chego a algo assim: muito da arte celebrada por cristãos parecem mais inclinadas a nutrir a fé, ao passo que estou interessado na arte feita por pessoas de fé e que é dada para o bem do mundo.

O modo mais acertado de dizer isso é que não tenho interesse na arte que é uma sub-cultura, criada para um enclave. Estou interessado antes na arte que é criada para a vida do mundo. Não a arte que simplesmente incrementa a piedade, mas a arte cuja infusão de fé convida um mundo mais amplo a imaginar por que é possível crer – arte que convida qualquer e todos os seres humanos a confrontar os vórtices de fome e anseio que chamamos “alma”.

Não estou interessado em poesia ou quadros que são apenas decoração para o cristianismo. Estou interessado na literatura e cinema engendrados por uma imaginação religiosa que está motivada a criar coisas para um universo mais amplo. Não estou interessado no previsível clube de poetas e pintores religiosos que circulam num mercado de arte subcultural; pelo contrário, sou fascinado e inspirado por aqueles escritores e escultores cujas imaginações possessas de Deus criam obras que capturam tanto seus próximos quanto seus irmãos peregrinos.

É por isso também que rejeito resolutamente a inclinação nostálgica de parcela considerável dos paradigmas “arte e fé”, que postulam uma falsa dicotomia entre fé e arte contemporânea, ou tendem a elencar determinada época do passado como a “era de ouro” da criação piedosa. Crer no chamado da criatividade é estar aguardando o que criaremos em seguida, porque aquilo de que o mundo precisa está em contínuo desvelamento.

Foi essa convicção que me levou à revista Image. Os escritores e fotógrafos e poetas que publicamos e celebramos não são tão assíduos no “circuito cristão”; são antes artistas e escritores engajados nos mundos da arte contemporânea em seus respectivos gêneros. Em vez de pertencer a uma subcultura e ser regressivamente encaramujada, podemos dizer que essa arte é, antes, pancultural, criada para todos. Esses artistas recebem tantos dons quanto nos oferecem. Essa arte escuta tanto quanto fala a nós.

 

Tradução: Fabrício Tavares de Moraes

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