Introdução
O pentecostalismo se fundamenta em alguns pontos essenciais básicos, tais como: (1) a identificação do mover do Espírito Santo de Deus; (2) a aceitação de uma categoria de crentes especialmente agraciada pela graça divina; e (3) a precedência da experiência sobre a revelação objetiva das Escrituras, para a formulação de doutrinas.
Nossa compreensão desses pontos, segundo um exame da Palavra de Deus, determina onde nos posicionamos no confuso quadro eclesiástico contemporâneo: se com a interpretação dada pelos símbolos da fé reformada (Confissão de Fé de Westminster e seus catecismos) ou com o evangelicalismo contemporâneo, cuja maior característica comum parece ser a aceitação da doutrina pentecostal cruzando linhas denominacionais.
O propósito deste artigo não é realizar, individualmente, um estudo sobre línguas, cura ou profecias, mas tratar os conceitos básicos do pentecostalismo e os seus reflexos na igreja local. A compreensão doutrinária dessas questões, pode determinar a ênfase da nossa mensagem; os nossos objetivos de vida como cristãos e até a prática litúrgica das igrejas.
1. Um pouco de história
Do segundo século até o século dezenove, não existe evidência histórica de que os cristãos fiéis, de teologia ortodoxa falassem línguas estranhas, praticassem a “cura divina” em reuniões ou se guiassem por novas profecias. Todas essas coisas, entretanto, caracterizam o pentecostalismo e o chamado “movimento carismático” contemporâneo, incluindo o neopentecostalismo.
Essa busca pelo inusitado e pelo sobrenatural, fora das prescrições das Escrituras, na história da igreja, sempre foi característica de grupos considerados como heréticos, desde os seguidores de Montanus (montanistas), no segundo século até aqueles liderados por Edward Irving, no século 19 da era cristã.
A história do pentecostalismo moderno é normalmente classificada como tendo ocorrido em três ondas distintas:
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a. A primeira onda – Pentecostalismo Clássico. Teve início em 1901, quando a sra. Agnes Ozman, nos Estados Unidos, disse ter recebido o batismo do Espírito Santo e falado línguas. A prática foi incorporada ao movimento Holiness. Um outro evento mais conhecido deu-se em 1906, quando se relatou o falar em línguas em uma igreja na rua Azusa (Azusa Street Mission), estado da Califórnia. Desses dois eventos procede a maioria das igrejas pentecostais históricas, como a Assembleia de Deus e a Igreja do Evangelho Quadrangular.
b. A segunda onda – Pentecostalismo recente ou Renovação Carismática. Semelhantemente ao movimento pentecostal anterior, enfatizou os “dons extraordinários”, com grande ênfase ao “dom de línguas”. A grande diferença é que as linhas denominacionais foram quebradas e a visão doutrinária pentecostal atingiu várias igrejas. O ano de 1960 marca o início desta onda, em uma igreja Episcopal da Califórnia, na qual se observou o falar em línguas. A própria imprensa secular deu destaque ao acontecimento. O movimento, nos Estados Unidos, se espalhou pelas universidades, entre organizações para-eclesiásticas, tais como a ABU. Além de atingir denominações tradicionais, como luteranos, presbiterianos e metodistas, penetrou nos católico-romanos, partindo da universidade de Notre Dame, formando o movimento dos “católicos carismáticos”, que perdura até hoje. A maior característica desse período foi a determinação dos persuadidos pelos ensinamentos pentecostais, a permanecerem nas denominações de origem, “renovando-as”.
c. A terceira onda – O movimento de sinais e maravilhas – o Neopentecostalismo. A designação “terceira onda” foi cunhada por Peter Wagner, em 1983, um dos proponentes do movimento de crescimento de igrejas. Ele escreveu que as duas primeiras ondas continuavam, mas agora o Espírito estaria vindo em uma “terceira onda” com sinais e maravilhas. Temos aqui, também, o surgimento do movimento Vineyard, que conseguiu adeptos e transformou-se em uma denominação, propagando o que ficou conhecido como “evangelismo do poder” (power evangelism) – o evangelho é propagado e demonstrado por sinais e maravilhas sobrenaturais. O dom de línguas, neste estágio, recebeu uma ênfase menor do que o de “profecias”, curas e realização de efeitos especiais e sobrenaturais – muitas vezes sem razão ou conexão aparente – tais como: quedas, risos, urros, dentes de ouro, etc.
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No Brasil, essas “ondas” foram quase simultâneas. A Congregação Cristã foi a primeira igreja pentecostal estabelecida, em 1910, seguida da Assembleia de Deus, em 1911. Na década de 1960 tivemos o surgimento do movimento carismático e de renovação, em várias denominações, e, atualmente, vivemos a “terceira onda”, com o neopentecostalismo.
O pentecostalismo e seus derivados contemporâneos se coloca como uma posição doutrinária saudável que sabe identificar o “mover do Espírito Santo de Deus”. Será que essa identificação é bíblica? Será que a fé reformada está deixando de reconhecer o trabalho do Espírito Santo nos dias de hoje?
2. Existe diferença entre Pentecostalismo e Neopentecostalismo?
O neopentecostalismo tem em comum com o pentecostalismo, a ênfase na experiência, e muitas das doutrinas relacionadas com os dons extraordinários (operação de milagres, falar em línguas, novas revelações). O neopentecostalismo, entretanto, é caracterizado por cruzar os limites das denominações pentecostais, formando novas denominações com peculiaridades mais intensas e penetrando nas demais denominações.
O grande ponto de dissociação, entretanto, entre o pentecostalismo e o neopentecostalismo se dá na compreensão da doutrina das Escrituras. A ênfase na experiência, do pentecostalismo, nunca chegou a soterrar totalmente a importância da Palavra e pontos de tensão foram resolvidos, em muitas ocasiões, com a primazia da própria Palavra. Nesse sentido, por exemplo, a insistência inicial na total ausência de estudo bíblico formal (seminários, institutos bíblicos), uma vez que a pregação viria “por revelação”, deu lugar à visão mais bíblica e mais sóbria, da necessidade do estudo e na aplicação ao aprendizado; as próprias “cruzadas de milagres”, populares na década de sessenta, no Brasil, foram suplantadas por estruturas denominacionais mais comprometidas com a evangelização aos segmentos mais esquecidos da sociedade, ao discipulado e à formação de um caráter cristão nos congregados. De “denominação de vanguarda” os pentecostais foram se revelando conservadores em inúmeras doutrinas e, em não raras ocasiões, exercitam a disciplina eclesiástica de forma coerente e bíblica.
O neopentecostalismo, entretanto, abraçou várias ensinamentos próprios – esses nem sempre com respaldo ou analogia bíblica. No neopentecostalismo, é básica a adesão ao espetacular e extraordinário, como sendo características inerentes ao próprio exercício da fé cristã, mas existem outras peculiaridades doutrinárias, tais como:
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a. O culto à prosperidade e a busca ávida dessa, como norma de vida.
b. A operação de maravilhas que não têm valor intrínseco ou lógico em si (como o riso desenfreado, o cair pela passagem de um paletó, ou o aparecimento de dentes de ouro).
c. A necessidade de identificação das entidades demoníacas que controlam a vida e os afazeres de uma determinada localidade ou setor geográfico, como condição básica para se ganhar a batalha espiritual que resultará no crescimento da igreja.
d. A utilização de formas linguísticas e chavões que implicitamente possuiriam valor espiritual inerente, devendo ser utilizados de maneira declaratória, nos cultos e concentrações públicas, como parte desta batalha espiritual (“eu o amarro!”, “declaro esta cidade liberta!”, etc.), muitas vezes acompanhadas de orações pré-fabricadas, apresentadas como poderosas em si.
e. A identificação de doenças e problemas psicológicos como formas veladas de possessão demoníaca. Nessa visão, todo crente é conclamado a ver como fenômeno sobrenatural problemas que a Igreja sempre tratou como consequências naturais do pecado.
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3. Como reconhecer o trabalho e o mover do Espírito de Deus?
O trabalho do Espírito Santo segue diretrizes bíblicas claras e coerentes com as tarefas da Trindade e isso nos dá uma maneira de reconhecer o Espírito de Deus. O ponto chave, que encontramos na Palavra de Deus é que o trabalho do Espírito Santo é revelar o Filho.
Nesse sentido, temos várias declarações explícitas de Jesus Cristo. Em Jo 14.26 Jesus diz: “o Consolador, o Espírito Santo, a quem o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas e vos fará lembrar tudo o que vos tenho dito”. A atividade aqui descrita do Espírito Santo é, portanto, ensinar e fazer lembrar as coisas que Jesus Cristo disse, isto é: testemunhar da pessoa e obra de Cristo.
Em Jo 16.14 lemos: “Ele me glorificará porque há de receber do que é meu, e vo-lo há de anunciar”. A glorificação é à pessoa de Cristo. A anunciação que o Espírito Santo faz é da obra e da mensagem de Cristo. Disso faz parte, também, o trabalho regenerador do Espírito Santo na conversão dos descrentes.
O Espírito Santo não trabalha, portanto, independentemente da obra de Cristo, como pregam todos aqueles que enfatizam o culto ao Espírito Santo e acabam por desviar os olhos dos fiéis da pessoa de Cristo. O Espírito Santo não vem como “uma segunda bênção”, nem vem realizar fenômenos sem sentido ou fora do contexto revelador de Cristo, tais como curas espetaculares, risos santos, quedas, urros, dentes de ouro ou quaisquer outras maravilhas glorificadoras dos homens que as realizam. Ele vem selar o trabalho de Cristo na vida do crente, abrindo-lhe o coração à conversão, batizando-o com a abençoada regeneração, fazendo morada no coração de todos os salvos, promovendo a comunhão cristã, edificando o Corpo de Cristo, iluminando o entendimento e operando o crescimento em santificação.
Semelhantemente às heresias do montanismo, do segundo século, muitas distorções contemporâneas são fruto de ideias de pessoas, querendo “melhorar” o que Deus estabeleceu em sua perfeição e em Sua Palavra. Assim fazendo, elas superenfatizam a terceira pessoa da Trindade, praticamente tornando a pessoa e o trabalho de Cristo secundários às ações do Espírito Santo.
Logicamente, queremos ter muito cuidado, pois nenhum crente deseja atribuir o poder do Espírito Santo em Jesus Cristo a demônios (Mc 3.22-30). Como reconhecer o trabalho do Espírito Santo de Deus? Três critérios nos auxiliarão:
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(1) O fim principal do trabalho do Espírito é a glória de Deus. Cristo, cheio e liderado pelo próprio Espírito, assim especificou – Jo 4.34; 5.19; 5.30; 5.43; 6.38; 17.4. No que diz respeito aos demônios, estes procuram a auto-adoração e própria glorificação (Jo 4.24).
(2) A suprema autoridade do Espírito é a Palavra de Deus: Dt 29.29. Demonstrar mais estima e procura por “revelações ocultas” do que pela revelação bíblica, é um insulto ao Deus todo-poderoso, que nos criou em amor para que o adorássemos e o servíssemos.
(3) A mensagem principal do Espírito é o Evangelho de Deus (At 1.2 e 8).
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4. Existe uma hierarquia dos salvos?
O movimento pentecostal trouxe à cena evangélica o inusitado e o extraordinário como sendo não apenas parte da realidade existencial, histórica e religiosa da Igreja, mas como objeto de anelo e desejo na vida individual de cada crente. Os ensinamentos do pentecostalismo deixaram a expectativa de que sem estas experiências algo estaria a faltar na vida do cristão. Era necessário se atingir um patamar superior, obter-se uma segunda bênção, elevar-se acima do nível do crente comum. Gerou-se assim uma hierarquia de crentes: os batizados vs. os não-batizados pelo Espírito Santo, ou, utilizando uma outra terminologia: os recebedores vs. os “ainda-carentes-de-umasegunda-bênção”.
A questão da cura divina, trazida pelo pentecostalismo, segue ao longo de linhas paralelas. Ela coloca os crentes em uma escala hierárquica, qualificando o seu cristianismo, fazendo uma divisão entre os que atingiram já um patamar de fé que é suficiente a torná-los recebedores de curas milagrosas vs. aqueles cuja fé é insuficiente ao recebimento destas bênçãos, que estariam reservadas aos mais aquinhoados espiritualmente.
O pentecostalismo, prega essa hierarquia dos salvos estranha à Palavra de Deus, tanto na questão do batismo pelo Espírito Santo, como na cura divina, como no “falar em línguas” – áreas às quais os fiéis são direcionados a procurarem como marca de uma espiritualidade genuína. Aqueles que não experimentaram tais experiências são levados a avaliar suas vidas como “fria” ou distanciada do “fogo” saudável do Espírito de Deus.
O movimento carismático e de renovação foi propagado como sendo uma reação sadia à ortodoxia morta das igrejas tradicionais. Inegavelmente, muito fervor real foi despertado no meio de denominações que estavam consideravelmente afastadas da Palavra de Deus e de suas confissões e credos originais. Muitas haviam abraçado ideias heréticas e humanistas do racionalismo teológico. Mesmo considerando a existência de uma guinada positiva em denominações liberais, pela promoção do estudo das esquecidas Escrituras, a procura pelas experiências, estendida a denominações fiéis à Palavra de Deus, teve efeito devastador. Divisões, polarizações, discussões infrutíferas, desprezo aos padrões confessionais, têm sido resultados comumente observados em igrejas atingidas pelo abraçar de doutrinas pentecostais.
A divisão das pessoas, encontrada na Palavra de Deus, com relação ao posicionamento perante o Criador, nos mostra que todos estão subdivididos em salvos ou perdidos; crentes ou incrédulos; os que receberam a fé como dom de Deus ou aqueles sem fé que se encontram no caminho da perdição. Os movimentos, dentro da Igreja, que acrescentam uma terceira categoria de pessoas, no que diz respeito ao status espiritual delas perante Deus: os sobrenaturalmente agraciados com um fenômeno fora do comum, que difere e está além do ato soberano de Deus da salvação, não encontra base bíblica e representa uma carga injusta lançada sobre os fiéis.
O apóstolo Paulo nos ensina, em 1 Co 12.13, que “em um só espírito todos nós fomos batizados”. Note que ele se refere: (1) genericamente, a todos os crentes – sem distinguir uma casta específica (todos nós); (2) no passado – todos nós, que cremos, fomos batizados; (3) esse batismo do espírito Santo caracteriza todos que formam “o corpo” – ou seja, a igreja de Cristo – ele não vem como uma “segunda bênção”. Isso está em harmonia com Ef 4.5 – que nos ensina que há “um só batismo” e Rm 8.9 – que diz: “se alguém não tem o Espírito de Cristo, este tal não é dele”. Todos os eleitos de Deus, como salvos, são chamados das trevas para a maravilhosa luz – essa é a divisão encontrada na Palavra de Deus. Não existe uma hierarquia dos salvos e, muito menos, salvos não batizados pelo Espírito Santo de Deus.
5. O interesse pelos fenômenos sobrenaturais e a precedência dada à experiência.
Existe um grande interesse na igreja contemporânea nas manifestações sobrenaturais. Na maioria das vezes esse interesse pelos fenômenos sobrenaturais não procede do sério estudo da palavra de Deus, mas de sentimentos carnais presentes na fraca visão do homem natural. Quando Jesus foi pressionado para que realizasse algum sinal sobrenatural fora do contexto e do propósito soberano de sua missão, apenas para atender o desejo pelo extraordinário, presente na multidão (Mt 12.39), Ele dá o seguinte direcionamento aos solicitantes:
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a. primeiro, indica que devem examinar as suas vidas (chama os interlocutores de “geração má e adúltera”)
b. depois, manda que eles se dirijam às Escrituras, à história previamente revelada e escriturada, (devem considerar “o sinal do profeta Jonas”) para obtenção do conhecimento teológico e prático que diziam procurar.
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O segmento pentecostal e neopentecostal, ao enfatizar um interesse primário pelas manifestações sobrenaturais, tira o foco da doutrina da providência divina no governo soberano de todas as atividades. Vemos a tendência, na realidade, de abraçar o misticismo característico das massas. A Igreja recebe, então, uma visão destorcida das prioridades de vida, que coloca as questões físicas do homem como alvo de maior preocupação, do que os problemas metafísicos existentes entre o homem pecador e o Deus Santo que o criou. além do físico, do visível, do palpável, do perceptível. Estamos utilizando o termo metafísico como descritivo do campo das questões eminentemente espirituais (como a salvação, o andar em justiça e santidade), em contrapartida às questões físicas (doenças, enfermidades) que, mesmo sendo importantes, estão hierarquicamente abaixo das anteriores (Mt 10.28).
Onde impera o ávido desejo pelo inusitado e pelo extraordinário, as Escrituras vão ficando para trás. Na Confissão de Fé de Westminster (Cap. 1) temos uma das formulações mais completas, detalhadas e fiel, sobre as doutrinas das Sagradas Escrituras. Ainda assim, encontramos pastores, oficiais e membros de igrejas que abraçam esta Confissão, ansiosos pela manifestação de fenômenos sobrenaturais, desejosos de diretrizes fornecidas por novas revelações, como se algo estivesse faltando à própria Palavra de Deus para a expressão plena de suas religiosidades.
Não devemos desejar um cristianismo racional no qual o sobrenatural é ignorado, nem gerar um ceticismo às atividades das hostes das trevas. Mas devemos procurar manter o sobrenatural dentro da perspectiva que a própria Palavra nos ensina. A maior ação sobrenatural de Deus é o milagre da salvação: seu Espírito regenerador, criando uma nova vida dentro de nós. O governo soberano de Deus, pelo qual ele cumpre os seus propósitos na história, é o grande alicerce de magnifica espiritualidade e sobrenaturalidade da nossa religião – por que desprezar esse conhecimento e essa convicção (Is 8.16-20)? Por que a busca pelo inusitado, pelas intervenções solicitadas ao nosso serviço e por nossas necessidades?
Na parábola do mendigo Lázaro, (Lc 16.19-31) o rico, após tomar pleno conhecimento das realidades espirituais, entre elas a do fogo eterno, da condenação e das tormentas, pede uma maravilha ao reino dos céus, representado na pessoa de Abraão. Ele quer um fenômeno extraordinário – gostaria que o mendigo Lázaro, agora com Abraão, fosse ressuscitado e pessoalmente voltasse à terra dando testemunho daquelas realidades espirituais aos seus cinco irmãos.
Na sua perspectiva, um depoimento advindo de uma manifestação tão espetacular certamente faria com que seus parentes acreditassem na mensagem da verdade. Abraão responde que eles têm as Escrituras (Moisés e os profetas) e se, com os corações endurecidos, não respondem ao claro e objetivo ensinamento delas, não será o grande fenômeno da ressurreição que gerará a credibilidade necessária à salvação.
Essas palavras eram também proféticas. Deus operou um fenômeno impossível às suas criaturas, ressuscitando Jesus Cristo ao terceiro dia, mas as pessoas submersas em seus pecados continuam a rejeitar a mensagem das Escrituras, mesmo após a ressurreição.
Porque a nossa geração deve retratar a própria atitude, condenada pela parábola – que os fenômenos extra-naturais é que conduzirão as pessoas à Cristo – quando ele próprio nos aponta para as Escrituras (Jo 5.39)? Por que desprezarmos o grande fenômeno, bíblico e historicamente comprovado, da ressurreição de Cristo, procurando manifestações duvidosas contemporâneas?
Livros sugeridos:
Fé Cristã e Misticismo, Matos, Portela, Lopes, Campos
Religião de Poder, Michael Horton
Leituras Bíblicas sugeridas:
Lc 16.19-31 – O Rico e Lázaro. Os estudo das Escrituras está acima dos milagres.
Jo 14.16-26 – O Filho envia o Espírito da Verdade.Jo 16.7-14 – O Espírito Santo não fala de si mesmo, mas revela o Filho.
1 Co 12.12-27 – Já fomos batizados em um só corpo.
Ef 4.1-6 – Participamos de um só batismo.
Is 8.16-20 – O grande sinal e maravilha: o Povo de Deus resgatado.
Jo 5.36-47 – A grande importância do testemunho das Escrituras, acima da experiência.
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Fonte: Revista O Pensador Cristão – Edição de Ano IV – Nº 16 – Dez/03.