Pular para o conteúdo

Por que o ministro deve ser homem?

Já que o feminismo de repente virou um assunto em alta aqui, eu pensei em postar uma amostro meu pequeno livro intitulado Por que o ministro deve ser homem?

Comece com o pano de fundo

Qualquer discussão da ordenação de mulheres obviamente vai girar em torno das afirmações paulinas diretas na questão e vamos certamente gastar a maior parte do nosso espaço aqui. Mas as instruções paulinas não foram entregues num vácuo e quando ele faz seus apelos fora da sua situação imediata, ele faz esses apelos ao Antigo Testamento, fundamentando os seus apelos tanto na história registrada ali quanto na lei dada ali. É um lugar comum dentre as feministas que a Bíblia é um livro patriarcal e normalmente se fala nisso como se fosse algo ruim. Deixando juízos de valor de lado, essa avaliação parece correta. Os patriarcas de Israel são Abraão, Isaque e Jacó, todos homens. Jacó, renomeado como Israel, tinha doze filhos que se tornaram os progenitores das doze tribos. Em toda a história de Israel, houve apenas uma rainha que governara sem um rei e ela era uma usurpadora e tirana (2Rs 11.1). Desde de Arão, o primeiro sumo sacerdote em Israel, até o último sacerdote quando o Templo foi destruído em 70 d.C., todos foram homens. Havia uma série de profetisas, que serão discutidas em detalhe depois, mas Débora era quem também governou com competências civis e ela parece ter feito isso por seu papel como profetisa (Jz 4.4). O pressuposto geral era que o governo feminino era um sinal de juízo (Is 3.12).

Quando Jesus veio estabelecer o novo Israel, Ele o fez ajuntando doze discípulos ao redor de Si (Lc 6.13), claramente declarando que Ele estava reorganizando Israel, reconstituindo-o, e Ele o fez designando doze homens. Isso não era porque não havia mulheres disponíveis: Ele tinha mulheres influentes e talentosas que poderia ter escolhido, mas Ele não as escolheu (Lc 8.3). Se era a hora de reformar Israel (e era), por que Jesus não incluiu mulheres no colegiado apostólico? Então, quando Jesus se dispôs a estabelecer Israel de novo, ajuntando um novo Israel e organizando-o em torno de Si, Ele escolheu doze apóstolos, todos homens. Assim como Moisés tinha o tabernáculo no centro do acampamento, com as tribos acampadas ao redor, da mesma forma o Senhor tomou o lugar do tabernáculo e ajuntou seus discípulos em torno de Si. As novas doze tribos tinham liderança masculina, como elas sempre tiveram. Se a nova aliança era a hora de fazer uma ruptura decisiva com as formas patriarcais antigas e ultrapassadas, essa era a oportunidade. Mas Jesus não fez nada disso, por quê?

O fato de que não havia sacerdotisas em Israel (nem mulheres apóstolos) incidentalmente responde uma objeção comum nesse assunto e o faz de passagem. É bem fácil para detratores dizerem que a razão de as mulheres cristãs não serem autorizadas a se tornarem ministros religiosos naqueles tempos passados foi porque a posição das mulheres na sociedade de então teria tornado a fé cristã infame aos olhos dos de fora, caso as mulheres pudessem servir dessa forma. Dentro da igreja, a verdade da emancipação era reconhecida (Gl 3.27-29), mas, em prol de evangelizar os de fora, foram feitos ajustes temporários. Agora que todos já somos mais esclarecidos, não tem problema os cristãos saírem e dizerem o que eles realmente pensavam o tempo todo.

O problema com esse argumento é que ele na verdade é o inverso da verdade. A igreja cristã não teve de excluir mulheres a fim de se adequar. Excluir as mulheres do ministério era o mais estranho a se fazer. O mundo antigo estava cheio de sacerdotisas e, se os cristãos tivessem admitido mulheres ao ministério, ninguém teria ficado surpreso. Mas a Igreja tomou a rota contracultural e fez algo que a destacou, o que é, incidentalmente, o que estamos sendo chamados a fazer. Não é que a igreja primitiva fez uma acomodação que nós nos tempos modernos não precisamos fazer. Pelo contrário, a igreja primitiva se recusou a fazer a mesma acomodação que estamos sendo pressionados a fazer. Em resumo, a Igreja primitiva não estava se misturando nesse ponto, ela estava se destacando.

Falaremos mais sobre isso depois, mas a nossa era neopagã está confortável com a Grande Mãe, assim como o paganismo antigo estava. E não tem jeito de rejeitar esse paganismo ressurgente sem rejeitar a forma principal que ele assume, que é o ministério feminino.

Camilie Paglia tem uma visão distorcida de muitas coisas, mas tem algumas coisas que ela vê bem claramente.

“O livro de Gênesis é uma declaração masculina de independência dos antigos cultos maternais. O seu desafio à natureza, tão sexista aos ouvidos modernos, marca um dos momentos cruciais na história ocidental … Os cultos maternais, ao reconciliar o homem à natureza, o aprisionaram na matéria”

Se o antigo Israel tinha sacerdotisas, isso não se provaria um pedra de tropeço para os outros. Se Jesus tivesse selecionado algumas mulheres para o grupo apostólico, isso teria “ajudado” o evangelismo, não atrapalhado. E ainda assim Ele se recusou. Quando o profeta Isaías prediz o dia em que o ministério levítico seria levado para a nova aliança, ele o faz assumindo continuidade com a limitação sexual. Os gentios iriam se tornar sacerdotes, mas nenhuma mulher gentílica se tornaria sacerdotisa. 

“Trarão todos os vossos irmãos, dentre todas as nações, por oferta ao Senhor, sobre cavalos, em liteiras e sobre mulas e dromedários, ao meu santo monte, a Jerusalém, diz o Senhor, como quando os filhos de Israel trazem as suas ofertas de manjares, em vasos puros à Casa do Senhor. Também deles tomarei a alguns para sacerdotes e para levitas, diz o Senhor” (Is 66.19-21).

O pano de fundo específico do ensino de Paulo nos leva a concluir que as mulheres não podem ser ministros. É possível acumular textos gerais a fim de fazer as suas aplicações específicas, mas isso não vai resolver também. Por exemplo, veja as tentativas comunas de argumentar da posição que as mulheres têm como membros plenos do corpo de Cristo.

“… porque todos quantos fostes batizados em Cristo de Cristo vos revestistes. Dessarte, não pode haver judeu nem grego; nem escravo nem liberto; nem homem nem mulher; porque todos vós sois um em Cristo Jesus. E, se sois de Cristo, também sois descendentes de Abraão e herdeiros segundo a promessa” (Gl 3.27-29).

Esta afirmação gloriosa não está tratando a questão de governo eclesiástico ou de relações sociais dentro da Igreja, ou relações maritais, mas está na verdade tratando a questão da salvação em Cristo. O que está em questão é o batismo, não a ordenação. Não há barreiras que mantenham um homem longe de Cristo, ou uma mulher. Escravos podem ser batizados, assim como os seus mestres. Judeus e gentios se alegram juntos que a parede de separação foi derrubada. Todos temos comunhão em Cristo Jesus e somos herdeiros da promessa dada a Abraão, a promessa da salvação. Então se esta passagem é considerada, como frequentemente é, e aplicada a uma questão do tipo da ordenação feminina, veremos que ela prova demais.

Não somente poderíamos ter mulheres pregando, mas também poderíamos ter mulheres se casando com mulheres e homens se casando com homens (desde que estivessem em Cristo), porque em Cristo todas distinções desse tipo seriam abolidas e seríamos ordenados a ignorar essas distinções sempre que alguém tenta trazê-las à tona em qualquer cenário. Agora, vivemos em tempos difíceis e eu hesito argumentar num reductio desse tipo temendo que alguém pense que é uma ótima ideia e me cite numa nota de rodapé. Então, antes disso acontecer, deveríamos prosseguir para tornar a nossa posição absolutamente clara.

Quer ler mais? Adquira o livro aqui do qual este post foi tirado aqui.

Traduzido por Guilherme Cordeiro.