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Por que sou um pós-milenarista feliz

A certa altura do ano 2000, tive contato com um carregamento perigoso cheio de literatura antagônica. Devorei tudo tão rapidamente que as únicas perguntas que tive depois foram alguma coisa como “o que teremos para o jantar?” e “pode me servir mais, por favor?”. Continuo devorando literatura antagônica, e realmente espero que o resultado não seja eu me tornar rabugento, e sim encontrar formas criativas de inculcar aquelas bênçãos na minha comunidade.

Então, já que estamos falando disso, permita-me responder às especulações entre alguns dos estudiosos da teologia dos dois reinos. Eles afirmam consistentemente que embora Jesus tenha autoridade sobre todas as coisas, essa autoridade não realiza ou tem por intenção realizar uma mudança no meio cultural. Eu, como um gentil antagonista, afirmo o exato oposto: o reino de Jesus é abrangente, e tudo o que ele toca é transformado.

O reino não é limitado a uma esfera, tampouco as coisas celestiais devem ser severamente diferenciadas das coisas da terra. E de novo, para não repetir o óbvio, a cidade terrena não é a Babilônia, tampouco vivemos com esse sentimento perpétuo de exílio e peregrinação apenas existindo, em busca da cidade porvir.

Afirmamos que o povo de Deus está indo para algum lugar para tomar algo e declarar alguém como Senhor sobre as nações (Rm 4.13) e que essa cidade está presente. Nosso projeto é fazer com que as pessoas vejam a propaganda e respondam ao convite tão rápido quanto possível.

Embora os reformadores afirmem as políticas distintas de cada esfera e até mesmo declarem sem equívoco que há fins distintos para a esfera governamental e eclesiástica, esses fins não vão parar em territórios completamente diferentes. Eles servem ao reino do nosso Senhor Jesus Cristo, que tem toda a autoridade e poder no céu e na terra. A autoridade terrena de Jesus não anula seu poder celeste. Eles encontram harmonia como uma manifestação expressiva do senhorio.

Portanto, você deve notar que quando um defensor dos dois reinos diz: “Não cause confusão, deixe os oficiais locais fazerem seu trabalho, afinal… Sabe, Romanos 13, 1 Pedro 4, etc.”, o que eles estão sugerindo de fato é que a história é estática e imóvel. Os mesmos textos que afirmam que os oficiais do governo são servos da justiça também afirmam que eles estão debaixo de um Soberano que está movendo a história em direção a um objetivo.

Virar as mesas não foi um ato de rebelião manifesta de Jesus, foi um ato de fidelidade subversiva. Quando o templo não faz o que deve — adorar da forma adequada — Jesus tem o direito de agitar as coisas, e quando a infidelidade continua, ele tem o direito de enviar exércitos para destruir o lugar por completo (Lc 21.24). Quando Jesus vê um governo agindo como uma prostituta, ele tem o direito de dizer ao seu povo para cercá-lo e cantar por sete dias e sete noites.

É realmente algo ímpio certo teólogo na Califórnia (e aí, Scotty) afirmar que cristãos são peregrinos, e portanto devem parar de arranjar confusão enquanto vão para o céu, ou que eles devam parar de cantar em praça pública, ou que devam parar de opinar sobre a ordem absurdamente incompreensível para se usar máscaras em uma cidade sem mortes por Covid, ou que devam cancelar suas atividades pré-programadas apenas porque chamar a atenção dos oficiais locais viola a perniciosa divisão entre os dois reinos. Como dizem as crianças: “É de rolar de rir!”.

Essa forma de sofisma é a falha demonstrável de uma expressão da teologia que vê a adoração da igreja como meramente útil para o bem da igreja. Quão corajoso deve ser se sentar em silêncio, resmungando piedosamente sem poder levantar um dedo em ira justa contra as grosseiras violações das leis do céu (em primeiro lugar) e das leis do nosso país (em segundo lugar), e apenas fazer declarações dúbias quanto ao porquê cristãos não devem se envolver no processo político como cristãos.

Vamos até mesmo supor que a linguagem de Calvino de um “império forjado” seja aplicada diretamente a nós — sonhadores pós-milenaristas — para sugerir que somos rápidos demais para fazer com que o governo e a igreja sejam amigos; devemos então apenas nos sentar e esperar pela derrota como o objetivo ideal da igreja? Se a Grande Comissão não significa um completo investimento em coisas terrenas e celestes, então nossos antepassados reformados nos decepcionaram ao tentar escrever cartas para reis pagãos e instigá-los a ler excelentes textos teológicos, e a expressar sua desaprovação às ações do governo.

Eu apresento aqui a ideia de que a Grande Comissão fala diretamente a todas as esferas; que os oficiais do governo deveriam ser catequizados na linguagem da Escritura e que, de vez em quando, deveríamos usar nossa voz para fazer com que os muros deles caiam. Se a cristandade é apenas uma expressão para o isolamento entre a igreja e a cultura, então Jesus deveria ter permanecido apenas como um grande sumo-sacerdote, mas como sabemos bem, ele é também nosso grande sumo-rei e nosso grande sumo-profeta. Como aquele missionário pós-milenarista maluco chamado Hudson Taylor costumava dizer: “Ou Cristo é Senhor de tudo, ou não é Senhor coisa nenhuma”. Uno-me alegremente à insanidade dele.

 

Autor: Rev. Uri Brito
Tradução: Thiago McHertt
Original: http://kuyperian.com/why-i-am-happy-postmillennialist/