OBJEÇÃO COMUM: A Primeira Guerra Mundial desanimou bastante esse grupo, e a Segunda Guerra Mundial praticamente eliminou esse ponto de vista.
Suponhamos por um momento, para fins de argumentação, que a afirmação [de Hal Lindsey, em A agonia do grande planeta terra] esteja correta. A resposta adequada seria: E daí? Isso não prova que a esperança cristã é falsa — apenas que as pessoas pararam de acreditar que é verdadeira. A implicação da afirmação, entretanto, é que o fato de ter havido duas guerras mundiais é evidência de que a esperança está equivocada, pois o mundo não está “indo cada vez melhor”. Vou admitir o seguinte: as duas guerras mundiais (e a ameaça de uma terceira) prejudicaram consideravelmente as esperanças daqueles humanistas que acreditavam na doutrina herética do progresso humano “automático” rumo à paz e fraternidade. Amiúde confundida erroneamente com o pós-milenarismo, ela na verdade não está mais próxima da escatologia de domínio do que os sacrifícios pagãos estão da ceia do Senhor. O cristão não precisa ficar desanimado diante de uma guerra mundial ou de uma perseguição generalizada. Sua fé está em Deus e não no homem; sua esperança não está ligada ao destino de nenhuma cultura em particular. Se sua nação ou civilização cai debaixo do justo juízo de Deus, o cristão fiel percebe que Deus está sendo fiel às suas promessas de bênção e maldição. A esperança não é uma garantia de bênção para os desobedientes. É uma garantia de julgamento visando bênção para o mundo.
Mas abordemos agora a questão de frente: as duas guerras mundiais destruíram mesmo a esperança? Na realidade, as origens do declínio do pós-milenarismo remontam a bem antes da Primeira Guerra Mundial, com o surgimento do liberalismo teológico (ensinando que as previsões da Bíblia não eram confiáveis) e do “progressismo” evolucionário (ensinando que o progresso era “natural”, não ético). Numa reação a esses inimigos do cristianismo bíblico, muitos cristãos evangélicos perderam a esperança na vitória do evangelho. Desistiram da esperança. Assim como Pedro caminhando sobre o mar da Galileia, olharam para a “natureza” e não para o Senhor Jesus Cristo; assim como os israelitas na fronteira de Canaã, olharam para os “gigantes da terra” em vez de confiar nas promessas infalíveis de Deus; ficaram tomados de medo e fugiram. Começaram a ouvir os falsos profetas do desespero, que ensinavam que a igreja está fadada ao fracasso e que os cristãos buscarem domínio sobre a civilização “não é espiritual”. Eles então demonstraram um princípio importante da vida: se você acredita que vai perder, provavelmente perderá. Foi o que aconteceu com o evangelicalismo do século XX; e ele retrocedeu para um isolamento cultural que perdurou por décadas.
Por fim, esse quadro começou a mudar. Penso que duas questões importantes forneceram o ímpeto para o recente ressurgimento do ativismo cristão nos Estados Unidos. Primeiro, houve a infame decisão pró-aborto Roe versus Wade da Suprema Corte dos Estados Unidos. Isso acordou os cristãos. Eles perceberam que milhares de crianças estavam sendo massacradas legalmente todos os dias e sabiam que precisavam agir para impedir os assassinatos. Acredito que o ano de 1973 pode bem ser visto como um divisor de águas na história norte-americana — o momento em que os cristãos estadunidenses começaram a longa marcha de volta ao arrependimento nacional.
A segunda questão tem sido a educação cristã. Cada vez mais cristãos reconhecem que a Palavra de Deus nos ordena a educar nossos filhos de acordo com os padrões de Deus para cada área da vida. Os movimentos de escolas cristãs e escolas domiciliares cresceram tremendamente na última década [meados de 1980] e aumentam rapidamente em número e influência. A tentativa maligna do governo federal de destruir o movimento de escolas cristãs em 1978 só serviu para unir muito mais cristãos numa maior determinação de criar seus filhos na fé ampla da Bíblia. Ademais, a própria existência de escolas cristãs fez os cristãos perceberem que verdadeira espiritualidade não significa fugir do mundo, mas requer em vez disso que conquistemos o mundo em nome do nosso Senhor. Os cristãos têm visto a necessidade de desenvolver uma “visão de mundo” consistentemente cristã, uma perspectiva distintamente bíblica sobre a história, as leis, o governo, as artes, as ciências e todos os demais campos do pensamento e da ação.
E Deus está abençoando essa obediência. Os cristãos finalmente começaram a lutar contra o inimigo — e, para total espanto deles, começaram a vencer. Vez após vez, têm visto que a resistência ao diabo o colocará em fuga, como Deus prometeu. Eles estão descobrindo a verdade da jactância de Tertuliano, Pai da Igreja do século III, contra os demônios: “À distância eles se nos opõem, mas de perto imploram por misericórdia”. Tendo experimentado a vitória, os cristãos hoje falam muito menos sobre escapar no arrebatamento e bem mais sobre as exigências de Deus nesta vida. Até mesmo pensam no tipo de mundo que estão preparando para seus netos e na herança de piedade que deixarão para trás. Instintivamente, porque estão novamente agindo em obediência aos mandamentos de Deus, os cristãos estão voltando a uma escatologia de domínio. Fazendo a vontade de Deus, estão chegando a um conhecimento da doutrina (cf. Jo 7.17; 2Pe 1.5-8). Porque uma fé bíblica forte está novamente em ascensão, a escatologia bíblica da esperança também está reconquistando terreno.
Fonte: Paraíso restaurado: Uma teologia bíblica do domínio (Editora Monergismo, no prelo), de David Chilton.
Tradução: Marcelo Herberts
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