Pular para o conteúdo

Prefácio — «E mudaram a glória de Deus»

Prefácio ao livro Exchanging the Glory: Idolatry and Homosexuality in Romans 1, de Tim Gallant, a ser publicado pela Editora Monergismo em 2023.


PREFÁCIO

A sexualidade é a pedra de toque de nossa época.

Em certo sentido, é a de todas as épocas. Embora a igreja enfrente um desafio sem precedentes à sexualidade bíblica, a sexualidade em si já era um campo de embate para os primeiros cristãos.

Conforme Wes Baker, missionário presbiteriano, assinalou certa feita: Deus criou o casamento como símbolo de sua intenção de unir-se à sua criação, e esta intenção será consumada nas Bodas do Cordeiro. O matrimônio é o princípio e fim da história humana, a origem e destino da raça humana. O mesmo Jesus que é o Alfa e o Ômega é também o Noivo Jesus.

Nossos matrimônios servem, pois, como ícones que desvelam a trajetória secreta da criação. Se perdermos o matrimônio, perderemos nosso propósito — não simplesmente o propósito da sexualidade, mas o propósito humano enquanto tal. Tendo em vista o ataque continuado à pureza sexual, ao matrimônio, à família e aos filhos ao longo das últimas décadas, e tendo em mente a aprovação pública da libertinagem sexual, do divórcio judicial consensual, casamento entre pessoas do mesmo sexo, declínio da taxa de fecundidade, substituição dos filhos pelos animais de estimação e da casa mortuária que é a indústria do aborto — tendo em vista tudo isto, não é de se admirar que o mundo esteja à deriva. Até mesmo muitas igrejas estão em desordem ou se cindiram no tocante aos temas da homossexualidade, transgenerismo e questões afins.

Paulo já o dissera. Persistimos em nossa rebelião sexual, e Deus entregou-nos à absoluta confusão moral.

As coisas ficarão piores. Aaron Renn diz que a igreja adentrou num mundo “negativo”. Nossa cultura não mais considera os cristãos de forma positiva ou neutra, mas como fanáticos acerbos, racistas e fascistas. Defensores da comunidade LGBTQ+ e seus simpatizantes não se opõem a esta ou aquela crença cristã. Eles se ofendem por nossa própria existência. Somos Neandertais, inaptos para a sobrevivência, e a seleção natural deveria ter eliminado nossa espécie há muito tempo. 

Intimidados por essa hostilidade, muitos cristãos se esforçam para se adequarem. Como anunciado por uma manchete do Babylon Bee, o engajamento com a cultura foi consumado por casamentos mistos. Algumas igrejas há muito se uniram àqueles que ativamente buscam exterminar a ortodoxia sexual. Outras criaram um espaço seguro para esses exterminadores, celebrando-os conforme atacam e silenciam os “desviantes”.

Tim Gallant, porém, não contemporiza. Com atenção paciente e incansável ao texto bíblico, ele demonstra, mais uma vez, o que todos os cristãos tomavam como certo até há pouco tempo: o desejo e atividade sexual entre pessoas do mesmo sexo é para physin, “contra a natureza” (Romanos 1.26). Ele, à maneira de Paulo, não dá trégua.

Em meio a uma acirrada batalha com coisas preciosas em jogo, porém, é perigosamente fácil perder o equilíbrio, de modo que, se os ativistas celebram perversões sexuais, os cristãos aparentemente devem pregar apenas sobre a normatividade sexual. Quando o mundo se inclina para o universo gay, tornamo-nos obcecados em ser anti-gays. Quando o mundo se torna feminista, devemos tornar-nos masculinistas.

A grande força da obra E mudaram a glória de Deus, porém, é a adesão de Gallant às prioridades paulinas. Ele nos relembra que, mesmo em Romanos 1, a principal passagem neotestamentária acerca da homossexualidade, “este não é, a bem da verdade, o ‘tema’ do texto”. Quando Paulo prega em Atenas, a capital gay do mundo antigo, ele sequer menciona o pecado sexual. Nesse trecho, como em outras partes, Paulo busca expor “o pecado mais profundo da idolatria”. E, de modo importante, nessa parte e em outras, o objetivo primário de Paulo não é esmagar pecadores, mas chamá-los à vida abundante e eterna e ao amor de Deus.

Em meio a uma acirrada batalha com coisas preciosas em jogo, Gallant sabiamente nos lembra que “o modo como engajamos na batalha é de crucial relevância”. Ele convoca-nos não apenas para lutar pela verdade bíblica, mas para lutar biblicamente.

Peter J. Leithart
Beth-Elim
Quaresma 2022