Reavivamento Versus Reforma
por
Andrew Sandlin
Falar da necessidade de reavivamento na igreja é a última moda nesses dias. Eu recebo anúncios e convites a conferências designadas a incitar um fardo por reavivamento na América (estranhamente o estado espiritual do mundo de forma geral é geralmente ignorado) e prover uma estratégia para realizar esse reavivamento. Os anúncios aludem a, ou provêem, exemplos da degeneração de nossa sociedade, bem como a apatia espiritual dos cristãos professos. A minha opinião, contudo, é que a nossa mais urgente necessidade é uma reforma, e não um reavivamento.
Reavivamento e reforma não devem ser igualados. Reavivamento é uma agitação dos santos apáticos; reforma é uma alteração do próprio centro espiritual. Reavivamento (contrário às crenças e táticas dos “reavivalistas”) é um derramamento soberano e gratuito do Espírito Santo – e não um doce e espiritual “derramamento de bênçãos” provocado pelo arrependimento e contrição meritórios dos santos; reforma é uma revisão do próprio coração da religião, um esforço consciente de fazer uma ruptura completa e genuína com tudo o que é anti-escriturística e de restituir a Escritura como a autoridade final de fé e prática; os efeitos do reavivamento são temporários; aqueles da reforma atravessam séculos. Reavivamento faz cristãos melhores; reforma faz um Cristianismo melhor. Reavivamento faz cristãos mais zelosos; reforma os faz mais instruídos nas Escrituras. Reavivamento ocorre esporadicamente; a obra da reforma nunca é completada.
A menção do termo reforma imediatamente nos faz lembrar da grande Reforma Protestante, um evento histórico quase tão importante como o Iluminismo e mais importante do que o Renascentismo. Ele alterou não somente o curso da igreja, mas também o da própria sociedade. Neste ponto a reforma difere do reavivamento também: o último revitaliza grandemente uma igreja morna, enquanto o primeiro reorienta a sociedade e as tendências sociais em geral. Seus profundos efeitos sociais são possíveis porque a reforma envolve a reordenação de pensamento, uma ocasião na qual, diferentemente da obra de reavivamento (não importa quão necessária e influente possa ser), é capaz de estruturar o estado dos assuntos além da esfera da igreja. Dessa forma, embora o Israel do Antigo Testamento tenha experimentado numerosos reavivamentos significativos, como uma sociedade ele não experimentou nenhuma reforma até a vinda de Cristo que, sem dúvida, influenciou não somente aquela nação relativamente pequena, mas o mundo inteiro conhecido.
Um reavivamento despertará a dormente e mundana igreja de nosso tempo e lhe dará uma fresca devoção ao Deus do universo e a Seu Filho. Uma reforma, contudo, desmantelará o eixo secularista/materialista/humanista mortífero que presentemente domina o Ocidente. Não somente a religião, mas também a lei, as artes e a política serão reformadas. Os resultados serão tão extensos como aqueles da Reforma Protestante.
A.W. Tozer asseverava que a reforma deve preceder o reavivamento porque aqueles que não são de forma apropriada reformados, não serão de forma digna reavivados; e se eles forem reavivados, simplesmente persistirão em suas idéias e práticas errôneas, numa escala até mesmo mais perigosa. O reavivamento no Pentecostes foi precedido por três anos e meio de cuidadosa preparação. Seria tolice para Cristo reavivar espiritualmente os apóstolos, porque eles não tinham virtualmente nada digno em si mesmos de se reavivar. Quando, contudo, Ele os instruiu numa devoção apropriada ao Pai e a Si mesmo, eles foram preparados para um reavivamento da dureza anterior do Judaísmo de virtualmente todo o Israel na vinda de Cristo. O reavivamento do Judaísmo do Antigo Testamento nunca teria virado o mundo do século I “de cabeça para baixo”. Requereu-se uma reforma para fazer isso.
Não precisamos de reavivamento; precisamos de reforma.
Tradução: Felipe Sabino de Araújo Neto
Cuiabá-MT, 18 de Maio de 2004.