Há evidência bíblica de que alguns infantes são salvos. Por exemplo, Davi disse que iria ao encontro de seu filho morto, mas que este não retornaria a ele. João Batista ficou cheio do Espírito no ventre de sua mãe. Contudo, não há nenhuma base bíblica de que todos que morrem como infantes irão para o céu. É, de fato, algo possível, visto que a Bíblia não traz nenhum exemplo de algum infante indo para o inferno. Mas afirmar que todos serão salvos não passa de possibilidade.
Qualquer infante que seja salvo deve sê-lo com base na eleição de Deus e expiação de Cristo. A Bíblia nega que haja alguma outra base para a salvação. Isso significa que Deus pode criar algumas pessoas que morrem como infantes, mas são salvas, e Cristo morreu por elas ao ser crucificado. O fato de que são pequenos demais para ter consciência do pecado pode significar que nenhuma fé se exige dos infantes. Sua mente não alcançou o estado no qual a crença deliberada na doutrina e o arrependimento da impiedade são significativos. Contudo, isto não significa que todos os que não podem exercer fé consciente são salvos.
Alguns cristãos ficam incomodados quando lhes dizemos que alguns não precisariam exercer fé consciente; mas todos assumimos que o filho de Davi e João Batista não exerceram fé consciente ao serem salvos. Há uma forma coerente de explicar isso sem comprometer o Evangelho. Lembre-se de que, mesmo quando falamos de salvação pela fé, não estamos de fato nos referindo à fé como tal, mas a Jesus Cristo. A fé em si não salva ― só Cristo salva. Se alguém é salvo, isto se dá por Jesus Cristo.
Dessa forma, ao afirmar que os infantes poderiam ser salvos à parte da fé, mas não à parte de Cristo, o Evangelho não é comprometido. Cristo salva adultos em conjunção com uma fé consciente; mas Cristo salva alguns infantes ― pelo menos dois! ― à parte de uma fé consciente. Não sou salvo por causa da fé, mas por causa de Cristo. Minha fé é uma manifestação da salvação, eleição e regeneração. Ela não é a causa da salvação, mas o efeito da salvação. Esperaríamos de uma pessoa que recebeu a salvação como infante, e não morreu, que manifestasse essa fé ao crescer e estivesse ciente do que é certo e errado, do pecado e do arrependimento, e assim por diante. É o que aconteceu com João Batista. Talvez o mesmo se aplique aos mentalmente retardados, ainda que, aparentemente, não haja qualquer evidência bíblica para dizer que alguns mentalmente retardados são salvos, pois não há exemplos equivalentes na Escritura. Sua salvação é apenas uma possibilidade. Também é possível que todos os mentalmente retardados sejam condenados. Neste caso seria um equívoco alegar que eles são punidos por serem mentalmente retardados; antes, com base na doutrina da reprovação, eles teriam sido criados como indivíduos condenados, em primeiro lugar. O ponto é que não há nenhum problema teológico.
Isso não se aplica aos infantes, adolescentes e adultos mentalmente cientes que jamais ouviram o evangelho ― todos irão para o inferno, sem dúvida (Incluo infantes porque, embora nos refiramos a infantes que poderiam ser salvos à parte da fé, muitos se tornam bem conscientes em uma idade muito tenra, talvez ao completarem dois, três, ou quatro anos de idade). A Bíblia é clara sobre isso. Há aqueles que tentam dizer que alguns adultos podem ser salvos à parte da fé. Isso é heresia. Quem afirma isso deveria ser excomungado. Devemos lidar com essas pessoas da maneira mais dura possível, pois todo o Evangelho e toda a obra da pregação ficam comprometidos.
A posição popular que todos os infantes são salvos é pensamento positivo, e persiste como uma tradição religiosa infundada. Aqueles que afirmam a doutrina da eleição jamais conseguiram demonstrar que todos os que morrem na infância são eleitos. Seus argumentos são forçados e falaciosos. E, àqueles que rejeitam a doutrina da eleição, falta até mesmo isso para construir uma doutrina de salvação infantil. A forma de confortar pais em luto não é mentir , mas instruí-los a confiar em Deus. Não importa o que Deus decide, será sempre algo bom e correto. Esta verdade pode ser dura em razão da dor e fraqueza naquele momento, mas se, no fim das contas, os pais não conseguem aceitar isso, eles estão indo para o inferno e precisam se tornar cristãos.
Quanto à razão de a Bíblia não citar quem são exatamente os salvos e quem pode ser salvo à parte da fé, se é que alguém pode sê-lo, o interesse bíblico está em, aparentemente, se focar naqueles que precisam de fé consciente para serem salvos. Em outras palavras, todos aqueles que podem entender o Evangelho devem crer nele para ser salvos. Isto inclui todo infante, adolescente e adulto inteligente, em todas as partes da terra ― tenha ele acesso ou não ao Evangelho. Se alguém morre sem ouvir o Evangelho, isto significa que Deus decretou sua condenação de antemão. Ainda que essa pessoa venha a queimar no inferno, as punições por ela recebidas serão provavelmente menos extremas que as punições sobre a pessoa que ouviu e rejeitou o Evangelho, pois a Bíblia ensina que aqueles que conhecem o Evangelho, mas não lhe obedecem, sofrerão mais. O destino daqueles que não podem entender o evangelho ― fetos, infantes muito novos, pessoas mentalmente retardadas e assim por diante ― está nas mãos de Deus, e aprouve a Deus não dizer-nos o que fará com essas pessoas. Antes, devemos nos concentrar em nossas próprias vidas, examinarmo-nos para ver se estamos na fé, e confiar o resto a Deus.
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(Adaptado de uma correspondência de email)
Tradução: Felipe Sabino de Araújo Neto – abril/2011