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Uma carta aberta da Christ Church sobre Steven Sitler

5 de setembro 2015

À luz dos recentes processos judiciais envolvendo Steven Sitler, e a consequente cobertura desses processos na mídia, cremos que é necessário ao conselho da Christ Church fazer uma declaração pública sobre qual era a nossa posição nesta questão, e qual a nossa posição atual.

Quando os pecados e crimes de Steven primeiramente vieram à luz há mais de uma década, como pastor da Christ Church, eu imediatamente encorajei a pessoa que os havia descoberto a procurar as autoridades, e isso foi feito. Todas as difíceis circunstâncias que se seguiram desde então — para as vítimas, para a família de Steven, e para a nossa igreja — são, como um todo, o resultado em cascata dos pecados iniciais de Steven. Ele é o responsável por toda essa avalanche. Isso inclui as dificuldades criadas para a sua própria família por conta das circunstâncias jurídicas atuais. No que se segue, quando nos referimos ao arrependimento de Steven, queremos dizer que esse arrependimento é por toda a situação sobre a qual estamos falando.

Em segundo lugar, desde a condenação de Steven e da sua liberdade condicional, Steven, como um cristão penitente, tem sido bem-vindo à Christ Church, e tem adorado regularmente conosco desde então. Com base na morte e ressurreição de Jesus, ele é tão bem-vindo quanto qualquer outro pecador, o que quer dizer que ele é muito bem-vindo. Ao mesmo tempo, desde sua condenação, de acordo com a decisão da corte e com uma determinação adicional e distinta tomada pelo conselho da Christ Church, Steven nunca atendeu aos cultos sem um supervisor. Comumente, ele chega um pouco antes do culto, senta-se silenciosamente, e vai embora logo após o culto. Nosso ministério para com Steven, em outras palavras, não tem sido conduzido às custas de qualquer criança em nossa igreja, ou de forma a colocar qualquer delas em perigo.

Em terceiro lugar, em Moscow, no estado de Idaho, há 38 agressores sexuais registrados. Muito possivelmente Steven Sitler é o único deles sobre os quais você ouviu falar. Isso se dá pois ele provê uma maneira fácil para que inimigos do nosso ministério nos ataquem. Se ele abandonasse a fé, ou se juntasse a outra igreja, ou se juntasse ao que nos atacam, ele certamente ainda teria de lidar com as consequências jurídicas dos seus crimes, mas provavelmente poderia recuar à uma anonimidade relativa. Como notado acima, apesar da grandeza do seu pecado, nós não nos afastamos dele. Mas também deve ser notado que apesar de todo o “tratamento” que ele está recebendo, especialmente na internet, ele também tem crédito por não ter se afastado de nós.

Quarto, a tarefa de ministrar para pessoas despedaçadas é uma das principais glórias da Igreja Cristã. Para nós, há dois motivos para nos alegrarmos nisso. O primeiro é que Cristo veio ao mundo por causa de pessoas despedaçadas. “Os sãos não precisam de médico, e sim os doentes” (Lc 5.31). Recusamo-nos a abandonar essa glória por causa da nossa própria reputação ou por inconveniência. Isso é o evangelho: através de Cristo, Deus salva pecadores. Segundo, a igreja é um hospital para pecadores, não uma pousada para santos, o que nos leva à segunda glória. Quando ministramos a pessoas nesse tipo de condição terrível, haverão outros tomados por cólera e amargura que usam a ocasião para atacar os funcionários do hospital por “dar suporte e aplaudir” as doenças que os funcionários estão, na verdade, lutando para erradicar. Ou seja, os detratores da igreja são pessoas que alegam que nós, a igreja, estamos protegendo, cobrindo e advogando a molestação de crianças. Essas falsas acusações são simplesmente calúnia. Mas embora tais detratores caluniem, Jesus disse que quando homens, mentindo, usarem você, e dizerem todo tipo de coisas perversas sobre você (por exemplo, que você protege e acoberta a molestação de crianças) a resposta da igreja deve ser “regozijar e exultar” (Mt 5.11, 12). Ser difamado por sustentar a graça é, por si só, uma graça. É uma honra ser desonrado assim. Mas a igreja se gloria na graça, e não no pecado que fez necessária a graça.

Quinto, o fato de que pessoas fora da situação, que vilipendiam Steven, acreditam que ele é automaticamente culpado por qualquer coisa que seja alegada contra ele, tão logo a alegação seja feita, cria uma tentação para nós em simplesmente ir na direção contrária. Estamos cientes dessa tentação e estamos nos protegendo dela deliberadamente. Não cremos que as tentações que levaram Steven a molestar crianças estão fora da sua vida, e cremos que ele, sua esposa, seus supervisores, seus ministros e presbíteros, seus companheiros de igreja, seus oficiais de condicional, e o estado de Idaho, têm motivos e causa para serem cautelosos. Nossa comunhão com Steven não significa que pensamos: “se ele é um membro, tudo está bem”. Aqueles que diagnosticam caluniosamente nossa competência pastoral à distância (sem importar-se em verificar os fatos) não tem ideia de como o temos ensinado, orado com ele, repreendido, exortado, ou verificado suas histórias, e exigido prestação de contas dele. Não cremos que Steven foi “curado” de forma mágica, ou que verdadeiro arrependimento signifique outra coisa que não uma introdução a uma vida de contínuo arrependimento.

Sexto, precisamos falar a respeito dos procedimentos jurídicos que estão acontecendo atualmente. Steven foi sentenciado há cerca de dez anos; até agora ele completou com sucesso cerca de nove anos de condicional. Até onde sabemos, não existe qualquer registro de violação de condicional contra ele. Agora a corte judicial está revisando os detalhes da sua interação com sua família e a proteção da sociedade. Os procedimentos jurídicos relatados no final de julho e no começo de setembro foram conferências de situação jurídica. Não nos queixamos por existir um processo supervisionado pela corte, e não temos objeções do estado de Idaho levar à sério a responsabilidade de proteger todas as crianças, incluindo o jovem filho de Steven. Se alguma violação de condicional nova ou séria for alegada ou registrada contra Steven, e se ele for de fato culpado por isso, e se a corte julgar necessário e justo revogar a condicional de Steven e mandá-lo para a prisão, isso aconteceria com total aprovação do conselho da Christ Church. Além disso, aprovar tal sentença não seria um empecilho para o visitar e buscar ministrar a ele.

Sétimo, na última rodada de acusações, foi assumido que a Christ Church aprovou o casamento de Steven e Katie pelo fato de eu ter oficiado seu casamento. Primeiro, deve ser observado que na nossa comunidade, casamentos não são arranjados ou determinados pela igreja. Katie e sua família conheciam todos os fatos quando ela concordou em se casar com Steven, o que é importante, mas a decisão de se casar era deles, não nossa. Dito isto, eu oficiei o casamento e fiquei feliz por tê-lo feito. Enquanto não cremos que o casamento seja uma “cura” automática para a tentação de molestar crianças, concordamos com o Juiz Stegner, que aprovou o casamento e disse que “um relacionamento com alguém de idade apropriada com uma pessoa do sexo oposto ao do Sr. Sitler é uma das melhores coisas que podem acontecer para ele e para a sociedade” (ênfase acrescentada). Além disso, se considerarmos o todo, não cremos que a igreja tem a autoridade de proibir ou “não permitir” um casamento legítimo.

Em uma frente relacionada, outros disseram que eu advoguei por brandura para com Steven depois da sua condenação e durante a fase sentencial. Na carta que escrevi ao juiz (em 2005), eu apenas relatei a natureza dos meus conselhos para Steven depois dele ser pego. No meio desse relato, eu disse: “É importante notar que eu não ofereci a ele nenhum elixir espiritual ou ‘cura rápida’, e creio que Steven compreende a importância da sua necessidade de resistir a essas tentações no longo prazo”. Além disso, na conclusão da minha carta, com respeito às consequências jurídicas do seu comportamento, eu disse ao juiz que eu era “grato por ele ser sentenciado por seu comportamento”, e também grato pois haveriam “duras consequências para ele em tempo real”. Ao mesmo tempo eu recomendei que as penalidades civis fossem “consideradas e limitadas”. Por “consideradas e limitadas”, eu quis dizer fundamentadas em princípios, definidas e deliberadas. Eu não quis dizer triviais, leves ou brandas. Eu não estava pedindo uma punição leve. Se você unir o que de fato eu disse, você verá que o que eu expressei ao juiz foi o meu desejo por duras consequências para Steven, que fossem consideradas e limitadas. Minha esperança é que o juiz tenha lido a carta com mais cuidado do que outros fizeram desde então.

Por último, sempre que o espírito de acusação toma o centro do palco, pregadores do evangelho precisam estar prontos para responder com a única resposta possível. Cristo veio a este mundo a fim de salvar pecadores miseráveis. Sob o controle do acusador, o mundo descrente opera com base na condenação, e ama traficar tais acusações. Sendo este o caso, eu quero finalizar com a única resposta que pode ser dada a tais acusações. Se Deus fosse registrar os pecados, ninguém escaparia (Sl 130.3). Todos pereceríamos diante da ira de Deus, como a relva diante da foice. Não há um justo, nenhum sequer (Rm 3.10). É isso que o Senhor quis dizer ao lidar com os acusadores que queriam apedrejar a mulher pega em adultério (Jo 8.3). Quando Jesus disse que aquele que não tivesse pecado atirasse a primeira pedra, ele não quis dizer que não deveríamos lidar com o pecado. Devemos lidar com o pecado pois Deus habita em santidade inacessível (Is 6.1-3). Mas não são fariseus com pedras nas mãos e rostos raivosos que devem lidar com ele. Essa é a chamada solução da religiosidade, transbordando sua própria impotência moral. A fim de lidar com nossa perversidade — e por perversidade queremos dizer molestação de crianças, assassinato de crianças, animosidade racial, sodomia, acusações caluniosas, fornicação, adultério, roubo, blasfêmia, amargura, desrespeito aos pais, pornografia, ódio, malícia, inveja, embriaguez, uso de drogas, e muito mais — o Filho de Deus teve de morrer numa cruz. Ele morreu ali a fim de garantir o perdão para quem quer que clame por ele, e ele ressuscitou para a justificação dessa mesma pessoa, independente do que ela tenha feito. Como diz um antigo hino: “Jesus, o amigo dos pecadores, Jesus, ele amou a minha alma”. Não nos envergonhamos do seu sangue; ele é a nossa única esperança.

Se você tiver a oportunidade de visitar nossos cultos, provavelmente Steven Sitler estará lá, ouvindo a proclamação da graça. Essa proclamação nunca envelhece. Ele é bem-vindo para estar conosco lá, e você também será muito bem-vindo.

Cordialmente em Cristo,

Pr. Douglas Wilson, em nome dos presbíteros da Christ Church

Tradução: Thiago McHertt

Original: https://dougwils.com/books-and-culture/s7-engaging-the-culture/an-open-letter-from-christ-church-on-steven-sitler.html