Pular para o conteúdo

A Imitação de Cristo para Protestantes por Jason Hood

Por que alguém publicaria um livro sobre a imitação de Cristo próximo do quincentenário da Reforma Protestante? Não era para os que são bons protestantes desistirem da (católica!) imitação de Jesus em prol de o verem como o nosso substituto?

Thaddeus J. Williams, professor assistente de teologia sistemática na Biola University, pensa que essa questão é reducionista. Ele quer que nós entendamos que Jesus é salvador antes de ser exemplo, mas ele certamente é o exemplo por excelência e reduzimos o valor do nosso salvador se deixamos de vê-lo como o nosso exemplo. Segundo o novo livro de Williams, Reflita: Tornado-se você mesmo ao espelhar a maior pessoa da história, os cristãos precisam fixar os seus olhos em Jesus para que eles possam se tornar as pessoas que eles foram feitos para ser.

Sendo humano como Jesus

Em sua introdução Williams prepara a cena comparando o caminho da vida e o caminho da morte. Os primeiros seis capítulos, então, oferecem componentes chaves de ser humano em que “espelhamos” Jesus. Não é uma lista que eu inventaria, mas se encaixa com a descrição de Zack Eswine do discipulado cristão, “aprendendo ser humano novamente com Jesus”:

1. Raciocinar: espelhando o pensamento profundo de Jesus
2. Emocionar: espelhando os sentimentos justos de Jesus
3. Inverter: espelhando a ação de cabeça para baixo de Jesus
4. Amar: espelhando a relacionalidade radical de Jesus
5. Elevar: espelhando a graça salvífica de Jesus
6. Criar: espelhando o gênio artístico de Jesus
7. Transformar: espelhando Jesus por toda a vida

Cada capítulo se inspira numa passagem particular dos evangelhos, mas, na maioria dos casos, é uma conexão sutil. Williams não está interessado em imitar habitualmente algumas ações específicas, mas ser moldado à imagem do único humano perfeito. O sétimo capítulo inclui uma abordagem permeada pelo evangelho de crescer na graça de todas as formas detalhadas nos seis capítulos anteriores.

Sendo criativo como Jesus

A conexão mais difícil é a de “espelhando o gênio artístico de Jesus” (cap. 6). Não há uma conexão textual próxima aí e, na minha opinião, seria mais fácil argumentar pela criatividade ao focar na imitação de Deus. Mas antes de você duvidar da relevância de um capítulo assim, você vai querer dar uma olhada na brilhante aplicação de Williams de João Calvino (p. 57). Melhor ainda, leia tudo. Williams trabalhará em você o tempo todo, com o objetivo de expandir a sua perspectiva sobre “se parecer com Cristo” de formas que a sua formação cristã quase-gnóstica nunca teria imaginado.

Falando de criatividade: Williams é um escritor talentoso e este livro é bem divertido. Ele emprega uma linguagem maravilhosamente colorida. Por exemplo, ele escreve que a splanchnizomai de Jesus (a palavra significa “eu estou movido com compaixão”, mas Williams a utiliza como “reação emocional que revira o estômago”) “o diferencia dos vilões religiosos com estômago estável” (p. 57). Ele também escava o texto bíblico para melhor reflexão. Aprendemos na mesma página que splanchnizomai se aplica a Jesus “com mais frequência do que qualquer outro termo emocional nos evangelhos” e que, no Novo Testamento, tal emoção sempre produz ação.

Novos interlocutores

As páginas brilham com digressões e ilustrações e referências no estilo de um “cristianismo de cosmovisão”. Somos presenteados com insights da vida e ensinos de Johnny Rotten e John Owen, Sufjan Stevens e Siddhartha e Sophie Scholl, e todo mundo entre eles. Aqueles que já estão por muito tempo em círculos cristãos reconhecerão velhos favoritos dos Charles Colsons e Ravi Zachariases do mundo evangélico: Malcom Muggeridge, Fiódor Dostoiéviski, Marshall McLuhan. Eles ficam ao lado de favoritos mais recentes como Martin Luther King Jr., David Wells e N. T. Wright.

Esta abordagem significa que às vezes não podemos lidar profundamente com ideias; pode parecer um pouco com um TED talkismo. Mas o movimento rápido nos capacita a encontrar novos interlocutores pelo caminho. Ter uma corrida com o Reflita me lembra de um Uber: conveniente, fácil, às vezes, prazeroso e surpreendente e, no final das contas, me leva aonde eu queria ir o tempo todo.

Acessível e atrativo

A descrição acima sugere que este livro não seria escrito por acadêmicos bíblicos. Francamente, isso o torna mais interessante e útil. Acadêmicos bíblicos não são conhecidos por ligarem para temas importantes como razão, criatividade e emoção. Já que se dirige a todos, não só acadêmicos, ele tem um pouco da utilidade apologética do If God Then What? [Se Deus, então o quê?] de Andrew Wilson ou o Notas da Xícara Maluca de N. D. Wilson. É um livro raro cujos conceitos difíceis são colocados numa estante em que podem ser alcançadas, mas onde também serão atrativos e convidativos.
Mesmo o subtítulo (uma frase de autoajuda que será um obstáculo para alguns) é uma oportunidade estratégica de satisfazer uma coceirinha por “necessidades sentidas”. E Williams se esforça para evitar a pior interpretação do seu subtítulo: contra a noção de que “Deus ajuda aqueles que se ajudam”, a Bíblia é “a história de como Deus ajuda aqueles que estão para além de toda autoajuda” (p. 113). Ele também repudia qualquer ideia de “Jesus como coaching” (p. 161).
Essas cautelas te dão um bom indício da habilidade de Williams em evitar o legalismo e um cristianismo de você se puxar pelos seus cadarços. Para ele, o indicativo precede todo e qualquer imperativo. Com essa perspectiva, a imitação é essencial para todos os cristãos, até mesmo protestantes celebrando o quincentenário da Reforma.

Traduzido por Guilherme Cordeiro

Fonte: The Imitation of Christ for Protestants