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A importância de agradar ao Senhor acima de qualquer outro na vida profissional, por John Murray

É no contexto dessa exortação que o apóstolo coloca o seu dedo sobre o vício cardeal do nosso trabalho: fazemos isso para agradar homens.

“Servos, obedecei em tudo ao vosso senhor segundo a carne, não servindo apenas sob vigilância, visando tão somente agradar homens, mas em singeleza de coração, temendo ao Senhor” (Colossenses 3.22; cf. Efésios 6.5-8).

Agradar os homens toma múltiplas formas e com essas formas se conecta uma variedade igualmente grande de vício. Mesmo quando o trabalho mais satisfatório é realizado e mesmo que grande prazer possa ser derivado de fazê-lo por consideração do homem, quer como mestre quer como simples apreciador de nosso trabalho, mesmo aí tanto a motivação quanto a realização violam o primeiro princípio do trabalho: “servindo de boa vontade, como ao Senhor não como a homens” (Efésios 6.7), por mais alto que seja na escala dos valores humanos tal serviço quando comparado com um trabalho mal-feito.

É este princípio que põe todo serviço só para inglês ver e o agrado aos homens na categoria de pecado.[1] A vocação mais sagrada na terra, a proclamação da Palavra de Deus pela palavra oral ou escrita, prostitui-se em adoração a homens ao invés de dedicada ao louvor a Deus se for guiada pelo critério de fazer média com os homens. E não receberá a recompensa da herança; isso não é serviço ao Senhor Cristo (cf. Colossenses 3.24).

Somos lembrados da palavra de nosso Senhor com respeito aqueles que podem no fim protestar: “Senhor, Senhor! Porventura, não temos nós profetizado em teu nome, e em teu nome não expelimos demônios, e em teu nome não fizemos muitos milagres? Então, lhes direi explicitamente: nunca vos conheci. Apartai-vos de mim, os que praticais a iniquidade” (Mateus 7.22, 23). E quando descemos à escala dos valores humanos, não é um fato bem-conhecido de que a rejeição de muita mão-de-obra se deve ao trabalhador trabalhar bem somente quando ele estava sendo visto por seu mestre ou supervisor? É o mesmo vício que explica a falta de prazer no trabalho; o trabalho é um tédio e quase tudo que se tem em vista é o contracheque. Este mal que torna o trabalho em tédio é nada mais do que a lógica última do serviço serviço só para inglês ver e o agrado aos homens. Talvez o resultado mais trágico de todos seja a maneira em que esse tipo de serviço trai o juízo moral.

Se buscamos agradar os homens, então, no final das contas, é a conveniência que guia a conduta. E quando a conveniência se torna a regra da vida, a obediência a Deus perde tanto sua sanção quanto sua santidade e o trabalhador está pronto para ser cúmplice de avançar fins que profanam os primeiros princípios do direito, da verdade e da justiça. Servir para Deus ver é o primeiro princípio do trabalho e só ele é o guardião da virtude em toda a nossa estrutura econômica.

Fonte: Trecho do livro princípios de conduta, que será publicado pela Editora Monergismo em 2018.

Tradução: Guilherme Cordeiro

 

[1] Embora o fazer pela motivação errada seja pecado, não se segue que faze-lo deveria ser portanto suspenso. O lavrar do ímpio é pecado. Mas é mais pecaminoso não lavrar.