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A pena de morte como nossa única esperança – Douglas Wilson

A situação descrita na carta seguinte é inteiramente fictícia, incluindo pessoas, nomes, crimes, pecados, relacionamentos, circunstâncias e todos os pormenores. O tipo de situação que é descrito, no entanto, é bastante comum, e minha esperança é que os princípios bíblicos aplicados a esse enredo fictício possam ser de algum auxílio para indivíduos envolvidos em uma situação real.

 

Caro Tomas,

Conforme prometi, aqui está a carta complementar sobre o que a Escritura ensina sobre desejos e atos homossexuais. Quero destacar algumas passagens chaves, resumir os problemas e, talvez, comentar algumas poucas coisas sobre evasivas típicas — pois isso é o que elas são, evasivas.

Como se sabe, a origem do nome sodomia remonta a uma das Cidades da Planície, Sodoma.

Mas, antes que eles se deitassem, os homens daquela cidade cercaram a casa. Eram os homens de Sodoma, tanto os moços como os velhos, sim, todo o povo de todos os lados. E chamaram Ló e lhe disseram:
— Onde estão os homens que, à noitinha, entraram na sua casa? Traga-os aqui fora para que abusemos deles (Gênesis 19.4-5).

A objeção típica a essa citação é que a intenção dos homens de Sodoma era estuprar os anjos, e que relações de amor sinceras absolutamente não estavam em perspectiva. Mas o pecado de Sodoma — pecado que culminou na cena do lado de fora da casa de Ló — envolvia muito mais coisas do que simplesmente a tentativa de estupro.

Eis que esta foi a iniquidade de sua irmã Sodoma: ela e as suas filhas foram orgulhosas, tiveram fartura de pão e próspera tranquilidade, mas nunca ampararam os pobres e os necessitados. Foram arrogantes e fizeram abominações diante de mim. Ao ver isso, eu as removi daquele lugar (Ezequiel 16.49-50).

E Judas, o irmão do Senhor, descreveu o problema dessa maneira:

Igualmente Sodoma, Gomorra e as cidades vizinhas, que também se entregaram à imoralidade e adotaram práticas contrárias à natureza, foram postas como exemplo do castigo de um fogo eterno (Judas 7).

Resumindo, essa tentativa pública de estuprar os anjos ocorreu num contexto muito mais amplo, no qual existia um modo de vida lascivo, desprezo pelo pobre, ócio, orgulho, práticas abomináveis, fornicação e perseguição a seres desconhecidos. Em outras palavras, o problema com Sodoma era exatamente aquilo que estava às vistas de todos — antes que alguns estudiosos tomassem a questão para si.

Uma prostituta é chamada de “cão” em Deuteronômio.

 

Não trarás salário de rameira nem preço de cão à casa do SENHOR, teu Deus, por qualquer voto; porque ambos estes são igualmente abominação ao SENHOR, teu Deus (Deuteronômio 23.18, ARC).

Alguns poderão dizer que o problema aqui era a mercantilização, não o ato homossexual em si mesmo. Mas este não é o tipo de problema que pode ser resolvido fazendo concessões. A Escritura ensina que o amor livre é pior que o amor mercantilizado.

— “Como é fraco o seu coração, diz o SENHOR Deus, pois você faz todas estas coisas que são próprias de uma prostituta descarada. Construindo os seus altares na entrada de todos os caminhos e o seu lugar elevado em cada praça, você não foi como a prostituta, porque desprezou o pagamento (Ezequiel 16.30-31).

E João ecoa o insulto deuteronômico ao excluir esses “cães” da Nova Jerusalém.

Fora ficam os cães, os feiticeiros, os impuros, os assassinos, os idólatras e todo aquele que ama e pratica a mentira (Apocalipse 22.15).

Depois, temos a proibição clara encontrada em Levítico.

Se também um homem tiver relações com outro homem, como se fosse mulher, ambos praticaram coisa abominável; serão mortos; o seu sangue cairá sobre eles (Levítico 20.13).

Ora, é possível argumentar que isso se refira simplesmente ao intercurso anal (“como se fosse mulher”) e não a outras formas de comportamento homossexual. Por exemplo, o lesbianismo nunca é mencionado no Antigo Testamento pelo nome. Mas Paulo, claramente raciocinando a partir das categorias veterotestamentárias, menciona o lesbianismo:

Por causa disso, Deus os entregou a paixões vergonhosas. Porque até as mulheres trocaram o modo natural das relações íntimas por outro, contrário à natureza (Romanos 1.26).

A objeção à lei em Levítico é que somos inconsistentes em manter a proibição e não manter a penalidade. Por que parte dos evangélicos modernos se opõe ao intercurso homossexual, mas ninguém incita a pena de morte para isso? Essa objeção possui um entendimento equivocado acerca da natureza do sistema de jurisprudência do Antigo Testamento. A pena de morte, nesse exemplo, não era uma penalidade mínima, mas, antes, uma das opções, dependendo das circunstâncias. Séculos depois, três reis justos (Asa, Josafá e Josias) baniram os sodomitas que haviam estabelecido transações próximo ao Templo, e eles foram elogiados no texto, embora não tenham executado ninguém.

Asa fez o que era reto aos olhos do SENHOR, como Davi, seu pai. Porque tirou da terra os prostitutos cultuais e removeu todos os ídolos que seus pais fizeram (1 Reis 15.11-12).
[Josafá] também exterminou da terra os restantes dos prostitutos cultuais que ficaram nos dias de Asa, seu pai (1 Reis 22.46-47).
[Josias] também destruiu as dependências dos prostitutos cultuais que estavam na Casa do SENHOR, onde as mulheres teciam tendas para o poste da deusa Aserá (2 Reis 23.7).

 

Assim, a execução de homossexuais não era compulsória, nem mesmo no Antigo Testamento. A prática, contudo, era detestável, e aqueles reis foram louvados por sua obra em interromper as paradas-gay. Dito isso, as práticas homossexuais merecem a pena de morte, o que é afirmado inclusive no Novo Testamento.

Embora conheçam a sentença de Deus, de que os que praticam tais coisas são passíveis de morte, eles não somente as fazem, mas também aprovam os que as praticam (Romanos 1.32).

Ao mesmo tempo, é importante destacar que muitas das coisas mencionadas na lista de Paulo aqui são pecados que de forma alguma estão restritos aos homossexuais. Estes estão inclusos, como a parte anterior de Romanos 1 deixa perfeitamente claro, mas todos os pecadores, tanto héteros como homos, estão debaixo da ira de um Deus santo. Todos nós morremos, e todos merecemos morrer. É por isso que o salário do pecado é a morte (Romanos 6.23).

Por que Deus não desce o sarrafo, então? A resposta é que ele, em sua graça, determinou salvar o mundo do pecado. Ele poderia, com toda justiça, ter condenado o mundo por seu pecado, mas num exercício de graça sobre graça, ele decidiu salvar o mundo. “Porque Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para que condenasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele” (João 3.17).

Desse modo, a pena de morte para a lascívia e comportamento homossexual ainda se aplica. A glória do evangelho é que Jesus morreu na cruz como um substituto perfeito — por esses pecados e todos os outros. Em outras palavras, o Novo Testamento não vê uma revogação da pena de morte para a sodomia. Antes, é no Novo Testamento onde vemos o cumprimento final dela, uma execução final para a sodomia.

Jesus foi executado por homens ímpios, debaixo da ira de um Deus santo – maldito todo aquele que for pendurado num madeiro (Gálatas 3.13) — e entre muitos outros pecados abomináveis que lhe foram imputados, a sodomia certamente era um deles. Portanto, os cristãos do Novo Testamento não devem rejeitar a pena de morte para a sodomia. Antes, sustentamos que Jesus, que morreu pelos nossos pecados, não foi levado à morte por “pecado” genérico, mas, ao contrário, por todas as coisas detestáveis que seu povo já fez. Ele morreu por nossos pecados (1 Coríntios 15.3).

Isso significa que não procuramos ganhar o mundo para Cristo executando pecadores. O plano e propósito de Deus é encher o céu, não o inferno. “A promessa de que seria herdeiro do mundo não veio a Abraão ou à sua descendência por meio da lei, e sim por meio da justiça da fé” (Romanos 4.13). A Abraão foi prometido o mundo, mas ele não ia herdá-lo “por meio da lei”. Ao contrário, o mundo vai se desfazer de todos os pecados —  incluindo a sodomia, o desejo por sodomia e todas as justificativas de sodomia — mas o fará em resposta à pregação do evangelho e a justiça responsiva da fé.

Sendo assim, os cristãos não devem desprezar a pena de morte para o pecado homossexual. Antes, pregamos o cumprimento definitivo da pena de morte, testificando a sua justiça completa. Quando Paulo fala sobre os pecados dos quais os cristãos se libertaram, ele é explícito —  Jesus nos salva de entre os malakoi, os efeminados, os delicados, os passivos, os catamitos. Não apenas isso, ele nos salva de entre os arsenokoitai, os acopladores de si mesmos para outros homens. Ele nos salva daqueles que interpretam o homem com outros homens como se fossem mulheres, e daqueles que atuam como mulheres num relacionamento com um homem. Ele faz o mesmo pelos adúlteros heterossexuais.

Ou vocês não sabem que os injustos não herdarão o Reino de Deus? Não se enganem: nem imorais, nem idólatras, nem adúlteros, nem afeminados, nem homossexuais, nem ladrões, nem avarentos, nem bêbados, nem maldizentes, nem roubadores herdarão o Reino de Deus. Alguns de vocês eram assim. Mas vocês foram lavados, foram santificados, foram justificados no nome do Senhor Jesus Cristo e no Espírito do nosso Deus (1 Coríntios 6.9-11).

Como pode algum de nós ser purificado? É por causa dessa pena de morte. Como podem os culpados de todo desejo, intenção ou ação homossexual vil ser purificados, santificados e justificados? Somente por causa da pena de morte. Se a fé cristã não estiver fundamentada na justiça da pena de morte pelos pecadores, então o sacrifício humano que foi oferecido em Jesus foi totalmente inútil. Se for este o caso, ainda estamos em nossos pecados.

Até mais, e obrigado.

Cordialmente,

Douglas Wilson.

 

Fonte: Blog & Mablog.

Tradução de Leonardo Bruno Galdino.

Todas as citações bíblicas foram extraídas da Nova Almeida Atualizada (NAA), salvo indicação em contrário.