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Como Fazer Apologética Pró-Vida por Scott Klusendorf

Este é um resumo do curso de Scott Klusendorf sobre Apologética Pró-Vida Avançada, lecionado na Biola University em 2010 (texto completo em inglês aqui, em que os argumentos são desenvolvidos com maior detalhe).

Introdução: o apologista pró-vida tem quatro tarefas essenciais: 1) esclarecer a questão, 2) estabelecer um fundamento para o debate, 3) responder as objeções persuasivamente, 4) ensinar e equipar.

TAREFA #1: ESCLARECER O DEBATE.

  1. Qual é a questão? A natureza do raciocínio moral e o status do nascituro.
    1. Alegações de preferência versus alegações morais
      1. Preferência (subjetivo): “sorvete de chocolate é melhor do que o de baunilha”.
      2. Moral (objetivo): “é errado torturar criancinhas por diversão”.
      3. Alegações de preferência são subjetivas. São sobre gostos pessoais.
      4. Alegações morais são objetivas. São sobre certo e errado independentemente dos meus gostos.
    2. Alegações morais frequentemente são confundidas com alegações de preferência:
      1. Exemplo (slogan): “Não gosta de abortos? Não faça!”
      2. Tente isso: “Não gosta de escravidão? Não tenha um escravo!”
      3. Qualquer um que fizer uma dessas afirmações não entendeu a natureza do raciocínio moral.
    3. A moralidade do aborto se resume a uma questão que antecede a todas as outras:
      1. Podemos matar o nascituro? Depende. O que é o nascituro?
      2. Recorrer à escolha, privacidade, confiar nas mulheres, etc., perde completamente o ponto porque eles assumem que o nascituro não é humano. Isto é, há uma petição de princípio ao assumir exatamente o que eles esperam provar.
    4. Use “o bebê” para esclarecer a questão e expor os pressupostos sobre o nascituro:
      1. Pergunte se qualquer das razões dadas para o aborto eletivo justifica matar um bebê já nascido.
      2. Se não, o argumento assume que o nascituro não é humano, de forma que ele comete petição de princípio.
      3. Note que você não está ainda argumentando pela humanidade do nascituro. (Você vai fazer isso depois). Pelo contrário, você está simplesmente esclarecendo a questão.
  2. O que é o nascituro? O que a ciência da embriologia nos diz.
    1. Embriologia – os fatos teimosos:
      1. Desde os primeiros estágios de desenvolvimento, os nascituros são seres humanos distintos, vivos e completos.
      2. Objeções e réplicas:
        1. Geminação: só porque um organismo pode se dividir não quer dizer que antes não era uma entidade completa.
        2. Aborto espontâneo: taxas elevadas de aborto espontâneo não desprovam a humanidade do embrião.
        3. O esperma e o óvulo são vivos: esta objeção confunde partes com todos.
        4. As mulheres não ficam de luto por abortos espontâneos: como nos sentimos não muda o embrião.
        5. Laboratório em chamas: quem escolhemos salvar não prova quem podemos matar.
    2. A ciência da embriologia e pesquisa em células tronco embrionárias (PCTE):
      1. Definições:
        1. Células-tronco: células de rápido crescimento e não especializadas que podem fazer crescer tecidos novos para o corpo.
        2. PCTE: destruir embriões humanos para que as suas células-tronco possam ser armazenadas.
        3. Clonagem: criar um embrião que é o clone genético do paciente e usar esse embrião como uma fonte para armazenar células tronco. O procedimento é conhecido como transferência nuclear de células somáticas (TNCS) e é o mesmo quer o embrião seja usado por razões terapêuticas ou reprodutivas. Em resumo, toda clonagem é reprodutiva na medida em que um embrião humano é produzido. A única questão é como tratamos o embrião.
      2. História da PCTE:
        1. 1993: NIH [National Institute of Health] conclui que o embrião merece “profundo respeito”, mas que pode ser morto.
        2. 1996: a emenda Dickey impede o financiamento federal de pesquisa embrionária destrutiva.
        3. 2000: o governo Clinton propõe fundos federais para a pesquisa, mas não para a destruição.
        4. 2001: o presidente Bush permite o financiamento federal da PCTE, mas somente em linhagens celulares existentes.
        5. 2009: o presidente Obama expande o financimanto da FCTE, mas assina novamente a emenda Dickey.
        6. 2010: o juiz federal Royce Lambeth profere uma injunção contra a expansão de Obama do financiamento de PCTE com base na emenda Dickey proibir esse financiamento.
    3. A questão moral da PCTE: o que é um embrião?
      1. Se os embriões são humanos, matá-los para beneficiar os outros é errado.
      2. Se eles não são humanos, não há razão para opor criá-los para pesquisa.
      3. Desde o início, os embriões são organismos humanos, distintos, vivos e completos.
      4. Assim, matá-los para beneficiar outros humanos é errado.
    4. Argumentos a favor da PCTE:
      1. Embriões descartados vão morrer de todo jeito e é uma pena desperdiçar todo esse tecido utilizável.
      2. Os defensores pró-vida são contra a ciência.
      3. A PCTE é mais promissora do que pesquisa em células tronco de adultos.
      4. TNCS não é clonagem.
    5. Resposta a argumentos a favor da PCTE:
      1. Embriões descartados vão morrer porque os cientistas pretendem matá-los para a pesquisa.
      2. Os defensores pró-vida não são contra a ciência, mas insistem que a pesquisa precisa estar vinculada a princípios morais.
      3. No momento, a PCTE não é mais promissora do que tratamentos com células de adultos.
      4. A TNCS realmente é clonagem e quem quer que diga o contrário é desinformado ou está mentindo.

TAREFA #2: ESTABELECER UM FUNDAMENTO PARA O DEBATE

  1. O que torna os seres humanos valiosos?
    1. Argumento filosófico: não há diferença essencial entre o embrião que você foi outrora e o adulto que você é hoje que justificaria te matar naquele estágio anterior. Use o acrônimo TANG para ilustrar a natureza não essencial dessas diferenças
      1. Tamanho — embriões são pequenos: seres humanos maiores têm um direito à vida maior do que os menores?
      2. Ambiente — onde você está não afeta quem você é.
      3. Nível de desenvolvimento — adolescentes são menos desenvolvidos do que adultos. Podemos matar eles?
      4. Grau de dependência — gêmeos siameses não podem ser mortos simplesmente porque eles dependem um do outro.
    2. Revisão do argumento pró-vida até agora:
      1. Ciência: os nascituros são seres humanos distintos, vivos e completos.
      2. Filosofia: não há diferença essencial entre o embrião que você era e o adulto que você é hoje que justifica te matar naquele estágio anterior (TANG).
    3. A visão substancialista das pessoas humanas é a base para a visão pró-vida.
      1. Substâncias:
        1. são organismos vivos que mantêm a identidade ao longo do tempo e da mudança.
        2. possuem naturezas interiores que ordenam as suas capacidades e desenvolvimento.
        3. retêm identidade mesmo se capacidades últimas nunca são realizadas
      2. Coisas com propriedades (artefatos):
        1. são meros conjuntos de partes (como um carro ou um navio)
        2. não têm uma natureza interior que ordena capacidades ou desenvolvimento
        3. não retêm identidade ao longo do tempo e da mudança
      3. O que a visão substancialista nos diz sobre os seres humanos:
        1. Você é idêntico ao seu eu fetal anterior: o mesmo agora e então.
        2. Verdade, as suas habilidades funcionais mudaram, mas a sua identidade não.
        3. Assim, se você tem valor intrínseco agora, você também teve então.
      4. Objeções à visão substancialista e réplicas
        1. O embrião não é autoconsciente
          1. O argumento desqualifica aqueles fora do ventre — recém-nascidos também não são autoconscientes.
          2. Por que a autoconsciência é o que dá valor, para começo de conversa?
          3. Não pode explicar a igualdade humana.
          4. Alguns animais contariam como pessoas enquanto alguns humanos não.
          5. Os embriões têm uma capacidade básica (raiz) para autoconsciência mesmo que ela esteja para ser realizada.
        2. O embrião pré-consciente é paralelo a indivíduos com morte cerebral
          1. O embrião não precisa de um cérebro para viver. Humanos mais maduros sim.
          2. A função do cérebro do embrião é “ainda não”, enquanto a pessoa com morte cerebral é “não mais”.
          3. No fim das contas: não tratamos pessoas com morte cerebral como mortas porque elas são organismos humanos vivos que não são mais pessoas. Tratamos elas como mortas porque elas não são mais organismos, não mais capazes de função corporal coordenada.
        3. Direitos dependem de ter um desejo consciente de viver (o que o embrião não tem)
          1. Eu posso ser ferido mesmo se eu não estou consciente disso; escravos podem não desejar a liberdade.
          2. É errado privar uma criança da nutrição apropriada mesmo se ela não a quer.
        4. Direitos dependem de desejos, que exigem atividade cerebral cortical organizada (David Boonin)
          1. Por que ter “desejos” é o que dá valor, para começo de conversa?
          2. As pessoas em coma não têm desejos. Alguns podem até perder memórias e assim, enquanto estão em coma, estão na mesma posição de fetos pré-conscientes padrão. Isto é, elas têm uma capacidade básica para desejos, mas não podem exercê-la imediatamente. Podemos matá-las?
          3. Suponha que um escravo seja condicionado a nunca desejar a sua liberdade ou um feto é cirurgicamente alterado de forma que nunca adquira uma função cerebral cortical organizada. Houve injustiça com algum deles? Se sim, o que conta como moral não são os “desejos”, mas a natureza do ser em questão. Assim, a natureza de alguém, não os seus desejos, fundamenta o direito á vida.
        5. A dignidade humana é um conceito metafísico que não tem lugar na bioética. É subjetivo e não soma nada. A bioética deve ser neutra. Autonomia e consentimento são suficientes (Steven Pinker)
          1. Só porque essas culturas discordam sobre dignidade não quer dizer que ela não possa existir.
          2. Se discordância quer dizer que não há verdade, a visão do próprio Pinker é falsificada.
          3. Pinker defende o materialismo científico, que é um conceito metafísico por si só (e não neutro).
          4. A autonomia não é um fundamento suficiente para a bioética. Se um grupo de homem come alimentos gordurosos com o propósito expresso de ter infartos, Pinker não diria que é errado? Se sim, o que conta é a natureza do homem (que ele falhou em cumprir), e não a autonomia.
        6. O excepcionalismo humano machuca os animais
          1. Se os animais são iguais a humanos, deveríamos responsabilizá-los?
          2. Uma crença robusta no excepcionalismo humano protege os animais, ao invés de os machucar.
          3. Achamos o caso de Michael Vick revoltante porque esperamos mais dele enquanto homem.
        7. A capacidade atual (imediatamente exercível) para dor e prazer, que requer autoconsciência, confere a pessoalidade. Todos os seres sencientes são iguais [Peter Singer].
          1. A visão do próprio Singer resulta numa desigualdade selvagem entre animais e humanos.
          2. A visão do próprio Singer é especista: ele julga os animais por padrões humanos.
          3. A visão de Singer é contraintuitiva.
          4. Singer aplica inconsistentemente a sua ética.
          5. Singer não pode fundamentar adequadamente as suas alegações morais dado o seu ateísmo.
          6. Singer não pode fundamentar adequadamente as suas alegações por direitos.
  2. O que torna seres humanos valiosos? A objeção da religião
    1. Um resumo da objeção religiosa
      1. A visão pró-vida de que os seres humanos têm valor intrínseco é inerentemente religiosa.
      2. Alegações metafísicas controversas não têm lugar na esfera pública e não podem ser usadas para restringir o aborto ou PCTE.
    2. Tática: pergunte duas coisas para nivelar o jogo.
      1. O que você quer dizer por religião? (Eles vão dizer que envolve metafísica de algum tipo).
      2. Diga-me, por que algo tem valor e direito à vida? (A resposta inevitavelmente vai envolver metafísica).
    3. Tática: explique que, embora a visão pró-vida seja implicitamente religiosa, não é mais religiosa do que explicações alternativas par ao valor humano:
      1. Todos estão fazendo a mesma pergunta: o que torna os seres humanos valiosos, para começo de conversa?
      2. A ciência não pode responder essa questão. Você precisa fazer metafísica.
    4. Explique por que a objeção de religião (que na verdade é uma rejeição) não vai funcionar:
      1. Incrédulos podem reconhecer que humanos têm valor em virtude do que eles são.
      2. Só porque a visão pró-vida é consistente com um ponto de vista religiosa não significa que ela só pode ser defendida com recursos a esse ponto de vista.
      3. A alegação de que um embrião humano tem valor não é mais religiosa do que dizer que uma criança ou bebê tem. (Também não é mais religiosa do que dizer que não tem).
      4. Pergunte: pode uma ética verdadeiramente secular nos dizer por que algo tem valor e direito à vida? Ela pode explicar seres humanos intrinsecamente valiosos, racionalidade e moralidade objetiva? Há boas razões para dizer não:
        1. Secularistas simplesmente pressupõem dignidade e direitos humanos. Se o universo veio do nada e foi causado pelo nada, os seres humanos são acidentes cósmicos ao invés de intrinsecamente valiosos. Os secularistas têm um problema de fundamentação. Isto é, só porque os ateus podem reconhecer verdades morais não quer dizer que eles podem fundamentá-las dentro do seu próprio sistema.
        2. O materialismo luta para explicar a racionalidade. Se as nossas mentes são o resultado de forças irracionais cegas, por que confiá-las para nos dizer a verdade sobre qualquer coisa?
        3. Se um homem é meramente uma máquina programada para pensar de certa forma, ele não é livre para pensar racionalmente sobre nada, incluindo o materialismo.
      5. Pergunte: por que deve se supor que alegações religiosas de verdade não contam como conhecimento real? A Declaração de Independência [dos EUA] e a “Carta da Prisão de Birmingham” de Martin Luther King se baseiam na imagem de Deus no homem. Elas são irracionais?
      6. A fé cristã não é cega, mas se baseia em evidências (At 2.32, 36, etc.).
      7. A objeção religiosa não é um argumento, mas uma mordaça para silenciar cristãos.
      8. Debates sobre a existência de Deus não são diferentes em categoria do que outras discussões filosóficas sérias. Por que tanto barulho sobre a religião e o Estado e não sobre a metafísica secular e o Estado?
  3. Aborto: direito, metafísica e neutralidade.
    1. Todo mundo faz metafísica:
      1. Definições:
        1. Metafísica: além do físico, lida com o ser (ontologia) e a natureza da realidade. A metafísica pergunta: o que é real, em última instância?A realidade é una ou múltipla? É material ou imaterial?
        2. Epistemologia é sobre como sabemos as coisas, com perguntas do tipo: as minhas crenças são justificadas? Como eu sei o que é real?
      2. Questão chave: os defensores pró-vida são culpados de metafísica especulativa quando eles argumentam que embriões e fetos são intrinsecamente valiosos em virtude do tipo de coisa que eles são? A resposta é não:
        1. A neutralidade moral é impossível. Todas as posições sobre o aborto assumem pontos de vista metafísicos.
        2. Os defensores pró-vida oferecem argumentos racionais para a sua posição.
        3. O argumento de John Rawls para a neutralidade metafísica se autodestrói. A sua própria visão é controversa.
        4. A espada religiosa é de dois gumes: a maioria das denominações apóia o aborto.
        5. A alegação de que os embriões têm vida não é mais religiosa do que dizer que eles não têm.
        6. A neutralidade estatal é impossível: o direito ou reconhece o nascituro como seres humanos com valor e assim os protege ou não e permite matá-los.
    2. Os tribunais federais não são neutros:
      1. Roe v. Wade e Doe v. Bolton não tiraram o governo federa do aborto. Na verdade, um ramo do governo federal, os tribunais, calam os outros ramos (o legislativo e o executivo), não lhes dando a palavra no assunto.
        1. Roe e Doe revogou as leis de aborto de todos os 50 estados e instituíram um regime de aborto eletivo para todos os nove meses que nenhum Estado, antes disso, permitia.
        2. Roe se baseou em raciocínio falacioso: a Corte afirmou erroneamente que as leis anti-aborto do século XIX foram feitas para proteger as mulheres, não a sua prole. O oposto é verdade.
        3. Roe não foi neutro sobre quanto a vida começa. A Corte afirmou que não sabia quando a vida começa, mas então permitiu o aborto para todos os nove meses. Assim, na verdade afirmou que sabia.
        4. A teoria do direito da Corte não era neutra. Ela abraça direitos positivos em oposição aos naturais.
          1. Direitos naturais: aqueles direitos que você tem em virtude da sua humanidade. Eles fluem da sua natureza humana e você os tem desde quando você começou a existir. O governo não concede direitos naturais; o seu trabalho é protegê-los.
          2. Direitos positivos (legais): aqueles direitos que você conquista pela idade ou pelo mérito. O governo concede esses direitos.
          3. Segundo a teoria dos direitos positivos (influenciada por Hans Kelsen), o Estado determina quem é ou não um sujeito de direitos.
        5. O raciocínio da Corte mina os direitos ao aborto: se o direito de abortar é contingente ao status do feto e a Corte não sabe quando a vida do feto começa, ela também não sabe quando o direito de abortar começa.
      2. Planned Parenthood v. Casey
        1. A infame “passagem do mistério” diz que todos temos o direito de definir o nosso próprio conceito do “mistério da vida humana”.
        2. Mas se isso é verdade, ninguém de nós tem um fundamento seguro para os direitos. Por que uma Corte futura não pode simplesmente tornar as mulheres em criaturas que não têm direitos, incluindo o direito de abortar?

TAREFA #3: RESPONDER OBJEÇÕES PERSUASIVAMENTE

  1. O argumento da autonomia corporal.
    1. Resumo do argumento do “violinista” de Judith Jarvis Thomson:
      1. Thomson concede por amor ao argumento que o nascituro é humano e tem direito à vida.
      2. Todavia, mesmo se o nascituro é um humano com direito à vida, ele não tem o direito de usar o corpo de outra pessoa para sustentar a sua vida se a pessoa quer interromper o suporte. O aborto é interromper o suporte.
    2. Réplica a Thomson: os paralelos entre a gravidez e o violinista não são moralmente relevantes:
      1. O aborto é mais do que meramente interromper o suporte. É matar ativamente outro ser humano.
      2. Por que devemos aceitar que uma mãe não tem maiores deveres para com o seu filho do que um estranho total tem para com alguém artificialmente conectado a ela? E se a mãe acordasse e se visse conectada a seu filho?
      3. O filho não é um intruso, mas é ali que ele pertence naturalmente.
      4. Fora casos de estupro, a mãe não pode alegar que ela “acordou” para se ver grávida.
      5. A gravidez, diferentemente da analogia do violinista, não é um leito de aprisionamento.
    3. Contraexemplos que desafiam alegações por autonomia corporal absoluta:
      1. Exemplo da talidomida: uma mãe grávida deveria ter o direito de tomar a droga mesmo se resultar numa criança deformada?
      2. Exemplo do Roacutan: é justo exigir que as mulheres usem contraceptivos antes de comprar a droga?
      3. O experimento mental de Paul W: e se a mãe simplesmente não deixar a criança sair do seu corpo?
      4. Melissa Ann Rowland: foi errado ela recusar uma cesariana (para salvar seus gêmeos) porque ela não queria deixar uma cicatriz no seu corpo?
    4. Eileen McDonaugh — From Choice to Consent [Da Escolha ao Consentimento]
      1. Assim como uma mulher tem o direito de usar força letal contra um estuprador que invade o seu corpo sem consentimento, ela também pode usar força letal contra um feto que invade o seu corpo sem consentimento.
      2. Só porque uma mulher consente ao sexo não quer dizer que ela consente à gravidez.
    5. Réplica a McDonaugh:
      1. Por que alguém acharia que um estuprador tem o mesmo relacionamento ao corpo dela do que o seu próprio filho?
      2. A gravidez não é um ataque violento. Ela transforma o corpo da mãe de uma forma natural.
      3. McDonaugh está errada sobre a natureza do consentimento: consentimos a comportamos iniciais, não a resultados. Suponha que eu diga: “eu consinto ao sexo, mas não a pegar uma DST!”
      4. Os pais precisam pagar pensão a filhos que eles nunca aceitaram criar.
    6. A defesa de Thomson por David Boonin:
      1. Os pais não possuem deveres especiais para com a prole simplesmente porque eles fizeram sexo que, por sua vez, resultou numa criança necessitada.
      2. Boonin diz que precisamos distinguir entre ser responsável pela existência de alguém e ser responsável pelo fato de que existe, com o resultado de ter necessidade. Por exemplo, um médico que salva a vida de um paciente com medicamentos não é responsável por usar o seu próprio corpo para sustentar esse paciente caso a medicação eventualmente provoque uma condição de risco de óbito.
    7. Réplica a Boonin:
      1. A analogia médica de Boonin fracassa. O médico generosamente estendeu a vida do paciente, mas não a causou. Os pais, por sua vez, tanto causaram a criança quanto o colocaram numa condição arriscada.
      2. O contraexemplo da lancha de Patrick Lee: se eu deixo as crianças caírem na água, eu posso reivindicar que, embora eu seja responsável por elas estarem na água, não sou responsável pelo fato de que elas não podem nadar?
      3. O exemplo de Rich Poupard da mãe no chalé: se uma mãe deixa o seu recém-nascido passar fome com a justificativa de que, ainda que ela seja responsável pela existência da criança, ela não o é por sua necessidade resultante, iríamos escusar o seu comportamento?
      4. Se uma bebê só pode tolerar o leite da sua mãe (sem fórmula) e ela se recusa a suar o seu corpo para alimentá-lo (cometendo assim infanticídio), devemos louvar o seu direito à autonomia corporal?
    8. Revisão de por que os argumentos de direitos corporais falham:
      1. O aborto é bem mais do que meramente privar de suporte. É ativamente matar.
      2. Podemos não ter obrigações a estranhos totais que são artificialmente ligados a nós, mas temos obrigações para com a nossa prole.
      3. Você não pode razoavelmente separar o consentimento para o sexo do consentimento para a gravidez.
  2. Objeções populares à visão pró vida.
    1. Argumento dos perigos do aborto ilegal.
      1. Réplica filosófica: o argumento comete petição de princípio ao assumir que os nascituros não são humanos.
      2. Réplica factual: é falso que de 5 a 10 mil mulheres morriam anualmente de aborto ilegal [nos EUA].
      3. A alegação de que as leis não podem parar todos os abortos é tola. Leis contra o estupro não param todo o estupro.
      4. As mulheres não são forçadas a fazer abortos ilegais. Elas escolhem fazê-las.
    2. Argumentos ad hominem:
      1. Homens não ficam grávidos. Somente mulheres deveriam decidir a questão.
        1. Argumentos não têm gênero, só pessoas têm. As mulheres pró-vida usam os mesmos argumentos pró-vida.
        2. Se os homens não podem falar sobre aborto, Roe v. Wade deveria ser revogado porque foram homens que decidiram.
        3. Leva a um raciocínio bizarro: somente generais decidiram a moralidade da guerra?
      2. Defensores pró-vida não têm direito de se opor ao aborto a não ser que adotem crianças indesejadas.
        1. Como a minha suposta indisposição de adotar uma criança justifica matá-la?
        2. O argumento comete petição de princípio: assume que o nascituro não é humano. Podemos matar bebês que são indesejados?
        3. Muitas pessoas querem adotar crianças indesejadas, mas não podem por causa de entraves burocráticos.
      3. Defensores pró-vida são inconsistentes por se oporem ao aborto, mas serem favoráveis à pena de morte.
        1. Suponha que sejamos inconsistentes. Como isso refuta a humanidade do nascituro?
        2. O argumento ataca uma caricatura. A visão pró-vida não é que é sempre errado tirar uma vida humana, mas que é sempre errado o fazer sem justificativa, que é o que o aborto faz.
        3. A espada da consistência é de dois gumes. O defensor da escolha pelo aborto é contra a pena capital, mas apóia o aborto. Isso não o torna inconsistente?
      4. Defensores pró-vida só se importam com isso e são específicos demais. Eles deveriam aumentar o seu foco para se oporem a guerra, pobreza, AIDS, desigualdade educacional e respeito pelo meio ambiente.
        1. Como se segue de que porque eu me oponho à destruição deliberada de um ser humano inocente, eu preciso assumir responsabilidade pessoal para resolver todos os problemas da sociedade? A Sociedade Americana do Câncer é “específica demais” porque ela se foca numa doença em particular e não em outras?
        2. Para serem efetivos, os defensores pró-vida devem se focar em um grande assunto moral, não muitos.
        3. Por que devemos crer que o desmatamento da Amazônia carrega o mesmo peso moral de desmembrar um feto humano? Embora muitas questões sejam importantes, nem todas carregam o mesmo peso moral.
        4. A guerra é um mal contingente que precisa ser prudentemente considerado. O aborto, contudo, é um mal absoluto e as leis que o permitem são vergonhosas. Críticos da visão pró-vida estão nos pedindo ignorar um mal absoluto em prol de prevenir contingentes.
        5. É claro, o aborto não é a única questão, não mais do que a escravidão foi a única questão em 1860 ou matar judeus foi a única questão em 1940. Mas ambos são questões dominantes do seu tempo.
        6. O governo dos EUA não pode impedir a desigualdade econômica na Tailândia, mas pode banir a morte de nascituros humanos dentro de suas fronteiras, por isso que os cristãos pró-vida têm deveres políticos.
      5. Defensores pró-vida devem trabalhar para reduzir o aborto ao focar nas suas causas subjacentes ao invés de trabalhar politicamente para torná-lo ilegal.
        1. Imagine alguém dizendo que a causa subjacente do abuso sexual é psicológica, de forma que, em vez de banir o abuso sexual, o Estado vai fornecer aconselhamento gratuito para homens.
        2. Há causas subjacentes para estupro, homicídio e roubo, mas isso dificilmente quer dizer que é equivocado passar leis contra eles.
        3. Por que os esquerdistas sequer se preocupam com “reduzir” o aborto? Se ele não mata injustamente um ser humano inocente, quem liga com quantos abortos acontecem  a cada ano?
    3. Argumentos a partir da tolerância: defensores pró-vida não devem impor suas visões sobre outros:
      1. Relativismo: certo errado não são objetivos, mas subjetivamente determinados pela cultura ou pelo indivíduo.
      2. Tipos de relativismo (Koukl/Beckwith):
        1. Relativismo “a sociedade faz”: as sociedades discordam sobre certo e errado, portanto, ninguém está certo. Todavia, não se segue de porque as pessoas discordam, não há respostas certas.
        2. Relativismo “a sociedade diz”:o que é certo e errado é determinado pelo que a sua sociedade diz. Todavia, com essa regra, não existiria uma sociedade imoral e reformadores morais seriam maus por definição.
        3. Relativismo “eu digo”: certo e errado dependem de mim, o indivíduo. Assim, não existiria um indivíduo imoral.
      3. Dificuldades com o relativismo:
        1. Ele é autodestrutivo, ou seja, ele não pode jogar com as suas próprias regras.
        2. Ele não consegue dizer por que algo é errado, incluindo a intolerância.
        3. Os seus defensores inevitavelmente fazem juízos morais.
        4. Ele não é neutro em questões controversas.
    4. Argumento a partir de casos difíceis #1 – o estupro justifica o aborto:
      1. Pergunte: como a sociedade civil trata seres humanos inocentes que nos lembram de um evento doloroso?
      2. O argumento assume que o nascituro não é humano: podemos matar um bebê se o seu pai era um estuprador?
      3. O argumento a partir do aborto, se prosperar, somente justificaria abortos devido ao estupro, não todos os outros tipos de aborto.
    5. Argumento a partir de casos difíceis #2 – a gravidez ameaça a vida da mãe:
      1. Embora a maioria dos abortos ao redor do mundo sejam feitos por razões socioeconômicas (ao invés de por risco de óbito), a gravidez ectópica representa um risco sério.
      2. Se o médico não agir, ele vai perder tanto a mãe quanto o embrião. É melhor agir para salvar uma vida do que perder duas, mesmo se o resultado não intencionado e inevitável seja a morte do embrião (que não pode ser salvo de todo modo).
      3. Médicos competentes podem normalmente tratar outros riscos à vida da mãe

TAREFA #4: ENSINAR E EQUIPAR

  1. Equipando a sua igreja para se engajar.
    1. Engaje-se estabelecendo um fundamento bíblico para o valor humano:
      1. O silêncio da Bíblia não justifica o aborto.
      2. A Escritura afirma que todos os seres humanos têm valor porque eles ostentam a imagem do seu Criador.
      3. Porque os seres humanos ostentam a imagem de Deus, o derramamento de sangue inocente é proibido.
      4. A ciência da embriologia afirma que o nascituro são humanos desde a concepção.
      5. Assim, os mandamentos bíblicos contra o derramamento de sangue inocente se aplicam ao nascituro.
    2. Engaja-se equipando leigos para argumentar pela vida:
      1. Ensine-os a resumir a questão pró-vida em 3 minutos ou menos usando a ciência e o TANG.
      2. Forme um grupo de leituras. Use as questões de revisão do The Case for Life para discutirem.
      3. Use o DVD Making Abortion Unthinkable para equipar outros.
    3. Engaje-se pregando um evangelho de esperança centrado na cruz.
      1. Quando oficiais eclesiásticos ignoram o aborto, eles não poupam da culpa homens e mulheres que passaram por um aborto; eles os poupam da cura. O pecado oculto está os mantendo longe da comunhão com Cristo.
      2. Com o evangelho, indivíduos pós-aborto encontram a cura sabendo que eles são julgados pela justiça de Cristo, não a deles próprios.
    4. Engaje-se restaurando o sentido da palavra “aborto”.
      1. Como usar auxílios visuais responsavelmente.
      2. Use dissonância cognitiva para fazer as pessoas pensarem.
    5. Engaje-se treinando sistematicamente estudantes para defender uma cosmovisão bíblica, incluindo a questão pró-vida:
      1. Apresentações a grupos de jovens de igreja.
      2. Apresentações em escolas católicas e protestantes.
    6. Engaje a mente! Continue lendo. Top 10 livros para dominar (em ordem de simplicidade):
      1. Peter Kreeft, The Unaborted Socrates.
      2. Greg Koukl, Precious Unborn Human Persons.
      3. Scott Klusendorf, The Case for Life.
      4. Ramesh Ponnuru, The Party of Death.
      5. Stephen Schwarz, The Moral Question of Abortion.
      6. Francis J. Beckwith, Defending Life.
      7. Hadley Arkes, Natural Rights and the Right to Choose.
      8. Robert George and Christopher Tollefsen, Embryo: A Defense of Human Life.
      9. Scott Rae and Paul M. Cox, Bioethics.
      10. Louis Pojman and Francis J. Beckwith, The Abortion Controversy: A Reader.

Traduzido por Guilherme Cordeiro.

Foto: Edward Cisneros