Eu ainda posso lembrar a emoção de ver Indiana Jones: Os Caçadores da Arca Perdida nos cinemas. Já no ensino médio, eu já tinha sido infectado com o “vírus da arqueologia”. Esse filme levou os meus interesses a um nível inteiramente novo. Seguindo o caminho da Providência, eu segui o caminho de Indiana Jones, ao menos academicamente. Eu ainda estou fascinado pela arca, mas eu não acredito mais que ela está perdida e precisa ser descoberta. E a culpa é de Jeremias.
A ideia de que a arca da aliança sobreviveu à invasão de Nabucodonosor a Judá se baseia na ausência de qualquer referência explícita à arca dentre os utensílios de ouro levados para a Babilônia (2Cr 36.5-8). Da mesma forma, a lista de itens levados de volta para Judá depois do fim do exílio não menciona a arca (Ed 1.5-11). A explicação mais simples é que a arca estava dentre os “utensílios de ouro no templo do Senhor” que Nabucodonosor deixou em pedaços (2Rs 24.13). Ninguém pagaria para ver um filme assim.
Desde tempos antigos até os dias de hoje, as pessoas têm resistido à ideia de que Deus permitira Nabucodonosor destruir o objeto mais sagrado de Israel. Testemunhando o poder dessa resistência, há quase uma dúzia de teorias que dizem como a arca sobreviveu.
Algumas dessas teorias são extraídas de eventos bíblicos. Talvez Ezequias deu a arca para Senaqueribe como parte dos tributos pagos (2Rs 18). Será que ela foi removida por sacerdotes fiéis quando Manassés colocou um ídolo no templo (2Rs 21.1-9)? Indiana Jones disse a milhões que o faraó Sisaque levou a arca para a cidade de Tanis no Egito quando ele invadiu Jerusalém (1Rs 14.25-28). Talvez a teoria mais intricada envolve Menelik I, o suposto filho de Salomão e a rainha de Sabá, levando a arca para a Etiópia. A crônica real etíope, a Kebra Nagast, apresenta essa ideia com tanta seriedade que os governantes da Etiópia até o século XX tinham de provar a sua descendência de Menelik I.
Outras teorias cresceram a partir de passagens específicas em textos antigos. Segundo Maccabeus 2.5 relata Jeremias escondendo a arca numa caverna antes da invasão de Nabucodonosor. Segundo Baruque 6.1-9 descreve a arca sendo sobrenaturalmente engolida pela terra antes da invasão, ficando escondida ali até a hora da restauração de Israel.
Jeremias 3.16-17 torna todas essas hipóteses difíceis de se acreditar:
“Sucederá que, quando vos multiplicardes e vos tornardes fecundos na terra, então, diz o Senhor, nunca mais se exclamará: A arca da Aliança do Senhor! Ela não lhes virá à mente, não se lembrarão dela nem dela sentirão falta; e não se fará outra. Naquele tempo, chamarão a Jerusalém de Trono do Senhor; nela se reunirão todas as nações em nome do Senhor …”
A passagem mostra claramente que a arca deveria estar ausente por causa do exílio. Jeremias 3.16 também insiste que “não se fará outra”, um palavreado que sugere fortemente que a arca seria destruída no desastre iminente; se a arca não foi destinada para a destruição, falar em reconstruí-la não faria sentido. Jeremias 3.17 reforça esse ponto: a arca era o trono de Deus. Ele se sentava “entre os querubins” no suporte conhecido como o “propiciatório” (Ex 25.18-22; Nm 7.89). Mas a passagem fala de um dia em que a própria Jerusalém seria chamada de trono de Deus. Lemos sobre isso em Apocalipse 21.2-3: “Vi também a cidade santa, a nova Jerusalém, que descia do céu, da parte de Deus, ataviada como noiva adornada para o seu esposo. Então, ouvi grande voz vinda do trono, dizendo: Eis o tabernáculo de Deus com os homens. Deus habitará com eles. Eles serão povos de Deus, e Deus mesmo estará com eles”. Uma arca da aliança recuperada não se encaixa nesse cenário, ela seria decepcionante demais.
Dr. Michael S. Heiser é um acadêmico contratado pela Faithlife, os criadores do Logos Bible Software. Ele é o autor do livro The Unseen Realm: Recovering the Supernatural Worldview of the Bible. Este artigo é um excerto do livro I Dare You Not to Bore Me with the Bible. Original aqui.
Traduzido por Guilherme Cordeiro.