Pular para o conteúdo

“Um método trinitário neocalvinista de apologética” Prefácio de David T. Koyzis e Sumário

Um método trinitário neocalvinista de apologética: Reconciliando a apologética de Van Til com a filosofia reformacional

Guilherme Braun Jr.

 

Prefácio

Foi na juventude que tive o primeiro contato com a visão reformacional de Abraham Kuyper e seus sucessores. Cativou-me a noção de que a fé cristã tem implicações para a totalidade da vida e que não há um centímetro quadrado sequer em toda a extensão do cosmo acerca do qual Deus, em Cristo, não diga: “É meu!”. Fundamentado nessa convicção, aprendi rapidamente a rejeitar a divisão do cosmo nos domínios “sagrado” e “secular”, e passei a ver que mesmo áreas como a economia, política, artes e as ciências naturais estão enraizadas em pressupostos básicos de caráter religioso. À época, como aspirante a cientista político, fiquei fascinado especialmente com a perspectiva neocalvinista sobre a vida política, que articula uma alternativa à teocracia, por um lado, e ao secularismo, por outro. Naquele momento, Kuyper não era muito conhecido em meio aos evangélicos norte-americanos, mas isto mudaria com a chegada do século XXI. Agora cada vez mais cristãos conhecem a citação do “não há um centímetro quadrado sequer” e (assim esperamos) esforçam-se por viver segundo ela.

Um interesse paralelo pela filosofia me levou à leitura de um dos herdeiros de Kuyper, o holandês e teórico do direito Herman Dooyeweerd, cuja maioria das obras ainda estão restritas à língua neerlandesa. Os poucos escritos disponíveis em tradução para o inglês revelaram-se como uma leitura difícil porém recompensadora. Embora não seja algo especialmente fácil apreender conceitos como a crítica transcendental e a relação gegenstand, ou neologismos como pístico, cinemático e retrocipação, assimilei, no entanto, quatro insights centrais que Dooyeweerd trouxe para a atividade acadêmica. Primeiramente, o cosmo não é um agregado fortuito de matéria e energia, mas a criação de Deus, dotada de sentido e ordenada. Em segundo lugar, esta criação é irredutivelmente complexa, sendo a realidade constituída de múltiplos aspectos, ou modos, pelos quais podemos compreender as diferenças entre as várias entidades, incluindo as formações sociais humanas. Em terceiro lugar, todo pensamento teórico tem fundamentos, mesmo aqueles que afirmam neutralidade em relação à religião e Deus. Assim sendo, mesmo ateus e agnósticos professos estão longe de ser “não religiosos”. Eles simplesmente redirecionaram sua fidelidade para algo dentro da criação, o qual efetivamente divinizam. Em quarto e último lugar, é possível traçar as grandes diferenças entre as várias abordagens ao universo de Deus a uma forma ou outra de reducionismo, isto é, a tendência de interpretar a totalidade da realidade por meio de um dos seus aspectos ou modos, como o biológico, o histórico ou o econômico. Em contrapartida, o apreço pela soberania de Deus e pela complexidade irredutível de sua criação oferece a promessa de evitar as distorções que habitualmente afligem a maior parte dos esforços humanos de compreender o mundo.

São percepções inovadoras, certo? Bem, para mim certamente o foram. Mas de uma perspectiva mais panorâmica, nenhuma delas é realmente nova. Na verdade, a filosofia de Dooyeweerd, não obstante todas afirmações de originalidade que lhe são atribuídas, está enraizada na tradição cristã mais ampla, tendo como seus antecessores mais evidentes Althusius, Calvino, Agostinho e, evidentemente, a própria Bíblia. Com efeito, sua filosofia seria incompreensível, caso fosse isolada dessa tradição. A constante demanda por novidades é uma busca peculiarmente moderna e especialmente persuasiva na academia, na qual carreiras são impulsionadas ou arruinadas com base em reivindicações de ter-se desenvolvido algo novo que ninguém jamais pensara anteriormente. Contudo, ocasionalmente o mundo testemunha a redescoberta de algo que havia sido esquecido há tempos. O falecido teólogo metodista Thomas Oden, que por muito tempo fora obcecado com a perpétua inovação, por fim chegou ao ponto em que julgou preferível ser lembrado por “não ter contribuído com nada de novo para a teologia”. É claro, Dooyeweerd não era um teólogo; Kuyper, porém, o era, e sua própria e lenta conversão da teologia modernizadora trouxe-o ad fonts de volta às fontes da tradição cristã. O que Kuyper e seus herdeiros fizeram foi redescobrir parte da integralidade da fé, algo que pode ser plenamente apreciado somente em comparação ao pano de fundo de uma tradição mais ampla. Já passou da hora de tornar essas associações ainda mais claras, tal como Guilherme Braun Jr. o faz neste volume. Que Deus abençoe este empreendimento para sua glória.

 

— Dr. David T. Koyzis
Autor de Visões e ilusões políticas

 

Sumário analítico

Prefácio

  1. Introdução

1.1 Pano de fundo e declaração do problema

1.2 Objetivo da pesquisa

1.3 Questões para pesquisa

1.4 Metodologia

1.5 Importância da pesquisa

1.6 Explicação do conceito

1.7 Resumo

  1. A crítica transcendental de Dooyeweerd e Van Til

2.1 Dooyeweerd sobre Van Til

2.2 Van Til sobre Dooyeweerd

2.3 Crítica complementar de Stoker sobre Van Til

2.4 O tríplice Gestalten da Palavra de Deus

2.5 Consequências provisórias para a apologética

  1. Rumo a uma apologética neocalvinista

3.1. A Trindade como raiz transcendente da realidade criada

3.2. Ideias transcendentais e apologética reformacional

3.3. As relações centrais do ego

3.4. As ideias-base da filosofia e apologética

3.5 Uma breve aplicação do método trinitário modal-esférico

  1. Conclusões prévias

4.1 A crítica de Dooyeweerd a Van Til e a apologética neocalvinista (rompendo com o racionalismo)

4.2 A resposta de Van Til a Dooyeweerd e a apologética neocalvinista (a autorrevelação do Deus triúno — apologética além do transcendentalismo)

4.3 A crítica complementar de Stoker a Van Til (reconciliação da filosofia reformacional e da abordagem teológica de Van Til)

4.4 Apologética modal-esférica trinitária (reformada e reformacional — a unidade entre filosofia e teologia na apologética via trinitarismo)

4.5 Revelação da Palavra divina e apologética trinitária neocalvinista

4.6 A unidade entre o transcendente (teológico) e o transcendental (filosófico)

4.7 Teologia trinitária (pactual) e a raiz da existência humana

4.8 Raiz transcendente e método transcendental — a coerência entre a obra da Trindade e o transcendental. O evangelho via filosofia

4.9 Os Grenzbegriffe e as esferas periféricas do ego (experiência cósmica)

4.10 A interpretação trinitária dos Grenzbegriffe

4.11 Apologética trinitária e as esferas centrais do ego

4.12 Reconciliando Van Til e Dooyeweerd via Stoker na apologética — indo além do suplemento de Stoker

4.13 Ideia(s)-base da filosofia calvinista e apologética trinitária

4.14 A apologética neocalvinista e a interação dinâmica entre individualidade, relacionalidade e tempo

4.15 Preparando-se para introduzir a apologética trinitária neocalvinista no contexto cristão mais amplo — a philosophia in ecclesia recepta e apologética

  1. Introduzindo a apologética à philosophia in ecclesia recepta

5.1 Dooyeweerd em Marlet

5.2 Neotomismo em Marlet

5.2.1 Contra a razão autônoma — sobre christiana philosophia perennis, ontologia bíblica e o esquema natureza-graça tomista-agostiniano

5.2.2 A nova teologia e filosofia cristãs

5.2.3 Apologética neocalvinista e o uso transformacional da filosofia pressuposta pela nova teologia

5.2.4 Filosofia na igreja de Deus e sua relação com a teologia

5.2.5 A nova teologia de Marlet e as consequências prévias para a apologética trinitária neocalvinista

5.2.6 O evangelho como metanarrativa e estrutura básica religiosa do homem — envolvendo as artes e a cultura popular pelo método trinitário neocalvinista (em antecipação à ortodoxia radical)

5.3 Introdução da ortodoxia radical à apologética trinitária neocalvinista

  1. Aplicação do método apologético trinitário neocalvinista

6.1 Apologética neocalvinista, ontologia participativa e filosofia (apóstata) desenraizada

6.2 O método trinitário neocalvinista como apologética transformacional

6.3 Apologética trinitária neocalvinista em diálogo com Ravi Zacharias

  1. Conclusões e perspectivas sobre o futuro da apologética trinitária neocalvinista

 

Compre o livro aqui.