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Jerusalém e Atenas

O que Jerusalém tem a ver com Atenas? Muito, em todos os sentidos. No lado negativo, faríamos bem em relembrar que os cidadãos da cidade de Deus, como aqueles na cidade dos homens, ainda são pecadores. Embora sejamos habitados pelo Espírito Santo de Deus, embora tenhamos recebido corações de carne, permanecemos pecadores deste lado do véu, não diferente daqueles ao redor de nós. Dessa forma, Jesus, em seu Sermão do Monte, nos exorta a não fazer aquilo que nos ocorre com muita naturalidade: se atormentar e preocupar com nossa comida e vestimenta. São sobre tais coisas, diz ele, que os pagãos se preocupam.

Num lado mais positivo, Jerusalém e Atenas têm isto em comum: elas são governada pelo mesmo Homem. Isto é, Jesus é Senhor de ambas. Não existe nenhuma cidade sobre a qual Jesus não reina. Ele é Senhor sobre tudo da criação. Devemos ser zelosos em fazer essa afirmação com ousadia. Devemos, contudo, fazer isso com cuidado.

Que Jesus é o Senhor de Atenas não significa que tudo está bem com Atenas. Não podemos assumir que a cidade está salva porque nosso Senhor governa sobre ela. Em vez disso, lembrando a antítese, a verdade bíblica de que a semente da mulher e a semente da Serpente farão guerra uma contra a outra até que o reino chegue em sua plenitude, o reinado de Jesus sobre Atenas significa que Atenas está em apuros. A cidade pertence a Jesus, e todavia ela se rebela contra ele. Seu senhorio é menos uma aprovação sobre a cidade e mais uma Espada de Damocles, uma ameaça constante de juízo.

Há uma terceira coisa que essas cidades têm em comum. Não somente Jesus governa sobre elas, não somente as duas cidades são povoadas por pecadores, mas ambas são povoadas por aqueles que carregam a imagem de Deus. Embora a semente da Serpente esteja em guerra contra Deus e o Seu povo, eles ainda carregam a marca de Deus. Vemos esse tema repetido várias vezes na Bíblia. Deus chama os seus filhos para exercer domínio sobre a criação. A linhagem ímpia de Caim não é perguiçoas com respeito a exercer domínio. Carregando a imagem de Deus, eles trabalham, transformam barro em tijolo, e constroem uma torre para fazer um nome para si. O fato de essa linhagem não trabalhar para a glória de Deus, mas para a sua própria glória, é um sinal de pecado. Que ela constroi algo a despeito disso é um sinal da imagem de Deus. O mesmo é verdade com respeito à adoração. Em Romanos 1 Paulo fala sobre as duas coisas: (1) que todos os homens, em todos os lugares adoram e (2) que, à parte da graça ativa de Deus em nossas vidas, adoramos antes às criaturas do que ao Criador. Porque somos portadores da imagem de Deus, adoramos. Porque estamos em rebelião, adoramos falsamente.

Isso deveria informar nosso entendimento de como essas duas cidades se relacionam. Não enviamos emissários de paz para os inimigos de Deus, trocando nossas espadas por enxadas. Nem, contudo, permitimos nosso senso de antítese ofuscar nossa humanidade comum, ou melhor ainda, a verdade de que carregamos a imagem de Deus. Dessa forma, não determinamos que a piedade exige que nós que adoramos ao Senhor ressurreto deveríamos andar com as mãos, já que os filhos das trevas usam os pés para caminhar. Não assumimos que a coisa certa para os cristãos é odiar os seus filhos porque os incrédulos amam os seus filhos. Em vez disso, agradecemos ao Senhor de todos por tudo o que ainda temos em comum. Em vez disso, encorajamos tudo que é bom, verdadeiro e belo em Atenas, sabendo que, no final, tudo deve pertencer ao Senhor.

O ateniense Platão não era, contra aqueles que esquecem a antítese, um homem tristemente desinformado, mas brilhante, cujos meandros filosóficos bem intencionados podem ser ricamente adquiridos pela sabedoria. Em vez isso, ele era um inimigo de Deus, assim como nós antes da obra do Espírito de Deus em nós. Seus pensamentos filosóficos tinham como seu objetivo final a negação de Deus. Platão era, com respeito à sabedoria, surdo, mudo e cego. Ele não podia, de acordo com a Escritura, sequer ver o reino de Deus (João 3.3). Há sabedoria, contudo, naquele provérbio que sugere que “mesmo um esquilo cego encontra uma noz aqui e acolá”. Platão não nos disse nada que já não sabíamos quando ele primeiro sugeriu que as três maiores virtudes são a bondade, verdade e beleza. Ele, contudo, falou bem, veraz e belamente ao assim dizer. Platão, ao trazer nossa atenção à bondade, verdade e beleza, tornou manifesto a imagem de Deus em sua própria vida, e por sua vez nos ensinou a como reconhecer melhor essa imagem nos outros. Quando bombeiros incrédulos agem heroicamente — quando exibem o bem — não temos razão para nos envergonharmos. Quando cientistas incrédulos falam com veracidade, não temos nenhuma razão para vergonha. Quando musicistas incrédulos criam momentos de beleza, não temos motivo para nos envergonharmos. Pois essas coisas não pertencem no final à Jerusalém ou Atenas. Em vez disso, elas pertencem Àquele que é Senhor de ambas.

Platão reconheceu a bondade, a verdade e a beleza da bondade, da verdade e da beleza. Jesus é a bondade, verdade e beleza, e toda outra perfeição de forma infinita. Se quisermos buscar a bondade, verdade e beleza, devemos buscá-lo. Devemos buscar em primeiro lugar o reino de Deus e a sua justiça, e todas essas coisas nos serão acrescentadas.

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Fonte: Ligonier Ministries
Tradução: Felipe Sabino de Araújo Neto – fevereiro/2012

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