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Ensinando aos Aprisionados do Diabo

Ao servo do Senhor não convém brigar mas, sim, ser amável para com todos, apto para ensinar, paciente. Deve corrigir com mansidão os que se lhe opõem, na esperança de que Deus lhes conceda o arrependimento, levando-os ao conhecimento da verdade, para que assim voltem à sobriedade e escapem da armadilha do Diabo, que os aprisionou para fazerem a sua vontade. (2 Timóteo 2.24-26)

Às vezes as pessoas me criticam por eu obedecer o ensino bíblico que eu deveria repreender severamente certos indivíduos e por seguir os exemplos dos profetas, apóstolos e do Senhor Jesus, mesmo quando eu meramente repito as palavras duras que eles usaram para condenar incrédulos e hereges. De acordo com eles, a prática é contra o ensino cristão sobre bondade e gentileza. Sua crítica contra mim, algumas vezes tão duras quanto as palavras duras que eles me criticam por usar, equivale a dizer que é antibíblico obedecer aos mandamento bíblicos e seguir os exemplos bíblicos.

Aqui Paulo diz: “Ao servo do Senhor não convém brigar mas, sim, ser amável [1] para com todos”. Isso apresenta um problema tremendo para os meus críticos. A igreja moderna iguala gentileza com o uso de palavras não ameaçadoras e não condenatórias, preferivelmente acompanhadas por um tom e postura efeminados. Eles têm confundido um esteriótipo homossexual com a gentileza de Jesus Cristo. Isso é uma blasfêmia que por si só demanda repreensão e castigo severos. Se essa é a definição de gentileza, então os profetas, os apóstolos e o próprio Senhor Jesus nunca foram gentis. A definição é antibíblica.

Considere as duas cartas a Timóteo. Paulo escreve: “Querendo ser mestres da lei, quando não compreendem nem o que dizem nem as coisas acerca das quais fazem afirmações tão categóricas”. Isso é caridoso? Então, ele diz: “Entre eles estão Himeneu e Alexandre, os quais entreguei a Satanás, para que aprendam a não blasfemar”. Isso é gentil? Mais tarde, ele adiciona: “Tais ensinamentos vêm de homens hipócritas e mentirosos, que têm a consciência cauterizada”. Isso é polido? “Alexandre, o ferreiro, causou-me muitos males. O Senhor lhe dará a retribuição pelo que fez”. Pelo padrão dos meus críticos, isso é sequer “cristão”? Então, ele escreve a Tito: “‘Cretenses, sempre mentirosos, feras malignas, glutões preguiçosos’. Tal testemunho é verdadeiro. Portanto, repreenda-os severamente”. Isso não é ofensivo? E, claro, ele vai ao ponto de comparar incrédulos e hereges com lixeiras e vasos sanitários. Por que eu não estou autorizado a fazer o mesmo? Além disso, o que dizer quando ele disse para os judaizantes irem adiante e se castrarem? Paulo foi “gentil” com todo o mundo no sentido entendido pelos meus críticos e por crentes contemporâneos? Há centenas de exemplos similares nas palavras dos profetas, dos apóstolos e do próprio Senhor Jesus, muitos deles mais fortes que aqueles citados acima.

Dada a definição antibíblica de gentileza, a instrução bíblica para “ser amável para com todos” apresenta algumas opções preocupantes. Se os exemplos e mandamentos bíblicos são consistentes com gentileza, então não podemos usar a definição antibíblica de gentileza, o que significa que não existe nenhuma crítica bíblica contra mim, aos escritores bíblicos, ou ao Senhor Jesus. Mas dada a definição antibíblica de gentileza, uma pessoa deve considerar os exemplos e mandamentos bíblicos como inconsistentes com gentileza. Se esse é o caso, então aqueles que sustentam essa definição devem limitar a aplicação do versículo em questão ao ponto que nenhuma crítica pode se aplicar contra mim, ou devem dizer que Paulo era um hipócrita, ou que a Escritura se contradiz. Seja qual for o caso, eles têm se exposto como hereges, e eu recomendo a disciplina eclesiástica contra eles. A verdade é que a Escritura não apóia a definição de gentiliza que pode ser usada para contradizer ou criticar a minha abordagem.

Você pode responder que os profetas, os apóstolos e o Senhor Jesus eram exceções porque eles tinham o benefício da infalibilidade por meio da inspiração divina. Por outro lado, nós somos infalíveis, e não conhecemos o coração dos homens, de forma que não deveríamos pronunciar julgamento sobre ninguém. Contudo, se eu não devo dizer algo negativo sobre pessoas, mesmo que o meu julgamento seja baseado na palavra de Deus, então por quê eu posso dizer algo positivo sobre elas? O que me dá o direito de dizer palavras “gentis” a elas? Carecendo de infalibilidade, eu não cometerei o engano de aprovar algo ou alguém que eu deveria reprovar? E já que estamos falando sobre isso, por quê você está me julgamento por ser rude? Você é infalível? Hipócrita! Você não tem nenhum respeito pela palavra de Deus. Se o meu julgamento é baseado na Palavra de Deus, então o meu julgamento é correto, e o julgamento que eu pronuncio é na verdade o julgamento de Deus contra as pessoas, e Deus está sempre certo. Se você diz que o meu entendimento da Escritura é imperfeito, então a mesma crítica se aplica a você. Sua interpretação daquelas passagens bíblicas sobre bondade e gentileza são sempre falíveis; assim, como você pode aplicá-las a mim?

Você está usando a infalibilidade dos profetas e dos apóstolos como uma escusa para não crer e aplicar a palavra de Deus. Você é um covarde e um hipócrita, e você é infiel ao Senhor Jesus Cristo. Mas eu digo: não sejamos covardes e hipócritas! Usemos nossa falibilidade e a infalibilidade deles, não como uma escusa, mas como uma motivação para nos apegarmos ainda mais à palavra de Deus, de forma que louvaremos o que Deus louva, e condenaremos o que ele condena. É melhor condenar a Deus, ou adorar o diabo? Você me diz para eu parar, a fim de que eu não condene a Deus, mas você diz eu que deveria adorar o diabo? É o que você faz? Mas eu prefiro adorar a Deus e condenar o diabo. A palavra de Deus me diz a diferença.

A passagem não nega o testemunho de toda a Bíblia, mas antes é consistente com ele. Ela não proíbe o debate racional. E ela não exclui o lugar de repreender falsos mestres e seus seguidores nos termos e tons mais duros e imagináveis quando apropriado. Paulo logo diria a Timóteo para incluir a “repreensão” quando pregando a palavra de Deus (4.2), e novamente, ele diz para Tito repreender severamente os cretenses. Em vez disso, Paulo está dizendo para Timóteo evitar “as controvérsias tolas e inúteis”, e especialmente para evitar as “brigas”. É neste contexto que ele diz para “ser amável para com todos”. Isso é diferente da aplicação que algumas pessoas fazem de versículos como esses.

Aqueles que seguem falsas doutrinas são os aprisionados do diabo. Para usar um termo conveniente, eles têm sido “programados” para processas ideias de uma certa maneira, de forma que suas mentes pensam em direções que sempre levam-nos a conclusões erradas, não importa com o que você os alimente. O fenômeno é evidente quando lidando com membros de seitas, mas um padrão similar é visto em qualquer pessoa que afirme falsas doutrinas. Elas são imunes à gentileza e persuasão antibíblica. Se você agir como um pervertido em torno delas, elas não entenderão a questão ou vão rir de você. A gentileza bíblica é muito maior que um vocabulário não ofensivo e um tom efeminado. Ela envolve instrução, argumento, reprimenda e advertência. Ela persiste em lugar com o demônio dentro da outra pessoa hora após hora após hora, determinada a arrancá-lo da armadilha do diabo. Mesmo quando ela grita insultos severos para a pessoa, o faz em benefício da sua alma e para a honra de Deus, e não por ressentimento ou por causa de vingança pessoal. Isso é gentileza e paciêncai bíblica.

Nós temos que nos esforçar. Contudo, é Deus quem decide conceder ou não arrependimento à pessoa. Arrependimento não é algo que uma pessoa decide por si mesma, mas é algo que Deus decide causar que a pessoa faça. É verdade que o homem faz uma decisão, mas é a decisão de Deus que causa a decisão do homem. Novamente, a tolice do compatibilismo é evidente. Sem dúvida o fato que o homem faz uma decisão é compatível com o fato deu Deus faz uma decisão. Mas visto que é a decisão de Deus que determina e causa a decisão do homem, isso é como dizer que a decisão de Deus é compatível com a decisão de Deus. Deus é compatível com ele mesmo. O efeito do seu controle é compatível com o fato do seu controle. Sem dúvida isso é verdade, mas como isso é útil à pessoa que afirma o compatibilismo?

Arrependimento significa uma mudança de mente. Visto que Deus é aquele que concede arrependimento, isso significa que não é a pessoa quem muda a sua própria mente, mas é Deus quem muda a mente de uma pessoa. Ao que ele muda a sua mente? Paulo diz que o arrependimento leva a “um conhecimento da verdade”. Novamente, isso se resume a uma questão de doutrina. Esta é a forma como devemos reconhecer o verdadeiro arrependimento. Não existe nenhum arrependimento a menos que a pessoa passe a afirmar as doutrinas verdadeiras. Se ela não afirma as doutrinas verdadeiras, então ela não se arrependeu, e ainda permanece em seus pecados.

NOTAS:

[1] – “Gentil” na NIV, versão bíblica utilizada pelo autor. A ARC e a ACF usam “manso”, enquanto a ARA utilizada o termo “brando”. [N. do T.]

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Fonte: Reflections on Second Timothy

Tradução: Felipe Sabino de Araújo Neto

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