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Um Obreiro Aprovado por Deus

Continue a lembrar essas coisas a todos, advertindo-os solenemente diante de Deus, para que não se envolvam em discussões acerca de palavras; isso não traz proveito, e serve apenas para perverter os ouvintes. Procure apresentar-se a Deus aprovado, como obreiro que não tem do que se envergonhar e que maneja corretamente a palavra da verdade. (2 Timóteo 2.14-15)

Um ministro do evangelho é chamado à se comunicar com pessoas falando e escrevendo. Alguns teólogos e peritos em homilética que desejam exaltar o lugar da pregação atribuem o que parece ser um poder místico ao próprio ato de falar a mensagem em alta voz, como se as mesmas palavras se tornassem mais eficazes uma vez transformadas de borrões de tintas num papel a sons no ar. O motivo para exaltar a pregação é louvável, visto que a própria Bíblia enfatiza sua importância em declarar o conhecimento e a majestade de Deus. Contudo, a menos que haja evidência bíblica para atribuir algum poder especial ao falar a mensagem em contraste a escrever a mensagem, tal visão sobre pregação é mera superstição. E não existe tal evidência bíblica.

Aqueles que advogam essa superstição apelam a Romanos 10.17, onde Paulo diz: “Consequentemente, a fé vem por se ouvir a mensagem, e a mensagem é ouvida mediante a palavra de Cristo”. A fé vem pelo ouvir, eles dizem, e uma pessoa ouve quando alguém prega. A alegação é que algo único acontece quando uma pessoa ouve a palavra de Deus. Contudo, o versículo não diz nada sobre ler e escrever. Simplesmente porque a fé vem pelo ouvir não significa que ela não possa vir pela leitura, ou que ela não possa vir tão eficazmente, ou até mais eficazmente. O versículo não sugere que haja algo místico, sobrenatural, ou único no próprio ouvir. Antes, João diz, “mas estes [sinais miraculosos] foram escritos para que vocês creiam” (João 20.31).

Dessa forma, mesmo o surdo pode experimentar o pleno poder da palavra de Deus lendo-a ou quando alguém prega para ele por linguagem de sinais. O poder está nas ideias de Deus, comunicadas através de palavras, seja falando ou escrevendo, ouvindo ou lendo, e tornadas eficazes pelo Espírito Santo. Há poder na pregação, não porque o homem faz sons no ar em oposição aos símbolos no papel, mas porque as palavras e ideias comunicadas procedem de Deus. A superstição desvia a atenção da sabedoria e poder de Deus.

Assim, o ministro do evangelho deve comunicar. Sobre o que ele tem que falar? Muitos ministros enchem seus sermões com questões sociais e preocupações superficiais. Eles são pessoas inúteis. É uma perda de tempo ouvi-los. Esses tópicos não são triviais, mas é necessário um fundamento teológico para abordá-los corretamente. Todavia, o fundamento doutrinário em si não é estabelecido primariamente para abordar esses tópicos; antes, ele é valioso por si próprio. O ministro é chamado a manusear a palavra da verdade, o evangelho, ou as doutrinas da fé cristã. É sobre isso que ele deve falar o tempo todo. O obreiro que maneja corretamente a palavra da verdade, diz Paulo, é aquele que não deve se envergonhar. Isso implica que a pessoa que não maneja a palavra da verdade ou a maneja incorretamente deve se envergonhar.

Essa é a diferença crucial entre um bom e mau ministro, ou aquele que não precisa se envergonhar e aquele que precisa. A diferença é a doutrina. Se um ministro prega a Bíblia, deduz validamente ensinos dela, e então comunica esses ensinos a outros, então ele é aquele que não precisa se envergonhar. Se não faz isso, então ele precisa se envergonhar. A questão é simples e clara, mas é de suprema importância, pois apresenta o padrão pelo qual todos os ministros devem ser avaliados. Se somos ministros, então isso é o que devemos nos tornar e permanecer. Se somos membros de igreja, então esse é o tipo de ministros que deveríamos seguir e apoiar, e devemos rejeitar todos aqueles que não manejam corretamente a palavra da verdade.

Não é raro alguns dizer sobre certo ministro: “Sua doutrina pode ser um pouco distorcida, mas ele tem um bom caráter”. A suposição é que não se requer um bom caráter para reconhecer e crer na sã doutrina, ou pelo menos a crença na verdade é uma parte pequena da personalidade. Em todo caso, o padrão usado é errado. Sem dúvida um ministro deveria ter bom caráter, mas se ele não possuir primeiramente a sã doutrina cristã, que ele demonstre o seu bom caráter budista no banco. A doutrina, ou a palavra de Deus, é o padrão. O ministro conhece e crê na palavra da verdade? O que ele faz com ela?

Um ministro que maneja corretamente a palavra da verdade não é uma criança nas coisas de Deus. Ele aplica a sã doutrina de uma forma série e madura, e encara de frente a realidade que nos confronta neste mundo. No mesmo contexto onde Paulo declara que um obreiro deveria manejar corretamente a palavra da verdade, ele diz a Timóteo: “Continue a lembrar essas coisas a todos”. Se “essas coisas” não incluiu tudo que precede o versículo desde o começo da carta, pelo menos referem-se aos versículos 8-13. E nesses versículos Paulo fala dos conteúdos doutrinários do evangelho, incluindo a ressurreição e herança real de Cristo. Ele diz que é por pregar o evangelho que ele está sofrendo ao ponto de estar aprisionado como um criminoso. Ele fala de suportar as dificuldades pelos eleitos, de forma que eles possam obter a salvação que há em Cristo Jesus. Então, ele fala da consequência de desonrar a Cristo: “Se o negamos, ele também nos negará”. Esse é um negócio sério e solene, e um ministro que maneja corretamente a palavra da verdade deve comunicar isso àqueles que o ouvem.

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Fonte: Reflections on Second Timothy

Tradução: Felipe Sabino de Araújo Neto

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